Aquilo causou incômodo.
Foi tudo muito rápido, Vini ficou boquiaberto, passou as mãos pelo cabelo, suspirou e saiu da sala.
A Doutora olhou aflita para a porta fechada e para Catarina que abaixou as vistas, sem saber o que fazer.
— Quantos anos você tem?— perguntou quebrando o silêncio assombrador que permaneceu ali após o baque da notícia.
— 15 — respondeu, causando espanto.
— Menina! — exclamou boquiaberta. — Sua gravidez será de enorme risco.
Ela continuou de cabeça baixa, sabia perfeitamente que não tinha corpo o suficiente para isso, ela era uma criança, como sua mãe dizia. Ah, sua mãe. Como estava certa o tempo todo, aquela foi definitivamente a pior coisa a se fazer, agora ela sabia, mas não sabia o que faria.
Ao se retirar da sala, as duas, encontraram Vini sentado, fitando o chão, com as mãos na cabeça.
Doutora Marli confortou a
Ele jogou-se no sofá, deixando a porta entreaberta. O vento frio percorreu a sala.Ele não respondeu, estava muito embriagado para responder algo concreto.Deitado ao seu lado no sofá, ela o observou, a respiração estava ofegante, seu rosto num tom um pouco avermelhado, sua boca seca, seus cabelos desordenados e uma pequena marca de chupão no pescoço.Olhou tudo num segundo e uma pequena lágrima rolou pelas maçãs do rosto e pousou no canto de seus lábios. Aquela incerteza cochichava baixinho ao pé de seus ouvidos.Surgiu a lembrança, ainda da praça, Tadeu falando sobre seu indevido trabalho no bar que, muitas vezes dava para ser satisfatório. Ela sacou os códigos, dando a entender que mulheres iam lá e que, por coincidência, ou ironia do destino, Vini conheceu algumas das antigas namoradas lá. Ela sabia que algo aconteceu. Ela sabia que ele estava lá. Ela sabia.Desligou a televisão e foi para o qua
E a lágrima saiu, sem que ela percebesse, e então ela viu a oportunidade de pensar.Eu saí, pensou. Saí de casa, não deveria. Se eu não tivesse o conhecido. Isso não teria acontecido.Mas, o destino às vezes é bastante irônico, se as coisas não vêm para ficar, elas não vêm necessariamente para decepcionar, mas sim para ensinar.Foram várias casas que aquele ônibus passou, o destino dele era a garagem, ela sabia perfeitamente onde ficava e, por sorte, sua casa era perto.Ao aproximar-se da garagem, Cat desembarcou no ponto e seguiu calada.Passou pela praça minutos depois, praça essa que dias atrás foi o ponto de uma fuga.As lembranças vieram de um jeito urgente, fazendo-a chorar mais um pouco, enxugando rapidamente com as costas da mão.Ela estava com a cabeça baixa, os raios de sol insistiam em iluminar o corpo de Cat, fazendo seus olhos arderem, tanto
O céu límpido ostentava raios solares. Aquelas férias de verão, com aquele belo sol, estavam ótimas. Mas, do jeito que estava, tinha certas limitações de lugares para ir. Não, ela não estava doente, mas com seus enjoos e tonturas, ficava um pouco difícil sair...Ela acordou determinada a ir à praia. Abriu a cortina do quarto e deixou-se ser aquecida pelo sol, com certa preguiça de ir se cuidar.Foi fazer sua higiene matinal, para tomar café em seguida. Fazia pouco menos de uma semana que ela havia voltado, mas seus pais continuavam naquela alegria. Era como se ela tivesse feito uma viagem de um ano e voltasse prestes a sair novamente.Quando se dirigiu à sala, Rita estava sentada no sofá, lendo o jornal. Quando a viu logo se levantou e deu um beijo na bochecha dela, acariciando o rosto dela, como se há muito tempo não a visse. O pai também chegou, dando um carinhoso beijo na testa dela.Mostrando preocupação,
