Levanto-me imediatamente ao ouvir as vozes. Meu coração acelera, e meu corpo reage antes que eu possa pensar. Então vejo Benjamin e Henry entrando. “Perfeito. Justo o que eu não precisava agora”, penso.— Está melhor? — Benjamin se aproxima e me puxa para um abraço antes de se afastar. Quando assinto, ele aponta para as sacolas. — Trouxe o jantar.— Obrigada — digo, com um sorriso automático. Desvio o olhar para Henry, esperando algum sorriso irritante ou um olhar provocativo, mas sua expressão está tensa.— Evie. — ele finalmente me cumprimenta com um tom frio e indiferente, como se fosse um mero conhecido.— Henry. — murmuro, forçando um sorriso educado.O contraste entre a frieza atual e a intensidade de poucas horas atrás não passa despercebido por mim, e logo um pensamento me invade: Como alguém que parecia tão dominado pelo desejo consegue agir como se nada tivesse acontecido, enquanto eu claramente estou corando apenas por estar em frente a ele?Rapidamente tento mudar o foco an
Por um momento, fico parada, sem reação. Seu abraço, unido às palavras que soam como uma promessa, traz algo que eu não esperava. Diante dessa sensação de segurança, algo que há tanto tempo me parecia inalcançável, sinto meu corpo relaxar em seus braços.Minha mente diz que eu não deveria me deixar levar por isso, apontando o risco das consequências, mas meu coração, ainda abalado pela presença de Sebastian e pelos últimos acontecimentos, encontra conforto nos braços de Henry. Fecho os olhos, me permitindo, por um instante, acreditar que realmente estou segura.O peso de suas palavras me faz respirar mais fundo, e eu me odeio por sentir tanto alívio. Sei que confiar em Henry é perigoso, sei que me permitir sentir qualquer coisa além de provocação e rivalidade com ele pode ser um caminho sem volta. Mas, ao mesmo tempo, tudo parece tão… certo.— Você não precisa fazer isso — murmuro, sentindo minha voz sair mais suave do que pretendia.— Faço porque quero, Evie — ele responde, num tom ba
O ar gelado dos Alpes Franceses é um alívio para minha mente turbulenta, mas não para a tensão que carrego no peito. Enquanto o carro segue pela estrada montanhosa até a clínica de Adrian, tento me preparar mentalmente para o sermão que ele certamente vai me dar. Sei que demorei demais para voltar aqui, mas com tudo o que aconteceu com Sebastian e Henry, foi difícil encontrar tempo e dinheiro para qualquer coisa que não fosse resolver crises.Assim que o carro para na frente da clínica, respiro fundo antes de descer. A fachada do local é acolhedora, cercada por pinheiros cobertos de neve, o que deveria me acalmar, mas só aumenta minha ansiedade.Pouco tempo depois, sou finalmente chamada ao consultório e, ao abrir a porta, encontro Adrian sentado em sua mesa, me esperando com uma expressão nada amigável.— Evie Ashford… Antes tarde do que nunca, não é? — ele começa, sem esconder a frustração na voz.Forço um sorriso e fecho a porta atrás de mim, tentando disfarçar o nervosismo. Sento-m
“Henry Blackwood”Outra semana se inicia, no entanto, há alguns dias algo mudou. A rotina, algo que sempre me acalmava e me distraía de qualquer tipo de problema, se tornou um incômodo. Caminho em direção à minha sala, tentando me concentrar nos dias intensos que vêm pela frente, mas quando passo em frente à sala de Evie, meus olhos inevitavelmente voltam para a porta fechada.Evie está fora há quatro dias. Quatro dias sem nenhuma provocação, sem sua boca insolente e palavras afiadas e, mais importante, sem nenhuma notícia. Sei que ela foi até lá para resolver seus problemas, mas uma parte de mim esperava, ainda que ridiculamente, uma mensagem de agradecimento. Nem que fosse um simples “obrigada” por ajudar a tornar a viagem possível.— Será que ela está bem? — murmuro, soltando um suspiro frustrado.Balanço a cabeça, tentando me livrar desses pensamentos ridículos, e acelero o passo. Pensar em Evie e nos últimos acontecimentos é um caminho perigoso. Sei disso. E ainda assim, sempre qu
