Capitulo 2

Depois que a reunião com as meninas acabou, ficou se sentindo desgostosa da vida, preferiu não sair para comer quando foi anunciada a refeição pelo mordomo, só trancou a porta, deixando apenas a área destrancada que a levaria à área das crianças - já que seu quarto tinha duas saídas, uma para fora do quarto e a outra para a tal área das crianças, onde costumavam brincar etc., para que não tivesse problemas à sua frente. De qualquer forma, pelo jeito que as demais falaram, era apenas a sua culpa o marido não gostar mais da própria esposa.

Digerir a verdade era a pior coisa que tinha para fazer naquele momento e encarar a verdade era ainda pior. Sua vida foi uma ilusão de sua própria mente, dedicou tanto tempo à sua família que agora é uma pessoa apagada e chata. Isso a fez chorar no chão como um bebê, enquanto abraçou as pernas, nem sabia a quem recorrer atrás de conforto. Já que, com as amigas, conforto não foi a palavra certa que recebeu vindo delas.

Ao marido? Não, com certeza estaria com a amante loira.

Os filhos não tinham culpa dela estar naquele estado, e no meio da sua raiva solitária, acabou até se culpado por trazer Dália ao mundo e estragar o seu corpo, mas logo sentiu culpa porque tinha um enorme amor pela filha, de todo o coração, sabia que a menina, e nem os gêmeos, não tinham culpa de nada.

Enquanto permanecia chorando e abraçada a si mesmo, em seu inconsciente cantou a música de seu casamento, se lembrando da festa, do vestido lavanda que trajou no dia, com o cabelo trançado, e de como tudo era tão feliz e alegre. Olhando agora ao quarto escuro, encarou uma foto deles juntos na frente da igreja, tinha ainda ao lado da foto ramos de lavanda e aquilo a fez se encolher mais.

Tudo que ela pensou que seria para sempre... Simplesmente não era. Os beijos, os sorrisos, os momentos, Joseph não era tão especial assim como seu coração apertou e disse o contrário, já que a lógica obrigou a vê-la a verdade. Ele queria uma esposa para cumprir uma cota social e agora, depois de alguns anos, já estabelecido e de renome, não precisou seguir regras.

O pior de tudo é que não sentia raiva dele, sentia tristeza e dor, porque no final das contas a mais enganada em tudo era ela. Ele sempre deve ter deixado claro em algum momento, mas ela possivelmente deve ter ignorado.

Isso a fez chorar, saber que na verdade a errada da história sempre foi ela a fez chorar de verdade, olhando ao teto enquanto sentia as lágrimas descerem queimando a pele.

Joseph sempre foi um homem belo, tão belo que ela o considerou um anjo pela beleza. Seus cabelos encaracolados de cor marrom sempre foram um detalhe de destaque aos outros, a pele branca, os músculos que forçavam a camisa social sempre davam um ar jovem e os olhos pretos davam um ar misterioso. Ele é tão belo que todas devem apreciar.

Então, não era para tanto que a amante quisesse estar no meio daqueles braços fortes e quentes, e comparada à loira atraente e sensual, Evangeline era normal de aparência, cabelos que não sabiam se eram lisos ou ondulados, os olhos marrons e sem graça. Talvez seja por isso também que ele a trocou. Sabia que não tinha como ela ter chance contra aquela mulher.

Foi um susto quando sentiu tapinhas na cabeça, fazendo-a buscar a origem do contato. Logo viu Dália com uma cara de sono. As mãos gordinhas apertaram o rosto de Evangeline e não pensaram duas vezes antes de segurá-la em seus braços, apertando-a devagar também, ouvindo a pequena rir da brincadeira.

– Mamãe? – A voz coberta de sono foi sua boia no meio daquele mar de emoções.

– Hm?

– Você está chorando? – A adulta apenas confirmou quieta com a cabeça, escondendo os soluços. – Quer um beijinho para melhorar? – Aquilo a fez apertar Dália ainda mais, enquanto chorou baixo sobre o corpo pequeno dela. – Mamãe, não chora, eu te amo. – Seu choro a fez recuar, limpando as lágrimas de ambas.

– Eu também te amo, meu bebê. – Continuou Evangeline. – Mas, a mamãe precisa chorar um pouco porque ela está triste, ela precisa chorar só um pouquinho e aí vamos te levar para cama. – Uma criança de dois anos a olhou com mais carinho que seu marido durante muito tempo e aquilo a quebrou bastante.

Após longos minutos...

Com a crise terminada, Evangeline pegou Dália nos braços e seguiu para o quarto das crianças.

