— Haidar, você sempre soube que esse dia chegaria. — disse Khalil.
— Sim, mas… — se interrompeu. Engoliu as palavras sob o olhar de seu pai. — Eu entendo. — disse em alto som, nada de murmúrio.O sheik estava orgulhoso pelo filho conseguir permanecer com o tom de voz inalterável, mas no fundo, queria que ele o enfrentasse, pedisse explicação e não aceitasse nada que não quisesse tão fácil, como estava fazendo agora. Parecendo ler a mente do pai, Haidar endureceu o olhar, ampliando a firmeza que havia aprendido a guardar dentro de si. — Algo a questionar? — Khalil esperou a manifestação da insatisfação causada pela notícia. — Eu não quero isso agora! Sei que posso fazer isso, me casar, mas não irei fazer nas condições escolhidas! — assegurou.Khalil escondeu o orgulho aos poucos o preenchendo, pondo no lugar uma carranca que o levou a canalizar a alegria na falsa irritação contra a atitude segura do filho. — Você não ouviu as condições, como sabe se tudo já foi escolhido? — perguntou ao filho. — O conheço o suficiente para não acreditar que foi apenas um pensamento momentâneo atravessando sua mente. — respondeu mais confiante de sua decisão desta vez.Samuel observava tudo em silêncio do lugar onde estava sentado, perto da parede, guardando um sorriso seguro para si mesmo. — Ser o futuro sheik acarreta responsabilidades e renúncias. Se você ainda não entendeu isso, não pode se tornar um. — Khalil o pressionou. — Não importa as regras, nós faremos novas se desejarmos. — Haidar estava começando a ficar inquieto. — Não. Eu faço as regras. Você ainda não fez nada! — apontou o sheik.Haidar apertou a mandíbula e os dedos nos braços da cadeira. — Ótimo! Então eu irei começar a fazer hoje! — disse firme. — É o que todos esperam de alguém como você. — Haidar se sentiu humilhado, de alguma forma aquilo o atingiu de forma negativa, não lhe pareceu um encorajamento. Haidar se levantou sem a permissão do pai. — Irei trilhar meu próprio caminho para o futuro, e a sombra que vai me seguir não será de uma mulher escolhida por outra pessoa. — mal proferiu aquelas palavras, foi repreendido, desta vez era mais sério. — Sente-se, eu não o permitir levantar! — Khalil lhe atingiu com seus olhos âmbar afiados. — Nem mais um segundo, meu amo! — Foi irônico. — Haidar, não ouse! — Khalil não queria encerrar a conversa ainda, pois sentiu-se acusado. — E como eu ouso? Sair? Arranjar as coisas como quero? Sim, irei frequentar alguns lugares diferentes, quem sabe eu não encontre sua próxima filha em um desses lugares? — piscou descaradamente para o pai.Khalil estava surpreso com a mudança drástica de comportamento, por isso perdeu o momento em que o príncipe passou pela porta. — Ele entendeu tudo errado. — murmurou Samuel, seus olhos quase mel pararam na imagem irritada do sheik. "Ótimo! Agora temos dois descontrolados de uma vez só." Pensou Samuel, fingindo anotar algo importante no bloco de notas do aparelho celular que tinha em mãos. "A arma foi carregada errada. Será que eu passei as devidas munições?" Se perguntou alguns segundos depois de ver o sheik se levantar do seu assento detrás da mesa e caminhar para fora dali. *****Enquanto isso, Zahraa preparava o jantar fingindo não estar ansiosa, seu pai havia chegado mais cedo que todas as outras noites, o que não era bom para seus planos, como ela faria para escapar de casa e se apresentar no hotel pela primeira vez? Era sua chance, a única chance de seguir o sonho de ser como sua mãe, uma dançarina notável, a diferença seria que ela não estava disposta a revelar sua identidade, assim estaria segura. Por mais que a cultura tivesse dado oportunidades para as dançarinas, ainda havia pessoas que julgavam, perseguiam e desprezavam, jogando fora seu valor como mulher e tirando suas oportunidades de ser digna de um bom casamento. Suspirando, Zahraa reforçou a si mesma que era a única oportunidade para mostrar ao pai o quão forte havia se tornado e reforçar que ele não a impediria de seguir seus sonhos com a história de casamento arranjado. Há quase dois anos ouvia a mesma estória, o seu casamento e consequentemente, a saída da casa de seus pais. Naquela época, sua mãe ainda era viva, ela vivia dando-lhe o mesmo conselho; "Filha, faça uma acordo com seu pai, ele aceitará se disser que vai se comprometer logo." Mas Zahraa nunca teve oportunidade e agora não era o momento adequado, ele ficaria ainda mais atento a ela, caso comentasse sobre aquilo. Sentia o coração acelerado, jamais havia feito algo daquela natureza, por isso estava quase suando, não pelo vapor que saia da comida recém preparada, pelo olhar do pai sobre ela enquanto preparava a mesa. — O que você fez o dia todo? — A pergunta dele era uma surpresa para a filha. Ela engoliu em seco, sentia