Capitulo 5

Evangeline seguiu o caminho para a casa de Manuela tranquila e apreciando o pouco de silêncio que não tinha há tempos. A rua em que todas moravam era a mais tranquila em Mogi Mirim, perto do centro, onde sempre tinha coisas a fazer na grande igreja matriz, lojas de tecidos, sapatos e livros. Caminhar tranquilamente sem uma babá ou um carrinho de bebê era maravilhoso e se sentiu culpada por não querer os filhos por perto.

Foi assim que bateu na porta da casa ao fundo da rua, a grande casa rosa, a porta branca e a cerca branca sempre foi um charme. Manuela amava a temática de casa de bonecas, pelo menos na época em que enxergava. Nesse exato momento, ela não andava vendo muito e isso fez ela não passar no programa de adoção do Brasil, deixando-a ter uma casa enorme e sem filhos. Sem contar que, depois do casamento, Manuela descobriu que nunca poderia ter filhos e isso sempre foi uma grande tristeza para a mulher.

Foram três batidas e, antes da quarta, apareceu o rosto da amiga com suas roupas um pouco bagunçadas e cabelos fora do coque.

- Se arrumou sozinha de novo? – Sorriu a amiga orgulhosa. Manuela era orgulhosa e não deixava ninguém botar a mão nela além do marido.

- Aquelas malucas ainda tentam acreditar? – Mas doía ver ela às vezes se dedicar a um vazio longe de você mesmo.

- Já falei ao Miguel para parar de trazer gente estranha. – Resmungou brava, fazendo Manuela sorrir.

- Também falo, mas ele vive me ignorando. - Cruzou os braços como uma criança.

- Bom, de qualquer forma, posso entrar? – E com um movimento rápido, Evangeline foi levada para dentro. A casa de Manuela sempre foi grande e, diferente das casas dos demais, cheia de utensílios para decoração. A dela não tinha nada, no máximo quadros longe do chão, longe dos pés delicados de Manuela, que dentro de casa usava sua bengala. Ela evitava usar fora de casa porque achava que seu marido sentia vergonha. Evangeline nunca viu um olhar de vergonha de Miguel, mas também nunca achou que Joseph a trairia, então não podia mais ter certeza.

O quarto das damas sempre foi claro e cheio de sofás.

Evangeline deu de cara com as demais, acabou sorrindo, vendo Rebeca com um livro na mão, Gabriela com um copo já em suas mãos.

E quando perceberam, ela largou tudo.

- O que aconteceu? Por que precisa da gente hoje? – Gabriela deixou a bebida sobre a mesa, enquanto Rebeca tomou, se acomodando melhor no sofá.

- Peguei ele nos braços de outra, e não só peguei, mas senti o cheiro do amor deles. – Todas ficaram chocadas, as três acharam que era besteira da amiga. Além disso, os dois sempre foram referências, então escalar tão rápido de risadas para um toque físico algo está faltando, mas as duas mais velhas decidiram deixar passar e acudir à pequena Evangeline.

- E como não está chorando com tudo isso? – Gabriela largou a bebida por completo.

- Acho que já gastei tudo. - Respondeu rouca enquanto olhava para a mais velha.

- E parece que não dormiu também – Rebeca levantou ao encontro da amiga, que se sentou perdida. – Passou a noite em claro? E como descobriu que eles foram para o físico? – Alisou os cabelos enquanto a amiga choramingava.

- Fui colocar Dália na cama e vi os dois saindo de um quarto. Joseph parecia bravo e a mulher parecia muito alegre, sabe? Sem contar que ele tinha cheiro de bebida quando foi dormir comigo, bem o quanto eu fiquei no quarto, ele fedia à bebida. – Gabi e Rebeca olharam entre si com as informações, enquanto Manuela tudo que pôde fazer foi bater em sua mão com delicadeza.

- Como assim não dormiu a noite toda com ele? – Gabriela ficou chocada.

