— Bia, o Gabi... Ele percebeu que errou. Esses dias, ele tá te procurando por toda parte. — A voz do Sr. Henrique saiu com um tom de súplica. — Aquela mulher, eu vou resolver. Mas me escuta... Perdoa o Gabi, só mais uma vez. Dá para ele outra chance. Ele te ama, Bia. Só não tinha percebido antes. Hoje mesmo ele me disse que não quer se divorciar... Chegou até a chorar. Eu prometo, dessa vez ele vai ser um marido de verdade.Do outro lado da linha, Beatriz escutou cada palavra em silêncio, o rosto impassível. Nenhuma emoção. Nenhuma brecha.Ela já devia saber que o Sr. Henrique não teria dificuldade em intervir num processo de divórcio.Não devia nem ter atendido a ligação.Interceder por Gabriel?A Terra podia explodir, a humanidade ser extinta, o sol nascer do oeste...Tudo isso parecia mais plausível do que Gabriel merecer confiança de novo.— Sr. Henrique, o senhor quer que eu dê uma segunda chance a ele... Mas e quanto a mim? O senhor poderia me dar uma chance de sobreviver?A voz
— Então... Quer dizer que tudo era verdade??! — Do outro lado da linha, mesmo tendo ouvido a confirmação, o Sr. Henrique ainda não conseguia acreditar.— Não só é verdade, tem mais coisa ainda. — Respondeu Rafael, com firmeza. — Vou fazer o seguinte, vou te mandar tudo por mensagem.Assim que encerrou a chamada, Rafael começou a digitar. Escreveu tudo o que sabia sobre os sofrimentos de Beatriz, incluindo o episódio em que o Sr. Gabriel levou a amante para dentro de casa.De qualquer forma, agora que os dois já estavam oficialmente divorciados, ele tinha certeza de que o Sr. Henrique continuava do lado de Beatriz e que talvez, só talvez, ele pudesse fazer algo para que ela tivesse um pouco de justiça.Dentro do carro, o silêncio era quase sufocante. No banco de trás, Gabriel permanecia imóvel, encarando o nada com o olhar perdido.Ele ainda não conseguia aceitar que realmente havia se divorciado de Beatriz. E, ao mesmo tempo, sua mente remoía uma verdade revelada dois anos atrás.Foi o
No banco do passageiro, Rafael ouvia os gritos desesperados misturados ao choro de Gabriel e não conseguiu evitar uma expressão de desaprovação. Franziu a testa e suspirou em silêncio.“Se soubesse que ia chegar a esse ponto, por que fez o que fez lá atrás...Dias atrás, ele já tinha alertado Gabriel: “Enfrente o que sente, antes que seja tarde.”Mas naquela época, ele respondeu com arrogância, convicto de que nunca se arrependeria.Na família Pereira, não adiantava o quanto o neto implorasse, chorasse ou gritasse.Dessa vez, o Sr. Henrique estava irredutível.Qualquer resquício de boa vontade que ainda pudesse ter sentido... Evaporou por completo. Sem um pingo de hesitação, desligou a ligação na cara do neto e ainda disparou uma última frase, seca como uma lâmina:— Você não é digno da Bia.No banco de trás do carro, Gabriel tentou ligar de novo. Uma, duas, três vezes. Mas o avô não atendia mais.Foi nesse instante que ele quebrou por dentro. Seu coração, já em frangalhos, se despedaç
Daniel virou o rosto discretamente e a observou de perfil.Beatriz estava maquiada de forma leve. Os lábios tingidos de um vermelho suave nada chamativo, deixavam seu visual ainda mais limpo, fresco e elegante.Havia algo nela que transmitia uma beleza serena, quase etérea.— Nada de “estranha”, pelo contrário... Você está lindíssima. — Disse Daniel, sem economizar nos elogios. — Na época da faculdade, você já era a garota mais bonita do curso. E ainda por cima, inteligente. Tinha tanto pretendente que dava pra dar a volta na Cidade A umas três vezes. — Comentou ele, sorrindo.— Ah, Daniel... Para com isso. — Respondeu Beatriz, um pouco sem graça.Ela ficou visivelmente envergonhada, o que só arrancou um sorriso divertido de Daniel.Aquela timidez natural... O jeito dela não havia mudado nada. Era como voltar no tempo, aos dias da universidade.Ele chegou a pensar em perguntar se ela estava namorando...Mas ponderou por um instante, eles tinham acabado de se reencontrar, e jogar essa p
