Foi uma traição?
Foi uma traição?
Por: Mary Bela
Capitulo 1

Já fazia um tempo que Evangeline tinha notado uma mudança em seu marido, mais exatamente desde o nascimento da ultima filha do casal, seu companheiro passou a evitar momentos mais íntimos, românticos. Porém, o estopim foi vê-lo um tanto interessado em uma nova empregada. A situação começou com alguns olhares, que avançaram para leves sorrisos, terminando em conversas levianas, com os corpos mais próximos. Evangeline passou a se sentir invisível dentro de sua própria casa. Eis que, quando ela achou que não poderia ficar pior, a dona da casa encontrou seu, até então, marido aos beijos com tal empregada, em um dos escritórios dele. Entretanto, Evangeline notou que não eram beijos normais, eram beijos apaixonados.

Aquilo, definitivamente, a quebrou.

Foi inevitável comparar sua própria aparência com a tal amante. Afinal, a outra tinha traços finos, olhos claros e um corpo um tanto esbelto, enquanto a própria esposa... Era tudo ao contrário. Tudo pareceu se inverter, desde o dia em que pegou seu marido lhe atraindo. Como dito, os momentos românticos eram cada vez mais escassos, já que tais momentos o tal homem tinha com a amante, não com sua devida esposa. Não tinha outra reação a não ser ir se encolhendo cada vez mais, dentro de sua própria casa.

Evangeline não conseguia esquecer a cena, o momento; foi quando ia entregar o jornal ao seu marido, quando, por uma fresta da porta, foi capaz de ver os dois amantes no ato romântico.

Todos os seus pensamentos eram completamente confusos, perturbados. Ela se pegou pensando se aquele seu casamento, que até aquela cena era tão feliz, cheio de amor, não passou de uma ilusão barata em sua própria mente. Essa sua dúvida, como tantas outras que permaneciam rodeando sua mente, era como uma erva daninha, entrando cada vez mais fundo em seu inconsciente, em seu coração. Os próximos dias continuaram a correr, enquanto o tal marido ia ficando cada vez mais e mais longe, com cada vez menos olhares para sua esposa, sem amor, sem afeto. Todas as noites, depois que conseguia colocar os filhos na cama, o seu companheiro ia demorando cada vez mais de seus escritórios, além de sempre ter uma desculpa para sair mais cedo da cama, deixando sua esposa sozinha, na maioria das noites.

A gota d'água para Evangeline, além de tudo que já vinha acontecendo, foi quando o casal, finalmente, conseguiu ter uma sessão de beijos, mas quando foi evoluir para um momento mais íntimo... Ele simplesmente pulou da cama e transferiu um olhar diferente para a companheira... Um olhar de apenas... Nojo. Ela sentiu, sentiu mesmo aquilo. O rapaz apenas saiu do quarto, deixando-a aos prantos na cama. Ela chorou, tanto, até pegar no sono.

Devido a tudo isso, ela começou a escrever cartas para as amigas, solicitando a presença delas em sua casa. Evangeline escrevia as cartas da maneira mais simples possível, onde dizia "Tenho uma emergência, preciso de conselhos, pode vir me visitar pessoalmente?" As letras eram grandes, além de fornecer ao expresso com uma gorjeta a mais, para que as cartas chegassem mais rápido às respectivas destinatárias.

Depois, só aguardou. Quando, em uma tarde tranquila, enquanto permanecia bordando, ouviu alguém batendo em sua porta. As crianças da casa logo ficaram um pouco eufóricas, saindo dos quartos e indo até a sala. Evangeline chamou o mordomo para abrir a porta. Quando a porta foi aberta, um enorme sorriso se fez no rosto da dona da casa, ao ver suas três amigas ali.

Ou, de acordo com as crianças, eram as tais tias loucas.

Apesar de Evangeline ser um bom exemplo, conseguia atrair pessoas um tanto mais... Malucas ao seu redor. Gabriela era a tal tia das bebidas, enquanto Manuela era a doida que, se deixasse, iria falar até com árvores, enquanto por fim tinha a tia Rebeca, mas a mesma era cruel com Evangeline, além de um tanto grossa e arrogante.