- Fui para o quarto da minha mãe, - olhou para as três. – Eu fiquei com nojo de dormir ao lado dele, porque ele nem mesmo tomou banho e o fedor do perfume dela com a bebida me causou dor. – A voz chorosa foi o suficiente para as amigas rosnarem em ódio. Mesmo com a raiva, algumas coisas não se encaixavam e isso elas iriam investigar mais tarde. – No final, dormi com as crianças no quarto de mamãe...

Evangeline fazia tempo que não pensava na mãe, mas ontem, tentando fugir da dor, correu para o quarto dela e se arrependeu de a ter proibido devido a uma briga entre as duas porque precisava de abraços da mãe.

- Já falou com sua mãe? – Manuela, pergunto com timidez.

- Espero que não fale nada, - Gabriela puxou o queixo de Evangeline para seus olhos. – Sua mãe não veio te ver quando você quase morreu numa cama, ela apareceu dois meses depois porque a sua querida irmã expulsou a velha m*****a da casa. - Gabriela ainda não conseguia encarar aquela velha m*****a. – Seu marido teve que a expulsar da casa dele, da casa de vocês, porque ele chamou sua filha de feia, sua bebê recém-nascida! – Gritou irritada.

- Isso mesmo, nem comente nada, - Rebeca se levantou com um ânimo novo. – A crise do seu casamento tem que ser resolvida entre vocês dois e não pela sua mãe. – Rebeca não ia deixar aquele casamento acabar, porque, pensando entre as linhas, algumas coisas não pareciam se encaixar.

- Sim, vocês dois ainda têm muito pela frente, acho que primeiro temos... – Manuela já ia comentar quando Evangeline se levantou com o pescoço apertado.

- Na verdade, enquanto vinha para cá, uma ideia surgiu em minha mente. Evangeline não sabia como dizer isso. – Eu quero ir a uma viagem sozinha, na verdade, sozinha de marido e de filhos. Após chorar tanto, percebi que desde que casei eu dei tudo para uma pessoa que jogou fora e, do jeito que as coisas estão indo, vou acabar sendo jogada em alguma parte do interior.Então, estou pensando em fazer uma viagem para Portugal e queria saber se vocês gostariam de ir comigo. – Sentou-se pensativa.

- Quer fugir do seu casamento? – Gabi olhou para Santa em dúvida.

- Não é fugir, quero um tempo e pensar nas coisas, é só isso. – Evangeline voltou para todas, nervosa. – Então, o que pensam sobre isso?

- Pensando bem, todo mundo aqui tem problema no relacionamento, não? – Gabi voltou para as demais.

Evangeline olhou para cada uma e sabia da dor de cada.

Manuela, dona da casa, teve um casamento improvável. Sua falta de visão dificultava ser chamativa para um homem em grandes bailes, mas acredite quem quiser que Miguel nunca tinha visto na miudinha um pedaço de céu no meio do inferno de sua vida. Miguel sempre foi um libertino e tinha casos de amantes por toda a região sudeste, um homem que não era feito para o casamento. Mas Manuela o amou de todo coração e alma, nem mesmo o conhecendo por imagem, já que a amiga não conseguia ver a beleza do homem alto e forte, diferente de Joseph, cheio de músculos que amam carregar toras de árvores gigantes, sem contar seus traços de anjo que foram o que conquistou tantos corações.

Miguel queria uma mulher que fosse submissa o bastante para permitir que ele continuasse pulando cerca e o casamento pela Manuela foi uma ótima proposta. Manuela sabia a realidade do casamento, mas foi um choque quando descobriu que não podia engravidar, fazendo-a se tornar somente um enfeite no meio daquele relacionamento.

Mesmo Manuela não vendo, sentia tristeza e os livros a enganaram quando conseguia ver as letras pequenas. Miguel sempre foi carinhoso e não se divorciou quando recebeu o diagnóstico do médico, mas o que a fez cair na real de vez foi ouvir do doutor: "acredito que, se quer um herdeiro, procure uma daquelas suas amantes." Aquilo quebrou seu coração enquanto se recuperava da sua falta de filhos.