Na mesma hora, todos na sala entenderam o recado por trás da fala de Daniel.Um dos entrevistadores se adiantou com um sorriso diplomático:— A Srta. Beatriz tem uma base técnica muito sólida, além de já ter liderado equipes em várias competições universitárias. Acredito que seria uma excelente candidata ao cargo de diretora de design.Beatriz ouviu com atenção e apertou levemente os lábios. Depois, virou o rosto na direção de Daniel e disse com firmeza:— Desculpa, mas acho que meu nível ainda não é suficiente para isso. Ficaria muito grata se pudesse começar como designer da equipe. Um cargo normal já está ótimo.A sala ficou em silêncio por um segundo. Os entrevistadores se entreolharam, claramente surpresos com a recusa.— Agradeço muito o voto de confiança de vocês. — Continuou Beatriz, com um sorriso calmo. — Mas as competições na universidade eram em grupo. O responsável principal era o próprio Sr. Daniel. Eu só atuava como apoio, então não posso me apropriar de méritos que não
A verdade é que… Gabriel estava completamente perdido.Do lado do Sr. Henrique, ainda existia a possibilidade de contato com a Sra. Beatriz mas, para Gabriel, esse acesso estava totalmente bloqueado.Naquela mesma manhã, um dos gerentes foi até a sala da presidência com uma proposta de planejamento de produto.Mas bastaram poucas palavras para perceber: Gabriel não estava nem um pouco presente.Os olhos vermelhos, a expressão vazia, o silêncio... Deixavam claro que ele não tinha condições de lidar com nada naquele momento.O gerente suspirou e preferiu se retirar discretamente.— Rafael, você sabe o que está acontecendo com o Sr. Gabriel? — Perguntou, ao passar pelo escritório dos assistentes.— Ah... tá com o coração partido. — Rafael respondeu sem pensar, levantando os olhos do computador.Mas assim que as palavras saíram da boca, ele franziu a testa.“Espera... Coração partido? Eles eram casados, não namorados.”Então corrigiu mentalmente:“Na real... É dor de divórcio mesmo. Pior a
No dia em que Beatriz Silva decidiu pedir o divórcio, duas coisas aconteceram.A primeira: a mulher que sempre foi o amor idealizado de Gabriel Pereira, o famoso amor da vida dele, havia retornado ao Brasil.Para recebê-la, ele não mediu esforços, gastou milhões mandando fabricar um iate exclusivo, personalizado nos mínimos detalhes, onde passaram dois dias e duas noites entregues à pura indulgência.Os jornais e sites de fofoca não falavam de outra coisa. Para todos, a reconciliação entre Gabriel e sua antiga paixão parecia só uma questão de tempo.A segunda coisa: Beatriz aceitou o convite do seu antigo colega de faculdade para voltar à empresa que haviam criado juntos, desta vez como diretora.Em um mês, ela iria embora.Claro... Ninguém se importava com o que ela fazia ou deixava de fazer.Na cabeça de Gabriel, ela não passava de uma empregada de luxo que havia entrado na família Pereira por conveniência.Ela não comentou nada com ninguém.Silenciosamente, foi apagando todos os ves
Gabriel saiu apressado, carregando Vitória nos braços.Ao passar pela porta, esbarrou no ombro de Beatriz.O impacto a desequilibrou. Ela cambaleou, precisando se apoiar no batente da porta.A dor intensa que subia do dorso do pé pela perna fez com que ela apertasse o batente com força, lutando para se manter de pé.Dentro do salão, todos os olhares recaíram sobre ela.Olhares carregados de desprezo, sarcasmo, deboche.Mas Beatriz… Já não se importava mais.Com esforço, virou-se devagar, apoiando-se na parede fria, e seguiu seu caminho, passo a passo, sentindo a dor latejante a cada movimento.Quando chegou ao pronto-socorro, uma enfermeira veio rapidamente ao seu encontro, visivelmente preocupada.Assim que viu o estado do pé de Beatriz, prendeu a respiração, assustada:— Meu Deus! Como você se queimou desse jeito?! — Exclamou, chocada.As bolhas eram enormes, inflamadas.A maior parecia quase do tamanho de um pão francês, e outras menores se espalhavam feito pequenas pérolas brilhant