Por causa do que acontecera na noite anterior, Gabriel passou a manhã inteira de cara fechada. Rafael continuava sua busca pela cidade, pelo estado e até pelo país inteiro, mas sem o menor progresso.Já era o terceiro dia.— Quando é que você vai conseguir encontrá-la, hein? Dá pra ser mais eficiente? — Perto da hora de ir embora, Gabriel finalmente perdeu a paciência e explodiu com Rafael.Rafael também estava frustrado. Dentro do que estava ao seu alcance, não havia como encontrar a Sra. Beatriz. Então respondeu, com um tom contido:— Sr. Gabriel, talvez o senhor devesse recorrer a contatos pessoais... Tentar conseguir o novo número da Sra. Beatriz. Eu não tenho acesso, por se tratar de um dado protegido por leis de privacidade.Ao ouvir isso, Gabriel teve um estalo. Imediatamente começou a entrar em contato com pessoas que trabalhavam nas operadoras de telefonia, tentando acessar os bancos de dados.Mas operadoras não pertencem a empresas privadas facilmente influenciáveis. Mesmo us
O documento original do divórcio... Com a assinatura dele?!Impossível!!!— Eu nunca assinei isso! Nunca nem vi esse maldito papel! — Gritou Gabriel, transtornado.Do outro lado da linha, o mordomo, que até então estava meio sonolento, despertou de vez com os berros do Gritou. Depois de um suspiro, respondeu com calma:— Mas o documento é verdadeiro, senhor. E a assinatura... bom, parece ser a sua. Além disso, o senhor não ligou pra casa esses dias, então o Sr. Henrique achou que o senhor tivesse concordado com tudo.— Não! Eu não concordei com nada! Como é que vou aceitar um documento que eu nunca assinei?! — Vociferou Gabriel, as veias saltando na mão que apertava o celular com força.O mordomo fez uma pausa e então perguntou, hesitante:— Será que a Sra. Beatriz... Falsificou a sua assinatura?— Hah! Se tem alguém capaz de cometer um crime desses, é ela mesma! Aquela cabeça oca não pensa nas consequências de nada! — Respondeu Gabriel, com ódio fervendo na voz. — Se a assinatura é fa
Beatriz não queria o divórcio? Pois Gabriel ia dar para ela e ia ver se ela tinha coragem de vir buscar pessoalmente.Teve a ousadia de enganar até o avô dele. Ingrata! Esqueceu que foi justamente por causa do Sr. Henrique que Gabriel aceitou se casar com ela?Na casa dos Pereira, Vitória ainda estava acordada. Tinha preparado o jantar, como sempre, esperando Gabriel voltar do trabalho.Assim que ele entrou pela porta, ela deu um passo à frente, pronta pra recebê-lo com um sorriso. Mas a expressão dele a fez congelar no lugar.Ele franziu o cenho, o rosto duro, e falou com frieza:— Eu não te disse ontem para não preparar nada disso? Já arrumou suas coisas? Assim que estiver pronto, vou pedir pro Rafael te levar pro novo apartamento.Vitória parou no meio do caminho. As lágrimas começaram a se acumular nos olhos.— Gabi... Você tá mesmo me mandando embora? Ontem me apressou, hoje de novo...Gabriel apertou os lábios por dois segundos, então respondeu, firme:— Não é certo você morar aq
A mão de Gabriel parou no meio do movimento de abrir a porta. Ele virou levemente a cabeça e respondeu com frieza:— Eu não estou apaixonado por ela.— Hah... Vai enganar quem com isso? — Vitória apertou os punhos, a raiva crescendo. — Você claramente se apaixonou por ela! Por isso deixou de gostar de mim, por isso tá me expulsando!Gabriel franziu o cenho, o rosto impassível:— O fato de eu não gostar mais de você não tem nada a ver com gostar ou não da Beatriz. Eu já disse antes, nós dois terminamos há dois anos. Você me traiu por dinheiro, me abandonou. Depois disso, não existe mais nós.Vitória balançava a cabeça, inconformada. Para ela, estava claro, Gabriel a tinha deixado por Beatriz.— Quando voltei pro Brasil, você mesmo disse que não se importava mais! Disse que entendia o que aconteceu! — Ela chorava, a voz embargada. — Naquela época... Como eu podia lutar contra seu avô? Ele me ameaçou! Queria que eu fizesse o quê? Que eu fosse expulsa da Cidade A?Gabriel cerrou os lábios,
