O Peso da EntregaO quarto estava envolto por uma penumbra suave. A iluminação delicada das lâmpadas ao longe criava sombras que dançavam nas paredes, enquanto a brisa leve da varanda entrava pelas janelas abertas, tornando o ambiente sereno e íntimo, perfeito para um momento que parecia inevitável.Miguel respirava com dificuldade, não por cansaço, mas pela antecipação. Seus olhos estavam fixos em Clara, que permanecia próxima, os lábios entreabertos, o coração acelerado. Ele segurou a mão dela com firmeza, os dedos se entrelaçando como se nunca mais quisesse soltá-la.— Fique comigo... — ele repetiu, a voz baixa, quase um sussurro, carregada de desejo e uma pitada de medo.Clara não respondeu de imediato. Ela sabia que aquele momento era mais do que a simples união de dois corpos. Era a oportunidade de reparar o que o tempo e o esquecimento haviam rompido. Ela passou a mão pelos cabelos umidos de Miguel, inclinando-se para deixar um beijo suave em, como uma promessa silenciosa de qu
O Desaparecimento de Clara.A manhã parecia seguir seu curso habitual. Miguel saiu para mais uma sessão de fisioterapia, enquanto Clara se preparava para visitar a mansão de seu pai, onde Valentina a aguardava para resolver alguns assuntos. Ela colocou a bolsa no banco do passageiro e seguiu pelas ruas tranquilas, pensando na rotina do dia. No entanto, o que era para ser uma visita comum se transformou em um pesadelo.No meio do caminho, em uma estrada relativamente isolada, Clara notou algo estranho. Dois carros surgiram repentinamente à sua frente, freando bruscamente e bloqueando a passagem. Antes que pudesse reagir, outro veículo surgiu por trás, encurralando-a completamente. O coração de Clara acelerou, e suas mãos apertaram o volante. Ela tentou dar ré, mas estava presa. Não havia escapatória.— Meu Deus… o que está acontecendo? — murmurou Clara, com um nó na garganta.Em questão de segundos, um homem armado surgiu ao lado da janela do carro. Ele bateu com a coronha da arma no v
O Vazio do DesaparecimentoOs dias começaram a passar lentamente, e o silêncio sobre o paradeiro de Clara tornava-se insuportável. A cada novo amanhecer, a angústia crescia. Miguel passava boa parte do tempo na varanda, olhando para o horizonte, com o celular sempre ao alcance da mão, esperando alguma notícia, algum sinal. Mas nada acontecia.Naquela manhã, o som da campainha ecoou pela casa. Miguel, cansado e abatido, viu Cecília entrar com o pai, ambos exibindo expressões frias e controladas. Cecília, vestida impecavelmente como sempre, lançou um olhar rápido ao redor, como quem não se importava verdadeiramente com o que acontecia ali. Seu pai, com a habitual calma, cumprimentou Miguel e se acomodou em uma poltrona.— Como você está, meu jovem? — perguntou o pai de Cecília, com a voz baixa, mas sem muita empatia.— Como acha que eu estou? — Miguel respondeu, seco. — A Clara sumiu e ninguém sabe onde ela está.O pai de Cecília trocou um olhar rápido com a filha, que apenas deu de om
Onde o luxo encontra o vazio Cecília fechou a porta do quarto com força, a frustração transbordando em cada passo enquanto atravessava o espaço amplo e luxuoso de sua suíte. A presença constante de Miguel em sua mente e a obsessão dele por Clara faziam seu sangue ferver. Ela não suportava ser deixada de lado, muito menos por uma enfermeira. No banheiro, ela abriu a torneira da banheira e despejou generosamente sais perfumados, criando uma espuma densa e fragrante. A água quente jorrava, preenchendo o espaço com vapor e o aroma relaxante. Cecília se despiu lentamente, apreciando o contato do ar fresco contra sua pele. Quando a banheira estava cheia, mergulhou na água quente, sentindo os músculos relaxarem. Fechou os olhos, tentando afastar da mente a figura de Clara e os olhares de Miguel. O tempo parecia escorrer com a água enquanto Cecília lavava o cabelo com movimentos meticulosos, deixando a espuma deslizar pela pele. Após o banho, enxugou-se com uma toalha macia e escolheu, de s
