O quarto de casal parecia abafado e sufocante, sobretudo pelo que Evangeline estava sentindo.
A fazendo abrir as janelas e as cortinas, e sem esperar sua dama de vestimenta, acabou soltando os cabelos e as roupas, partindo para um banho. As lágrimas tinham deixado um caminho molhado que manchara o rosto.
Parecia que tudo estava desmoronando, seu casamento estava indo para o seu fim, seus filhos não sabiam de nada, mas o que quebrava mais seu coração era o fim que seu marido deixou claro para todos, e aquilo a fez soluçar. Nunca chegou num estado tão ruim em sua vida, nem mesmo quando seu pai a largou e a família em qualquer casa de campo para voltar às suas amantes, e agora estava no mesmo momento que sua mãe.
Ela tentou fazer de tudo ao marido para não ficar sozinha de novo, mas Joseph parecia ter achado um novo amor e, bem, atualmente, divórcio não era a melhor coisa do mundo, às vezes, cada um possa os amantes era mais favorável, divórcio era a vergonha social.
No caso dela, em seu coração era só Joseph em todas as suas forças.
Foi no meio disso que saiu das águas quentes, enquanto se enrolava na toalha, ficou pensando no que diria aos filhos sobre tudo. Enquanto crianças, ainda poderia enrolar, mas quando eles crescessem, seria mais difícil até que a verdade viesse à tona, mas até lá seu coração já deveria estar melhor, né?
Com a camisola pronta, começou a pentear o cabelo. A escova tinha as iniciais dos dois, por que tudo em sua casa tinha um sinal do casamento deles?
- Está mais tranquila? – Adentrou o quarto enquanto Evangeline confirmou com um aceno.
- E você, por que não comeu hoje? – Joseph tinha preocupação nos olhos e Evangeline achou aquilo como se fosse uma piada a ela.
- Sem fome. – Na verdade, ela estava chorando em seu quarto, lamentando o amor que ela sentia por ele. A esse pensamento rosnou na cabeça de Evangeline, tudo que pode fazer foi murmurar com raiva e tristeza. Foi no meio dos pensamentos que surgiu algo, será que seu casamento foi uma cota da sociedade? Uma simples fase? Que ele cumpriu e agora não precisa dar mais explicações à sociedade?
- Está sensível hoje? – Seus dias do mês já se foram há muito tempo, enquanto tinha seus dias, ele nunca iria saber. Dá má sorte o marido ver o sangue da esposa, pelo menos é o que a mãe dizia.
- Só estou sem fome mesmo. – Foi mais firme, dizendo com o tom que queria acabar com tudo e ir dormir, e torceu para que esse dia fosse só um grande pesadelo.
Aquilo deu um silêncio no quarto.
- Evangeline? – O silêncio acabou rápido demais, a fazendo olhar para ele, dando sua atenção ao marido.
- Sim?
- A cena no corredor... – Aquilo foi uma verdadeira faca no seu coração.
- Está tudo bem, não quero falar sobre isso. – Amar alguém por tanto tempo era triste, ver como tudo acabou tão rápido e nem tinha mais lágrimas para sair.
Talvez o que a quebrasse mais era a verdade que caiu dura em seu coração, que, diferente das suas amigas, ela amou seu marido desde que o viu. Ela lembra bem quando o achou no meio dos bailes aos seus 17 anos, quando foi acompanhada por sua tia e mãe, e no meio das danças, vendo suas irmãs casando-se e indo embora, acabou encontrando seu marido.
Joseph, com seu uniforme militar no meio dos jardins de inverno, quando pegou os olhos escuros contra ela, foi quando soube que ele não ficaria com ela por dinheiro. Bem que isso nem era possível, seu dote não era tão grande, a caçula de oito irmãs, era impossível ter um dote bom. Não tinha dons de música ou canto, nem mesmo dança, nem se quisesse, então foi mágico.
Só de imaginar tudo aquilo, a fez suspirar.
- Preciso que pare de imaginar as coisas, - O tom duro a despertou de seus devaneios e, quando notou ele muito próximo, já secou suas lágrimas. – Não foi nada que está pensando. – Queria inclinar-se sobre a mão e aproveitar o toque e o carinho, mas tinha medo. Medo de acreditar e pegá-los de novo nos braços um do outro, porque sabia que poderia acontecer e, com isso, os fez ir para trás.
- Eu já disse que está tudo bem! - Ela saiu da penteadeira, indo para a cama.
Não precisava de justificativa, não estava pronta para saber os detalhes, precisava de um tempo sozinha.
Foi assim que se deitou na cama em silêncio.
- Evangeline? – O homem parou irritado para a esposa, que ignorou, arrumando as cobertas, logo indo para a única vela e, com um sopro, apagou a única luz.
O escuro foi bom para a mente perturbada de Evangeline.
Joseph agarrou Evangeline em seus braços para dormir, mas logo ela conseguiu se desgrudar quando o homem acabou adormecendo contra o corpo delicado da menor. O perfume que ainda tinha na pele leitosa do marido a fez quase vomitar.
