Negócios Fechados e Silêncios InternosO salão da festa em Londres era impressionante. Candelabros de cristal pendiam do teto, e uma banda de jazz tocava suavemente ao fundo, criando um ambiente elegante e intimidador. Magnatas e investidores poderosos circulavam pelo espaço, segurando taças de champanhe e rindo com confiança, como se o mundo estivesse sob o controle deles.Miguel Alencar caminhava pelo salão, cumprimentando algumas pessoas com acenos formais. A festa era o ponto culminante de sua viagem, e ele sabia que tudo o que ele precisava resolver terminaria naquela noite. Os acordos mais importantes não eram fechados nas reuniões oficiais, mas nas conversas discretas e privadas, longe dos olhares atentos.Um garçom se aproximou com uma bandeja cheia de bebidas. Miguel pegou uma taça de champanhe, mas não tomou um gole. Nunca foi um grande apreciador de álcool; seu verdadeiro prazer estava em ganhar — resolver problemas, fechar negócios, manter o controle absoluto.— Alencar,
Entre Memórias e Silêncios5 horas da manhã. A casa de Clara Moretti estava em completo silêncio. A escuridão lá fora ainda engolia o vilarejo mais abaixo, mas ela já estava desperta. A insônia era uma velha companheira, e em noites como aquela, o sono a abandonava completamente.Ela se levantou devagar da cama, olhando para Luna, que dormia tranquilamente, com as pequenas mãos repousando sobre o cobertor. Clara se inclinou, beijando a testa da filha com carinho.— Eu te amo, minha pequenina. — sussurrou ela, enquanto fechava a porta do quarto com cuidado, sem fazer barulho.A casa era simples e aconchegante, localizada em uma área isolada nas montanhas. Ao redor, árvores densas cercavam o espaço, e mais abaixo, o vilarejo repousava tranquilamente, como se o tempo ali corresse mais devagar. A alguns quilômetros, Clara sabia que havia uma cachoeira escondida, um dos muitos motivos pelos quais havia escolhido aquele lugar. Era um refúgio, uma fuga do passado, onde poderia criar Luna em
O Início de uma DescobertaO sol já brilhava sobre Londres quando Miguel Alencar acordou, o corpo tenso e a mente ainda envolta nos fragmentos do sonho perturbador. Ele levou as mãos ao rosto, tentando dissipar o peso emocional que o sonho deixara nele. Sentia uma pressão no peito, um vazio inexplicável que não conseguia nomear. Mais uma vez, ele tentava se lembrar de quem era a mulher do sonho, mas nada além de uma sensação de saudade permanecia.Miguel se levantou, tomou um banho rápido e se vestiu para o trabalho. Precisava se concentrar — a manhã seria dedicada a finalizar contratos importantes que resultaram do jantar da noite anterior. Aquele seria o encerramento da missão em Londres, e ele esperava voltar ao Brasil logo depois.Quando chegou ao escritório da filial europeia da Alencar Holding, os funcionários já estavam à sua espera. Miguel entrou diretamente na sala de reuniões, onde uma pilha de papéis aguardava sua assinatura.— Senhor Alencar, todos os contratos estão pron
Quem Engorda o GadoClara estava sentada na varanda de sua casa nas montanhas, observando as árvores ao longe enquanto Luna brincava perto da cachoeira. A paz do lugar era algo que ela sempre apreciara, mas, naquela manhã, essa tranquilidade seria interrompida.Seu telefone tocou, e ela o pegou com um suspiro. A voz familiar de um dos homens de confiança de seu pai soou do outro lado.— Senhora Moretti, seu pai não está bem. Ele pediu que o jatinho fosse buscá-la imediatamente. Ele exige sua presença.Clara franziu a testa, sabendo que quando seu pai pedia, não havia espaço para recusa. Seu relacionamento com ele sempre fora complicado, e, embora a saúde dele estivesse deteriorando, Clara ainda resistia à ideia de se envolver mais profundamente com os negócios da família.— Estou indo. — respondeu ela, encerrando a ligação.Sem dizer nada, ela se levantou e foi até Luna, que brincava despreocupada com pedrinhas na beira da água.— Filha, precisamos viajar para ver o vovô. — disse Cla
