Beatriz estava simplesmente sem palavras. Ter se casado e vivido por dois anos com uma pessoa como aquela? Só de pensar, já sentia vergonha alheia.— Bia, tá tudo bem aí? — Letícia voltou com as cervejas e encontrou a amiga revirando os olhos, com aquela expressão clássica de “não aguento mais esse circo.”— Tudo certo. Só me irritei com um vendedor idiota. — Respondeu Beatriz, com um sorriso sereno.Mas era mentira.Ela sabia que tinha sido burrice da própria parte ter lido todas aquelas mensagens de Gabriel. Se já o tinha bloqueado, não devia nem ter dado esse gostinho de atenção.— Eu disse que devia ter deixado eu dar uma resposta bem dada pra esse otário. — Disse Letícia, sentando-se novamente. — Mas você, sempre boazinha, teve pena.— Eu bloqueei, sim. Só que mesmo bloqueado... Eu ainda fiquei com raiva depois de ver o que ele mandou.As duas brindaram e continuaram a comer. Beatriz jogou o celular de lado no sofá, sem nem olhar mais para ele.Seu desprezo silencioso contrastava
Vitória olhou para as marcas vermelhas em seu braço e, fingindo não saber de nada, perguntou com inocência:— O que foi que aconteceu, afinal?Gabriel estava sentado no sofá, de cabeça baixa, envolto por uma aura pesada de desânimo. Murmurou, quase num sussurro:— A Beatriz... Foi embora.— A Bia tá no hospital, não tá? Você ainda tá de ressaca daquele almoço, é isso? — Comentou Vitória, tentando soar leve.— Não... Ela já saiu de lá. A enfermeira disse que teve alta ontem de manhã... — Respondeu Gabriel, com o olhar perdido.— Sério? Nem eu nem você ficamos sabendo disso... — Disse ela, surpresa.— O quarto dela estava todo arrumado, limpo... Só deixou o celular que eu comprei para ela e... — A voz dele foi sumindo no ar.— E o quê mais? — Insistiu Vitória, fingindo curiosidade.Gabriel cerrou os dentes e fechou os punhos com força, dizendo entre os dentes:— Um monte de papel inútil, cópias... Achou que ia me intimidar com isso? Que idiota!Ao ouvir aquilo, Vitória franziu o cenho. C
No corredor, Vitória cravou as unhas na palma da mão enquanto voltava para o próprio quarto, tomada pela raiva. Assim que entrou, começou a ligar freneticamente para Beatriz.Ligou uma, duas, dez vezes... Mas todas as tentativas terminavam na mesma mensagem automática e fria. Mandou mensagens também, nenhuma resposta. Vitória já estava à beira de um ataque.No quarto principal, Gabriel tomou um banho gelado, o rosto sério e fechado. Assim que saiu, ligou para Rafael, querendo saber se havia alguma novidade. Recebeu a mesma resposta de antes. Frustrado, jogou o celular longe.Deitou-se na cama, os olhos escancarados no escuro. Dormir? Impossível. Beatriz tinha ido embora no dia anterior, e aquela já era a segunda noite sem ela.E bastava pensar na possibilidade de ela estar com aquele desgraçado... Dormindo juntos. Se beijando. Ou até...Seu sangue fervia. A cabeça parecia que ia explodir. O ódio consumia o resto da razão que ainda lhe restava.No quarto ao lado, Vitória também não cons
Gabriel despertou de seus pensamentos, virou o tablet com a tela para baixo e pegou a pasta de documentos antes de sair para a reunião.Enquanto caminhava pelos corredores da empresa, sua mente continuava projetando vídeos e fotos da Beatriz. Era automático, como se o cérebro se recusasse a deixar a imagem dela desaparecer.Beatriz... Ela era realmente incrível.“Como eu não percebi isso antes?”Mas logo ele mesmo respondeu mentalmente, Beatriz sempre teve boas notas no ensino médio, era natural que brilhasse ainda mais na faculdade, cheia de talento, segura de si, impossível não notar.Embora tivessem estudado na mesma universidade, os cursos eram diferentes. Além disso, naquela época, ele estava sempre com a Vitória.Pensando bem... Gabriel sentiu que havia perdido Beatriz por quatro anos inteiros. Ela esteve tão perto e, mesmo assim, ele nunca a enxergou de verdade.E então surgiu um pensamento absurdo... Quase infantil.“E se... Naquela época, eu não estivesse com a Vitória? Será q
