A noite fria e chuvosa revelava a alma de Gustavo, que andava pelas ruas escuras, sem destino, sem norte. Os dias eram longos, embalados por momentos vazios, bebidas, horas jogado no sofá duro e sujo, e suas noites regadas de sexo, suor, gemidos, mas nenhum prazer. Há tempos seu corpo era o único recurso para o mantimento e o aluguel do buraco em que morava, perdia-se por horas sobre a cama de um motel de quinta categoria, entre mulheres mal comidas e homens de família que, sobre o colchão barato, se revelavam putinhas histéricas. Ele era um homem bonito, nada parecido com os caras dos comerciais de moda praia, mas ainda assim bonito. Alto, cabelos castanhos, barba por fazer, olhos na mesma tonalidade que os fios lisos e revoltos, o corpo magro e bem moldado não somente pelas horas em que se dedicava à corrida, quando sua mente assombrada lhe permitia se lembrar dessa necessidade, mas também moldado pela falta de opções de alimentos em seu dia a dia. Como ele mesmo dizia: pa
Olivia estava íntima, passou a se referir a ele por “Gu” e nada mais, ele não ligava, era quase que um cuidado maternal. Quase.Olhou para as horas no celular, passava do meio dia, ainda teria tempo para se recompor e recuperar a vida que a Claudia sugou. Pediu almoço e se permitiu ficar jogado na sala, não faria nada, não se moveria para absolutamente nada, às nove horas da noite estaria inteiro novamente. No horário marcado, estava à espera de Armando.— Está muito elegante hoje, jovem — disse olhando-o.— Muito obrigado, grandão, nunca usei isso aqui, precisei recorrer à menina da recepção para me ajudar — confessou enquanto ajeitava a gravata borboleta, se olhando no pequeno espelho do carro.— Tenho certeza que ela não se importou em ajudar. — Piscou para Gustavo e os dois riram.Ela não ligou
Os dias de Gustavo eram todos iguais, ainda que com pessoas diferentes, sua vida seguia um padrão. Passava o dia dormindo, usando a academia do prédio, assistindo a filmes e séries, mas depois ganhava a noite paulistana, perdendo-se em corpos esculpidos pelos profissionais da cirurgia plástica. Algumas pessoas marcavam sua semana, outras simplesmente aconteciam como mais uma noite qualquer. Nunca mais ouviu falar de Jéssica, mas assim que chegou em seu apartamento, após negociar com Armando os dados bancários da mulher, fez a transferência para a conta dela, valor esse que voltou para a conta dele quase que no mesmo instante. Desistiu, estava decidido a não ficar fermentando aquela situação, esquecer o quanto ela parecia perfeita no encaixe dos seus braços e seguir em frente.— Olha, preciso dar parabéns à Olivia, faz muito tempo que ela não tem um exemplar desses no
— Saindo durante o dia? — Ric perguntou, assim que Gustavo cruzou a recepção do hotel.— Viu só, eu disse que não era um vampiro.Os dois riram e ele entrou no carro que já o esperava. Iria almoçar com Jéssica e, após a noite que passaram juntos, tudo o que ele queria era encontrá-la de verdade, como duas pessoas normais. O motorista parou em frente ao restaurante, ele desceu e ligou para ela, para saber onde estava.— Onde está? — perguntou assim que ela atendeu.— “Bom dia para você também.” — Ela riu. — “Estou saindo de casa agora.”Gustavo revirou os olhos bufando.— Poxa, Jessi! — Não conteve a frustração.— “O que foi?”— Marcamos às treze horas, já são treze e vinte, e você ainda nem sa
— Bom dia, minha pequena — ele falou ao ouvido dela.Gustavo já estava de banho tomado e usava boxer e camiseta. Não deixaria mais os ferimentos dos ombros à mostra, aquilo machucou Jéssica e ele não queria que sua vida longe dela interferisse naquela relacionamento frágil. Ela espreguiçou e abriu os olhos com dificuldade, olhando para ele sorrindo, segurou-o pela camiseta e o puxou para ela, fazendo-o cair sobre a cama, rindo.— Quem mandou você se vestir? — Ela disse puxando a camisa para cima.— Espera. — Ele pediu se soltando dela, levantando da cama. — Não quero ver em seus olhos o que vi ontem.Ela o encarou alguns segundos.— E o que você viu ontem? — Sentou-se na cama.— Dor.Não disseram nada, sabiam o que estava pairando entre eles, mas Jéssica também sabia o que havia feito, en
— Nossa! — Ele exclamou quando ela saiu do closet. — Está linda.Jéssica parou e sorriu, deu uma voltinha no próprio corpo, mostrando-se para ele.— Dá pro gasto? — brincou.Gustavo caminhou até ela e a puxou pela cintura, apertando-a contra o seu corpo, inclinou-se tocando o nariz dela com o dele, brincando em forma de carinho.— Você é o encaixe perfeito para mim — disse ainda roçando um nariz no outro.— Então acho que acertei na roupa.Sobre o corpo, um vestido azul escuro colado, na altura dos joelhos, de mangas compridas, não existia um único decote, nada que deixasse a sua pele delicada à mostra, mas a forma como o vestido se moldava ao corpo dela, deixaria qualquer homem por onde passasse, louco. Gustavo vestia um terno cinza também escuro, camisa branca e sem gravata, deixando-o com ar descontra&i
Conseguiam conciliar a vida dupla de Gustavo, quando se encontravam no decorrer da semana, o faziam após Jéssica sair do escritório e antes de Gustavo sair para a noite. Nos finais de semana, Jéssica literalmente comprava o horário do namorado e assim ele era somente dela e, de um modo muito esquisito, estava dando certo para eles. Claro que as crises de ciúmes era uma constante, ela sentia-se perdida e enlouquecida. Quase sempre que Gustavo saía de um encontro seu celular quase explodia de tantas mensagens, fazendo-o rir sempre e por inúmeras vezes. Algumas delas o faziam mudar de trajeto e ir direto para casa de Jéssica, somente para lembrar que eles se pertenciam, ainda que as circunstâncias mostrassem o contrário. Olivia parecia apostar naquele relacionamento, facilitando e muito a vida para os dois, premiando Jéssica com alguns finais de semana gratuitos, o que sempre despertava a curiosidade del
JéssicaDeixar Gustavo, sem dúvida alguma, havia sido a decisão mais doída de Jéssica, ainda que ao lado dele sofresse pelas noites em que o dividia com outras pessoas, não estar com ele era infinitamente pior.Passou dias sem sair de casa e nem ao menos conseguiu ir até a empresa, não atendeu aos telefonemas, e-mails ou qualquer outro tipo de contato. Seu pai já estava de partida, precisava voltar para a matriz, mas a falta de contato com a filha no terceiro dia, despertou sua preocupação.— Então, você está ai? — a voz paternal invadiu o quarto escuro e ela sentiu o colchão se mover com o peso do corpo masculino. — O que aconteceu com você, princesa?Não sabia o que poderia responder ao pai, como dizer o motivo de romper com o namorado? Como explicar que o trabalho dele os afastou