João Collins Havia se passado um mês desde que eu levei Anna comigo do casamento que ela não deseja. Eu observava Anna do outro lado da mesa, a luz suave do abajur desenhando sombras delicadas no rosto dela. Ela estava concentrada no livro à sua frente, mas eu sabia que sua mente estava longe, presa em pensamentos que a perturbavam. Desde o casamento, o clima entre ela e Helena tinha se transformado em uma névoa densa de ressentimentos e silêncios não ditos. Anna não perdeu o emprego na universidade, mas teve que lidar com o constrangimento de ver alguns dos colegas a olhando de forma negativa, já que foram para o casamento que ela fugiu comigo. Ela se mostrava forte, mas eu sabia que, por dentro, lutava com todas as inseguranças que esse novo começo trazia. Eu a amava ainda mais por isso por sua força, por sua vulnerabilidade. Cada dia ao lado dela era uma confirmação de que tínhamos feito a escolha certa, por mais difícil que fosse o caminho. Dividíamos o mesmo apartamento agora, e
Anna MullerO vento frio de setembro me envolvia enquanto eu saía da universidade. Apesar do sol, um arrepio percorria minha espinha. Eu ajustei meu casaco, tentando afastar o desconforto que sentia desde que saíra de casa. A minha mente ainda estava focada na conversa que tive com Helena na noite passada. A reconciliação havia sido um passo importante, e a presença de João fez tudo parecer menos pesado, mas eu sabia que ainda havia muitas pontas soltas em minha vida.Quando cheguei ao estacionamento, parei de súbito. Harry estava lá, encostado em seu carro. Eu não o via desde o casamento, ou melhor, desde o dia em que fugi do casamento com João. Seu olhar era indecifrável, uma mistura de mágoa e determinação. Ele me encarava como se tivesse ensaiado aquele momento por muito tempo.— Precisamos conversar — ele disse, sem rodeios, seu tom firme. — Acho que ao menos isso você me deve depois de me deixar no altar e me fazer passar por tudo que aconteceu.Eu podia sentir a tensão no ar, m
João CollinsEstava sentado na sala de aula, esperando o início da nossa aula de neuroanatomia, a mesma em que costumava encontrar Zara, minha amiga de medicina. O professor já estava se preparando para começar quando percebi que a cadeira ao meu lado estava vazia. Zara sempre chegava alguns minutos antes, com seu sorriso caloroso e pronta para reclamar das noites mal dormidas estudando. Hoje, porém, o lugar continuava desocupado, e uma sensação estranha de ausência começou a me incomodar.Enquanto a aula prosseguia, ouvi alguns murmúrios dos colegas ao meu redor. Comentavam que Zara havia trancado o curso, e uma parte de mim se sentiu pesada com essa notícia. Eu não a conhecia tão profundamente, mas era o suficiente para saber que ela tinha sonhos grandes e uma vontade enorme de vencer na medicina. Ela costumava me escutar, oferecer seu apoio silencioso, e agora essa conexão parecia perdida. Me perguntei se ela teria voltado para a Alemanha, de onde sempre falava com um brilho no ol
João CollinsEstava nervoso enquanto me dirigia à livraria para minha primeira sessão de autógrafos. O lugar estava lotado, algo que jamais imaginei, e cada rosto desconhecido me olhava com expectativa. Ver o meu nome estampado na capa de um livro, cercado por leitores que aguardavam uma assinatura, era surreal. Tudo parecia um sonho, o tipo que meu pai vivia desde sempre, só que ele sempre gostou de se manter em segredo, mas agora, era a minha vez de brilhar.Anna chegou alguns minutos depois que comecei a autografar. Ela se misturou aos leitores, como se quisesse passar despercebida, mas eu a vi assim que entrou. Ela sempre tinha essa forma discreta de estar presente, e eu apreciava isso. Nossos olhares se cruzaram, e não pude deixar de sorrir, mesmo em meio a tantas pessoas. Enquanto assinava mais um livro, uma senhora que estava na fila olhou para Anna, depois para mim, e comentou:— Sua mãe deve estar muito orgulhosa.Minha expressão se fechou momentaneamente. Sorri educadament
