O calor do corpo dele contra o meu e a firmeza de seus braços me fazem desmoronar. É como se toda a tensão que estava carregando desde o ataque de Sebastian, o medo constante, tudo, viesse à tona de uma vez só. Minhas mãos, involuntariamente, agarram o tecido da camisa de Henry enquanto sinto as lágrimas se acumularem nos meus olhos.— Sebastian estava aqui… — tento falar, mas minha voz falha.— Ele não está aqui — Henry sussurra, num tom calmo, longe do habitual. — Você está segura, Evie. Sebastian não pode te machucar aqui.Ele continua me segurando firme, um gesto gentil que nunca imaginei que receberia dele, logo dele, o homem que tantas vezes me desafiou e tirou do sério. Finalmente, cedo, deixando as lágrimas escaparem, sem tentar segurar mais.— Você está segura — ele repete suavemente, acariciando meus cabelos.Após um tempo, quando meu choro finalmente diminui, me afasto ligeiramente, limpando o rosto com as costas da mão, ainda sem ter coragem de encará-lo diretamente. Henry
Dois dias se passaram desde que aceitei a ajuda de Benjamin para me mudar, e agora, depois de finalmente trazer minhas coisas do antigo apartamento e deixar este novo espaço com a minha cara, estou exausta. Quando finalmente me jogo no sofá ao lado de Lily, sinto cada músculo do meu corpo reclamar.Passamos o dia inteiro organizando caixas, tirando coisas do meu antigo apartamento, trazendo tudo para cá e tentando deixar esse novo espaço com mais cor. Nada contra Benjamin, mas antes, tudo aqui parecia ter um ar sério e impessoal, quase como se faltasse vida. Agora, com minhas coisas espalhadas e um toque pessoal, o apartamento finalmente começa a parecer um lar.É surreal estar aqui. Benjamin não exagerou nem um pouco quando disse que o prédio tinha segurança reforçada. Só o fato de saber que há câmeras e vigilância 24 horas já me traz uma paz que eu nem consigo mencionar.A exaustão pesa sobre mim, mas, ao mesmo tempo, uma sensação de satisfação toma conta. Olho para Lily e percebo qu
A pessoa se vira para mim, e por um segundo, meu coração parece parar.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ainda tentando controlar o pavor que tomou conta de mim. — Quem é você?Uma mulher de meia-idade, com um avental impecável, me olha com uma expressão surpresa. Ela solta uma risadinha nervosa, erguendo as mãos como se tentasse acalmar a situação. Ao ver como a senhora está vestida, o pavor dá lugar ao constrangimento. Abro um sorriso sem jeito, soltando o ar que nem percebi que estava prendendo.— Desculpe, não queria assustá-la. Sou Marta, a empregada. Venho aqui três vezes por semana para limpar e organizar tudo.— Meu Deus, que susto! — digo, rindo um pouco, embora ainda me sinta meio boba. — Benjamin não me avisou. Me desculpe pelo grito, achei que… bem, achei que fosse outra pessoa.— Não se preocupe, senhorita…?— Ashford, mas me chame apenas de Evie, por favor — peço, vendo-a abrir um sorriso gentil.— Certo, Evie — ela repete meu nome, hesitante. — O café está quas
“Henry Blackwood”Evie me encara, claramente desconfiada, e Benjamin parece ter sido pego de surpresa. Ele olha para mim por uma fração de segundo, como se estivesse esperando que eu lidasse com a situação.— Claro que o apartamento é do Benjamin — respondo rapidamente, sem dar espaço para dúvidas. — Você acha mesmo que eu perderia meu tempo me envolvendo além do necessário para ajudá-la, Srta. Ashford? Por acaso virei seu pai ou seu marido? Tenho coisas mais importantes para fazer.Ela respira fundo, e posso ver no seu olhar que está segurando a vontade de me responder com alguma frase afiada, como sempre. Quando a vejo segurar as palavras na ponta da língua, um breve sorriso de satisfação surge em meus lábios.Benjamin, que não é cego para o clima tenso na sala, intervém rapidamente.— Sim, o apartamento é meu, Evie — ele diz, esticando o braço para me dar um leve empurrão nas costas, debochando da situação. — Henry pode ser um idiota ocasionalmente, mas, no fundo, ele só está preocu
