Alexander Muller Fischer Quase um ano se passou desde o dia em que minha vida desmoronou. Às vezes, parece que foi ontem; outras, sinto que se passaram décadas. Não importa quanto tempo tenha passado, a dor nunca desaparece completamente. Ela apenas muda, se transforma em algo que você aprende a carregar, mesmo que não queira. Eu me lembro daquele dia como se fosse agora. Estava no hospital, como sempre. Meu foco estava em uma cirurgia complexa, a sala estava silenciosa, exceto pelo som das máquinas monitorando o paciente. Então, meu pager tocou, mas eu ignorei. Não era incomum ser chamado durante uma operação, e meu trabalho sempre vinha primeiro. Quando finalmente terminei, horas depois, fui informado sobre o que havia acontecido. Um acidente de carro. Minha esposa e meu filho, estavam voltando para casa depois de um passeio. Uma colisão na estrada, o impacto fatal. Eu estava a quilômetros de distância, no meio de uma cirurgia, enquanto minha família morria sem que eu pudesse f
Zara Miller Estava no meu quarto, cercada por roupas espalhadas na cama e uma mala aberta no chão. A situação parecia quase cômica, considerando que eu estava arrumando minhas coisas para passar a noite na casa de Alexander. "Passar a noite" tinha uma conotação completamente diferente dessa vez, e o fato de que tudo se tratava apenas de dormir não tornava as coisas menos estranhas. Enquanto separava alguns pijamas e itens de higiene, ouvi passos leves atrás de mim. Não precisei me virar para saber quem era. — Zara, sério, você não precisa de maquiagem se vai só dormir — Stefan disse, a voz carregada de provocação. Ele se encostou na porta, cruzando os braços, com aquele sorriso maroto que sempre me desarmava. — Muito engraçado, Stefan — revirei os olhos, mas não pude evitar sorrir. — Eu só estou tentando me preparar. Não quero parecer um completo desastre na minha primeira noite como "esposa de aluguel do doutor Alexander. Ele deu uma risadinha e se aproximou, pegando um batom da
Zara MillerQuando cheguei ao apartamento de Alexander, fiquei impressionada. As paredes eram de um branco impecável, com detalhes em dourado que exalavam luxo e sofisticação. O chão de mármore brilhava sob a luz suave dos lustres, e o silêncio ali dentro parecia quase sagrado, como se o mundo lá fora não pudesse nos alcançar.Alexander estava ao meu lado, observando-me com aqueles olhos que sempre me deixavam um pouco desconfortável, como se ele pudesse ver algo em mim que eu mesma não enxergava. Ele sorriu levemente ao ver minha reação e fez um gesto para que eu o seguisse.— Deixe-me mostrar o apartamento — disse ele, com uma voz baixa e suave que combinava perfeitamente com o ambiente ao nosso redor.Eu o segui, tentando absorver cada detalhe. A sala de estar era ampla, com sofás de couro e uma enorme lareira que dominava a parede principal. Era o tipo de lugar que eu só via em filmes, onde tudo parecia estar meticulosamente organizado para criar uma imagem de perfeição.Caminhamo
Zara Miller Assim que coloquei o hidratante nas mãos e comecei a massageá-las, tentei afastar a imagem da foto que havia visto na gaveta. Quem era aquela mulher? E o menino que parecia tanto com Alexander? As perguntas martelavam na minha cabeça, mas sabia que aquele não era o momento para explorar essas questões.Terminei de aplicar o hidratante e deitei-me ao lado de Alexander. O ambiente estava silencioso, a música suave que eu havia colocado preenchia o espaço com uma tranquilidade reconfortante. Ainda assim, eu estava tensa, consciente de cada movimento, de cada respiração.Olhei para ele de relance, e para minha surpresa, notei que Alexander já havia fechado os olhos. Seu rosto, antes marcado por uma expressão séria e controlada, agora parecia relaxado, quase vulnerável. Ele estava realmente dormindo.Olhando para o relógio, percebi que não havia se passado nem cinco minutos desde que
