Parte 15 - BiancaO táxi derrapou em uma curva, quase saindo da estrada. O motorista lutava para manter o controle, seus olhos arregalados de pânico.— Quem está atrás de você? - ele perguntou, a voz rouca de medo.— Não importa! Só me tire daqui! - eu mal conseguia respirar. — Por favor, senhor... Não pare... — as luzes do carro perseguidor refletiam nos espelhos, cegando-me por um segundo. Eu respirava fundo e batia no banco da frente, olhando para ver se estavam mais perto.Então, o pior aconteceu.O carro atrás de nós acelerou e bateu na lateral do táxi, nos jogando para fora da estrada. Senti o impacto, gritei com medo e o carro girou antes de parar abruptamente. O silêncio que veio a seguir foi ensurdecedor, mas durou apenas um segundo. Eu sabia que precisava agir rápido.— Saia daqui! - gritei para o motorista, enquanto abria a porta do táxi, minha respiração ofegante. Meus músculos estavam rígidos de medo, mas a adrenalina me empurrou para frente. Meus joelhos ainda doíam u
Parte 16 -BiancaOs segundos pareceram se arrastar como horas. Ele começou a caminhar novamente, seus passos lentos pelo vagão. Cada vez mais próximos. Meus músculos se contraíram de pavor, e minha mente estava uma confusão. Cada fibra do meu corpo gritava para fugir, mas não dava.Então ele passou direto.Ele não parou.Eu me virei lentamente, observando-o seguir até o final do vagão e desaparecer pela porta, indo para outro lado do trem. Eu tinha imaginado tudo. Minha garganta até doeu de tão nervosa que fiquei. O alívio veio como uma enxurrada, e meus músculos finalmente relaxaram. Quando o trem se afastou ainda mais de Sevilha, cortando a escuridão em direção ao desconhecido, eu tentei me acalmar. O cheiro do café derramado ainda pairava no ar, misturado ao perfume da noite que entrava pela janela entreaberta. *** *** *** ***O trem desacelerou enquanto serpenteava pelas montanhas, e o cenário ao redor foi se transformando em algo quase irreal. A estação era pequena, mais pa
Parte 17 - AdrianoEu estava sentado no escritório, lendo as mensagens que o grupo que mandei atrás de Bianca tinha me enviado.**Bianca fugiu.**As palavras ainda giravam na minha mente, cortando qualquer traço de paciência ou indiferença que eu tivesse tentado manter desde o começo. Eu nunca a tinha conhecido, nunca sequer a visto, mas isso não importava. O que ela havia feito — fugir, trair as expectativas da minha família e, pior ainda, desafiar o poder de quem controla essa cidade. Não se preocupou nem mesmo com o pai.A porta do escritório se abriu com um ruído seco, interrompendo meus pensamentos. Meu irmão, Leonardo, entrou com a mesma expressão rígida e impassível de sempre. Ele carregava em si o peso de ser o mais velho, o herdeiro da responsabilidade e da crueldade que mantinha nossa família no poder. Seu terno estava impecável, o rosto sereno, mas os olhos... Os olhos eram duas fendas gélidas.— Então ela fugiu... De novo - disse ele, sem rodeios, enquanto fechava a por
Parte 18 - BiancaEu o conhecia. Nos encontramos na boate dias atrás, em Sevilha, onde começou a confusão. Uma noite em que eu fugi de mim mesma, onde me escondi atrás do nome falso de Biatrice. E ele, sob as luzes da boate, era o único homem que havia conseguido despertar algo dentro de mim que eu não sabia se era possível sentir. Eu nunca imaginei que o veria de novo. Muito menos aqui.— Oi! - ele disse, com aquele sorriso leve, que parecia destoar de sua figura. — Você? - franziu as sobrancelhas — Biatrice?Ele estava diferente. Vestia roupas simples, com uma mochila surrada pendurada no ombro, o cabelo escuro caindo casualmente sobre a testa. — Espero não estar atrapalhando. Vi você aqui e pensei que... Bom, o lago parece um bom lugar para relaxar. Mas estou surpreso, realmente surpreso.Não mais do que eu. Meu coração bateu forte e fiquei nervosa. De um jeito bom.— Pois é... - fiz um gesto para que sentasse — Não está atrapalhando. - minha voz saiu um pouco hesitante, e me o
