BeatrizTransar com André evaporou com grande parte da tensão dos últimos dias. Eu vinha pensando nele muito antes daquele beijo. Não conseguia parar de pensar nele. Foi por isso que quando ele confessou que pensava em nós daquele jeito na cozinha, não resisti e me ofereci de bandeja.Foi perfeito, assim como na primeira vez, assim como nas vezes que se seguiram.Transávamos todos os dias. Era como se fossemos guiados pelo desejo. Eu sempre o esperava na cozinha enquanto desenhava, e ele sempre aparecia e acabávamos na sua cama.Às vezes eu acordava e ele não estava. Outras vezes estava se preparando para trabalhar. Ainda tinha as folgas onde, por não saber o que dizer de manhã, acabávamos transando mais.Eu gosto. Só que está começando a me incomodar não saber o que temos. Gosto das coisas claras. Principalmente quando percebo a centelha de um sentimento maior se acendendo. E quando percebo que todas ao meu redor parecem interessadas no mesmo homem que eu. Até a babá se perdia olhan
André― Vai ficar parado na porta? ― Alexandre disse sem me olhar.Ao contrário dele, Willow me olhava com curiosidade. O Grande Pai e a Grande Mãe formam um belo casal dividindo a sala e a vida.Desde o encontro com meu filho que não o vejo. Nem quando recebi as candidatas a babás na empresa e me despedi de todos dizendo que ficaria apenas na polícia. O que me trouxe aqui talvez tenha sido o motivo mais tolo. Foram as palavras de Beatriz: “Pretendo sair com um amigo. Namorávamos antes de eu viajar para estudar e ele me chamou para jantar”. Não, não foram as palavras dela, foram as minhas. Assim que me deitei, sozinho pela primeira vez há semanas, percebi que nunca aprendi a dizer o que realmente quero. Achei que era um homem decidido, mas essa única conversa me fez ver que sempre digo a coisa errada nos piores momentos. E eu preciso deixar claro ao meu irmão como me sinto em relação ao que fiz, a minha traição.― Sei lá. Ainda espero ser enxotado. Você não deveria estar socando a min
MarcelaAlguns dias após a fugaA luz forte invadiu meus olhos. Demorou um pouco para eu entender que estava em um quarto branco.― Bem-vinda de volta a vida! ― uma voz masculina falou.― Meu fi... ― foi automático perguntar por Ângelo.― Seu filho está bem. Com o pai.Pisquei algumas vezes para visualizar a face da pessoa a minha frente. Estava de preto, não de branco, ou seja não era um médico. Era um senhor moreno, com astutos olhos negros, devia ter mais de sessenta anos.― Vamos as respostas básicas. ― Ele começou a explicar. ― Você não está mais em um cativeiro. Também não está entre os seus.― Quem é você?― Apenas um antigo conselheiro. ― Ele não parecia disposto a esperar que eu perguntasse. ― Você está onde nem os Rodrigues nem os Pereira conseguiriam acesso. Teve sorte. Aquela mulher te deixou exatamente onde enterrei meu filho anos atrás, ali era um cemitério, ninguém sabia e construíram uma praça em cima. Nem imaginam quantos corpos estão onde passam em passeios. Eu esta
AndréNão faço ideia do porque estou feito idiota assistindo a câmera de segurança, esperando Beatriz voltar. Não é assim que se resolve as coisas. Só que não consegui me afastar. Era quase uma da madrugada e chovia.Assim que o carro parou na porta, meu coração disparou. Alexandre estava certo, eu estou perdidamente apaixonada por essa mulher. E é como levar uma facada ver ela aos beijos com outro homem dentro do carro.Fiquei assistindo feito um alucinado. Minha vontade era de ir até lá e colocar minha arma na cara do imbecil. Estourar seus malditos miolos. Aquela boca é minha, somente eu posso beijar.Ele tentou descer a blusa dela pelas alças e eu levantei do meu lugar. Era demais. Não mesmo. Não vou permitir.Sai da sala de segurança e segui para a sala de estar. Andava de um lado para o outro feito um cão raivoso aprisionado. Dividido entre ir até lá e acabar com a raça do otário ou aceitar que ela tem direito de ficar com quem quiser, quando não fui claro em relação a nós doi
