— Tenho as contas... Não é como você imagina.— Então divida com todos seus problemas, mãe. Me parece que quer abraçar o mundo e não dá conta... E todos ao seu redor sofrem com sua cobrança sobre si mesma.— Eu... Eu... Sou assim.— Eu quero realizar o meu sonho. E para isso preciso estudar e me aperfeiçoar. Não posso viver para sempre costurando bustiês e calcinhas de lantejoulas.— Todo trabalho é digno.— Não estou dizendo que não é. Mas você nunca sonhou com alguma coisa além de ser a dona deste lugar?Vi as lágrimas escorrerem pelos olhos dela, antes que dissesse:— Sim... Eu sonhei. E tentei de todas as formas não herdar isto aqui. Fugi... O máximo que consegui. Mas a vida é cruel e perversa fora destes cinco andares. No fim, saberá que o Hotel Califórnia é nosso único refúgio... Seguro, alegre... Estável. Nossos clientes não nos cobram nada além do prazer de uma noite. Lá fora, as pessoas são perversas, duras, cruéis... Mentirosas...Mentirosas... Aquela palavra fez meu corpo r
Chain gritou e eu fiquei nervosa, pegando imediatamente a vela, que apagou na pele dele.— Você é louca por acaso? Se tem luz elétrica usa esta vela por quê, porra? É algum tipo de feitiçaria? Além de mentirosa você também é bruxa? Isso é sinistro, macabro... — levou à área ferida da mão à boca, certamente tentando conter a dor.— Eu só pedi a senha, porra!— Que senha? Precisa de senha para passar a noite num Hotel agora? Quero falar com o gerente. Na verdade, exijo.Eu sorri. O homem não sabia a senha. Não havia vindo para o quinto andar.— Acha engraçado? — arqueou a sobrancelha. — Não estou brincando, quero falar com o gerente.— Só um minuto que vou chamá-lo.Abaixei-me e peguei um elástico que tinha na prateleira térrea
— Hum, então você não é a gerente — sorriu, apontando para mim, piscando um olho... O rosto ainda mais encantador...— Não.Deu de ombros:— Eu sabia... Porque você é e sempre será uma mentirosa.— Suas palavras não me atingem.— Podemos tirar a prova agora. Colocando o anel de volta no seu dedo e vendo a cor que ele vai ficar.— Não quero aquela “porcaria”.— Você se ofendeu porque eu chamei o anel de porcaria? É isso?— Por que eu me ofenderia? Teria motivos para isso?Ele suspirou e passou a mãos nos cabelos, deixando-os completamente desalinhados:— Merliah, eu quero um quarto. Só isso. Não quero brigar. Passa da meia-noite. Estou cansado... E preciso de um banho.Ok, eu fiquei com um pouco de dó dele. Entreguei-lhe a ficha d
— Fale, senhor Chamalet — eu disse sem pensar duas vezes, rindo sozinha.— Senhor o que? — Ouvi a voz da minha mãe do outro lado da linha.— Mãe?— Com quem você estava falando? Tem hóspedes no Hotel?— Sim... Um.— Tomara que não caia um vendaval esta noite — ela debochou.— Por que você me ligou?— Pode subir. Vou mandar alguém substitui-la na Recepção.— Não! — gritei, sem me dar em conta.— Não quer subir? Mas reclamou de ficar aí... Isso há pouco horas atrás.— Quero ficar, mãe.— Mas...— Fico a noite inteira... Sem problemas.Ouvi o suspiro dela do outro lado:— Ok. Não entendo você.— Nem tente... Eu mesma não consigo — comecei a rir
— Vou passar a noite nesta cama enorme, ouvindo o casal de cima transando feito loucos. Confesso que estou pensando em não pagar a estadia. O serviço oferecido aqui é de quinta.— Quer trocar de quarto? — ofereci novamente.— Não... Quero companhia.Nos encaramos e fiquei sem saber o que dizer. Ele começou a rir, mexendo nos cabelos úmidos, que ficaram para cima. Deus... Como era possível Chain ficar ainda mais lindo com os cabelos bagunçados?— Se não me engano, tem um número... De acompanhantes de luxo... Debaixo do aparelho telefônico — eu disse, de forma nada firme.— Jamais paguei por uma mulher... Nem pagarei. — Os olhos dele entraram nos meus, penetrando até minha alma.Jamais eu o veria no Bordel. Porque ele não era o tipo de homem que saía com putas. Ou ao menos não as pagava, j&aacu
— Preciso que leve minha camisa para a lavanderia.— Não vou levar.— Vou avaliar o Hotel Califórnia como péssimo, tanto nos serviços prestados quanto pelo atendimento da moça que manda chamar no 69.— Não temos redes sociais — falei, sarcástica.— Justo porque não suportariam tantas reclamações.Arranquei a camisa da mão dele:— Vou lavar sua camisa porque foi gentil com o menino. Então, pode me culpar... Não me importo com o que pense a meu respeito.— Preciso dela para daqui a pouco.— Estará impecável. Aliás, você não tem uma outra camisa na mala?— Não... Não branca.— Use outra cor... E se eu não conseguir trazer a tempo?Ele riu:— Claro que você não vai conseguir...
Quando voltei, por sorte encontrei Rambo na recepção:— O nosso hóspede... Já chegou ao hotel novamente? — Me fiz de desinteressada.— Fala do homem de olhos verdes e sobrenome estranho?— Nosso único hóspede... Quem mais seria?— Ele fez check-out.— Como assim?— Bem, ele chegou há menos de uma hora atrás e disse: gostaria de fazer o check-out. Pagou pela estadia e foi embora.Respirei fundo e subi, desolada. Eu até que me divertia brigando com ele. Me entretia de alguma forma. Não que tivesse qualquer outro tipo de interesse por trás... A não ser no abdômen incrível... Talvez os olhos bonitos... Um pouco do jeito falante e sem se importar com o que eu pensava da opinião dele...Toquei meu dedo, sentindo um pouco de falta do inútil anel do humor. Enfim, acabou: ele fez check-
— Você parece bastante impressionado, irmão!— Não... Não estou impressionado. Simplesmente as coisas não batem, entende?— Você poderia simplificar as coisas e obter uma ordem judicial e expulsar as poucas pessoas do lugar e pôr o prédio abaixo. Só isso. Em um mês ou pouco mais que isso já iniciaria as fundações do Shopping. Depois... Bem, depois é só arrumar uma boa esposa que goste de você pelo que é, ou seja, um rapaz bonito, inteligente, “fiel”, responsável, que detesta mulheres, festas, amigos e bebidas e além disso é tão bondoso a ponto de não querer dividir um vintém do que tem com ela.— Isso não é nada fácil, Milano. Não brinque com minha dor... E o castigo de nosso “amado” pai.— Acha que a minha parte é