Parte 19 -BiancaO som das águas do lago batendo suavemente contra o píer contrastava com a tensão que pairava entre nós dois. Eu puxei meu casaco um pouco mais apertado contra o vento frio, enquanto ele, sentado ao meu lado, parecia alheio ao frio. Seu olhar fixo em mim era inquietante.— Eu não... - comecei a falar, mas as palavras falharam. Não sabia mais o que dizer. Tudo parecia em suspenso, como se o próximo momento pudesse mudar tudo.— Quem você está tentando enganar? - disse se inclinando mais, sua boca a centímetros da minha. — A mim, ou a si mesma?Ele podia ser qualquer um, podia ser algo bom ou algo ruim... Mas havia algo entre nós que eu não conseguia ignorar. Algo forte demais para ser racional.Em um impulso tirei os pés da água e me levantei, calçando os sapatos com os pés molhados mesmo.— Eu tenho que ir - passei minha bolsa pelo pescoço.— Eu vou te acompanhar - levantou.Eu não sei se isso é bom, mas não posso impedir que ele ande no mesmo caminho que eu.A tar
Parte 20 - AdrianoA noite estava mais silenciosa do que o normal, com apenas o som das águas do lago se movendo suavemente. Caminhei devagar, deixando meus pensamentos vaguearem até Biatrice, aquela mulher... misteriosa e linda. Ela me fazia sentir algo diferente, algo que eu não conseguia explicar, mas que me puxava. Como se houvesse algo escondido debaixo da superfície, algo que eu precisava descobrir.O problema é que eu não devo me envolver com mais alguém agora que estou noivo. Não realmente. Ter amantes é outra coisa.O que me lembra que ainda não falei com Celeste sobre encerrar de vez nossa relação. Não é nada sério, ela tem outros, eu sei disso, mas sempre que a quero, ela vem até mim.O celular no meu bolso vibrou, interrompendo meu devaneio. Era Leo. Suspirei, já esperando más notícias.— Leo, o que é agora? Está tarde - perguntei, tentando não demonstrar o cansaço que começava a se acumular.Não era tão fácil e rápido encontrar Bianca, como eu achei que seria. E nem vo
Parte 21 - BiancaNão sei o que faço agora. Tem gente estranha por perto, Trajano aparecendo do nada, eu quase não dormi direito.— O que foi? - ele perguntou, um sorriso leve brincando nos lábios quando ele se aproximou mais, os olhos fixos nos meus.Eu estava apavorada. Não com ele, mas comigo mesma. Com o que eu sentia. Eu não sabia beijar, nunca tinha beijado ninguém, e agora, de repente, estava ali, tão perto de algo que parecia tão proibido e tão certo ao mesmo tempo.Que confusão eu ter saído do convento. Acho que fiz uma enorme besteira.— Eu... Eu não sei beijar - admiti, as palavras saindo em um sussurro nervoso. Eu o vi parar, a surpresa clara nos olhos dele.Por um momento, ele ficou em silêncio, apenas me observando, e depois sorriu, um sorriso que me aqueceu de dentro para fora.— Isso é algo que podemos consertar... — disse ele, a voz rouca e baixa.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi passos. Os mesmos homens da venda. Eles estavam se aproximando, o som de
Parte 22 - AdrianoA estrada de terra que levava ao centro da cidade estava praticamente deserta, e ao chegarmos na venda local, avistei um pequeno grupo de homens suspeitos, os mesmos que eu tinha visto de manhã cedo.Estavam reunidos perto da entrada, conversando entre si de forma tensa. O líder deles, um sujeito robusto de cabelos grisalhos, parecia dar ordens com gestos apressados, como se algo estivesse prestes a acontecer.— Creio que sejam eles, senhor - Javier disse ao meu lado.Aproximei-me devagar, mantendo uma distância segura, escondido à vista deles. Meus homens estavam comigo, prontos para qualquer coisa. O que eu precisava agora era descobrir onde diabos Bianca estava se escondendo.O líder do grupo se virou, apontando para o horizonte, na direção das montanhas. A cabana. Eu mal tinha percebido a estrutura simples e escondida entre as árvores, uma construção modesta que passaria despercebida por qualquer um que não soubesse o que procurar.— Ela está lá! - o sujeito gr