Evangeline sempre deixou Manuela participar da vida dos filhos, para a mulher sentir a sensação boa.

- Eu aceito abandonar meu marido para ir com Evangeline. – Berrou um pouco mais alto.

E as duas voltaram às demais.

Gabriela encarou as amigas.

Evangeline conhecia a dor da amiga, Gabriel, seu primo bem próximo, precisava de uma esposa, então queria a irmã mais velha de Gabriela. Carol tinha tudo que Gabriela não tinha: talento, canto, boa etiqueta e uma beleza extraordinária, mas Carol acabou casando-se com um marquês, deixando Gabriel com a segunda opção.

Gabriela sempre teve inveja de Evangeline porque Joseph dava ainda olhares bons à esposa, enquanto seu homem tudo que podia fazer era sair à noite para ir atrás de suas amantes, pulando de moças jovens toda hora. E mesmo Gabriela provando que era uma boa esposa, trouxe até mesmo um herdeiro, o homem não tinha jeito. Gabriela fez até mesmo as maiores das humilhações, aceitando filhos das amantes, aceitando como dela, enquanto Gabriel sumia, deixando-a para lidar com as coisas.

A fazendo voltar para a bebida, ela queria acabar com tudo, queria morrer e tirar daquele sofrimento, então beber álcool foi uma coisa boa, porque mesmo querendo morrer, queria ver os filhos arrumando pessoas decentes e felizes.

- Aceito, eu aceito tentar depois de 10 anos me sentir viva. – Acabou gritando, causando risadas, indo para as duas com braços longos e abertos, as fazendo cair juntas.

Receba olhou tudo com dúvidas, sabia que seu casamento foi meio parecido com Gabriela, por isso a amizade delas era mais forte entre as outras. Ricardo ganhou os títulos e até mesmo o casamento do Robert quando ele morreu indo atrás da amante num dia de chuva. Sem contar os títulos, herdou para suas orelhas as 5 filhas do irmão e, mesmo Rebeca tentando a todo custo dar certo no casamento, Ricardo parecia estar com seus próprios planos, no meio dos ralhe rolas da vida. Ele parece desinteressado nela desde o nascimento do herdeiro, como se ela já tivesse feito a sua parte. Aquilo destruiu, não aproveitou o primeiro marido e o segundo estava mais interessado em outras coisas do que ela, a fazendo sentir e refletir. Talvez Ricardo tivesse um sonho, uma mulher e filhos que queria ter tido, mas tudo teve que ser abandonado por ela e as 5 marmeladas, então às vezes aquele sentimento ruim começou a florescer e, quando via Evangeline, tinha um pouco de inveja, mas vendo como a mais nova está sofrendo, tanto fez sentir remorso dos pensamentos feios que tinha com ela.

Mas se a mais nova e mais ligada à família queria entrar numa aventura, por que ela não podia também?

- Aceito, iremos fugir de nossos maridos! – Rebeca falou decidida.

- Sem filhos e maridos por um bom tempo. – Gabriela rosnou em uma alegria contagiante.

- SIM! – Manuela berrou tão alto que os ouvidos de Evangeline doeram.

- Irá aguentar ficar longe de seus preciosos filhos? – Rebeca voltou a Evangeline, que parecia nervosa.

- Preciso de um tempo para mim, antes de ter que me dedicar só a eles no combo, preciso me sentir viva somente uma única vez antes de encarar o mesmo destino de minha mãe. – Aquilo pegou todos de surpresa e as deixou nervosas.

- Então todas concordamos em irmos embora de casa? – Manuela resmungou pensativa.

- Sim, o evento em Portugal é daqui a dois meses, teremos tempo para planejar. - Gabriela deu pulos alegres.

- Sem maridos ou filhos, vamos juntar nossas economias e vamos fugir. – Rebeca pegou o cutucado de fogo e jogou para cima como espadas, fazendo todas rirem.

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