– Meninas! – Evageline levantou rapidamente do sofá, deixando o bordado na mesa que tinha à frente. Alegre, foi até as mulheres para dar um abraço e um beijo em cada uma. Após, direcionou o olhar para seus filhos, que já estavam ao seu lado. – Magnos e Camélia, deem "oi" para suas tias.

– Oi. – Os gêmeos se entreolharam e depois fitaram as moças à sua frente, dizendo em uníssono um tanto friamente. Não demorou para as amigas os cumprimentarem de volta, para elas, tinham certeza de que os gêmeos vieram do banqueiro de expressões de Joseph. Os olhos das crianças eram iguais aos do pai, pretos como carvão e bem intensos.

– Dália! – Gritou Manuela, para que toda a casa ouvisse. – Venha dar oi às titias. – Não demorou para que uma outra criança, aparentemente de 4 anos, aparecesse para depois se aproximar das moças. – Continua pequena... Evangeline olhou agora para a dona da casa – está dando comida a ela? – Por fim, as moças colocaram seus chapéus no respectivo local ao lado da porta, que era apropriado para isso.

A tal criança de 4 anos logo começou a ficar dispersa, direcionando seus passos a uma pequena móvel de canto que tinha ao lado da porta. Camélia, um dos gêmeos, foi até a irmã caçula, parando-a antes que a mesma se machucasse. Magnos, por sua vez, foi até as irmãs e pegou no braço de cada uma, para depois fitar sua mãe na porta com as amigas.

– Mamãe, estamos indo para o quarto dos brinquedos. – Ainda meio frio, e dando a mão às irmãs, levou-as meio que à força até as escadas, para subi-las. Para que assim, deixasse as adultas sozinhas – mesmo que algumas delas estivessem alheias em relação à saída das crianças.

As três amigas de Evangeline sempre foram uma perturbação à casa, que era calma apenas com Joseph e a tal dona da casa. Os funcionários que serviam à casa não tinham apreço por aquelas moças, e muito menos Joseph. Seus filhos permaneciam a evitar, o tanto que podiam, pois, como dito, para eles, elas eram as tias malucas e grudentas. Mas, para Evangeline, elas eram a diversão mais recorrente que tinha em sua vida.

– Bom dia, meu raio de sol. – Gabriela passou por Manuela, apertando de leve o braço da amiga. – Quero uma bebida, antes de começarmos. – Rapidamente olhou para o mordomo, que permanecia próximo, o mesmo apenas assentiu com a cabeça, entendendo o recado. Por fim, não demorou para que as quatro se aproximassem do sofá para se sentarem.

– E a vida de vocês, como anda? – Outra vez, Gabriela utilizou sua voz para indagar, enquanto o mordomo lhe servia uísque.

– Ruim – deu uma pausa antes de continuar – Ricardo quer mais filhos. – Rebeca rosnou em pura descrença, enquanto abriu o leque que tinha em mãos, se abanando.

– Os meus... São uns monstros. – Gabriela olhou para as amigas e riu, enquanto enfim o mordomo serviu bebida a todas ali.

– Enfim, vamos ao que interessa. – Manuela foi ríspida, indo direto ao assunto, olhando para Evangeline. – O que queria falar conosco, de tão urgente? – Alguns poderiam não entender, mas falar de crianças era um gatilho para a mesma, já que Manuela nunca conseguiu ter um, além de sua condição mental, o Império nunca a deixou adotar. Dessa forma, era só ela e o marido... Em uma casa cheia de quartos.

– Vamos falar disso no meu escritório, pode ser? – Meio trêmula, perguntou. As amigas se olharam, mas logo fixaram o olhar na dona da casa, para enfim concordarem com a cabeça.

Assim, elas se levantaram e caminharam em direção ao tal escritório de Evangeline. Ao entrarem, a mesma se certificou de ter fechado bem a porta. Ela então se colocou no centro da sala, respirou fundo e botou as mãos sobre o peito, bem nervosa e tensa com aquilo. Mas não demorou para que começasse a contar para suas amigas o que houve, mas especificamente a relação de Joseph com a empregada, a tal traição, além de todo o comportamento que seu marido vinha tendo com ela. Enfim, toda a situação.

– Não acredito que Joseph fez isso! – Exclamando, Gabriela soltou a bebida sobre a mesa principal daquele escritório, largando o álcool pela primeira vez no dia. – Eu, se fosse você, mandava essa mulher embora agora mesmo.

