O vidro do carro foi batido, e Daniel, instintivamente, olhou para fora, era Beatriz. Ele rapidamente abriu a porta.Mas, em vez de ir para o banco do passageiro, ela entrou direto no banco de trás, o olhar visivelmente tenso.— O que aconteceu? Teve algum problema? — Daniel perguntou, preocupado.— Não... Não. — Respondeu Beatriz, tentando controlar a respiração. — Daniel, você pode dirigir? Me leva até o próximo cruzamento, por favor.Mesmo sem entender muito bem, ele ligou o carro e atendeu ao pedido.Ao fazer a curva, viu Letícia na praça, acompanhada por um homem e uma mulher. O homem ele reconheceu de imediato: era Gabriel.Daniel lançou um olhar pelo retrovisor e notou que Beatriz já não estava mais sentada normalmente. Estava curvada, quase deitada. Ele franziu o cenho, intrigado.Letícia já tinha saído do restaurante, mas Beatriz… Agia como se estivesse fugindo de um crime. Com aquele jeito de quem precisa se esconder, como se ninguém pudesse vê-la...— Beatriz, você tá fugind
Ao ouvir aquilo, Gabriel não hesitou. Seguiu Vitória até o táxi, cambaleando, mas determinado.Do outro lado, no cruzamento seguinte, Beatriz havia recusado o convite de Daniel para visitar a empresa mais cedo e decidiu esperar por Letícia ali mesmo.Quando viu o carro vermelho se aproximando, caminhou até ele e entrou.— Você não vale nada mesmo, hein, Bia! — Letícia disparou assim que ela se acomodou no banco. — Quando eu falei do Daniel, você quase jurou que não queria nem cruzar com ele… Aí agora, só pra trocar mais duas palavrinhas, já pulou no carro do cara!Beatriz ficou sem palavras, tentando justificar:— Foi só um trajeto curto... A gente quase nem conversou.— Mas deu tempo de trocar uns beijinhos, né? — Retrucou Letícia com um sorrisinho debochado.Beatriz nem respondeu.— Então me conta, vai... Do que vocês falaram? Se não contar, eu mesma vou inventar a versão mais picante possível! — Insistiu Letícia, impiedosa.Beatriz tentou rir, mas o sorriso era claramente forçado.—
Rafael olhou para o rosto aparentemente calmo de Gabriel e comentou, em tom cauteloso:— O senhor não parece tão bêbado assim… Ainda lembra quem eu sou, né?“No fim das contas, queria ligar pra Beatriz… E acabou ligando pra mim.”— Ele bebeu demais, sim. — Enfatizou Vitória, apressada. — Se não tivesse, não estaria sentado na calçada desse jeito, todo perdido.Rafael a encarou por alguns segundos. Sabia exatamente como aquela história terminaria se deixasse Gabriel sair dali com ela: caos, escândalo e arrependimento.Por isso, com firmeza, declarou:— O Sr. Gabriel está bem. Tá sóbrio. E tem duas reuniões internacionais marcadas pra essa tarde. Ele não pode faltar.Vitória, já com a boca aberta para sugerir que as reuniões fossem adiadas, foi rapidamente interrompida:— São projetos de bilhões. Se atrasar... Quem assume a responsabilidade? Você acha que pode lidar com isso?Vitória engoliu seco.Bilhões...Se Gabriel descobrisse depois que ela tentou impedi-lo de ir, estaria ferrada. E
Em meio a tanta contradição e confusão emocional, Gabriel foi tomado por uma raiva silenciosa. Com o semblante fechado, limpava os respingos de café da mesa com movimentos irritados.— A Beatriz tá se achando demais… Já são quatro dias com essa pose toda. Tá até esquecendo o sobrenome, pelo visto. — Resmungou, com amargura. — Com esse gênio, se fosse em qualquer outra família, já tinha sido posta pra fora. Não tem nome, não tem herança, e ainda não sabe valorizar o posto de Sra. Pereira. Tem uma boca, mas não sabe usar. Se não sabe conversar, pra que serve essa boca, afinal? A culpa é toda dela, mas age como se o mundo inteiro devesse alguma coisa para ela. Francamente...As palavras saíam como veneno. Gabriel jogava cada frase como se fosse uma descarga de frustração acumulada, jogando toda a culpa nela.Rafael, parado ao lado, assistia à transformação do Sr. Gabriel em um verdadeiro “marido rancoroso”. Ele não parava de resmungar, feito uma alma penada, despejando mágoa em cada frase