Ao reconhecer a voz mais exaltada, Benjamin e eu trocamos olhares confusos. Levanto-me rapidamente e sigo em direção ao som, com Benjamin logo atrás. Ao nos aproximarmos da mesa da minha secretária, o que vejo me faz revirar os olhos.— Você não pode me impedir de entrar! Sou a noiva dele. O que há de errado? Ele está com outra mulher, não está? — Harper diz, quase histérica, enquanto a Srta. Turner parece completamente perdida, sem saber como lidar com a situação.Ao me ver, Harper muda de postura em segundos, adotando seu ar inocente que me irrita profundamente. Benjamin dá um tapinha no meu ombro antes de se afastar, provavelmente se divertindo com o que terei que aguentar.— O que está acontecendo aqui? — pergunto, já sabendo a resposta, mas seguindo a porra do teatro.— A sua secretária está me impedindo de entrar — Harper faz um biquinho enquanto lança um olhar de desprezo para a Srta. Turner. — Isso é um absurdo! Ela deveria saber que nada é mais importante que a sua noiva.A Sr
Assim que entro na sala, levanto a sobrancelha, incapaz de esconder minha surpresa ao ver quem está ali. Minha mãe se levanta com um sorriso caloroso, como sempre, e me envolve em um abraço apertado.— Ah, meu menino! — ela diz, me apertando com carinho, enquanto meu padrasto, Robert, me observa com uma expressão indecifrável. Seu olhar sério não revela muito, mas é típico dele.— Estava com saudades, mãe — sussurro, afastando-me de seu abraço. Observo os dois enquanto meu cérebro ainda tenta processar a visita. — Por que não avisaram que estavam vindo?Minha mãe solta um suspiro pesado e abaixa o olhar, parecendo quase culpada. Seu jeito humilde é algo que sempre admirei, mas também é o que, às vezes, a torna mais vulnerável do que realmente é.— Soube do seu casamento, Henry — minha mãe diz, quase num sussurro. — Ouvi as funcionárias comentando que a notícia saiu nesses sites de fofoca que eu nunca me importei em olhar…Solto um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos. É óbvio q
Ao ouvir sua insinuação, minha paciência atinge o limite. A frustração que venho guardando, todas as coisas que já tolerei até agora, começam a borbulhar dentro de mim. Respiro fundo, mas em vez de deixar minha raiva transparecer, uso-a como motivação. Mais uma razão para seguir adiante com o que planejei.Harper, percebendo a tensão no meu rosto e a mudança na minha postura, se adianta para se explicar. Ela sabe que tocou em algo muito importante para mim.— Henry… Me expressei mal, amor — ela diz, suavizando o tom. — Só estou preocupada com a sua mãe se sentir desconfortável. Você sabe que ela nunca ficou à vontade no meio social que frequentamos, e não quero que ela se sinta… deslocada.— Talvez minha mãe não esteja presente — digo, controlando o tom, mesmo com a raiva queimando por dentro. — Mas, se ela decidir ir, Harper, você aceitará e ficará caladinha. Se não, quem não aparecerá no casamento sou eu.O rosto dela empalidece por um momento. Harper abre a boca para dizer algo, mas
“Evie Ashford”Enquanto coloco a última peça na mala, sinto uma mistura de ansiedade e alívio tomar conta de mim. Após uma semana nos Alpes Franceses, é hora de voltar a Mayfair. Passei por exames, consultas e, claro, segui as recomendações de Adrian, incluindo as terapias. Esse tempo me ajudou a focar no meu bem-estar, algo que negligenciei por muito tempo.A pedido da psicóloga que me acompanhou nestes dias, desconectei-me do mundo exterior, e isso foi mais difícil do que imaginei. Por mais que eu tentasse manter minha mente longe de Londres e de todos os problemas que me esperavam lá, era impossível não pensar em Henry. Seu nome, seu rosto, suas provocações… Era ridículo, mas a lembrança de tudo o que aconteceu antes de eu partir me perseguia.Eventualmente, inventei uma desculpa para enviar uma mensagem a ele. Algo simples, um “obrigada” pela ajuda, mas, logo depois, desliguei o telefone. Não queria me apegar à expectativa de uma resposta.Além das terapias, tive bons momentos com