– Pare de ser boba – se pronunciou Rebeca, olhando para a amiga ao lado – se mandar ela embora, o Joseph vai desconfiar e logo vai juntar as moedas, de que a Evangeline sabe de tudo. – Deu uma pausa antes de voltar a fitar a amiga na sua frente. – É melhor deixar para lá, além do mais, convenhamos, achou mesmo que isso não ia acontecer com você? – Aquilo fez Evangeline retribuir o olhar com uma sobrancelha arqueada. – Achou que seu casamento seria eterno? Pensou mesmo que Joseph não iria te trair? Bom, homem nunca consegue sossegar com uma mulher só, eles se cansam muito das esposas, isso é um fato! – Finalizou, dando de ombros. Enquanto Evangeline encarou as mãos em busca de algum argumento sólido para rebater o que foi dito, mas, no final, sabia que Rebeca tinha razão. Só não queria acreditar naquilo, que realmente Joseph a havia trocado por outra mulher.

– Mas eu amo meu marido, o que eu queria era um conselho para lutar contra o desinteresse dele, o fazer voltar para os meus braços. – Murmurou cabisbaixa, desolada.

Isso fez as três se entreolharem.

– Envageline, sua inocência às vezes chega a ser cativante. - Rebeca respondeu, com um sorriso debochado no rosto. – Olhe para você e depois para a amante, que aliás não tem filhos, e me diga a diferença. Aposto que não vai demorar para ver.

– Como assim? – Evangeline permaneceu sem entender.

– Ué, já viu o seu corpo, completamente fora de forma? – Rebeca bateu os dedos sobre a mesa, voltando de forma teatral para a amiga. – É o que eu acho, você não é mais uma mulher atraente, e sim uma mãe, desculpe falar, mas suas gestações acabaram com você, te deixaram feia, largada, acabada. – Completou, mexendo nos cabelos e no rosto da amiga na sua frente, até mesmo dando cutucadas no espartilho da outra que prendia algumas gordurinhas.

– Sem contar os cabelos bagunçados e com penteados fora de moda, roupas simples e sem brilho nenhum. – Gabriela quem começou a dizer. – Você também não sai de casa, sempre com os mesmos assuntos do dia, não vai a teatros ou bailes, isso faz de você uma pessoa chata e apagada. – A outra amiga finalizou os comentários.

As verdades foram batendo em Evangeline como tijolos, enfim agora direcionou seu olhar para Manuela, que foi a única que não falou nada até agora.

– É preocupante, porque você não tem nem trinta anos, e do jeito que está indo, logo acabará numa casa de campo. – Aquilo foi a última estaca em seu coração, uma casa de campo era a morte de uma esposa.

A casa de campo era a alternativa do marido de se livrar dos filhos e da mulher para ficar na casa da cidade só com a amante. Isso aconteceu com sua mãe, teve que ir junto com os filhos para uma casa de campo. Ficou imaginando-a e os filhos numa casa afastada, sem marido para a esquentar, nunca mais ouvir suas novidades ou contar de seus sonhos ao seu companheiro, de não ver mais seus meninos brincando no quintal ou até mesmo das caminhadas depois da missa na praça.

– O que eu faço? – Com a cabeça baixa, perguntou, desesperada.

– Faça ele ver que você não é substituída. – Respondeu agressivamente Rebeca.

– Pega ele, dê jeito na cama. – Gabriela, com menos pudor, bravejou alegre.

Isso a fez soltar lágrimas, como contaria às amigas que seu marido sente nojo de si mesma, ao ponto de nem querer dividir a cama mais?

– O que foi, querida? – Manuela notou os olhos brilhantes da amiga.

– Ele não me toca mais – deu uma pausa, mas logo levantou a cabeça para fitar as amigas – Há mais de dois anos. Foi o suficiente para que as amigas ficassem boquiabertas. Gabriela até soltou o copo em sua mão, deixando-o com que o mesmo se espatifar no chão. Enquanto Manuela apenas respirou, trêmula e preocupada.

Isso fez as três ficarem boquiabertas. Gabriela até soltou o copo no chão, deixando espatifar enquanto Manuela respiro tremula.

– É, acho que está com mais problemas do que achei que estaria. – Disse Rebeca.

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