Quando duas almas quebradas se amamSó existe um caminhoTornar-se uma única alma brilhante.AntônioNão sai do carro, estava parado no mesmo lugar de sempre, toda noite desde que comecei a morar aqui. E como sempre não sai do veículo por longos minutos.A casa continuava igual. Moro aqui desde que sai da mansão Rodrigues. Foi aqui onde vivi meus primeiros anos, com meus pais biológicos. Um imóvel pequeno, com dois quartos, sala conjugada e banheiro. Na frente uma fachada pintada de amarelo e um pequeno jardim com alguns brinquedos de madeira pintados de cores berrantes. Não tive coragem de tirar nenhum. A casa ficou abandonada por anos, a tinta dos brinquedos desbotadas e sua estrutura comprometida pelo tempo, mas não consegui me livrar deles.Parado dentro do carro, minha mente faz uma viagem ao passado. A mesma viagem de todas as noites.Se é cientificamente possível eu não sei, mas me recordo de cada merda da minha infância. Assim como me lembro de alguns momentos tão felizes que
AntônioO desgraçado do Sampaio age como fosse imune. Mas não é. Ele estava na cobertura dele. Depois de procurar o desgraçado em vários lugares onde poderia estar, descobri que estava embaixo do meu nariz. Ele devia estar rindo de nós, mas não vai rir por muito tempo.Fui sozinho. Seguranças ou outros assassinos levantaria suspeitas.Aluguei um apartamento no prédio, de onde, com a ajuda de André, desligamos a câmeras de segurança tempo o suficiente para eu sair do meu apartamento e entrar no dele.Subi e toquei a campainha tranquilamente. Obvio que ele não abriu. O azar dele é que não precisava. Usar sistema de segurança em porta tem suas desvantagens. Assim como fez com as câmeras, meu irmão abriu a porta remotamente. Às vezes gostaria de ter o dom dele. O meu se resume a matar mesmo.“Enfim sós!”Coloquei meu celular para reproduzir essa fala clichê ― que gravei de algum personagem ― ao entrar e encontrar o projeto malfeito de homem pela casa com um roupão branco.Ele arregalou os
O dia em que matei Sampaio foi um dia especial. Ele era o número 99 na lista de canalhas que apaguei.Eu estava muito a fim de comemorar. E como se ela tivesse bola de cristal, recebi uma mensagem:“É meu aniversário. Seja meu presente. E vamos comemorar daquele jeito que você gosta.”Sorri de canto para a mensagem. Era Miriam, uma das minhas parceiras fixas. Eu gosto de controle. Não sou o tipo romântico. Antônio Rodrigues é adepto de cordas, correntes, tapas na cara, na bunda, enforcamento. Gosto de extremos. Claro que sempre com permissão e prazer mútuo. O mundo ficaria chocado se saísse em números a quantidade de pessoas que curtem o misto de dor e prazer. Como já senti muita dor, gosto de proporcionar.“Claro.” Respondi.Vai ser ótimo comemorar meus 99 com ela. Miriam é minha favorita quando o assunto é sexo, em nenhuma ocasião ela usou palavras de segurança. Ela tem uma certa tara por dor.Cheguei no apartamento dela e fui recebido por ela vestida apenas com lingerie branca e se
Cora ― Tome o remédio que a mamãe te der, promete? ― estendi o pirulito na direção da pequena Diane.― Promete ― repetiu com seu sorriso banguela. ― Cadê o Cãos?Foi a minha vez de sorrir.― Está cuidando da casa. Assim que possível trago ele.Caos é meu cachorro Pitt Bull, meu best friend. A maioria das crianças erram o nome. Eu podia dar qualquer nome mais fácil e fofinho, mas aquele pestinha me deu muito trabalho, então o chamei de Caos. Era meu pequeno furacão, quebrando tudo por onde passava. Por sorte amadureceu e está mais responsável quanto ao bolso da dona.Amo crianças e animais. Desde pequena meu sonho é ter pelo menos cinco filhos em uma casa grande com cães, gatos, coelhos, todo o animalzinho que tiver direito. Quero me casar e todo fim de semana ter um almoço ou churrasco de família. Para isso só me falta o par. Acho que fizeram macumba, pois não consigo me conectar com ninguém. Já tentei em dois relacionamentos nos meus vinte e seis anos. Até que durou anos ambos, mas