Uma nova enfermeira, mas não o mesmo alívioNo meio do nada, em uma sala fria e escura, Clara está sentada em uma cadeira de metal, com as mãos amarradas nas costas. A atmosfera é opressiva, e o silêncio é quebrado apenas pelo som abafado de passos pesados e vozes baixas vindo do lado de fora. Uma lâmpada fraca balança sobre sua cabeça, criando sombras que se movem nas paredes gastas.Enquanto Clara tenta manter a calma, os sequestradores — homens mascarados e de fala contida — a vigiam, mas não interagem muito. A tensão é palpável. Um dos homens, mais alto e forte, se afasta, pega um telefone e disca um número. A ligação é breve e direta.— Está tudo sob controle, ela não deu trabalho nenhum. — Ele faz uma pausa, escutando a resposta do outro lado. — Sim, ninguém sabe onde ela está.Clara ergue a cabeça ligeiramente, tentando captar mais detalhes, mas o homem caminha para longe, falando em voz baixa.— Ainda não. Estamos esperando sua próxima ordem.Há um silêncio pesado do outro lad
O peso da ausência e uma mensagem inesperadaMiguel acordou de um sono inquieto, com a cabeça latejando mais uma vez. A ausência de Clara era uma sombra constante que o seguia, drenando sua energia e obscurecendo qualquer vestígio de paz. Ele se ajeitou na cama, tentando afastar a dor, e pegou o celular na mesa de cabeceira. Uma luz de notificação piscava, alimentando sua esperança.Ansioso, desbloqueou o aparelho. Era uma mensagem estranha, vinda de um número desconhecido:"Clara está segura, mas não por muito tempo. Descubra a verdade antes que seja tarde."Miguel sentiu o coração acelerar. Ele leu e releu a mensagem, tentando encontrar alguma pista. A dor de cabeça ficou mais intensa enquanto ele se esforçava para interpretar o significado oculto. Quem teria mandado essa mensagem? E o que significava “descubra a verdade”?Isabel entrou no quarto, preocupada ao vê-lo segurando a cabeça.— Filho, a dor piorou? Vou pegar seu remédio.— Mãe... — Miguel interrompeu, segurando o braço de
A Busca que Não Traz RespostasA tensão na casa de Miguel aumentava a cada minuto. Valentina permaneceu em silêncio, com o celular em mãos, aguardando a resposta do contato. Miguel, por sua vez, lutava contra a dor de cabeça que parecia se intensificar a cada pensamento sobre Clara. A ansiedade e a frustração tomavam conta dele, e Isabel observava o filho, preocupada, sem saber como aliviar a agonia que ele carregava.— Você acha que ele vai conseguir rastrear algo? — Miguel perguntou a Valentina, os olhos semicerrados devido à dor.— Eu espero que sim. Mas essas coisas levam tempo... — respondeu ela, com cautela.Miguel balançou a cabeça, a impaciência evidente. Ele não estava disposto a esperar mais tempo do que já tinha esperado. A sensação de impotência era sufocante. Camila, que se mantinha discreta em um canto da sala, preparava um remédio para tentar aliviar a dor dele.— Miguel, por favor, tome isso. Vai te ajudar a descansar. — Camila ofereceu o copo d’água com a pílula.— N
Uma Conversa OuvinteValentina caminhava pela casa, ainda tensa com a falta de notícias sobre Clara. O peso da preocupação era constante, mas ela nunca perdia sua postura firme e determinada. Precisava se manter atenta a qualquer movimento estranho ou pista que pudesse levá-los até Clara. Ao passar pela porta da cozinha, um sussurro abafado chamou sua atenção. Valentina parou imediatamente, prendendo a respiração, e se encostou silenciosamente na parede ao lado da entrada.A nova enfermeira, Camila, estava ao telefone, a voz baixa e cheia de nervosismo. Valentina inclinou-se levemente para espiar pela fresta entre a porta e a parede. O corpo da enfermeira estava tenso, e o telefone estava pressionado contra sua orelha como se ela quisesse abafar qualquer som.— Eu não consigo... Eles estão procurando... — Camila falava em um tom quase suplicante. — Se eles descobrirem, eu não sei o que vai acontecer...Valentina prendeu a respiração, seus olhos se estreitando. A enfermeira estava esco