— Saindo durante o dia? — Ric perguntou, assim que Gustavo cruzou a recepção do hotel.
— Viu só, eu disse que não era um vampiro.
Os dois riram e ele entrou no carro que já o esperava. Iria almoçar com Jéssica e, após a noite que passaram juntos, tudo o que ele queria era encontrá-la de verdade, como duas pessoas normais. O motorista parou em frente ao restaurante, ele desceu e ligou para ela, para saber onde estava.
— Onde está? — perguntou assim que ela atendeu.
— “Bom dia para você também.” — Ela riu. — “Estou saindo de casa agora.”
Gustavo revirou os olhos bufando.
— Poxa, Jessi! — Não conteve a frustração.
— “O que foi?”
— Marcamos às treze horas, já são treze e vinte, e você ainda nem sa
— Bom dia, minha pequena — ele falou ao ouvido dela.Gustavo já estava de banho tomado e usava boxer e camiseta. Não deixaria mais os ferimentos dos ombros à mostra, aquilo machucou Jéssica e ele não queria que sua vida longe dela interferisse naquela relacionamento frágil. Ela espreguiçou e abriu os olhos com dificuldade, olhando para ele sorrindo, segurou-o pela camiseta e o puxou para ela, fazendo-o cair sobre a cama, rindo.— Quem mandou você se vestir? — Ela disse puxando a camisa para cima.— Espera. — Ele pediu se soltando dela, levantando da cama. — Não quero ver em seus olhos o que vi ontem.Ela o encarou alguns segundos.— E o que você viu ontem? — Sentou-se na cama.— Dor.Não disseram nada, sabiam o que estava pairando entre eles, mas Jéssica também sabia o que havia feito, en
— Nossa! — Ele exclamou quando ela saiu do closet. — Está linda.Jéssica parou e sorriu, deu uma voltinha no próprio corpo, mostrando-se para ele.— Dá pro gasto? — brincou.Gustavo caminhou até ela e a puxou pela cintura, apertando-a contra o seu corpo, inclinou-se tocando o nariz dela com o dele, brincando em forma de carinho.— Você é o encaixe perfeito para mim — disse ainda roçando um nariz no outro.— Então acho que acertei na roupa.Sobre o corpo, um vestido azul escuro colado, na altura dos joelhos, de mangas compridas, não existia um único decote, nada que deixasse a sua pele delicada à mostra, mas a forma como o vestido se moldava ao corpo dela, deixaria qualquer homem por onde passasse, louco. Gustavo vestia um terno cinza também escuro, camisa branca e sem gravata, deixando-o com ar descontra&i
Conseguiam conciliar a vida dupla de Gustavo, quando se encontravam no decorrer da semana, o faziam após Jéssica sair do escritório e antes de Gustavo sair para a noite. Nos finais de semana, Jéssica literalmente comprava o horário do namorado e assim ele era somente dela e, de um modo muito esquisito, estava dando certo para eles. Claro que as crises de ciúmes era uma constante, ela sentia-se perdida e enlouquecida. Quase sempre que Gustavo saía de um encontro seu celular quase explodia de tantas mensagens, fazendo-o rir sempre e por inúmeras vezes. Algumas delas o faziam mudar de trajeto e ir direto para casa de Jéssica, somente para lembrar que eles se pertenciam, ainda que as circunstâncias mostrassem o contrário. Olivia parecia apostar naquele relacionamento, facilitando e muito a vida para os dois, premiando Jéssica com alguns finais de semana gratuitos, o que sempre despertava a curiosidade del
JéssicaDeixar Gustavo, sem dúvida alguma, havia sido a decisão mais doída de Jéssica, ainda que ao lado dele sofresse pelas noites em que o dividia com outras pessoas, não estar com ele era infinitamente pior.Passou dias sem sair de casa e nem ao menos conseguiu ir até a empresa, não atendeu aos telefonemas, e-mails ou qualquer outro tipo de contato. Seu pai já estava de partida, precisava voltar para a matriz, mas a falta de contato com a filha no terceiro dia, despertou sua preocupação.— Então, você está ai? — a voz paternal invadiu o quarto escuro e ela sentiu o colchão se mover com o peso do corpo masculino. — O que aconteceu com você, princesa?Não sabia o que poderia responder ao pai, como dizer o motivo de romper com o namorado? Como explicar que o trabalho dele os afastou