Alexander Muller Acordei com uma sensação de relaxamento que não sentia há tempos. Meu corpo parecia mais leve, como se toda a tensão que costumava carregar tivesse sido temporariamente dissolvida durante a noite. Pisquei algumas vezes, ajustando-me à luz suave que entrava pela janela, e virei a cabeça para o lado, esperando ver Zara ali, ao meu lado. Mas o espaço ao meu lado estava vazio. Eu deveria estar acostumado com isso, afinal, Zara não era minha esposa de verdade, apenas uma esposa de aluguel. Ainda assim, havia algo perturbador naquela ausência, algo que eu não conseguia nomear. Meus pensamentos se dissiparam rapidamente quando decidi me levantar. Fui direto para o banheiro, onde tomei um banho quente, permitindo que a água escorresse sobre mim, como se estivesse lavando qualquer vestígio de inquietação. Depois de me vestir, segui para a cozinha, imaginando que estaria sozinho, mas para minha surpresa, Zara estava lá, já com o café da manhã pronto. Ela me recebeu com um s
Alexander Cheguei ao hospital como de costume, me sentindo mais tranquilo depois daquela manhã inesperadamente agradável. O ritmo da rotina hospitalar sempre teve um efeito calmante sobre mim, uma sensação de controle que me ajudava a manter minha mente focada. Mas, conforme me aproximava da minha sala, uma certa ansiedade começou a surgir, algo que eu não conseguia entender.Assim que entrei, encontrei minha sala já organizada, com os papéis dispostos de maneira ordenada na mesa. Eu estava pronto para começar o dia de trabalho, mas fui interrompido por uma batida na porta.— Entre — disse, enquanto ajeitava alguns documentos.A porta se abriu, revelando a figura do diretor do hospital, o Dr. Moreau, um homem de meia-idade com um olhar astuto, sempre aparentando estar um passo à frente dos demais.— Bom dia, Alexander — ele disse com um sorriso que parecia mais curioso do que amigável. — Espero não estar atrapalhando.— De jeito nenhum, Dr. Moreau. O que posso fazer por você?Ele f
Alexander Muller Meu pai, Jack, sempre foi um homem de poucas palavras, mas de muitas ações. Naquele momento, parado na minha frente, seu olhar dizia mais do que qualquer discurso poderia expressar. Ele estava ali, de novo, tentando me alcançar, tentando me puxar de volta para a vida. Seus olhos estavam cheios de algo entre a decepção e a esperança, como se esperasse uma explicação que eu não sabia se poderia dar. — Alexander, sempre estive presente para você — disse ele, a voz firme mas com uma ternura que raramente deixava transparecer. — No dia em que você se declarou para a Anna, quando ela estava prestes a se casar com outro. Eu estava lá, observando de longe, torcendo para que você encontrasse a coragem que precisava. Quando você soube que seria pai, lembro de ver a alegria e o pavor em seus olhos. Quando lançou seus dois livros, eu estava na plateia, orgulhoso de cada palavra que
Alexander Muller — Vou pensar no que você disse, pai. Mas, por enquanto, não tenho planos de me mudar da Alemanha — respondi, tentando manter um tom neutro, mesmo que a ideia de deixar tudo para trás e voltar a Cambridge mexesse comigo. Havia muitas coisas a considerar, e o peso da decisão não era pequeno. Meu pai parecia entender isso. Ele assentiu lentamente, sem pressionar, mas algo na maneira como ele olhava para mim sugeria que ele sabia mais do que estava me dizendo. — Mas me diga uma coisa, pai — continuei, com curiosidade. — Como você descobriu sobre o casamento? Jack olhou para mim, uma leve curva se formando em seus lábios, como se ele esperasse que eu perguntasse. — Bem, filho, foi a sua mãe — ele começou. — No início da tarde, nós decidimos passar no seu apartamento para uma visita surpresa. Quando chegamos lá, encontramos Zara. Ela estava arrumando o apartamento. Engoli em seco. A imagem de minha mãe, Emma, e Zara no meu apartamento me pegou de surpresa. Eu