ter sido pega no flagra, mesmo assim tentou se recompor. — Foi bem. Estou me dando bem na área de história, quero fazer descobertas históricas em breve. — fingiu empolgação, pois sabia que logo seria ignorada novamente. — Isso seria ótimo! — foi tudo que disse, então tratou de preparar seu prato.Zahraa baixou a cabeça deixando que o desjejum seguisse em silêncio.Assim que terminou tudo, ela capturou a mochila já preparada, olhou para fora da janela de seu quarto, no segundo andar da casa. Não havia ninguém, as luzes da casa estavam apagadas, dando indícios de quietude. Tentando manter até mesmo o coração com os batimentos baixos, ela caminhou descalço até a porta do quarto, estava com os saltos nas mãos para não fazer barulho.Desceu as escadas com cuidado, então se dirigiu a porta de entrada, passando por ela com mais cuidado redobrado. No entanto, Zahraa não viu a sombra de seu pai sentado na poltrona no outro canto da sala, Youssef havia visto tudo. *****"Ele vai conseguir o que quer. Todos irão!" Decidiu Haidar.Saindo apressado para fora da casa dos pais. Haidar estava dirigindo em alta velocidade. Ouviu o toque do telemóvel, olhando de soslaio, aceitou a ligação da irmã. — Eu não acredito. O que planeja fazer? Eu sei que não quer se casar agora. — Lila disparou, demonstrando ter visto a notícia. Com os olhos estreitos para a avenida que percorria, vendo todas as luzes dos postes, prédios e demais instalações, Haidar parecia atingir um ponto invisível com o olhar afiado. — Na verdade, eu quero me casar! — diz ele.(No presente, depois de ter esbarrado com Zahraa.) "O que foi isso?" Haidar se perguntou arqueando uma sobrancelha.Então se recordou do que o fez voltar para dentro do hotel antes de Zahraa aparecer e esbarrar nele. Deveria averiguar qual foi o resultado daquela noite.Havia se ausentado por meros minutos, quando foi atender uma ligação.Caminhou até o salão novamente, avistou Youssef, ele estava sentado em uma das mesas, com dois homens de cada lado, um mais velho e outro mais jovem. "Então foi por isso que ela fugiu? Mas o que fazia aqui se não estavam juntos?" Se perguntou. Seus olhos buscavam a dançarina que estava no palco quando ele chegou, outras estavam no seu lugar, recebendo felicitações daquele que as apresentava. — Senhoras e senhores, tendo o resultado decisivo dessa disputa, iremos encerrar as apresentações. Fiquem com as tradicionais dançarinas agora. — O homem no palco estendeu a mão para a entrada do palco, dando alguns passos para trás para sumir novamente. As jo
— É complicado, jovem príncipe… — hesitou o mais velho.Omar assistiu em silêncio, sempre demonstrando interesse, apesar de saber mais que Haidar. A desinformação incomodava o príncipe, mas saber que alguém tinha tudo nas mãos enquanto, ele perdia uma oportunidade por outra pessoa, era pior ainda. — E por quê seria complicado? — inquiriu, em tom sério. — As candidatas têm direito a manter sua privacidade no momento da inscrição. Elas podem dar pseudônimos no lugar de nomes reais e identificação. — diz Ismael. — E como isso funciona? Como podem confiar nelas dessa forma? — Haidar estreitou os olhos para os dois que estavam com ele naquela mesa. — Em troca de seus nomes e qualquer número de identificação nos bancos de dados, elas têm que responder uma série de perguntas concretas que são averiguadas antes que sejam aceitas e convidadas a participar da seleção. — Haidar estava intrigado com a resposta de Ismael, assim como estava com a presença de Omar. O loiro não se intromete ou ten
Assim que o táxi parou na porta de casa, Zahraa agradeceu mentalmente por se livrar do olhar hostil do motorista, pois para sua má sorte, havia conseguido o mesmo carro, o motorista passou a viagem inteira com a cara fechada, a dançarina sabia bem o que passava por sua cabeça. Ele a estava julgando por conta do horário que retornava para casa. Saltou do carro e não evitou fazer careta para que o motorista notasse quando espiasse pelo espelho. Só então, correu para dentro, pretendendo se esconder de seu pai, havia demorado tanto a conseguir um táxi que tinha medo de encontrá-lo em casa. — Para onde pensa que vai? — assim que pisou no primeiro degrau da escada ouviu a voz do pai.Os pêlos em seu corpo eriçaram, uma sensação de medo terrível a abraçou por trás, fazendo-a congelar no lugar, com as mãos no corrimão e o pé direito no primeiro degrau. — Temos apenas uma coisa para falar. — as palavras foram ouvidas por ela, enquanto tentava se recompor. — Você me desobedeceu, quebrou as