D. Rita não conseguiria ver aquela cena, era demais para ela.Catarina gritava de dor, enquanto os médicos faziam de tudo por ela.Rita saiu da sala e ficou no corredor, andando de um lado para o outro, pensando no porquê de tudo aquilo, pensando nas possíveis chances de dar tudo certo. As doutoras pela qual elas passaram, afirmaram a todo o momento que: a gravidez era de risco. Mas, apesar de saber perfeitamente disso, elas não deixaram de pensar nas chances de dar certo. Mantiveram os pensamentos positivos pode-se dizer que até aquele momento.― Dona Rita? ― perguntou uma das médicas ao sair da sala, despertando Rita dos seus breves e leves devaneios. Ela assentiu com a cabeça, demonstrando preocupação no olhar. A médica parecia procurar as palavras certas para dizer aquilo. ― Bom... ― iniciou, respirando fundo ― está havendo complicações no parto... ― ela abaixou o olhar. ― Apenas um poderá viver.― Por fav
― Por que isso aconteceu? ― perguntou Cat a uma das enfermeiras. ― Isso não deveria ter acontecido, não é? ― sua voz embargada demonstrava a amargura que sentia.― Problemas com a placenta, alegamos; e também, ele estava muito frágil para sobreviver à pressão de um parto — falou, a mais ignorante, podemos dizer.― O que acontecerá?— Ela deverá ficar aqui por um tempo, para fazermos necropsia e análise da placenta e termos a chance de obter alguma explicação — falou a mais gentil.— Infelizmente — pronunciou o médico —, em mais de 50% dos casos, a causa é desconhecida.Era muita informação para absorver, Cat deixou esse trabalho para a mãe, não sabia se ouviria direito, já que seu coração batia forte em seus ouvidos.— Eu... — falou ela meio alto, afastando um pouco os soluços — posso... vê-lo?E todos se entreolharam por um longo tempo, fazendo o clima ficar ainda
A manhã foi passando arrastada, a tarde chegou com um vento frio.Catarina estava na sala da maternidade, com a mesma expressão de sempre. Perdera Vinicius, não imaginava perder seu primeiro filho, mesmo que não pudesse tê-lo, ela não tinha corpo o suficiente para carrega-lo em seu ventre.O pobre coitado nasceria prematuro, teria alguma chance, mas não chegou a sentir o sopro de vida. Morreu antes disso, e era isso que a incomodava.Por mais que tentasse e precisasse dormir, ela não conseguiu, era muito doloroso, era como se assim que ela fechasse os olhos, ela visse a imagem do filho novamente. Aquilo a perseguiria, mesmo com as palavras da moça com quem falara martelando na sua cabeça.Portanto, suas olheiras estavam bem escuras. Dormir a força não era necessariamente dormir, então, todos aqueles sedativos e etc. Não ajudavam nada de nada em seu sono.― Boa tarde, moça ― a voz calma da enfe
Estava em uma estrada cheia de matos e árvores. Catarina estava indo de encontro a ele. De repente, começou a cair uma chuva forte e ela começou a correr em busca de um abrigo.Daí escorregou. Caiu de encontro ao chão.Vinicius estava sentado numa pedra. Cat levantou devagar da terra molhada.Ele a chamava. Agora de pé. Ela foi de encontro a ele.Seu rosto estava molhado, seus cabelos molhados grudavam na sua pele. A expressão era de preocupado e um pouco nervoso.Ele segurou cuidadosamente o rosto dela.― Eu preciso de você ― falou ele.Cat não sabia o que fazer ou dizer. Apenas o olhou. Fitando aqueles olhos.Como eu disse, ele estava nervoso. Então a sacudiu.― Eu preciso de você ― exclamou mais alto.As palavras simplesmente sumiram da boca dela. Por mais que quisesse falar, não conseguia.
Causou efeito. E ele não foi pequeno.Incrível é como simples palavras trouxeram tão grande impacto.E lá estavam elas, vestidas, prontas para ir à casa do Senhor.Rita não passou maquiagem, pois sabia que iria se debruçar em lágrimas. Vestia um vestido longo verde.Cat colocou um vestido médio da cor azul.Seja o que Deus quiser, pensou Rita.E seguiram, tentando ao máximo disfarçar o nervosismo.A cada vez mais perto, um vento diferente soprava por ali e um grande nó se formou na garganta das duas. Borboletas rodopiavam no estomago delas.E aí, chegaram. O chão de pedras continuava da mesma forma, as paredes foram repintadas, dando um brilho novo em folha, as cadeiras são novas e todos os outros móveis também, acima do púlpito tem um pano branco escrito: Ser Livre, com uma cruz no meio.Somente neste aspecto elas puder