Por Matheus (MT)Cheguei em casa com a cabeça a mil, como sempre. O dia foi puxado, mas isso era rotina para alguém como eu. Assim que abri a porta, dei de cara com Luizinho largado no sofá, segurando o controle remoto e mudando de canal como se fosse o dono da casa.— O que você tá fazendo aqui, viado? — perguntei, rindo. Era sempre assim. Ele aparecia sem avisar e agia como se tivesse as chaves do lugar.Ele me olhou por cima do ombro, com aquele sorriso sacana que só ele sabia dar. — Achei que tava na hora de fazer uma visitinha pro meu cunhadinho. — Debochado, como sempre.— Sei… Tá com saudade? — rebati, largando a mochila no canto e indo em direção à cozinha.— Nenhum dos dois. Vim te perguntar o que tá pegando.Parei no meio do caminho, franzindo a testa. — Que porra é essa?Ele se ajeitou no sofá, ficando mais sério. — Tá avoado, MT. Nem tenta jogar essa de que é coisa das biqueiras ou dos carregamentos. Conheço bem essa sua cara.Antes que eu pudesse responder, Carlinha en
Por Hannah Luiza (Halu)Matheus estava estranho, mas resolvi deixar isso pra lá, porque minha cabeça está cheia de coisas a resolver. Assim que cheguei em casa, vi meu irmão no terraço, cantando feito um doido, a ponto de cair. Matheus ria da situação enquanto eu ficava apavorada. Pedi que ele parasse de rir e fosse ajudar o meu irmão.Depois que "salvamos" Carlinhos de uma morte quase certa, encarei ele e mandei um soco no braço.— Babaca, quer me matar do coração? — soltei, enquanto ele me encarava.— Para de ser chata, porra! Eu que sou o irmão mais velho.— E é um grande cuzão que depende de mim pra não fazer merda.— Vai se foder, Hannah. — Ele raramente me chamava pelo nome, e quando estava irritado, era uma dessas vezes.— Vai se foder você! — Ele colocou a mão na cintura, e eu sabia que estava procurando a arma. — Se você ousar apontar essa porra pra mim de novo, eu não respondo por mim. — O encarei severamente.— Vamos parar com essa porra! Vocês são irmãos, caralho! — Matheu
Por TonhãoTava ali, deitado na minha cama, com a Bruna me montando como se fosse o último dia da vida dela. Essa mulher tem fogo, não nego, mas às vezes é muita encheção de saco pro meu gosto. No meio da nossa transa, ela joga a pergunta no ar:— E aí, Tonhão, quando cê vai dar um jeito na Halu?Parei na hora. Meu sangue subiu, mas segurei o tranco. Olhei pra ela com aquele olhar que diz mais do que qualquer palavra.— Já te falei pra não vim me dar ordem, Bruna! Não sou cuzão que nem o MT, tá ligada? — Dei um tapa na cara dela, não pra machucar, mas pra ela entender o recado. — Eu não aceito ordem de vagabunda nenhuma!Ela ficou ali, com os olhos arregalados, segurando a bochecha, mas sem coragem de retrucar.— Sai daqui, vai! Some da minha frente antes que eu perca a paciência. — Apontei pra porta do quarto.Bruna bufou, vestiu a roupa de qualquer jeito e saiu batendo o salto pela casa como se fosse dona do pedaço. Só que aqui, quem manda sou eu. Sempre fui e sempre vou ser.Quand
Hannah Luiza (Halu)Estava descendo da escola com a Carlinha, quando ela começou a insistir pra comer um sonho na padaria. Resolvi levar, e assim que chegamos, demos de cara com a Macla cheia de chamego com o Gigante, em vez de estar atendendo.— Não tem ninguém pra atender nessa merda, não? — perguntei, já com a cara fechada.Minha amiga me olhou com aquele olhar de quem ia me dar sermão.— E aí, chefinha! Tá tudo de boa? — Gigante perguntou, mais despreocupado do que deveria.— Tá tudo de boa lá em cima. E você, Gigante? Não tem nada pra fazer, não? Um carregamento pra conferir? Uma biqueira pra averiguar? Nada?— Halu, larga de ser chatona. Ele só veio aqui conversar comigo um pouquinho. Às vezes, tu é pior que o MT e o Luizinho juntos — Macla revirou os olhos. — O que você vai querer?— Ô, tia, eu quero um sonhozinho! — Carlinha pediu, interrompendo qualquer resposta atravessada minha.Macla sorriu, pegou o sonho e entregou pra ela.— Prontinho, princesa da titia. — Depois, se vir