Anna MullerEu me olhava no espelho, ajeitando o véu com mãos trêmulas. O vestido branco, simples e delicado, parecia mais leve do que o peso que eu carregava no peito. Seis meses desde o noivado, e finalmente estava pronta para dar esse passo. Casar-me com João. Meus olhos se perderam por um instante no reflexo, buscando a mulher que eu esperava ser: confiante, apaixonada, decidida. Mas, por dentro, um turbilhão de emoções me assombrava.Senti um nó na garganta ao sair do apartamento. Era isso. Não havia volta agora. Meus pensamentos se misturavam com as memórias de todos os momentos que me trouxeram até aqui, desde a primeira noite em Cambridge até o dia em que João me pediu em casamento.O motorista da Helena estava na porta, esperando para me levar até a mansão. A cerimônia seria no jardim, algo íntimo, apenas com a presença da família e alguns poucos amigos. Perfeito, eu pensava, enquanto respirava fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. Entrei no carro, ajustando o vestid
Anna Muller Acordei com uma dor pulsante na cabeça, como se mil martelos estivessem batendo ao mesmo tempo. Meus olhos se abriram lentamente, e a luz fraca que entrava pelas janelas quebradas do galpão me fez piscar repetidamente. O lugar era frio, úmido, com cheiro de mofo e abandono. Pisquei algumas vezes, tentando clarear a visão e entender onde eu estava. A memória foi voltando aos poucos: o carro, o motorista, o cheiro forte. Senti meu estômago revirar.Quando finalmente consegui focar, percebi que não estava sozinha. Harry estava de pé, parado a poucos metros de mim, com aquele sorriso sarcástico que eu conhecia tão bem. Ele estava impecável, como sempre, vestindo um terno cinza que contrastava com o ambiente decrépito ao nosso redor. — Finalmente acordou — ele disse, a voz fria e carregada de desprezo. — Você sempre teve o hábito de estragar meus planos, Anna. É a segunda vez que você não se casa. Primeiro, me deixou no altar, e agora quer casar com aquele moleque? Não vou pe
João Collins Espera a chegada de Anna com um nó no estômago, uma sensação ruim que eu não conseguia explicar. Hoje deveria ser o dia mais feliz da minha vida, o dia em que eu finalmente me casaria com Anna. Mas algo estava errado. A manhã passou em um borrão de preparativos e pessoas correndo para todos os lados, mas minha mente estava focada apenas em uma coisa: Anna.Olhei para o relógio pela décima vez. Anna estava atrasada. Ela não era de se atrasar, muito menos em um dia como hoje. Tentei respirar fundo, me convencer de que era só nervosismo, que logo ela apareceria e tudo ficaria bem. Mas o incômodo persistia, um aperto no peito que não me deixava em paz.Meu celular vibrou sobre a mesa, interrompendo meus pensamentos. Corri para pegar o aparelho, esperando ver uma mensagem dela, alguma explicação para o atraso. Quando abri a mensagem, senti como se o chão tivesse se aberto sob meus pés."Não posso me casar com você, João. Não te amo. Adeus."Li aquelas palavras várias vezes,
João CollinsO carro derrapou na curva, fazendo meu coração quase saltar do peito. Meu tio Joseph dirigia com uma velocidade desesperada, e eu não conseguia desviar os olhos do GPS no celular de Helena. A localização de Anna piscava na tela, nos guiando por ruas cada vez mais escuras e desertas. Eu apertava o assento, com o peito em chamas, esperando que estivéssemos chegando a tempo.Finalmente, o galpão apareceu à nossa frente, uma construção decadente cercada por mato e escuridão. Joseph parou o carro com um solavanco, e todos saímos em disparada. Meu pai, Jack, liderava o caminho, com a expressão de um homem decidido a enfrentar qualquer coisa para salvar quem ama.— É aqui! — Helena apontou, com a voz trêmula, enquanto corríamos para a entrada. A porta de metal estava entreaberta. Joseph e meu pai a empurraram, e o rangido agudo ecoou pelo galpão vazio. O lugar estava quase escuro, exceto por uma fraca luz pendurada no teto que oscilava, criando sombras dançantes nas paredes. No