“Evie Ashford”Sábado. Um dia que deveria ser de descanso, mas, na verdade, só me lembra que tenho uma viagem importante para a qual preciso me preparar. Agachada no chão do quarto, com a mala aberta à minha frente, tento decidir o que levar para Dublin. As roupas estão espalhadas ao meu redor, misturadas em uma confusão. Passo a mão pelos cabelos, frustrada com a indecisão.— Como algo tão simples quanto arrumar uma mala pode ser tão irritante? — resmungo, dobrando mais uma blusa antes de colocá-la na mala.Por um momento, um pensamento involuntário surge. Alguns meses atrás, eu não teria que me preocupar com isso. Sempre havia alguém para fazer essas coisas por mim. Eu só precisava indicar o que queria, e pronto: minha mala estava perfeitamente organizada. Mas agora… Suspiro, afastando esses pensamentos. Não adianta ficar presa ao passado.— Quer saber? Até que não é o fim do mundo. — murmuro, fechando o zíper interno da mala, satisfeita por mais uma etapa concluída. — Nem é tão difí
Ainda sem fôlego, foco o olhar na pessoa que permanece em pé à minha frente, tentando processar o que aconteceu. Quando finalmente o reconheço, abro um sorriso.— Thomas? — pergunto, surpresa. Afinal, em uma de nossas conversas informais, ele havia mencionado que sempre preferia programas mais tranquilos e, de preferência, durante o dia.— Oi, Evie. Não esperava te encontrar aqui — ele diz, rindo de leve.— Nem eu esperava te ver! — exclamo, me aproximando.Nos cumprimentamos, e antes que eu possa dizer mais alguma coisa, percebo o olhar de Lily fixo em Thomas. Ela o observa de cima a baixo, e é impossível ignorar o sorriso travesso que se forma em seus lábios.— Está sozinho? — pergunto. Ele solta uma risada baixa, coçando a nuca, visivelmente desconcertado.— Havia marcado um encontro — responde com um toque de humor na voz. — Mas me dei mal. A linda mulher do aplicativo de namoro era, na verdade, um marmanjo de dois metros de altura.— Que situação! — comento, balançando a cabeça, r
Puxo meu braço com força, me soltando do aperto de Henry. Meu olhar vai direto para ele, a raiva cintilando enquanto massageio o lugar onde seus dedos me seguraram.— Você acha que pode simplesmente sair por aí agarrando as pessoas? — pergunto, estreitando os olhos. — Bebeu seu juízo com o whisky?Ele me encara com aquele sorriso presunçoso de sempre, sem sequer piscar.— Achei que tinha deixado algo claro — ele diz, num tom irônico. — A viagem para Dublin deveria ser estritamente profissional, lembra?— Devo agradecer por querer me lembrar disso hoje, num sábado à noite? — rebato a ironia, sem entender onde ele quer chegar. — Não esqueci.— Bem, vendo você assim, se divertindo e flertando com o Sr. Neville, parece que a profissionalidade ficou lá na empresa. Você deve estar esquecendo que tudo o que faz, de uma forma ou de outra, reflete no que acontece na empresa e, principalmente, no trato entre nós.— Por que, ao invés de controlar minha vida pessoal, você não se preocupa com o que
É domingo à tarde, eu poderia estar descansando da noite mal dormida, mas, em vez disso, continuo tentando terminar de arrumar a mala para Dublin. Já devo ter tirado e colocado tudo de volta umas cinquenta vezes, e ainda sinto que falta alguma coisa.— Como isso é possível? É só uma viagem de negócios, por que parece que estou indo embora para sempre? — resmungo, jogando uma blusa qualquer na mala.Fecho o zíper, mas algo me incomoda. Fico parada, encarando a mala, como se isso fosse ajudar a aliviar a inquietação.— Margot teria arrumado essa mala em dez minutos… — murmuro, sentindo um nó na garganta.Margot. Para a maioria, ela era apenas a governanta da casa; para mim, ela era a minha mãe. Ela fazia tudo por mim, cuidava dos meus horários, me fazia sentir que sempre havia alguém ao meu lado, não importava o que acontecesse. Quando meu pai faleceu, Margot ainda estava lá, forte como sempre. Mas, poucos dias depois, ela também se foi… como se tivesse decidido que era hora de partir.E