Jéssica
Enquanto Gustavo caminhava na direção da mulher sentada no bar à sua espera, Jéssica ouvia as palavras ditas por ele repetidas vezes, como se todo o cenário ao seu redor simplesmente tivesse desaparecido e a única verdade que realmente importava era aquela: ele sentiu-se sozinho, abandonado. E Claudia foi a pessoa que o acolheu quando ninguém mais o ajudou. Viu quando o homem que amava, envolveu a cintura de outra mulher e os dois saíram, trocando um olhar carregado de cumplicidade, e ela ficou ali, sentada, sozinha, sem saber até que ponto a sua falta de posicionamento prejudicou sua vida.
— Jéssica. — Sentiu o toque em seu ombro. — Jéssica. — Alguém a balançava com mais firmeza. — Jéssica, querida.
Olhou para o lado e viu Olivia parada, a sacudindo levemente, observando-a com certa preocup
Assim como prometido, antes mesmo de Gustavo chegar no carro, o endereço de onde Jéssica estava foi recebido por mensagem no celular. Ele olhou e viu que não era muito longe e em menos de quarenta minutos estava parado na frente de um grande salão. Após se identificar para um dos seguranças e reconhecer a eficiência de Olivia, pois a mesma garantiu que sua entrada fosse liberada sem nenhum empecilho, Gustavo foi recebido por sorrisos gentis, alguns acenos educados, servido por um dos garçons que cruzou o seu caminho enquanto reconhecia o território atrás de seu verdadeiro alvo. De forma discreta e se misturando ao mundo que ele passou a conhecer tão bem no último ano, retribuía os sorrisos, entendia o rubor na face de alguns rostos conhecidos, mas foi o riso baixo e o jeito alegre e contagiante dela no canto mais discreto do salão, cercada de pessoas que sorriam com a mesma intensidade d
— Sabe que não vejo problema algum nisso, mas você disse não me queria com os clientes.Jéssica arrumava as malas enquanto conversa com a madrasta no viva voz, não entendia o porquê do pedido de Olivia, mas iria atender mesmo assim.— Você irá se divertir, será uma turma pequena e seletiva, somente umas cinco pessoas. Campos do Jordão é uma delícia essa época do ano.— Olivia, sei como é Campos essa época do ano: frio, frio e frio. — Ela riu, colocando na mala mais uma jaqueta. — Mas ok, irei com prazer, eu adoro o chocolate quente de lá.Ouviu a risada contagiante do outro lado da linha e não entendeu mesmo o porquê daquela empolgação toda, sempre soube o quanto ela levava a empresa a sério, mas aquilo era um pouquinho demais. Jéssica acabou de arrumar suas coisas e, a
Três meses depois...— Gustavo, respira! — Claudia repetia a mesma frase.— E se ela não vier? Vai ver que cometeu um erro, que não sou bom o bastante para ela, Otavio vai mostrar a ela toda a verdade. — As palavras saíam com dificuldade, ele já não conseguia respirar direito.Estavam todos do lado de fora da igreja, faltavam minutos para o casamento começar. Olivia teve somente três meses para preparar tudo e desempenhou o papel com a ajuda de Claudia. A igreja Nossa Senhora do Brasil, que tem uma fila de espera de mais ou menos um ano, rapidamente abriu uma exceção quando o pedido veio de três nomes tão conceituados. Desde pequena Jéssica dizia que iria se casar ali, como uma princesa dos desenhos que assistia, e seu pai não iria decepcioná-la. Tudo, ainda que em meio a c
— Só eu acho estranho essa mania que ela tem de “experimentar” os contratados? — Jéssica falava de sua mesa, na mesma sala em que Gustavo trabalhava.Após o casamento e o mês que tiraram para matar a saudade que diziam sentir um do outro, e colocar a casa e duas vidas em uma só dentro do apartamento, Jéssica foi trabalhar com Gustavo e Claudia. Dividia com ele a sala no escritório, suas mesas ficavam uma de frente para a outra e mesmo depois de cinco meses gerenciando o financeiro da Clímax, não conseguia entender a forma que Claudia, agora sócia de Gustavo, escolhia os funcionários.— Não, amor. — Ele riu, tirando sua atenção da tela do notebook para olhar sua esposa que o encarava. — Mas eles não se importam e vem dando certo assim, não vejo motivos para mudar. — Deu de ombros.Ficaram
