AndréFiquei na casa do casal exatamente uma semana. Vitor chora muito enquanto Ângelo é bem quieto. Amanhã será a entrevista com as babás. Decidindo isso já posso ir para casa com meu filho. Sendo sincero, foi melhor mesmo nos acostumarmos um com o outro em um ambiente com várias pessoas para dar palpite, irritante, mas foi melhor. Ele agora busca meu colo como a um abrigo. Deus, não existe sensação melhor do que ter esse garotinho nos braços. Pensava nele enquanto trabalhava e até mesmo dormindo. Se algum dia pensei que não teria vocação para ser pai, nem lembro.Assim que escolher a babá, levo meu filho para casa. Agora que meio que não sou um Rodrigues, pelo menos na parte sangrenta, quero cria-lo longe disso.Foi um dia antes das entrevistas que recebi uma visitante inesperada, Beatriz.Ela apareceu na casa de Alexandre quando estava apenas eu. Tinha acabado de chegar da delegacia e sabia que meu irmão e sua esposa estavam com as crianças no parquinho do prédio.O porteiro a anun
BeatrizNão consegui ficar na casa que meus pais e meus tios dividem. Depois do que aconteceu com Marcela não sinto que somos exatamente a família de antes. Por enquanto estou em um hotel. Preciso decidir o que fazer com minha vida. Não quero ir embora sem resolver minha questão com André, pelo menos que ele me permita ver Ângelo algumas vezes, porque pelo andar da carruagem o desejo da Marcela nunca será cumprido.Fiquei com tanta raiva quando tentei ver meu pequeno e aquele imbecil praticamente me enxotou. E ainda me chamou de querida com aquele tom esnobe. Querida são as putas dele. Odeio que me chamem assim. Tive que fazer um esforço quase que sobrenatural para não chorar na frente daquele homem. E o pior de tudo, o que me deixa com mais raiva é perceber o quanto fiquei molhada só por estar perto dele. Eu devo ser masoquista e não sabia.Não o procurei mais.Constantemente falo com Willow por telefone para saber notícias do anjinho. É o que estou fazendo agora, dia seguinte ao des
AndréSe tem uma coisa que eu não esperava era ter Beatriz Albuquerque implorando uma vaga como babá.Eu quis mesmo dizer a ela que não precisava disso, que daria espaço para ela ter contato com meu filho, mas um instinto maior em mim gostava de desafiá-la e esse espírito baixou assim que ela passou pela porta.A provoquei ao máximo, mas minhas armas evaporaram ao vê-la desabar, deixando de lado a provocação e me fazendo ver que estava sendo um imbecil.“Quem é você? Algum tipo de corpo sem alma? Só estou pedindo para cuidar dele.” Suas palavras ainda vibravam dentro de mim, mesmo depois que ela saiu.Naquela hora eu ainda tentei manter a provocação. E ela cada vez minava mais com sua sinceridade.“Estou sozinha nessa luta, o que diminui minhas armas consideravelmente. Sabe disso e continua dificultando, como se eu fosse a pessoa mais indesejada da face da terra quando tudo que quero é ter contato com esse pequeno parente que acabei de conhecer.” Se ela soubesse o quanto a desejo, us
AndréPorra! Não acredito que vou ficar pensando nisso. Foi só um beijo. Tudo bem que despertou lembranças daquela noite. Tudo bem que desde que encontrei meu filho que não transo. Eu preciso transar. Isso é tesão acumulado. Claro que teria efeito tendo uma gostosa tão ao alcance das mãos.― Chefe, arquivei o caso que me pediu. ― Lana apareceu na porta. Já tivemos alguns momentos de prazer, inclusive na delegacia. É ela.― Obrigado. Lana, tem compromisso hoje? Pensei em nos divertirmos.― Mesmo se tivesse abriria espaço para você ― respondeu com expectativa.― Que tal um aperitivo?― Aquela sala de interrogatório ainda está em manutenção ― sugeriu animada.― Te espero lá.Sai pela delegacia como se não houvesse nada acontecendo na minha cabeça de cima ou de baixo e entrei na sala. Poucos minutos depois Lana chegou. E já veio para cima. Me beijando e abrindo minha calça. A delegacia não era o lugar ideal para sexo despreocupado. Se nos pegássemos, Lana estaria fora em um piscar de olho
