AndréDepois de chegar do escritório de um primo que confecciona passaportes falsos, deixei a foto de Marcela sobre a cama junto com o anel que pretendo usar para declarar meu compromisso com Beatriz.Queria ficar um pouco com meu filho, mas antes precisava de um banho. Tirei a roupa e joguei na cama também ― sou bagunceiro mesmo ―, depois entrei no banheiro para um banho rápido.Enquanto tomava banho, pensava no jantar em família. Quero que Beatriz se sinta especial.Sai do banheiro enrolado em uma toalha enquanto enxugava o cabelo com outra. Encaro a caixa do anel sobre a cama. Poucos dias para o jantar. Sei que ela sente minha falta e isso me deixa mais esperançoso. Marcela sempre fala da prima, diz que está achando ela estranha, triste, que não sai com ninguém como antes. É bom que não saia mesmo.Assim que desci, a babá comentou:― Pelo jeito a conversa não foi das melhores. A Bia saiu daqui bem desnorteada, deixou até o carro.Ela nem esperou eu perguntar pelo meu filho, foi log
BeatrizA porta do quarto de hospital se abriu e Marcela entrou. Não sei se tenho forças para olhar para ela agora. A inveja que sinto da vida que ela terá com André e Ângelo é feia demais.― Como está? ― perguntou se aproximando da cama.― Bem. O médico só quer que eu fique de observação por causa da pancada na cabeça.Ela me encarou por algum tempo, até finalmente dizer:― Você devia ter me dito que tinham mais que uma transa ocasional.Pronto. Lá estava ela falando sobre o que eu queria esquecer. Eu devia ter falado que estava mal e que o médico me proibiu de conversar, porém lá estava eu com lágrimas descendo pelo rosto.― Você teria percebido se tivesse realmente olhado em meus olhos. Mas não importa. Não sou o tipo que dá em cima do marido dos outros. Vocês se amam, tem um filho e vão se casar. Vou torcer para que sejam felizes.― Eu não olhei em seus olhos porque tenho vergonha de onde deixei a minha vida chegar. Ângelo foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas se não
BeatrizEstou apavorada. André marcou um jantar com sua família. Queria que eu conhecesse o seu mundo. Ele disse que é um mundo do qual não faz mais parte, mas ainda é o seu mundo. Não entendi nada. E nem ligo. Só quero olhar esse anel tão significativo. Foi em mim que ele pensou quando escolheu. Eu sou seu chocolate. É tão lindo.Passei o dia me arrumando, e ansiosa. Escolhi um vestido vinho com um decote um pouco ousado, coloquei alguns poucos acessórios e uma sandália de tiras transparentes. Pronto, agora é só esperar. Ainda estou na casa dos meus pais, volto para a casa de André em alguns dias. Dessa vez com todas as minhas coisas e para sempre. Ele vai ter que me aturar pelo resto da sua vida, nada menos.― Uau! Se eu fosse ele não deixaria você sair assim. ― Marcela entrou no quarto e nem vi.― Está exagerado? É melhor trocar mesmo. ― Corri para o espelho, mas Marcela segurou meu braço e puxou até a cama.― Está perfeito. Relaxa. Não vai enfartar antes do jantar. ― Ela parecia s
AndréDurante o jantar, deixei Beatriz conversando com Willow e meu pai e fui ao canto onde Antônio estava, afastado de todos. Com a minha vida tão corrida nem tive tempo de ver como ele está.― Como Cora está? ― perguntei.“Me odiando cada dia mais.” ― respondeu e deu de ombros.― Já decidiram o que fazer com ela?“Ainda não. Alexandre acha que a Jessica quer pegar a identidade da irmã e matá-la em seu lugar.”Fazia sentido. Se Antônio não tivesse descoberto a tempo que estava com a mulher errada, Cora estaria morta e Jessica poderia aparecer como a irmã que ninguém conhecia. Herdaria sua própria fortuna. E duvido que mudasse seus hábitos.― Onde ela está?“Na minha casa. Seu novo cativeiro, segundo ela.”― Mostra para ela quem a irmã é.“Já mostrei. Ela disse que mesmo que seja verdade ainda estamos mantendo-a presa.” Suspirou. “E não deixa de ser verdade. É pelo bem dela, mas está presa.”― Isso é uma merda.Antônio deu um sorriso triste. Sem mais nada que pudesse dizer.― Sou um i
