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Capítulo 4 Conflito e a decisão.

— Haidar, você sempre soube que esse dia chegaria. — disse Khalil.

— Sim, mas… — se interrompeu. Engoliu as palavras sob o olhar de seu pai.

— Eu entendo. — disse em alto som, nada de murmúrio.

O sheik estava orgulhoso pelo filho conseguir permanecer com o tom de voz inalterável, mas no fundo, queria que ele o enfrentasse, pedisse explicação e não aceitasse nada que não quisesse tão fácil, como estava fazendo agora.

Parecendo ler a mente do pai, Haidar endureceu o olhar, ampliando a firmeza que havia aprendido a guardar dentro de si.

— Algo a questionar? — Khalil esperou a manifestação da insatisfação causada pela notícia.

— Eu não quero isso agora! Sei que posso fazer isso, me casar, mas não irei fazer nas condições escolhidas! — assegurou.

Khalil escondeu o orgulho aos poucos o preenchendo, pondo no lugar uma carranca que o levou a canalizar a alegria na falsa irritação contra a atitude segura do filho.

— Você não ouviu as condições, como sabe se tudo já foi escolhido? — perguntou ao filho.

— O conheço o suficiente para não acreditar que foi apenas um pensamento momentâneo atravessando sua mente. — respondeu mais confiante de sua decisão desta vez.

Samuel observava tudo em silêncio do lugar onde estava sentado, perto da parede, guardando um sorriso seguro para si mesmo.

— Ser o futuro sheik acarreta responsabilidades e renúncias. Se você ainda não entendeu isso, não pode se tornar um. — Khalil o pressionou.

— Não importa as regras, nós faremos novas se desejarmos. — Haidar estava começando a ficar inquieto.

— Não. Eu faço as regras. Você ainda não fez nada! — apontou o sheik.

Haidar apertou a mandíbula e os dedos nos braços da cadeira.

— Ótimo! Então eu irei começar a fazer hoje! — disse firme.

— É o que todos esperam de alguém como você. — Haidar se sentiu humilhado, de alguma forma aquilo o atingiu de forma negativa, não lhe pareceu um encorajamento.

Haidar se levantou sem a permissão do pai.

— Irei trilhar meu próprio caminho para o futuro, e a sombra que vai me seguir não será de uma mulher escolhida por outra pessoa. — mal proferiu aquelas palavras, foi repreendido, desta vez era mais sério.

— Sente-se, eu não o permitir levantar! — Khalil lhe atingiu com seus olhos âmbar afiados.

— Nem mais um segundo, meu amo! — Foi irônico.

— Haidar, não ouse! — Khalil não queria encerrar a conversa ainda, pois sentiu-se acusado.

— E como eu ouso? Sair? Arranjar as coisas como quero? Sim, irei frequentar alguns lugares diferentes, quem sabe eu não encontre sua próxima filha em um desses lugares? — piscou descaradamente para o pai.

Khalil estava surpreso com a mudança drástica de comportamento, por isso perdeu o momento em que o príncipe passou pela porta.

— Ele entendeu tudo errado. — murmurou Samuel, seus olhos quase mel pararam na imagem irritada do sheik.

"Ótimo! Agora temos dois descontrolados de uma vez só." Pensou Samuel, fingindo anotar algo importante no bloco de notas do aparelho celular que tinha em mãos.

"A arma foi carregada errada. Será que eu passei as devidas munições?" Se perguntou alguns segundos depois de ver o sheik se levantar do seu assento detrás da mesa e caminhar para fora dali.

*****

Enquanto isso, Zahraa preparava o jantar fingindo não estar ansiosa, seu pai havia chegado mais cedo que todas as outras noites, o que não era bom para seus planos, como ela faria para escapar de casa e se apresentar no hotel pela primeira vez? Era sua chance, a única chance de seguir o sonho de ser como sua mãe, uma dançarina notável, a diferença seria que ela não estava disposta a revelar sua identidade, assim estaria segura.

Por mais que a cultura tivesse dado oportunidades para as dançarinas, ainda havia pessoas que julgavam, perseguiam e desprezavam, jogando fora seu valor como mulher e tirando suas oportunidades de ser digna de um bom casamento.

Suspirando, Zahraa reforçou a si mesma que era a única oportunidade para mostrar ao pai o quão forte havia se tornado e reforçar que ele não a impediria de seguir seus sonhos com a história de casamento arranjado.

Há quase dois anos ouvia a mesma estória, o seu casamento e consequentemente, a saída da casa de seus pais. Naquela época, sua mãe ainda era viva, ela vivia dando-lhe o mesmo conselho; "Filha, faça uma acordo com seu pai, ele aceitará se disser que vai se comprometer logo." Mas Zahraa nunca teve oportunidade e agora não era o momento adequado, ele ficaria ainda mais atento a ela, caso comentasse sobre aquilo. Sentia o coração acelerado, jamais havia feito algo daquela natureza, por isso estava quase suando, não pelo vapor que saia da comida recém preparada, pelo olhar do pai sobre ela enquanto preparava a mesa.

— O que você fez o dia todo? — A pergunta dele era uma surpresa para a filha. Ela engoliu em seco, sentia ter sido pega no flagra, mesmo assim tentou se recompor.

— Foi bem. Estou me dando bem na área de história, quero fazer descobertas históricas em breve. — fingiu empolgação, pois sabia que logo seria ignorada novamente.

— Isso seria ótimo! — foi tudo que disse, então tratou de preparar seu prato.

Zahraa baixou a cabeça deixando que o desjejum seguisse em silêncio.

Assim que terminou tudo, ela capturou a mochila já preparada, olhou para fora da janela de seu quarto, no segundo andar da casa. Não havia ninguém, as luzes da casa estavam apagadas, dando indícios de quietude. Tentando manter até mesmo o coração com os batimentos baixos, ela caminhou descalço até a porta do quarto, estava com os saltos nas mãos para não fazer barulho.

Desceu as escadas com cuidado, então se dirigiu a porta de entrada, passando por ela com mais cuidado redobrado. No entanto, Zahraa não viu a sombra de seu pai sentado na poltrona no outro canto da sala, Youssef havia visto tudo.

*****

"Ele vai conseguir o que quer. Todos irão!" Decidiu Haidar.

Saindo apressado para fora da casa dos pais. Haidar estava dirigindo em alta velocidade. Ouviu o toque do telemóvel, olhando de soslaio, aceitou a ligação da irmã.

— Eu não acredito. O que planeja fazer? Eu sei que não quer se casar agora. — Lila disparou, demonstrando ter visto a notícia.

Com os olhos estreitos para a avenida que percorria, vendo todas as luzes dos postes, prédios e demais instalações, Haidar parecia atingir um ponto invisível com o olhar afiado.

— Na verdade, eu quero me casar! — diz ele.

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