Gabriel olhou fixamente para a porta, sem reação, como se tivesse levado um tapa invisível.“Encarar o que sente?”O que aquilo significava?Desde quando ele não encarava seus sentimentos?Arrependimento?Do que ele se arrependeria, afinal?Que piada.Gabriel nunca se arrependeu de nada na vida.Nada.Pegou o documento que estava ao seu lado, mas, por mais que tentasse, não conseguia se concentrar. Acabou colocando o celular bem no centro da mesa, à sua frente, como se isso garantisse que não perderia nenhuma ligação.Mas, durante as horas seguintes, todas as chamadas que recebeu eram de funcionários, nenhuma da pessoa que ele, de fato, esperava.Do outro lado da cidade, em plena tarde.Beatriz caminhava tranquilamente entre os balcões de maquiagem ao lado de Letícia. Compraram cosméticos, perfumes, depois bolsas e alguns acessórios. Encerraram o passeio com um bom churrasco.O celular de Beatriz voltou a vibrar sobre a mesa. Ela lançou um olhar rápido para a tela e virou o aparelho co
Gabriel apertou os lábios e hesitou por longos minutos, até que, por fim, decidiu voltar para casa dirigindo.Beatriz não atendeu nenhuma de suas ligações. Será que estava mesmo sem celular... Ou o bloqueou de propósito?Ele havia comprado um aparelho novo para ela. Se o celular não estava mais em casa, significava que ela o levara consigo, o que queria dizer, sim, que o bloqueou. Pelo menos assim, se houvesse uma briga, ele teria argumento. Não sairia como o errado.Mas... E se ela não estivesse usando o aparelho?Como estaria passando os dias no hospital, então? Assistindo televisão? Lendo jornal?Com a cabeça cheia de dúvidas e agarrando-se a uma última esperança de ter alguma confirmação, Gabriel voltou ao condomínio.Subiu direto pelo elevador até o andar de sempre, abriu a porta do apartamento e seguiu reto até o quarto de hóspedes.A porta não estava trancada. Ele empurrou e, ao abri-la, parou de repente.A cama estava completamente vazia. Sem travesseiro, sem cobertor, apenas o
Como ele não sabia?!— Você é o quê dela? — Perguntou a enfermeira, surpresa com a reação dele.— Eu… Sou o marido dela. — Murmurou Gabriel, num fio de voz quase inaudível.A enfermeira franziu a testa, olhando-o de cima a baixo, com evidente desconfiança.— Se vocês são casados... Como é que você não sabe que ela teve alta?Gabriel não respondeu. O olhar perdido, vazio. A mente, completamente em branco.Alguns segundos se passaram antes que, de repente, ele despertasse e disparasse escada abaixo.“Se Beatriz teve alta ontem de manhã... Por que não voltou para casa?Para onde levou os travesseiros e os cobertores?Será que... Será que ela está morando com alguém?Teria alugado um apartamento?Mas com que dinheiro? Ela não trabalhava havia dois anos.Foi o avô dela quem deu?Não...Talvez... Talvez ela...Esteja morando com aquele veterano?!”A ideia atingiu Gabriel como um soco no estômago. O pânico foi rapidamente engolido por algo ainda mais avassalador: raiva.Os ciúmes e a fúria cr
Quando foi que ele assinou aquilo?Beatriz nunca tinha entregue aqueles papéis para ele!Se tivesse visto, como poderia ter assinado? Impossível!A mente de Gabriel girava em círculos, tentando lembrar em que momento tudo poderia ter saído do controle. Segurava o pedaço de papel entre os dedos, perdido em pensamentos, até que algo o incomodou.O toque... Estava estranho.Aquela assinatura... Não tinha a textura de uma caneta sobre o papel. Nada de relevo.Levantou o papel até a altura dos olhos, analisando com mais atenção.Cópia?!Passou os dedos de novo, desta vez mais devagar.Sim. Era uma cópia.Uma maldita cópia.No mesmo instante, o desespero cedeu lugar a uma nova explosão de raiva.— Beatriz! Sua louca! Você falsificou isso?! Tá me pregando uma peça com uma cópia falsa?! — Gritou, com os dentes cerrados, fora de si.Achou que era real. Achou que tinha mesmo assinado aquele acordo de divórcio.E ficou apavorado. Confuso...Não! Que bobagem!Ele não ficou apavorado, tentou conven