AndréSete meses após o casamento.― O que está fazendo aqui? ― ele perguntou ao me ver entrar no beco onde fazia seus negócios obscuros. Eu o seguia desde o dia em que atacou Beatriz, e soube que estaria aqui hoje.― Vim devolver o que fez com minha esposa ― respondi.Ele riu e debochou:― Você não é mais um Rodrigues para vir de vingancinha. Todos sabem que é só um policialzinho de merda.― Posso não trabalhar na empresa ou em qualquer outro negócio da família, mas nunca deixarei de ser um Rodrigues. ― Tirei a arma e ele olhou na direção dela.― Vai fazer o que? Me devolver a coronhada? ― Ele riu ainda mais.Apontei a arma para sua cabeça, vendo o sorriso finalmente sumir.Atirei. Conversar para que? Quem tortura é Antônio, eu simplesmente mato. Isso é pessoal, não é um negócio da família. E se vai gerar represálias, posso assumir sozinho.O corpo dele caiu no chão. Morreu com a expressão de desespero. Porque sorrindo ele não merecia morrer.Guardei a arma e caminhei lentamente até
Quando duas almas quebradas se amamSó existe um caminhoTornar-se uma única alma brilhante.AntônioNão sai do carro, estava parado no mesmo lugar de sempre, toda noite desde que comecei a morar aqui. E como sempre não sai do veículo por longos minutos.A casa continuava igual. Moro aqui desde que sai da mansão Rodrigues. Foi aqui onde vivi meus primeiros anos, com meus pais biológicos. Um imóvel pequeno, com dois quartos, sala conjugada e banheiro. Na frente uma fachada pintada de amarelo e um pequeno jardim com alguns brinquedos de madeira pintados de cores berrantes. Não tive coragem de tirar nenhum. A casa ficou abandonada por anos, a tinta dos brinquedos desbotadas e sua estrutura comprometida pelo tempo, mas não consegui me livrar deles.Parado dentro do carro, minha mente faz uma viagem ao passado. A mesma viagem de todas as noites.Se é cientificamente possível eu não sei, mas me recordo de cada merda da minha infância. Assim como me lembro de alguns momentos tão felizes que
AntônioO desgraçado do Sampaio age como fosse imune. Mas não é. Ele estava na cobertura dele. Depois de procurar o desgraçado em vários lugares onde poderia estar, descobri que estava embaixo do meu nariz. Ele devia estar rindo de nós, mas não vai rir por muito tempo.Fui sozinho. Seguranças ou outros assassinos levantaria suspeitas.Aluguei um apartamento no prédio, de onde, com a ajuda de André, desligamos a câmeras de segurança tempo o suficiente para eu sair do meu apartamento e entrar no dele.Subi e toquei a campainha tranquilamente. Obvio que ele não abriu. O azar dele é que não precisava. Usar sistema de segurança em porta tem suas desvantagens. Assim como fez com as câmeras, meu irmão abriu a porta remotamente. Às vezes gostaria de ter o dom dele. O meu se resume a matar mesmo.“Enfim sós!”Coloquei meu celular para reproduzir essa fala clichê ― que gravei de algum personagem ― ao entrar e encontrar o projeto malfeito de homem pela casa com um roupão branco.Ele arregalou os
O dia em que matei Sampaio foi um dia especial. Ele era o número 99 na lista de canalhas que apaguei.Eu estava muito a fim de comemorar. E como se ela tivesse bola de cristal, recebi uma mensagem:“É meu aniversário. Seja meu presente. E vamos comemorar daquele jeito que você gosta.”Sorri de canto para a mensagem. Era Miriam, uma das minhas parceiras fixas. Eu gosto de controle. Não sou o tipo romântico. Antônio Rodrigues é adepto de cordas, correntes, tapas na cara, na bunda, enforcamento. Gosto de extremos. Claro que sempre com permissão e prazer mútuo. O mundo ficaria chocado se saísse em números a quantidade de pessoas que curtem o misto de dor e prazer. Como já senti muita dor, gosto de proporcionar.“Claro.” Respondi.Vai ser ótimo comemorar meus 99 com ela. Miriam é minha favorita quando o assunto é sexo, em nenhuma ocasião ela usou palavras de segurança. Ela tem uma certa tara por dor.Cheguei no apartamento dela e fui recebido por ela vestida apenas com lingerie branca e se