— O senhor quer dizer que não chegou até o fim, certo? Mas... O resto, o senhor fez todinho. — Resumiu Rafael, com franqueza.Gabriel quis rebater, mas travou. Nenhuma palavra saiu.— Levou a mulher pra dentro de casa, deu espaço, intimidade... — Rafael começou a enumerar, com frieza. — Acompanhou ela para cima e para baixo, deu presente caríssimo... Teve escândalo na internet, apareceu nos trending topics... Aconteceu um acidente, e o senhor correu pra salvar a outra primeiro. Teve mal-entendido, e o senhor nem se deu ao trabalho de esclarecer. Ignorou a Sra. Beatriz. Ela internada, e o senhor? Nenhuma visita, nenhum cuidado...À medida que falava, Rafael suspirou. Parecia até cansado.Gabriel ficou completamente em silêncio. Os punhos cerrados, os dentes travados. Mas não conseguiu dizer nada.— O senhor passou dos limites, Sr. Gabriel. Qualquer outra mulher já teria pedido o divórcio faz tempo.Essa última frase foi como uma bomba.“Divórcio.”Assim que a palavra foi dita, algo pare
Durante o dia, Gabriel ainda tentou enviar uma nova solicitação de mensagem para Beatriz. Mas o sistema retornava imediatamente:[Mensagem não entregue.]Ele tinha sido bloqueado.— Beatriz... É melhor que você nunca mais apareça na minha frente! — Rosnou entre os dentes, sozinho no carro, como se sua raiva pudesse atravessar a distância.Ao chegar em casa, Vitória já tinha preparado o jantar e o recebeu com um sorriso largo, tentando agradá-lo com entusiasmo.Mas o que Gabriel viu fez o sangue ferver.Ela estava vestindo uma roupa de Beatriz. E usava o avental que antes também fora dela.Num impulso, Gabriel avançou. Com um gesto bruto, rasgou a roupa do corpo de Vitória com violência.No início, Vitória pensou que ele finalmente tivesse acordado. Que, mesmo com certa brutalidade, talvez o desejo tivesse, enfim, se manifestado. Ela não se importava com a forma, desde que o resultado fosse o que queria.Mas logo percebeu... Que estava completamente errada.Quando seus corpos se encosta
Por causa do que acontecera na noite anterior, Gabriel passou a manhã inteira de cara fechada. Rafael continuava sua busca pela cidade, pelo estado e até pelo país inteiro, mas sem o menor progresso.Já era o terceiro dia.— Quando é que você vai conseguir encontrá-la, hein? Dá pra ser mais eficiente? — Perto da hora de ir embora, Gabriel finalmente perdeu a paciência e explodiu com Rafael.Rafael também estava frustrado. Dentro do que estava ao seu alcance, não havia como encontrar a Sra. Beatriz. Então respondeu, com um tom contido:— Sr. Gabriel, talvez o senhor devesse recorrer a contatos pessoais... Tentar conseguir o novo número da Sra. Beatriz. Eu não tenho acesso, por se tratar de um dado protegido por leis de privacidade.Ao ouvir isso, Gabriel teve um estalo. Imediatamente começou a entrar em contato com pessoas que trabalhavam nas operadoras de telefonia, tentando acessar os bancos de dados.Mas operadoras não pertencem a empresas privadas facilmente influenciáveis. Mesmo us
O documento original do divórcio... Com a assinatura dele?!Impossível!!!— Eu nunca assinei isso! Nunca nem vi esse maldito papel! — Gritou Gabriel, transtornado.Do outro lado da linha, o mordomo, que até então estava meio sonolento, despertou de vez com os berros do Gritou. Depois de um suspiro, respondeu com calma:— Mas o documento é verdadeiro, senhor. E a assinatura... bom, parece ser a sua. Além disso, o senhor não ligou pra casa esses dias, então o Sr. Henrique achou que o senhor tivesse concordado com tudo.— Não! Eu não concordei com nada! Como é que vou aceitar um documento que eu nunca assinei?! — Vociferou Gabriel, as veias saltando na mão que apertava o celular com força.O mordomo fez uma pausa e então perguntou, hesitante:— Será que a Sra. Beatriz... Falsificou a sua assinatura?— Hah! Se tem alguém capaz de cometer um crime desses, é ela mesma! Aquela cabeça oca não pensa nas consequências de nada! — Respondeu Gabriel, com ódio fervendo na voz. — Se a assinatura é fa