Anna MullerSaí do banheiro e lavei o rosto, tentando acalmar os nervos que estavam à flor da pele. Olhei para o espelho, buscando alguma firmeza em meu reflexo, mas tudo o que vi foi a confusão nos meus próprios olhos. Respirei fundo, tentando me recompor antes de sair. Eu precisava manter o controle. Não podia deixar que João me abalasse dessa maneira, não agora.Quando voltei à sala de jantar, evitei olhar para ele. João também não me olhou, o que deveria ter sido um alívio, mas a tensão entre nós era quase palpável. Senti o desejo queimar dentro de mim, o mesmo desejo que eu vinha lutando para suprimir desde aquela noite. Mas não podia me permitir ceder. João era um estudante, e eu, uma profissional com responsabilidades e um noivo. Não havia espaço para esse tipo de confusão.Harry, meu noivo, precisou sair mais cedo. Ele tinha um compromisso inadiável e se despediu com um beijo suave nos meus lábios, antes de partir com o motorista. Fiquei na casa para ajudar Helena com algumas
João Collins O vento frio de Cambridge sussurrava através das janelas do carro enquanto eu me afastava lentamente do prédio de Anna. Havia algo de estranho naquele lugar que sempre me fazia querer ficar por perto. Mas, naquele dia, havia um motivo claro para eu retornar. Olhei para o banco do passageiro e vi a pasta dela, esquecida e solitária, um lembrete de nossa última conversa tensa.Não hesitei. Dei meia-volta e estacionei novamente na frente do prédio. Enquanto me aproximava da entrada, vi uma figura saindo. A oportunidade perfeita. Apressei meus passos e consegui entrar, disfarçando minha presença como se aquele fosse um lugar familiar para mim. O porteiro me olhou com curiosidade, mas a simples menção de que eu precisava entregar algo a Anna foi suficiente para que ele não questionasse.No elevador, meus pensamentos corriam. Será que ela ficaria surpresa? Ou talvez irritada? Quando a porta se abriu no andar de Anna, caminhei com passos firmes até sua porta. Meu coração batia
João Collins Era uma noite de sexta-feira, e o ar carregava um peso que eu não conseguia ignorar. Amanhã seria o casamento de Anna, e eu me encontrava indo até a casa de minha tia Helena. Precisava buscar dois livros de medicina que ela havia separado para mim. A ideia de passar por aquele lugar, tão próximo ao evento que eu preferia esquecer, era desconfortável, mas minha tia sempre foi alguém em quem eu podia confiar.Estacionei o carro na entrada da mansão e caminhei em direção à porta. As luzes do jardim estavam acesas, e logo percebi que havia uma movimentação diferente no ar. Ao atravessar os portões, notei a presença de várias mulheres espalhadas pelo jardim, conversando e rindo. Eram amigas de Anna, claramente envolvidas em alguma celebração.Minha tia Helena, sempre uma anfitriã elegante, havia preparado uma despedida de solteira para Anna. A ironia daquela situação não passou despercebida por mim. Senti um aperto no peito, mas mantive o controle. Eu sabia que estava ali por
João Collins Deixei a biblioteca com o coração acelerado, sentindo o peso do pedido de Anna ainda queimando em minha mente. Enquanto caminhava pelos corredores da mansão, a voz dela ecoava na minha cabeça: "Me impeça de me casar com um homem que eu não amo." Respirei fundo, tentando acalmar meus pensamentos. A ideia de impedir aquele casamento era tentadora, claro. Uma parte de mim havia desejado ouvir isso dela desde o começo, mas agora, às vésperas do casamento, parecia uma loucura. Anna estava confusa, e eu sabia que me envolver ainda mais poderia destruir ambos. Atravessei o jardim, desviando o olhar das mulheres que ainda festejavam. Entrei no carro e bati a porta com mais força do que pretendia. Liguei o motor e saí de lá o mais rápido possível, como se fugir daquele lugar pudesse me livrar do dilema que carregava.Quando cheguei ao meu apartamento, a solidão era sufocante. Sentei no sofá e fiquei olhando para o nada, tentando processar o que havia acontecido. Eu não consegu