Aquilo a fez recuar nos braços fortes que a prendiam, colocando o travesseiro em seu lugar. Ele nem mesmo tomou banho depois do encontro dele? Ela merecia essa humilhação?
Conforme a noite passava, Evangeline não dormia. Não conseguia descansar a mente de imagens do marido com a loira, isso a fez pular para fora da cama. Não conseguia dormir ali, só de imaginar ele dividindo aquela cama que fez seus filhos, que deu a vida a eles, agora poderia ter o corpo da amante, fazendo-a pegar sua capa e assim indo dormir no quarto de sua mãe.
...
Sair do quarto foi um pequeno alívio em toda a sua mente.
Mesmo com lágrimas caindo, começou a achar que estava fazendo uma tempestade em um copo d'água. Quando já ia virar seu corpo para voltar ao quarto, foi parada por um puxão, fazendo-a olhar em volta até bater na cabeça de Camélia.
Não era só sua irmã mais velha, mas Magnos também estava em seu encalço, com Dália que bocejava.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Fez um carinho nos mais velhos que estenderam as mãos pedindo colo, imitada pela mais nova.
- Tive um pesadelo. – Murmurou Magnos com olhos tristes que brilharam no escuro, como os do pai.
- E vocês duas. – Evangeline pegou seu garotinho enquanto as duas subiram como gatos, a fazendo quase pular, fazendo os três rirem enquanto andava devagar até o quarto de sua mãe.
- Viemos fazer companhia até o quarto e dormimos com ele para não ficar triste. – Camélia amava dormir com os pais, Dália conseguia dormir bem sozinha, mas Camélia tinha medo de deixar a mais nova sozinha, então agora Dália tinha chegado ao corredor do quarto da mãe. – Então por que vamos dormir no quarto da vovó?
- Porque seu pai teve um dia muito difícil, então precisamos dar um tempo a ele, e já que tiveram pesadelos, acho melhor dormirmos no quarto da vovó. – E quando abriu a porta.
Acendeu uma das velas, levando perto da cama, e agradeceu por sempre pedirem para tomar conta do quarto de sua mãe, já que ela sempre aparecia. Mesmo que nesse momento a mulher não viesse mais devido à briga das duas, aquilo a fez segurar as lágrimas, iria chorar ainda mais pela sua mãe? Pelo seu marido? Choraria mais por mais quem?
Puxando o cobertor, os gêmeos foram para um lado e Dália ficou mais perto de Evangeline porque queria o seio para buscar conforto. A menina usava mais como chupeta do que para mamar e sabia que isso era normal no processo de desmame, então não ligou muito e pela primeira vez na noite conseguiu dormir bem.
Na manhã em que bateu na janela, Evangeline colocou na cabeça que iria à casa de Manuela atrás de conselhos, e antes mesmo de se vestir já mandara as cartas. Precisava de mais clareza entre as amigas e ontem foi mais uma razão para seu casamento estar nas últimas.Na sala principal, deixou os filhos em cada cadeira e, quando já ia sentar, ouviu os filhos rindo e com sorrisos no rosto, viu os cabelos cacheados que roubaram seu fôlego entrando em seu campo de visão.- Bom dia, papai! – Os três berraram para todos na casa e Evangeline acabou rindo, enquanto a cara de Joseph acabou sorrindo também, fazendo um carinho em cada criança, voltando para Evangeline e com um aperto firme no braço, ele deu um roçar de lábios na bochecha.- Bom dia – Seus olhos a pegaram e tudo que fez foi sorrir, voltando ao suco.- Bom dia, dormiu bem? – Pela cara de sono, a pergunta se alto respondia. Joseph não gostava de dormir sozinho desde a guerra e uma pequena parte nela queria que ele não conseguisse dorm
Evangeline seguiu o caminho para a casa de Manuela tranquila e apreciando o pouco de silêncio que não tinha há tempos. A rua em que todas moravam era a mais tranquila em Mogi Mirim, perto do centro, onde sempre tinha coisas a fazer na grande igreja matriz, lojas de tecidos, sapatos e livros. Caminhar tranquilamente sem uma babá ou um carrinho de bebê era maravilhoso e se sentiu culpada por não querer os filhos por perto.Foi assim que bateu na porta da casa ao fundo da rua, a grande casa rosa, a porta branca e a cerca branca sempre foi um charme. Manuela amava a temática de casa de bonecas, pelo menos na época em que enxergava. Nesse exato momento, ela não andava vendo muito e isso fez ela não passar no programa de adoção do Brasil, deixando-a ter uma casa enorme e sem filhos. Sem contar que, depois do casamento, Manuela descobriu que nunca poderia ter filhos e isso sempre foi uma grande tristeza para a mulher.Foram três batidas e, antes da quarta, apareceu o rosto da amiga com suas