Reassistir aos vídeos da faculdade de Beatriz... Era impossível não ser atraído por aquela garota brilhante, cheia de luz. Gabriel se pegava pensando: “Se Vitória nunca tivesse existido, será que ele e Beatriz teriam se apaixonado de forma natural?”Lembrou também que, na madrugada da noite passada, acabou adormecendo no quarto de Beatriz. O cheiro que ainda permanecia no colchão, nas cobertas, o fez mergulhar em lembranças... E pensamentos que, embora evitasse, eram todos sobre ela.Depois do banho, Gabriel saiu do banheiro. O ar frio da casa bateu em seu corpo e, com ele, veio a lucidez. De repente, tudo parecia mais claro.Chegara a uma conclusão.Mesmo que não soubesse se estava apaixonado por Beatriz ou não, ele tinha certeza de uma coisa:Não queria que ela saísse da sua vida. Muito menos do seu controle.Avistou os papéis de divórcio amassados sobre a beira da cama. Caminhou até eles, decidido a rasgá-los.Mas, antes que o fizesse, notou algo estranho: no meio do texto havia mar
— Te dar para quê? Para incomodar a Bia de novo? — Respondeu o Sr. Henrique com impaciência, sem esconder a irritação.Gabriel apertou os lábios, hesitante, e disse em voz baixa:— Eu não estou incomodando ela... Eu apenas... Apenas queria saber onde ela tá, pra ir buscá-la de volta. — Completou, quase num sussurro.— Buscar ela de volta por quê? Você não estava querendo se divorciar dela? Já assinou os papéis, já é ex-marido. Vai perturbar ela por que agora? — O tom do Sr. Henrique era direto, firme, sem rodeios.— Eu nunca quis me divorciar dela! Aquelas assinaturas não são minhas! Eu nem cheguei a ver aqueles documentos! — Gabriel respondeu às pressas, tentando se explicar.— Então você tá dizendo que a Bia me enganou com documentos falsos? Foi isso que contou também pro mordomo, né? — Rebateu o avô, frio como gelo, sem se abalar.— É isso mesmo. A Beatriz me deixou uma cópia e mandou o original pro você, mas tudo com minha assinatura falsificada. Aqueles papéis não têm valor legal
Perto da porta, Vitória finalmente acordou. Viu que Gabriel já estava de pé e, apoiando-se na parede, tentou se levantar. Sua voz saiu rouca, quase um sussurro:— Gabi... Vamos recomeçar? Esquece esses dois anos... Tanto você quanto eu erramos.Gabriel saiu do quarto e foi imediatamente segurado por Vitória. Com expressão fria, ele puxou o braço com força, livrando-se dela:— Eu deixei tudo bem claro ontem à noite. Não adianta usar esse joguinho de coitada. Hoje mesmo você vai sair da minha casa.— Gabi, por favor... Gabi... — Vitória tentou acompanhá-lo, mas depois de passar a noite inteira encostada na porta, seus membros estavam dormentes. Cambaleou... E caiu no chão.Ela esperava que ele, como fazia antes, voltasse correndo para ajudá-la, perguntando se estava tudo bem, com aquele olhar preocupado. Mas, dessa vez, Gabriel nem olhou para trás. Foi direto até o hall, trocando os sapatos com indiferença.Quando terminou de calçá-los, virou-se. Vitória ainda estava no chão, olhando pra
— Naquela época, você ainda estava no nono ano, prestes a entrar no ensino médio. Eu jurei que aquela mulher jamais pisaria nesta casa. Fiz de tudo pra proteger o seu lugar como neto legítimo, o herdeiro da família Pereira, e impedir que o bastardo da amante do seu pai fosse reconhecido no nosso clã. — A voz do Sr. Henrique era firme, cada palavra carregada de lembrança e decepção. — E você? Cresceu... E virou exatamente igual ao seu pai. Igualzinho. Tinha que ser... Tal pai, tal filho!As palavras não traziam um único palavrão, mas para Gabriel soavam mais sujas, mais dolorosas do que qualquer insulto vulgar. Era como se cada sílaba cortasse sua pele e sangrasse direto no coração.— Desculpa, vô... — Murmurou Gabriel, quase num sussurro. — O hotel da Vi foi cercado por paparazzi... Levaram a bolsa dela. Sem documentos, ela não conseguiu se hospedar em lugar nenhum.— E aí você achou uma boa ideia levar ela para sua casa? Todo esse coração caridoso... Por que não pega uns cachorros de