Enquanto caminhou pelo corredor, viu que a bebê nos seus braços também não tinha puxado traços nenhum vindo dela e isso a fez sorrir diferente de outras vezes, porque ela e os filhos não teriam essa culpa de serem apagados pelas outras pessoas.

Aninando melhor, sua menor caminhou tranquilamente enquanto ninou uma música conhecida em sua vida, vendo-a segurar seus cabelos.

Foi quando uma porta de um dos quartos foi aberta, e de lá saiu uma loira conhecida e com uma cara de alegre, principalmente em comparação à de Evangeline, que engasgou de leve enquanto viu no batente da porta seu marido com os lábios inchados, as roupas bagunçadas e o cheiro de sexo no ar. Mas, o impressionante de tudo foram os olhos dele a encarando. Evangeline pressionou Dália em seus braços e seguiu em frente enquanto lágrimas começaram a cair no final do corredor.

A cara de surpreso e de culpado a fez trancar a porta dos filhos quando entrou, buscando um abrigo na própria casa. Queria voltar imediatamente para o escritório, mas achou que isso seria demais. Antes de virar e encarar os filhos, respirou três vezes e depois destrancou a porta, virando para os gêmeos que já estavam na cama. Eles apenas a olharam, pensativos.

– Mamãe? – Camélia saiu da cama rapidamente e foi ao encontro de sua mãe. Magnos a acompanhou. – Você está bem?

– Sim, só estou cansada. – O sorriso normal trouxe normalidade aos dois.

– Papai perguntou de você na hora da janta, onde estava? – Camélia sempre foi a mais falante entre os gêmeos.

– Ele perguntou, é? – O curioso é que minutos atrás ele devia estar em relações íntimas com uma empregada. – Mas não precisa se preocupar – a adulta tentou confortá-los – mamãe estava terminando algo e precisou se ausentar do jantar, mas amanhã estarei lá com vocês. – Sorriu elegante, enquanto os gêmeos concordaram com a cabeça.

– Vai falar com o papai depois? – Magnos indagou, longe das mãos da mãe, com os bichinhos do ursinho do Pooh em mãos, enquanto Evangeline ajeitou uma das pelúcias que permaneciam nos braços do menor.

– Falarei com ele, prometo. – Estendeu o dedo indicador, enquanto o menino entrelaçou seu dedo no dela, como uma promessa. Ambos sorriram. Ela depois olhou para Cámelia, que permanecia agarrada com um elefante de pelúcia, feito à mão por Manuela, do seu personagem favorito da Disney, o Dumbo. A menina sorriu de volta.

– Espero mesmo. – Uma outra voz ecoou por de trás de Evangeline, a assustando. Assim que ela virou a cabeça para trás e viu seu marido ali, quase deu um pulo para trás.

– Bom, está na hora de vocês dormirem, crianças. – Com um sorriso ameno, viu a expressão de sono das crianças, então não demorou para que colocasse as três em suas respectivas camas. Depois, ela foi até uma pequena estante de livros e pegou um de contos, sentou-se numa cadeira ao lado das camas, se preparando para ler.

– Ei – a voz masculina ecoou outra vez, agora se aproximando mais de Evangaline. Parou ao lado dela, sussurrando para não atrapalhar o sono que já estava vindo das crianças. – O que foi?

Naquele instante, ela sequer olhou em seus olhos. Abriu o livro enquanto sentiu o perfume da empregada impregnado no seu marido, seu estômago embrulhou, como se uma vontade de vomitar estivesse vindo à tona, mas logo respirou fundo, não querendo transparecer isso a ele. Ela tirou forças do interior para não pestanejar na frente dele, então apenas subiu a cabeça para encará-lo, bem séria.

– Eu vou ler para eles hoje, e quero fazer isso sozinha.

Durante aquele contato visual, Evangeline queria chorar, gritar, fugir, mas não o faria. Joseph ficou com a expressão de inocente em seu rosto, mas logo suspirou e deu de ombros. Não demorou para dar as costas, em direção à saída do quarto das crianças. Ela voltou com o olhar para o livro em suas mãos, mas no instante em que ouviu o barulho da porta bater... Sentiu um arrepio correr pelo seu corpo, suspirou fundo, sentindo seus olhos marejarem. Mas ficou decidido que iria ler aquela história para seus filhos, mesmo que faltasse pouco para que o sono atingisse as crianças, então deixou as lágrimas escorrerem, porém logo começou a leitura. A primeira cena era do casal indo se casar em uma igreja, uma vez que o nome do livro era "e viveram felizes para sempre".

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