Acreditou que a dor física em seu corpo infantil fosse a pior que teria que enfrentar no decorrer de sua vida, ou até mesmo a dor da perda de seus pais, os dias de miséria e fome, as noite mal dormidas em bancos de praças, quando fugiu do orfanato. Gustavo acreditava que nada mais em sua vida poderia lhe causar tamanho desespero, mas estava completamente enganado. Sentia em seu corpo e sua alma a dor da perda, como se o respirar fosse um ato complicado e o pensar não estivesse mais no controle de suas mãos.Doía.Os dias que se seguiram sem a presença de Jéssica o devastou, ligou o automático e não se preocupou com as consequências que aquela atitude lhe traria. Ainda trabalhava, passava as noites com os poucos clientes que procuravam por ele, mas não se importava em dar o seu melhor. Sua má fama correu tão rápido quanto a boa e, em pouco tempo, os clientes vi
Dentro da pequena mala, somente os presentes que ganhou das clientes que se envolveu. Todas as roupas, perfumes, sapatos, tudo, foi deixado para trás. Transferiu todo o dinheiro que tinha para uma nova conta, deixando sobre a mesa da cozinha, ao lado do celular, os cartões vinculados à empresa, fechou a porta, colocando dentro de um envelope, deixando na portaria, aos cuidados de Olivia e partiu.Seis meses na empresa de Olivia havia garantido a ele um tempo para respirar e colocar as coisas em ordem. Saiu de lá e foi para o único lugar que conseguia pensar. Claudia abriu a porta de sua mansão e o encarou, enquanto ele entrava e se jogava no sofá de sua sala.— Mas o que aconteceu com você? — Quis saber, verdadeiramente preocupada. — Deixei um jovem renovado e encontro um homem acabado, somente algumas horas depois.— Uma avalanche passou por cima de mim e me soterrou — declarou
JéssicaEnquanto Gustavo caminhava na direção da mulher sentada no bar à sua espera, Jéssica ouvia as palavras ditas por ele repetidas vezes, como se todo o cenário ao seu redor simplesmente tivesse desaparecido e a única verdade que realmente importava era aquela: ele sentiu-se sozinho, abandonado. E Claudia foi a pessoa que o acolheu quando ninguém mais o ajudou. Viu quando o homem que amava, envolveu a cintura de outra mulher e os dois saíram, trocando um olhar carregado de cumplicidade, e ela ficou ali, sentada, sozinha, sem saber até que ponto a sua falta de posicionamento prejudicou sua vida.— Jéssica. — Sentiu o toque em seu ombro. — Jéssica. — Alguém a balançava com mais firmeza. — Jéssica, querida.Olhou para o lado e viu Olivia parada, a sacudindo levemente, observando-a com certa preocup
Assim como prometido, antes mesmo de Gustavo chegar no carro, o endereço de onde Jéssica estava foi recebido por mensagem no celular. Ele olhou e viu que não era muito longe e em menos de quarenta minutos estava parado na frente de um grande salão. Após se identificar para um dos seguranças e reconhecer a eficiência de Olivia, pois a mesma garantiu que sua entrada fosse liberada sem nenhum empecilho, Gustavo foi recebido por sorrisos gentis, alguns acenos educados, servido por um dos garçons que cruzou o seu caminho enquanto reconhecia o território atrás de seu verdadeiro alvo. De forma discreta e se misturando ao mundo que ele passou a conhecer tão bem no último ano, retribuía os sorrisos, entendia o rubor na face de alguns rostos conhecidos, mas foi o riso baixo e o jeito alegre e contagiante dela no canto mais discreto do salão, cercada de pessoas que sorriam com a mesma intensidade d