CoraDias depois.― Senhorita Oliveira, desculpe por te fazer esperar. Vamos receber a visita do senhor Rodrigues hoje e todos ficam agitados. ― A mulher sorridente veio em minha direção.― Sem problemas. Meu voo só sai à noite. ― Devolvi o sorriso.― Obrigada pela compreensão. Você foi muito elogiada pelas nossas colegas da filial de Minas Gerais. Ela me disseram que as crianças te adoram, a você e o Caos.Sorri mais. Faço trabalho voluntario no orfanato dos Rodrigues, em Belo Horizonte, uma vez por mês, e sempre levo o Caos. Já ouvi falar muito dos donos, mas nunca procurei maiores informações. O importante são as crianças.― Quando vier oficialmente trago ele. Hoje só quis conhecer o lugar e dar uma olhadinha nas crianças.― Será um prazer apresentar.― Vera, vou precisar ir mais cedo hoje. ― Uma mulher grávida apareceu com a expressão de cansaço.― Não tem problema. Se acontecer alguma coisa, chamamos a emergência ou o que for necessário. Só me avisa se for ficar em casa os próxim
CoraDepois de um dia de trabalho, chego em casa e sou recebida pelos carinhos de Caos. Ele quase me derruba de tanto que pula em minhas pernas.― Oi, amiguinho! ― me ajoelho para falar com ele. ― Falta pouco. Logo você terá um quintal gigante e vou te deixar destruir tudo nele.O contrato de aluguel desse apartamento vence esse ano, e não vou renovar. Estou procurando uma casa.Depois de alguns carinhos, me levantei e segui para a cozinha com ele atrás.― Como foi seu dia? ― perguntei colocando ração e água em suas vasilhas. A pergunta era só uma desculpa para falar do meu dia.Enquanto fazia meu monologo, a campainha tocou. Era minha vizinha com seu poodle. Hora de levar os rapazes para passear.Ofereci a ela um pedaço do bolo da minha cliente e aproveitei para fazer propaganda do negócio dela.Enquanto, ela comia, troquei de roupa para sairmos até um calçadão próximo ao prédio.Seguimos com nossos amiguinhos. Enquanto eles corriam tentando escapar das coleiras, nós conversávamos so
CoraAcordei amarrada em uma cadeira. O lugar era sombrio. Paredes rústicas, uma mesa de madeira com algumas ferramentas dignas dos piores filmes de terror. Era como se eu acordasse dentro de um pesadelo.Pavor circulava por minhas veias.Deus, onde estou? O que vai acontecer comigo?Estou amordaçada e amarrada em uma cadeira. Coisa boa é que não vai acontecer. Será que minha irmã também foi pega? Será que machucaram ela? Quem são esses psicopatas?As perguntas na minha cabeça não paravam.A porta se abriu e o homem apareceu, o mesmo que sentou a minha frente no restaurante. Ao vê-lo surgiu uma pequena esperança de que fosse apenas uma brincadeira sem graça de Jessica. Se fosse eu nunca a perdoaria... mas preferia mil vezes que fosse isso.Tentei pedir para me soltar, mas a mordaça impedia minha voz, só saia sons estranhos.Ele se foi sem dizer uma palavra sequer. Só me olhou por alguns segundos com seu sorriso maldoso.Vez ou outra esse homem aparecia. Ele olhava para mim, balançava
AntônioChegar até Jessica naquele restaurante foi mais fácil do que pensei. Estávamos de olho nela e descobrimos que reservou todo o lugar. A pessoa que seguia seus passos descobriu que ela filmaria ali. Eu não queria nem imaginar que merda essa vadia filmaria.Ela estava sozinha quando entramos no restaurante. Era de um dos Pereira, então os funcionários sabiam exatamente o que aconteceria se ligassem para a polícia. Quanto a ligar para o dono, isso certamente fariam, então eu tinha pouco tempo.Sentei a mesa, de frente a ela. O demônio é belo, capaz de enganar até Deus, se não soubéssemos a sujeira por trás dessa cara de anjo.Ela agiu como se não soubesse quem eu era. Até quando acordou amarrada em uma cadeira. Olhava para o vestido que expunha suas pernas como se tivesse medo que arrancássemos ele.Não sei como uma pessoa que faz o que ela faz tem medo de estar no lugar de uma de suas vítimas. Para sua sorte, eu sou incapaz de algo assim, ainda que ela mereça. Sou incapaz de faze