Matheus (MT)Acordar com a Halu do meu lado era uma das poucas certezas boas que eu tinha na vida. Halu sempre teve a cabeça mais no lugar do que Luizinho e eu. Levantei e fui direto pra cozinha. O café da manhã era minha forma de compensar por tudo que eu fiz a ela. Fiz panquecas porque sabia que Carlinha adorava, e o sorriso dela quando chegou à mesa valeu a correria.Mas o melhor momento não foi ela me chamar de "papai". Foi ver Halu rindo enquanto cortava a panqueca pra Carlinha.Depois de deixar as duas na escola, eu sabia que o dia ia ser pesado. O "dia do arrego" era sempre assim. Um risco aqui, outro ali. Mas, quando eu vi a Halu preocupada, prometi que ligaria se algo desse errado. Claro que era mentira. Não porque eu não queria falar com ela, mas porque eu sabia que, se ela soubesse de qualquer problema, ia largar tudo pra resolver por conta própria. O dia começou tranquilo até a ligação do Pé de Pano. Fuba tinha sido pego pelos canas. — Qual foi do B.O, por que agarraram
Hannah Luiza (Halú)O trabalho penal que tínhamos que fazer era denso e cheio de detalhes que podiam definir o futuro do réu na nossa análise fictícia. — Olha, eu ainda acho que a pena poderia ser reduzida se considerarmos o histórico dele — argumentou Rafaela, sublinhando uma passagem do texto com a caneta. Luigi balançou a cabeça, discordando: — Reduzir a pena pode até ser justo, mas o cara precisa pagar pelo que fez. Se a gente considerar só os atenuantes, parece que estamos ignorando o impacto das ações dele. Suspirei, colocando o papel de lado: — Mas, Luigi, a justiça não é só sobre punir. É sobre reabilitar também. Se apresentarmos um bom argumento, podemos mostrar que ele merece uma chance de se reintegrar. Não dá para tratar todo mundo como um caso perdido. Estávamos nesse vai e vem há quase uma hora, quando senti uma mãozinha tocar meu braço. Virei para ver Carlinha ao meu lado, segurando seu ursinho de pelúcia. — Mamãe, me dá colo? — ela pediu, com aquele olhar
Estava com Carlinha no sofá quando Matheus começou a me fazer uma massagem gostosa. — Aí, amor. Continua assim. — Pedi a ele que continuou com as suas mãos firmes. — Ixi! Daqui a pouco Halú vai gozar no sofá. — Macla estava rindo. — Mamãe, o que é gozar? — Carlinha perguntou e encarei minha amiga e cara feia. — É coisa de adulto meu amor. — Minha pequena apenas assentiu. Dona Jacira nos chamou para comer e agradecemos a ela, Rafaela estava ao meu lado quando meu irmão chegou, ele estava com os olhos vermelhos e o encarei. — Carlos Luiz não me diz que você estava se drogando de novo? — Perguntei a ele que abaixou a cabeça. — Depois tu come meu rabo no esporro, agora tô na ‘mó’ larica. Meu irmão não muda mesmo,já conversei com ele sobre se drogar assim, mas as vezes ele sucumbe a tentação, essa é a merda de quem se enfia nessas merdas. Matheus me encarou sabendo como me sinto quando meu irmão se mete nessas merdas. Carlinha terminou de comer e foi pra sala. — Tamo de olho no f
Uma Semana Depois A madrugada era fria, mas isso nunca me incomodou. O ponto cego do morro era um lugar que muitos evitavam, mas pra mim era apenas mais um pedaço do território que eu conhecia como a palma da mão. Caminhava calmamente, o radinho preso ao cinto e "Berenice", minha fiel companheira, escondida sob a jaqueta. Carlinhos e Matheus estão putos comigo, eles acham que eu não deveria servir de isca, Macla quis se voluntariar, mas eu sabia que esse era um tipo de serviço que só cabia a mim. As ruas estavam desertas, o silêncio quebrado apenas pelo som dos meus passos. Eu gostava da madrugada e o tempo estava me ajudando já que na noite passada havia chovido e hoje está frio, será que o filho da puta vai aparecer ou não? De repente vi uma sombra, acho que o desgraçado chegou. — O que uma mulher gostosa dessas tá fazendo sozinha a essa hora? ‘Tá quereno arruma’ um caô? Continuei andando, ignorando o comentário, mas no fundo quero muito que esse babaca seja o cara que estou pr