AndréNão consegui dormir. Duas da madrugada e eu rolando na cama feito um idiota. O rosto de Beatriz não sai da minha mente. A forma como me tocava naquela noite do casamento, como me mordia, lambia, beijava...― Eu vou enlouquecer assim.Levantei da cama e fui para cozinha beber água gelada até apagar meu fogo. A luz estava acessa. E qual não foi minha surpresa ao encontrar Beatriz sentada a mesa com vários papeis com desenhos. Ela usava um pijama azul de seda. Esse sim combina com ela, azul escuro de blusa com alças finas e um short curto o bastante para deixar suas lindas coxas expostas.Me aproximei.― Sem sono? ― tentei olhar o que ela escondeu. Parecia ser um desenho de roupa, assim como os outros sobre a mesa. ― Então você trabalha como babá de dia e vira estilista a noite?Ela deu de ombros.― Quando as ideias vem não consigo dormir até colocar no papel.― Interessante. Posso ver?― É só uma blusa. ― Me entregou o papel que escondia.Analisei o desenho feito a lápis imaginand
BeatrizTransar com André evaporou com grande parte da tensão dos últimos dias. Eu vinha pensando nele muito antes daquele beijo. Não conseguia parar de pensar nele. Foi por isso que quando ele confessou que pensava em nós daquele jeito na cozinha, não resisti e me ofereci de bandeja.Foi perfeito, assim como na primeira vez, assim como nas vezes que se seguiram.Transávamos todos os dias. Era como se fossemos guiados pelo desejo. Eu sempre o esperava na cozinha enquanto desenhava, e ele sempre aparecia e acabávamos na sua cama.Às vezes eu acordava e ele não estava. Outras vezes estava se preparando para trabalhar. Ainda tinha as folgas onde, por não saber o que dizer de manhã, acabávamos transando mais.Eu gosto. Só que está começando a me incomodar não saber o que temos. Gosto das coisas claras. Principalmente quando percebo a centelha de um sentimento maior se acendendo. E quando percebo que todas ao meu redor parecem interessadas no mesmo homem que eu. Até a babá se perdia olhan
André― Vai ficar parado na porta? ― Alexandre disse sem me olhar.Ao contrário dele, Willow me olhava com curiosidade. O Grande Pai e a Grande Mãe formam um belo casal dividindo a sala e a vida.Desde o encontro com meu filho que não o vejo. Nem quando recebi as candidatas a babás na empresa e me despedi de todos dizendo que ficaria apenas na polícia. O que me trouxe aqui talvez tenha sido o motivo mais tolo. Foram as palavras de Beatriz: “Pretendo sair com um amigo. Namorávamos antes de eu viajar para estudar e ele me chamou para jantar”. Não, não foram as palavras dela, foram as minhas. Assim que me deitei, sozinho pela primeira vez há semanas, percebi que nunca aprendi a dizer o que realmente quero. Achei que era um homem decidido, mas essa única conversa me fez ver que sempre digo a coisa errada nos piores momentos. E eu preciso deixar claro ao meu irmão como me sinto em relação ao que fiz, a minha traição.― Sei lá. Ainda espero ser enxotado. Você não deveria estar socando a min
MarcelaAlguns dias após a fugaA luz forte invadiu meus olhos. Demorou um pouco para eu entender que estava em um quarto branco.― Bem-vinda de volta a vida! ― uma voz masculina falou.― Meu fi... ― foi automático perguntar por Ângelo.― Seu filho está bem. Com o pai.Pisquei algumas vezes para visualizar a face da pessoa a minha frente. Estava de preto, não de branco, ou seja não era um médico. Era um senhor moreno, com astutos olhos negros, devia ter mais de sessenta anos.― Vamos as respostas básicas. ― Ele começou a explicar. ― Você não está mais em um cativeiro. Também não está entre os seus.― Quem é você?― Apenas um antigo conselheiro. ― Ele não parecia disposto a esperar que eu perguntasse. ― Você está onde nem os Rodrigues nem os Pereira conseguiriam acesso. Teve sorte. Aquela mulher te deixou exatamente onde enterrei meu filho anos atrás, ali era um cemitério, ninguém sabia e construíram uma praça em cima. Nem imaginam quantos corpos estão onde passam em passeios. Eu esta