Acordou com os primeiros raios de sol em seu rosto, pegou no sono onde estava, com a taça vazia de vinho na mão. Espreguiçou-se e curtiu a preguiça do momento, sabia que ainda teria tempo para um banho e um bom café da manhã, e assim o fez. Às oito horas em ponto estava do lado de fora do hotel, de frente para o grande carro preto. Armando desceu o vidro escuro e esboçou o que pareceu ser um sorriso para o rapaz que, meio sem jeito, abriu a porta da frente, sentou-se e puxou o cinto sobre o corpo. — O que foi? — perguntou ainda sem graça, o grandalhão ao seu lado o encarava. — Não vai aqui na frente. — A voz rouca e forte, ecoou entre eles. — Vou sim, não é meu motorista, não vou lá atrás sozinho — respondeu dando de ombros, acomodando-se ainda mais no banco de couro. Armando pareceu pensar sobre o que acabou de ouvir, olhava intensamente para o jovem ao seu lado e foram os dez segundos mais longos da vida de Gustavo, mas não abaixou a cabeça, sustentou o olhar do grandalhão. — Ok
A noite fria e chuvosa revelava a alma de Gustavo, que andava pelas ruas escuras, sem destino, sem norte. Os dias eram longos, embalados por momentos vazios, bebidas, horas jogado no sofá duro e sujo, e suas noites regadas de sexo, suor, gemidos, mas nenhum prazer. Há tempos seu corpo era o único recurso para o mantimento e o aluguel do buraco em que morava, perdia-se por horas sobre a cama de um motel de quinta categoria, entre mulheres mal comidas e homens de família que, sobre o colchão barato, se revelavam putinhas histéricas. Ele era um homem bonito, nada parecido com os caras dos comerciais de moda praia, mas ainda assim bonito. Alto, cabelos castanhos, barba por fazer, olhos na mesma tonalidade que os fios lisos e revoltos, o corpo magro e bem moldado não somente pelas horas em que se dedicava à corrida, quando sua mente assombrada lhe permitia se lembrar dessa necessidade, mas também moldado pela falta de opções de alimentos em seu dia a dia. Como ele mesmo dizia: pa
Olivia estava íntima, passou a se referir a ele por “Gu” e nada mais, ele não ligava, era quase que um cuidado maternal. Quase.Olhou para as horas no celular, passava do meio dia, ainda teria tempo para se recompor e recuperar a vida que a Claudia sugou. Pediu almoço e se permitiu ficar jogado na sala, não faria nada, não se moveria para absolutamente nada, às nove horas da noite estaria inteiro novamente. No horário marcado, estava à espera de Armando.— Está muito elegante hoje, jovem — disse olhando-o.— Muito obrigado, grandão, nunca usei isso aqui, precisei recorrer à menina da recepção para me ajudar — confessou enquanto ajeitava a gravata borboleta, se olhando no pequeno espelho do carro.— Tenho certeza que ela não se importou em ajudar. — Piscou para Gustavo e os dois riram.Ela não ligou
Os dias de Gustavo eram todos iguais, ainda que com pessoas diferentes, sua vida seguia um padrão. Passava o dia dormindo, usando a academia do prédio, assistindo a filmes e séries, mas depois ganhava a noite paulistana, perdendo-se em corpos esculpidos pelos profissionais da cirurgia plástica. Algumas pessoas marcavam sua semana, outras simplesmente aconteciam como mais uma noite qualquer. Nunca mais ouviu falar de Jéssica, mas assim que chegou em seu apartamento, após negociar com Armando os dados bancários da mulher, fez a transferência para a conta dela, valor esse que voltou para a conta dele quase que no mesmo instante. Desistiu, estava decidido a não ficar fermentando aquela situação, esquecer o quanto ela parecia perfeita no encaixe dos seus braços e seguir em frente.— Olha, preciso dar parabéns à Olivia, faz muito tempo que ela não tem um exemplar desses no