Carlos Luiz Chaves (Luizinho)Tava sozinho puxando meu beck e pensando na porra chata que minha vida se tornou. Antigamente, minha casa era um entra e sai de mina, mas agora nem tenho ânimo de ficar com uma e outra. Tava pensando em arrumar uma mina e sossegar, mas é foda essa porra de sossegar, já que a mina que eu quero tá pouco se fodendo pra mim. *Patrão! O morro tá sussa. Tamo vigiando os pontos cegos, tá tudo mó paz.* *Valeu, Boca de Sacola. Não deixa os filhos da puta ficarem marolando, não. Esses do morro do Farinha tão na paz e isso é foda.**Pode deixar, patrão!*Coloquei meu radinho de lado e fui apreciar meu baseado. Tava de boa, relaxando, quando ouvi barulho de chave. Porra! Será que já tô na marola com a porra de um beck? — Luiz! — Ouvi a voz de Vanessa me chamando. Com certeza tô na marola. — Luiz, não tá me ouvindo? Tô te chamando! — O que faz aqui, Vanessa? — Meu trabalho terminou mais cedo, então vim dar um giro aqui em cima. Mas Halú e Macla não estão em c
Hannah Luiza (Halú)O baile do Jacaré estava bom pra caramba. Matheus, Gigante, Macla e eu estávamos exaustos, mas ainda animados. Durante o trajeto de volta pra casa, minha amiga e eu conversávamos empolgadas, enquanto Gigante mantinha os olhos na pista.— Esse baile foi bom pra um caralho. — Macla comentou, com um sorriso largo.— Foi mesmo, mas, ainda assim, não se compara aos da nossa favela.Minha amiga riu, concordando. Olhei pra frente e vi as luzes azuis e vermelhas piscando mais adiante.— Caralho! Os cana tão parando geral. Tamo fodido. — Gigante resmungou, claramente irritado.— Relaxa, Gigante, a gente não vai ser parado. — Tentei tranquilizá-lo, mas não tinha tanta certeza do que dizia.Apesar da minha tentativa de acalmar, o carro foi parado. Matheus desceu pra desenrolar com os policiais enquanto nós três ficávamos quietos, trocando olhares tensos. Depois de alguns minutos, ele voltou com um sorriso tranquilo no rosto.— Nada que uma grana não resolva. — Ele disse, rind
Minha casa estava mais movimentada do que o normal. Não que eu reclamasse, porque, apesar da bagunça, sempre gostei de ter gente por perto. Isso ajudava a abafar a solidão que, de vez em quando, insistia em aparecer. Estava na sala dobrando umas roupas da Carlinha quando ouvi a porta da frente se abrir com força. Nem precisei olhar para saber quem era. — Essa casa virou a casa da mãe Joana ou eu tô maluca? — A voz inconfundível de Macla ecoou pelo ambiente antes mesmo de ela aparecer. Soltei uma risada baixa, e Vanessa, que estava mexendo no celular ao meu lado, levantou os olhos e também riu. — Entra e faz mais barulho, Macla. Acho que ninguém percebeu que você chegou. — Brinquei, olhando para ela com diversão. — Não duvido nada. — Macla respondeu com aquele sorriso travesso enquanto jogava a bolsa no sofá. Ela veio me abraçar rapidamente antes de notar Vanessa. — E aí, irmã? Não sabia que você estava por aqui. — Resolvi dar as caras. Vim ver Halú e aproveitar pra sair co
Por TonhãoNa quebrada, o bar do Zeca era o ponto de encontro dos vagabundos como eu e o Gordo. Nada de muito luxo, mas tinha cerveja gelada e uma porção de torresmo que parecia ter saído direto do céu – ou do inferno, que era mais a nossa vibe.Eu tava sentado no canto, uma mesa de madeira velha que rangia com cada movimento meu. O Gordo chegou logo em seguida, carregando um sorriso sacana no rosto redondo e suado.— Tá tudo certo, Tonhão. — Ele se jogou na cadeira, puxando um cigarro amassado do bolso e acendendo com aquele isqueiro que mais falhava do que pegava.— Ótimo. — Respondi, pegando uma garrafa de cerveja e enchendo meu copo até transbordar. — Agora me diz, Gordo, como é que os otários vão reagir quando a gente pegar a princesinha deles?O Gordo soltou uma gargalhada curta, aquele tipo de risada que não trazia nada de bom.— Eles vão ficar putos da vida, Tonhão! O MT, então... Aquele maluco vai rodar. Vai querer arrancar a nossa cabeça com as próprias mãos.— É isso que eu