João Collins A manhã passou como um borrão, e eu me encontrei na frente do espelho, ajustando o nó da gravata com mãos trêmulas. O reflexo me devolvia um olhar que eu quase não reconhecia — olhos fundos, cheios de incerteza. O terno preto que escolhi para aquela tarde parecia pesado, como se carregasse o peso de todas as minhas dúvidas e medos. Aquele era o dia do casamento de Anna, e eu ainda não sabia o que faria. Meu coração estava dividido entre a razão e o desejo, entre o medo de me arrepender e a possibilidade de um erro irremediável. Mas eu precisava estar lá. Precisava ver com meus próprios olhos e decidir por mim mesmo.Respirei fundo e finalmente consegui dar um jeito na gravata. Enfiei as mãos nos bolsos, tentando encontrar algum conforto nas dobras do tecido. Olhei uma última vez para o espelho, como se procurasse por uma resposta que ele não podia me dar, e saí.No carro, a cidade parecia passar em câmera lenta. Cada semáforo, cada pedestre, cada segundo se arrastava co
João Collins A igreja estava cheia, e o som suave do órgão tocava ao fundo, criando uma atmosfera solene e carregada de expectativa. Todos os olhos estavam voltados para o altar, onde Anna e Harry estavam de pé, frente a frente, diante do padre. Eu estava sentado no meio dos convidados, com o coração batendo como um tambor descompassado. Minha mente estava à deriva, tentando se ancorar em algum ponto de sanidade.O padre começou a falar, sua voz profunda ressoando pelas paredes da igreja.— Estamos aqui hoje, diante de Anna e Harry, que escolheram este dia para se unirem em matrimônio, para se tornarem uma só carne. O amor é algo grandioso, e os dois estão decididos a viverem uma vida de felicidade, juntos, como um só.Senti o suor nas palmas das minhas mãos, a tensão subindo pelo meu corpo. Tudo parecia se mover em câmera lenta. Olhei para Anna, esperando encontrar um vislumbre de incerteza em seus olhos. Ela olhou para mim. Foi um olhar longo, silencioso, cheio de algo que eu não c
Anna Muller Olhei para Helena, minha melhor amiga, que parecia estar surpresa com o que ela e todos presentes escutaram. João estava ali, diante de todos, sem nenhum medo, esperando a minha resposta. Eu levantei a barra do longo vestido de noiva e, antes que eu descesse do altar, Harry segurou a minha mão.— Anna, não faça isso comigo. Se me deixar aqui, nunca irei te perdoar.Eu olhei para a mão dele, que me segurava com força, e ele me soltou. Sem pensar muito, disse:— Sinto muito, Harry!Saí com João sem olhar para ninguém. Ele segurava minha mão enquanto corríamos para fora da igreja e, assim que entramos no carro, ele me levou para o seu apartamento. Entrei em pânico; agora eu não tinha mais nada a não ser ele. Minha carreira como professora universitária, a minha amizade com Helena, que poderia estar perdida, e até mesmo o meu futuro. Naquele momento, João parecia entender o que eu estava sentindo e, olhando nos meus olhos, segurou a minha mão e disse:— Anna, sei que está co
João Collins Havia se passado um mês desde que eu levei Anna comigo do casamento que ela não deseja. Eu observava Anna do outro lado da mesa, a luz suave do abajur desenhando sombras delicadas no rosto dela. Ela estava concentrada no livro à sua frente, mas eu sabia que sua mente estava longe, presa em pensamentos que a perturbavam. Desde o casamento, o clima entre ela e Helena tinha se transformado em uma névoa densa de ressentimentos e silêncios não ditos. Anna não perdeu o emprego na universidade, mas teve que lidar com o constrangimento de ver alguns dos colegas a olhando de forma negativa, já que foram para o casamento que ela fugiu comigo. Ela se mostrava forte, mas eu sabia que, por dentro, lutava com todas as inseguranças que esse novo começo trazia. Eu a amava ainda mais por isso por sua força, por sua vulnerabilidade. Cada dia ao lado dela era uma confirmação de que tínhamos feito a escolha certa, por mais difícil que fosse o caminho. Dividíamos o mesmo apartamento agora, e