Quase deixou o celular cair em seu próprio rosto, nervosa não soube o que mandar. "Temos assuntos pendentes a tratar." — essa mensagem não a assustou menos que as outras.A pessoa do outro lado sabia que ela estava lendo as mensagens, por isso continuou... "Logo nos encontraremos." "E já posso adiantar…" — a pessoa do outro lado queria amedrontá-la, pois escrevia rapidamente e mandava mensagens curtas."Estou ansioso por esse encontro." — permitiu que ela descobrisse se tratar de um homem. "Prometo desde já, que você não se arrependerá de vim ao meu encontro!" — assegurou, aquilo só a assustou mais, pois não parecia que ela tinha escolhas.Zahraa deslizou o indicador rapidamente, quase deixou o aparelho escapar de suas mãos, pressionou o botão na lateral e desligou. No entanto, ainda permaneceu encarando a tela com assombro, mesmo depois de ficar totalmente negra. Devagar, baixou o aparelho o colocando de lado. "Isso é uma perseguição?" Temia que fosse verdade, não queria acabar
Zahraa conseguiu pegar um táxi depois de muito se molhar na chuva apenas para não ser vista por Haidar, havia esperado para ter certeza que ele não havia encontrado seu telemóvel, quando o viu entrar no seu carro esporte, não conseguindo encontrar nada a mais com ele, deixou de acreditar no envolvimento dele naquela situação.O caminho até a residência dela foi rápido, pois a chuva cessou assim que ela entrou no táxi, fazendo-a resmungar. Entrou em casa com as roupas encharcadas, seu pai estava na sala, esperando-a. — Tome um banho, troque essas roupas e venha preparar o jantar! — ordenou assim que a viu, estava muito sério para se presumir que havia tido um bom dia. — Sim, senhor! — subiu as escadas sem reclamar.Se dirigiu ao banheiro do quarto com rapidez para não molhar demasiado o piso, prevenindo um acidente comum para ela, às vezes era distraída. Tomou um banho rápido, colocando o primeiro vestido que encontrou, prendeu os cabelos úmidos pela chuva e correu para a sala. — O
— Desculpe atrapalhar sua noite alteza! — pediu de antemão.Zahraa não conseguia ouvir a resposta dele. — Há uma jovem aqui dizendo ser a filha do senhor Al-Abdulla… — ele não completou, apenas levantou fitou Zahraa. — Permito que ela suba? — Quis ter certeza. — Sim. Sim. — disse ele, com o telefone contra a orelha. — Deseja que faça a revista? — Depois da resposta, devolveu o aparelho ao lugar de origem. Quando pôs a mão no outro bolso, Zahraa acreditou que iria tirar de lá algo para revista-la, enrijeceu um pouco com o pensamento de algo passando por seu corpo, procurando detectar quaisquer ameaça contra o príncipe. Para sua confusão, ele retirou uma chave, entregando a ela, deu um passo para o lado. — Para quê preciso disso? — Zahraa estava confusa com o objeto em mãos. — Está autorizada a subir. Pegue o elevador, ele vai parar no andar do príncipe. — A explicação dele foi breve.A confusão da jovem ainda era notória, a chave era estranha na palma dela. — Use a chave na por
A voz dela sumiu. Os olhos verdes cinzentos a envolveu. — Parece que gosta disso. Então continue sendo intimidada por esse cara estranho. — as palavras dele a deixam confusa. — Quê? — Zahraa entendia menos agora. Haidar se abaixou para deslizar o celular por cima da mesa de centro que os separava. — O número desconhecido que está enviando mensagem para você constantemente. — explicou, a vendo capturar o aparelho e vasculhar sobre o que ele falava.Haviam novas mensagens estranhas como as primeiras, Haidar não parecia ter respondido a nenhuma delas. Os olhos de Zahraa levantaram para o encontrar. — Estava falando disso? — murmurou envergonhada. Por um momento quis desmanchar de alívio. — Esconde algo que eu deveria saber? Acreditava que não tínhamos nada a ver um com o outro. — a verdade em suas palavras alfinetaram Zahraa, a obrigando a se recompor. — Não há. — quis assegurar, não foi capaz.O príncipe a estudou com interesse. — Poderia dizer que fui capaz de descobrir a identi
Não era do feitio de Haidar brincar de gato e rato, por isso estava se irritando com a brincadeira, havia aprendido com o sheik que deve se levar a sério as coisas qualquer detalhe que o incomodar, as mensagens não o incomodavam muito, apenas um pouco, mas as mentiras de Zahraa sim. Ele se questionava a cada passo o motivo de levá-la a esconder coisas dele, aquilo só o fazia pensar que teria algo haver com ele, pois ela conhecia a família dele de perto, assim como a versão dele da infância, poderia ter qualquer coisa que os envolvessem. Zahraa parecia tão frágil agora, as costas quase deslizando pela parede que se recostou, os olhos presos na imagem dele crescendo à medida que se aproximava mais dela. — Vamos Zahraa! — Haidar tentou usar o tom leve de pedido.A bela jovem quase escorregou pela parede, no entanto, no segundo seguinte, ela recobrou as forças e fugiu dele. — Uff! — Haidar sentia a falsa coroa cair de sua cabeça, a mulher era arisca. "Tenho que fazer tudo isso para con