Duas mulheres chegaram ao hospital na mesma manhã, ambas envolvidas num caso de vazamento de gás.Embora só uma delas estivesse em estado grave e precisasse de tratamento de emergência, as enfermeiras, já por dentro do burburinho, tratavam o assunto como se fosse drama de novela.Olhavam para aquele homem com desprezo escancarado, como se ele fosse o vilão da história.Afinal… Quem ele salvou primeiro, no calor do momento? A amante.E agora estava ali, fazendo pose de marido preocupado… Enquanto a esposa legítima ainda lutava entre a vida e a morte.Na manhã seguinte, Gabriel pediu licença do trabalho. Permaneceu o tempo todo do lado de fora do quarto, em silêncio, de guarda. Já não fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Nem sequer tinha ido ver Vitória.No fim, foi Vitória quem o procurou. Quando a viu se aproximando, Gabriel saiu do torpor, levantou-se apressado e correu para ajudá-la a sentar-se.— E a Bia? Como ela tá? A culpa foi minha... Eu desmaiei e nem consegui avisar a
Enquanto ouvia os xingamentos furiosos de Gabriel, Vitória, com a cabeça baixa, deixou escapar um leve sorriso no canto dos lábios… Que desapareceu no segundo seguinte.Gabriel tinha tirado o dia de folga, mas logo após o almoço decidiu voltar ao trabalho.Vitória permaneceu no hospital. Embora já estivesse acordada, ainda sentia a cabeça um pouco tonta. Com a presença dos enfermeiros e acompanhamento médico, Gabriel se sentia mais tranquilo deixando-a ali.Depois de tudo o que aconteceu, era como se uma nuvem negra o seguisse. Seu humor estava completamente azedo.Na cabeça de Gabriel, Beatriz, tomada de ciúmes por causa de Vitória, havia arquitetado aquele plano absurdo envolvendo gás, um plano que poderia ter matado a todos, até ele. Aquilo era coisa de psicopata! Coisa de gente fora de si!No escritório, não demorou para que Rafael percebesse o mau humor do chefe. Em menos de uma hora, Gabriel já tinha perdido a paciência três vezes. Ao levar alguns documentos para a assinatura del
— Moça… se alguém perguntar se eu acordei, diz que sim. Que acordei e voltei a dormir. — Pediu Beatriz, com a voz baixa.A enfermeira a observou por um instante. Duvidava que ele fosse perguntar… Mas mesmo assim assentiu com a cabeça.O quarto era individual. Beatriz estava deitada, encarando a janela com um olhar vazio.Ela queria ir embora. Queria sumir. Queria, de uma vez por todas, se afastar daquele casal desprezível.“Faltavam só três dias…Por quê? Por que eles ainda precisam me torturar?Não. Errado.Já só faltam dois.Amanhã… Finalmente, eu vou embora.”Beatriz fechou os olhos. Já tinha deixado tudo pronto, malas arrumadas, decisões tomadas. Agora, só desejava que o tempo passasse depressa.No início da tarde, uma visita inesperada apareceu.Era Rafael.— Sra. Beatriz, a senhora está bem? — Ele entrou com uma cesta de frutas nas mãos, tentando soar leve e gentil. — O Sr. Gabriel pediu que eu viesse ver se a senhora já havia acordado.Beatriz não respondeu. O rosto seguia inexp
Enquanto ainda estava perdido em pensamentos, alguém bateu na porta do escritório, era Rafael que havia voltado.— Ela já acordou? — Perguntou Gabriel assim que o viu entrar.— Acordou. — Respondeu Rafael. — Perguntei à enfermeira sobre o estado detalhado da Sra. Beatriz. Está se recuperando bem, não precisa mais de oxigênio, só está com muito sono.Gabriel não reagiu. Seu rosto permaneceu fechado, indiferente. Em sua expressão, não havia o menor traço de alegria pela melhora de Beatriz.Rafael ficou parado por alguns segundos. Quando já estava prestes a sair, Gabriel o chamou:— Procure um imóvel. Um lugar com bom ambiente, condomínio seguro, bastante privacidade. Totalmente mobiliado. Foram as exigências de Gabriel.Rafael hesitou por um instante.“Será que o Sr. Gabriel vai se mudar? Vai morar com a amante?”Mas se limitou a responder com um leve aceno:— Entendido. Já vou começar a procurar.Quando já estava quase cruzando a porta, a voz do chefe soou novamente, fria:— E ela... N