Enquanto eu comia, ouvi passos rápidos e, em poucos segundos, Carlinha apareceu na porta do quarto. Ela estava impecavelmente arrumada, com o uniforme da escola e os cabelos presos em um rabo de cavalo.— Mamãe, você não vai me levar pra escola? Não vai trabalhar hoje? — perguntou, com uma carinha curiosa.Olhei para ela, confusa.— Quem te arrumou, filha?— Foi o papai. — Respondeu com um sorriso orgulhoso, apontando para Matheus, que estava escorado na porta com aquele ar típico de quem aprontou algo.Virei o rosto para ele, arqueando uma sobrancelha.— O que você quer, Matheus? Primeiro café na cama, agora arrumando a Carlinha? Tá querendo algo?Ele ergueu as mãos, fingindo inocência.— Já disse que não é nada. Só tô agradando minha bandida preferida.— Sei... Essa história tá muito mal contada. — Respondi, desconfiada, mas decidi não insistir. Ele sempre tinha uma carta na manga.Terminei meu café da manhã e me arrumei rapidamente. Matheus nos levou até a escola.— Vai lá, pequena
Por Matheus (MT)Cheguei em casa com a cabeça a mil, como sempre. O dia foi puxado, mas isso era rotina para alguém como eu. Assim que abri a porta, dei de cara com Luizinho largado no sofá, segurando o controle remoto e mudando de canal como se fosse o dono da casa.— O que você tá fazendo aqui, viado? — perguntei, rindo. Era sempre assim. Ele aparecia sem avisar e agia como se tivesse as chaves do lugar.Ele me olhou por cima do ombro, com aquele sorriso sacana que só ele sabia dar. — Achei que tava na hora de fazer uma visitinha pro meu cunhadinho. — Debochado, como sempre.— Sei… Tá com saudade? — rebati, largando a mochila no canto e indo em direção à cozinha.— Nenhum dos dois. Vim te perguntar o que tá pegando.Parei no meio do caminho, franzindo a testa. — Que porra é essa?Ele se ajeitou no sofá, ficando mais sério. — Tá avoado, MT. Nem tenta jogar essa de que é coisa das biqueiras ou dos carregamentos. Conheço bem essa sua cara.Antes que eu pudesse responder, Carlinha en
Por Hannah Luiza (Halu)Matheus estava estranho, mas resolvi deixar isso pra lá, porque minha cabeça está cheia de coisas a resolver. Assim que cheguei em casa, vi meu irmão no terraço, cantando feito um doido, a ponto de cair. Matheus ria da situação enquanto eu ficava apavorada. Pedi que ele parasse de rir e fosse ajudar o meu irmão.Depois que "salvamos" Carlinhos de uma morte quase certa, encarei ele e mandei um soco no braço.— Babaca, quer me matar do coração? — soltei, enquanto ele me encarava.— Para de ser chata, porra! Eu que sou o irmão mais velho.— E é um grande cuzão que depende de mim pra não fazer merda.— Vai se foder, Hannah. — Ele raramente me chamava pelo nome, e quando estava irritado, era uma dessas vezes.— Vai se foder você! — Ele colocou a mão na cintura, e eu sabia que estava procurando a arma. — Se você ousar apontar essa porra pra mim de novo, eu não respondo por mim. — O encarei severamente.— Vamos parar com essa porra! Vocês são irmãos, caralho! — Matheu
Por TonhãoTava ali, deitado na minha cama, com a Bruna me montando como se fosse o último dia da vida dela. Essa mulher tem fogo, não nego, mas às vezes é muita encheção de saco pro meu gosto. No meio da nossa transa, ela joga a pergunta no ar:— E aí, Tonhão, quando cê vai dar um jeito na Halu?Parei na hora. Meu sangue subiu, mas segurei o tranco. Olhei pra ela com aquele olhar que diz mais do que qualquer palavra.— Já te falei pra não vim me dar ordem, Bruna! Não sou cuzão que nem o MT, tá ligada? — Dei um tapa na cara dela, não pra machucar, mas pra ela entender o recado. — Eu não aceito ordem de vagabunda nenhuma!Ela ficou ali, com os olhos arregalados, segurando a bochecha, mas sem coragem de retrucar.— Sai daqui, vai! Some da minha frente antes que eu perca a paciência. — Apontei pra porta do quarto.Bruna bufou, vestiu a roupa de qualquer jeito e saiu batendo o salto pela casa como se fosse dona do pedaço. Só que aqui, quem manda sou eu. Sempre fui e sempre vou ser.Quand