A Dor de Lembrar e o Peso do EsquecimentoMiguel estava sentado na cama do hotel em Londres, o telefone na mão. Ele respirou fundo antes de discar o número da mãe. Precisava contar o que o médico havia revelado sobre o acidente e o motivo dos sonhos fragmentados que o atormentavam.— Oi, mãe. — ele disse, assim que ela atendeu.— Miguel! — A voz dela parecia animada. — Como você está, meu filho?Ele hesitou um instante.— Mãe, eu liguei porque... Eu vou precisar ficar em Londres por mais um tempo. O neuro descobriu que esses sonhos que estou tendo são fragmentos de memórias que perdi. Eu... Eu tive um acidente, mãe. Bati o carro e capotei. O médico disse que eu fiquei em coma e que meu cérebro está tentando se lembrar do que eu esqueci.Do outro lado da linha, ele ouviu a mãe começar a chorar baixinho.— Que bom, meu filho... Que bom que você está começando a se lembrar.A resposta dela pegou Miguel de surpresa.— Como assim, mãe? O que eu preciso me lembrar?Ela suspirou profundament
A Próxima GeraçãoClara e Luna estavam novamente a caminho da França, atendendo ao chamado urgente de seu pai. O jatinho particular as conduzia suavemente pelos céus enquanto Clara olhava pela janela, preocupada. A saúde do pai estava piorando rapidamente, e, desta vez, ele estava de cama, uma imagem difícil para alguém que sempre fora tão forte e determinado.Ao chegarem à mansão na França, Valentina as recebeu na porta com um abraço silencioso.— Ele quer falar conosco. — disse Valentina com um ar sério. — Sobre o testamento.Clara respirou fundo e seguiu para o quarto do pai, com Luna caminhando ao lado. Ao entrarem, encontraram o patriarca Moretti deitado, a pele pálida, mas os olhos ainda cheios de determinação.— Minhas meninas... — ele murmurou com um sorriso fraco, estendendo a mão para elas. Clara e Valentina se aproximaram, uma de cada lado da cama, enquanto Luna pulava para o colo do avô, enchendo o quarto de uma alegria inocente.— Eu quero que vocês saibam que o testament
O Coração Sempre SabeClara acordou cedo, o céu da manhã tingido por um leve tom de rosa. Ela desceu até o jardim com uma xícara de café fumegante nas mãos, inalando profundamente o perfume das flores. O ar fresco e a fragrância das pétalas a cercavam como um abraço suave.— Bom dia, mundo. — murmurou ela, sorrindo para si mesma.Depois de tomar os últimos goles do café, deixou a xícara sobre a mesa da varanda e subiu as escadas em direção ao quarto do pai. Cada degrau rangia levemente, mas o som era familiar e reconfortante. Ao chegar à porta do quarto, deu três batidinhas leves.— Bom dia, pai. O senhor já acordou?Nenhuma resposta veio. Clara franziu levemente a testa, mas empurrou a porta com cuidado. Entrou no quarto silenciosamente e foi até a janela, abrindo as cortinas para deixar entrar a luz suave da manhã.— Vamos acordar, pai. Como o senhor está hoje? — perguntou, enquanto a luz inundava o ambiente.O silêncio continuou. Clara se aproximou dele e tocou seu rosto suavemente
Entre a Simplicidade e a FutilidadeNa mesma manhã, Cecília estava sentada no escritório do pai, mexendo no celular distraída, enquanto ele a observava com um olhar severo.— Cecília, você precisa ir ao velório do senhor Moretti. — disse ele, firme. — É importante para os negócios.Cecília bufou, revirando os olhos.— Eu não vou.— Não seja tola. — ele rebateu, impaciente. — Isso é essencial para manter nossas conexões.Ela o olhou com desprezo.— Se for tão essencial, que vá o senhor. Eu tenho mais o que fazer.O pai bufou, irritado, mas não discutiu mais. Um de seus secretários seria enviado no lugar dela, para garantir que alguém estivesse presente e fizesse as conexões necessárias.O salão estava silencioso e solene, decorado com flores brancas que traziam um ar de respeito e reverência. O corpo do senhor Moretti repousava em um caixão de madeira nobre, e Clara e Valentina estavam de pé ao lado, recebendo os cumprimentos dos presentes com a serenidade de quem já havia se preparado