Afinal, mesmo que mostrasse a gravação, Gabriel iria dar um jeito de arranjar alguma desculpa para livrar a cara da Vitória.Quem ama, não vê defeitos. Para ele, tudo o que Vitória fazia era certo. E quanto a Beatriz... Ele só sentia desprezo.Talvez, no fundo, ele até desejasse que ela tivesse morrido.Beatriz curvou os lábios num sorriso amargo. Dois anos de dedicação… E o que recebeu em troca foi o desejo dele de vê-la fora da própria vida.Naquele momento...Vitória já havia voltado para casa de táxi, e imediatamente chamou um técnico especializado em informática.Descobriu que o computador no escritório de Gabriel tinha senha. Tentou digitar sua própria data de nascimento... E no segundo seguinte, o sistema foi desbloqueado.Seus lábios se curvaram num sorriso de vitória.“A senha do computador e do celular são baseadas em mim... Se isso não é amor, o que seria?”Vitória mandou o técnico apagar todos os registros das câmeras. Quando ele terminou, ela perguntou:— Tem certeza de qu
À noite, como de costume, Gabriel saiu do trabalho e foi direto visitar Vitória antes de voltar para casa. Mais um dia em que não foi ver Beatriz.Naquele dia, teve um jantar de negócios. Bebeu um pouco, e o estômago não estava dos melhores. Sentou-se à mesa da sala de jantar, incomodado... E, de repente, a imagem de Beatriz surgiu em sua mente, ela trazendo a ele uma sopa caseira para curar a ressaca.Sempre atenciosa, o lembrava com paciência, quase como uma velha governanta. E quando ele a repreendia, ela apenas abaixava a cabeça e ficava ali, calada, ao lado dele, esperando obedientemente.Mas ao voltar à realidade... A casa estava vazia. Enorme. Silenciosa. Já não havia mais ninguém ali.Gabriel franziu a testa. Nos últimos dias, vinha pensando em Beatriz com frequência, e isso o incomodava profundamente.Levantou-se para pegar um remédio, encheu um copo d’água... e teve a estranha sensação de que algo estava faltando ali.Demorou alguns segundos, então percebeu, era o copo de águ
Ao ouvir aquilo, Vitória ficou radiante. Mas logo baixou os olhos, fingindo timidez:— Mas... Foi você que escolheu com tanto carinho... Passou duas horas escolhendo e gastou uma fortuna para dar esse colar para Bia. Aceitar isso agora... Não sei se é certo...As palavras só aumentaram a raiva de Gabriel. Era verdade, duas horas escolhendo e noventa milhões investidos, e Beatriz teve a audácia de simplesmente jogar fora.— Ela não merece. Fica com ele você. — Disse, seco, antes de seguir direto para o quarto principal e bater a porta.Vitória ficou parada, olhando para a porta fechada. Então, seus lábios se curvaram num sorriso largo. Em seu olhar, um brilho de ganância e euforia.“E pensar que eu ainda ia sugerir devolver o colar pra Beatriz mais para frente... No fim, ele caiu no meu colo sem esforço nenhum.”Ansiosa, ela colocou o colar e se sentou em frente à penteadeira. Ligou as luzes, tirou fotos destacando o brilho da coroa de rosas no centro da peça... E postou tudo no Instagr
— Caramba, você continua tão poderosa como sempre. — Comentou Letícia, em tom de admiração. — Viu o babado que te mandei? Nem respondeu nada, poxa... — Acrescentou ela, fazendo charme.Beatriz ainda não tinha respondido quando Letícia pareceu se lembrar de algo:— Ah, é! Esqueci que você ficou dois anos fora... Nem deve saber quem é esse tal de Gabriel, né?Os olhos de Beatriz baixaram, sem dizer uma palavra.Como não saber? Ela foi a empregada dele por dois anos.— Ele estudou na mesma faculdade que a gente, acredita? Mas ele era de Economia, e a gente, de Artes Digitais. Dizem que no terceiro ano ele terminou com a namorada... Quem diria que, quatro anos depois, eles se envolveriam de novo. — Letícia tagarelava do outro lado da tela, com a boca meio cheia de pasta de dente, enquanto escovava os dentes.Beatriz não quis cortar o entusiasmo da amiga e, silenciosamente, colocou o volume da chamada no mínimo.Letícia tinha sido sua colega de quarto na faculdade, uma das poucas amizades