Miguel achava feio espionar Manuela, já que a mesma era super desconfiada, mas com a cegueira aumentando conforme o tempo passava e a mulher não querendo aceitar um cuidador quando ele não estava em casa, as coisas tinham que ser mudadas. Miguel acabou descobrindo que, conforme os anos de vivência, era divertido ver Manuela fazer atividades normais, ele sempre ajudava sem ela saber, mas o importante era ver seus olhos e sorrisos alegres porque conseguiu sozinha.A coisa mais divertida era quando iam à igreja e ela confundia o padre com um pedestal, aquilo o fazia rir. Claro que isso os fazia ir embora mais cedo, mas Miguel amava passar um tempo só com a esposa, seu jeito era divertido e, mesmo sem o barulho de crianças, Miguel sentia-se bem com o casamento. Chegou recentemente a ver a mulher como além de sua companheira, mas também o amor da sua vida.E saber que a mulher de sua vida concordou em ir embora em dois meses com o bando de suas amigas o deixou apavorado.Manuela podia ser
Joseph chegou no clube de cavaleiros estressado. Evangeline tinha sumido para a casa de Manuela, tinha dormido super mal e ainda por cima tinha uma maluca na sua casa que foi demitida com sucesso. Aquela loira veio com palavras e depois foi achando que podia se agarrar a ele.Joseph não gostou quando ela chegou, sempre ficava olhando e chamando seu nome num ronronado que somente Evangeline tinha esse direito, e agora a mulher tinha encurralado num quarto com um cheiro estranho que tinha e quando deu por si estava nos braços da mulher, sentiu-se até mesmo sujo e quando teve forças de novo empurrou a mulher longe.E quando saiu do quarto, deu de cara com ela e os olhos marejados. Foi naquele momento que soube que tinha dado merda de vez.Tentou conversar com ela depois, mas Evangeline tinha passado a noite longe dele e isso a fez acordar com o frio, e quando chegou no café soube que a sua mulher tinha ido dormir no quarto da sogra, isso o fez gelar.Normalmente, logo surgiria a velha mal
Ricardo saiu daquele clube com a cabeça quente depois de acudir um irmão e tudo que ele queria era beber, ver as apostas horríveis de Gabriel, Miguel entrando numa briga e Joseph arrumando o clube, falando sobre como Magnos ia gostar daquilo quando grande, mas não saber que as esposas iam fugir deixou os homens loucos.Isso fez olhar para sua casa azul cintilante.Rebeca nunca ia deixá-lo com crianças, ela não perderia sua vida confortável e muito menos o amor dele. Os dois tinham uma história de superação. Depois de seu irmão Robert, amá-la foi mais fácil do que seu irmão tinha falando.Rebeca sempre foi sistemática e, mesmo com os filhos atrás dela com
Gabriel achou tudo aquilo uma grande piada. As mulheres sempre reclamavam, mas nunca iam longe, e Gabriela era um bom exemplo disso.Uma mulher sem alma, completamente apática; perfeita para ser uma esposa. Dessa forma, ele poderia continuar suas atividades promíscuas e ter várias amantes, porque Gabriela aceitava seus filhos ilegítimos.Gabriel achava cômico como aquela mulher ainda conseguia manter sua aparência. Podiam o chamar de cruel, mas seu pai tinha o ensinado assim, e tentou ensinar seus filhos a mesma coisa. Porém, Jonatas e Tomas eram fracos; diziam não valer a pena fazer a mãe chorar a noite.Sua solução foi os mandar para internados, chamando-os de "Maricas". Não precisava do
Deu merda para todo mundo, Miguel sabia disso.Esse evento o fez pensar nos dias que passou ao lado de Manuela. A relação dos dois tinha altos e baixos, e, nesses últimos meses, mais baixos do que tudo, mas Miguel sentia-se confiante perto dela. E mesmo que ela fosse neurótica e ansiosa, os dois se completavam, e até mesmo caçoavam um do outro.Aquilo o fez rir. Entrando pelas portas, foi ao local onde Manuela ficava. Os arcos dividiam os cômodos bem amplos, e começou a pensar em modificar mais a casa. Já tinham um elevador, mas a mulher era muito teimosa para usar, e mesmo agora, pegou-a andando de bengala.Antes de abrir a boca, a figura se enroscou nos próprios pés e soltou um grito agudo, mas ele foi mais rápido, a envolvendo em seus braços ao puxar seu corpo
- No fim, tá todo mundo ferrado? – Joseph perguntou, servindo uma dose de uísque. Ele não costumava beber, o que demonstrava como seu nível havia caído tanto.- Sim, todo mundo está ferrado. – Ricardo também serviu-se de um copo.- Ela quer se separar, acredita? – Gabriel falou com desinteresse, mas Ricardo, Miguel e Joseph trocaram olhares entre eles.- Bem, até que demorou! Finalmente ela se tocou que você é um pedaço de merda. – Miguel interrompeu o silêncio.- O QUÊ? – Gabriel bateu na mesa, chamando a atenção de outros cavalheiros ao redor, o que fez Joseph erguer as mãos em