AndréChegando na mansão, Amanda perguntou ao seu segurança, que parece ter deixado na casa:― Onde ele está?― No quarto dele com ela. Mal respira. Antônio não usa segurança, gosta de ficar sozinho. Viemos no meu carro porque ela estava de moto nessa chuva.Cada segundo eu ficava mais preocupado.― Amanda, pode falar o que está acontecendo? Nosso irmão se machucou?Deu vontade de balançar minha irmã, que ignorou minha pergunta e correu para as escadas que levavam aos quartos.Quando passei pela porta encontrei a seguinte cena: meu irmão sentado em uma poltrona ao lado da cama, com os braços apoiados na cabeça que estava apoiada nos joelhos.― Antônio? ― chamei me aproximando.Ele levantou o rosto devagar. Seus olhos estavam vermelhos, como alguém que chorou até a última lágrima e em seu rosto havia um enorme curativo sujo de sangue.― Caralho! O que houve com seu rosto, irmão?― Cortou por causa dela. ― Olho para Amanda e ela aponta a mulher deitada na cama, com curativos no rosto,
AndréSó consegui voltar para casa na metade da manhã. Antônio deu trabalho, não queria reagir. Tivemos que dar um sossega leão para ele se acalmar. Alexandre não tem ideia do que fazer com essa situação. Mesmo não sendo mais parte de tudo isso, disse que ele poderia contar comigo com o que fosse preciso. Afinal, é uma questão que envolve toda a família.Quando cheguei em casa, Beatriz não estava. A babá disse que ela foi ver os pais e os tios.Decidi tomar um banho e dormir um pouco. Por ser domingo estava de folga, pelo menos foi o que pensei. Não dormi nem três horas e fui acionado. Uma situação com reféns estava em andamento. Grave o bastante para acionarem até os que estavam de folga.Às vezes ser um Rodrigues é mais fácil que ser detetive. Odeio situações com reféns. Por mim mataria sem piedade. Não aguento ficar aguardando negociações. E a porra do bandido está em uma creche ameaçando funcionários e crianças. O que um filho da puta desse acha que está fazendo?Só de imaginar qu
AndréCheguei em casa mais tarde que de costume em meus dias de trabalho. Pelo menos depois de tudo amanhã terei folga.Na minha sala, Beatriz estava sentada com uma visita. Mesmo cansado eu queria muito uma foda gostosa no banho. Visita chata! Muito fora de hora.Estava passando por elas, sem vontade de socializar e sem saber se Beatriz teria um treco se a jogasse nos ombros, subisse para o quarto e ignorasse a mulher até ela se tocar e ir embora.― Boa noite! ― a mulher disse me olhando com curiosidade.Beatriz olhava em expectativa.― Boa noite! ― respondi sem parar de andar.― Não me reconhece, Rodrigues?Pelo jeito não era apenas uma visita, era alguém que eu teria que reconhecer.Me virei. Não consegui disfarçar me expressão de estou pouco me lixando.― Marcela Albuquerque. Um prazer revê-lo. ― Ela sorriu e eu arregalei os olhos.― Marcela? ― Só nesse momento liguei a imagem a mulher com a qual transei algumas vezes, só que ela estava morta. Como isso é possível?― Sim. Mais viv
BeatrizNão acredito. Amanhã preciso conversar com Marcela. Podemos inventar a desculpa que for, mas deixar uma desconhecida enterrada em seu lugar não é certo.Como não conseguiria dormir tão cedo, peguei meu material e comecei a desenhar um sobretudo masculino que surgiu na minha mente, bem sombrio. Só parei quando bateram na porta.― Está aberta ― informei.André passou pela porta logo em seguida.― A sua prima já foi embora. Pedi ao motorista para levá-la ― informou.― Tudo bem.― Ainda estou chateada?― Indignada que pensem assim. É como se só importassem vocês, a família de vocês. Outras pessoas também têm famílias.― Eu vou descobrir quem ela é e procurar a família dela. Não precisa explodir.― Foi um dia cheio. É melhor dormirmos. ― Sei que ele esperava que isso significasse sexo, podia ver em seu olhar, mas me ouvi dizendo: ― Cada um em sua cama.― Claro. Boa noite, Bia!E ele se foi sem reclamar.Odeio quando me chama de Bia. Na sua boca, e apenas nela, soa bem mais pessoal