No hospital.Gabriel havia levado Vitória às pressas para o pronto-socorro. Depois de alguns exames, ela estava deitada em uma maca, os olhos fechados e uma expressão de dor no rosto.— Doutor, o que ela tem? — Perguntou Gabriel, visivelmente preocupado. — Ela só disse que estava tonta, se sentindo mal... E aí desmaiou.— Os sinais vitais estão normais, inclusive a frequência cardíaca. Provavelmente ela inalou uma pequena quantidade de gás, o que causou a tontura. — Explicou o médico, com calma.Ao ouvir isso, Gabriel ficou paralisado por um instante. Gás...Então aquele cheiro estranho que sentiu ao abrir a porta... Era gás encanado?— Um incidente nesse horário... Provavelmente houve um vazamento de gás na sua casa. Vocês precisam chamar os bombeiros e fazer uma inspeção imediatamente. Se o gás se acumular em grande quantidade, pode provocar uma explosão. — Alertou o médico, com um olhar sério.Ao escutar a palavra "explosão", algo se acendeu na mente de Gabriel. Seus olhos se arreg
— E aquela moça de cabelo cacheado? Tem que salvar todo mundo! — Gritou a senhora mais uma vez, exaltada.— Já a levei pro hospital antes. — Respondeu Gabriel às pressas, sem notar a armadilha nas palavras da vizinha fofoqueira, deixando a frase no ar antes de desaparecer de vista.Atrás dele, umas três ou cinco pessoas que assistiam à cena como quem acompanha novela se entreolharam, trocando olhares de cumplicidade, logo assumindo expressões de “sabia que era isso!”Se não estavam enganados, a mulher que morava com ele devia ser a esposa legítima, certo? Então aquela outra... Só podia ser a amante.E o mais suspeito: ele claramente sabia do vazamento de gás. Se não soubesse, por que teria levado a outra primeiro ao hospital?No fim das contas, deixou a esposa pra trás, sozinha, se arrastando pra fora do apartamento... até desmaiar bem na porta.Lamentável! Uma cena dessas não se esquece fácil.O rapaz até que era bonito, mas quem diria que por trás daquela aparência estava um canalha
Duas mulheres chegaram ao hospital na mesma manhã, ambas envolvidas num caso de vazamento de gás.Embora só uma delas estivesse em estado grave e precisasse de tratamento de emergência, as enfermeiras, já por dentro do burburinho, tratavam o assunto como se fosse drama de novela.Olhavam para aquele homem com desprezo escancarado, como se ele fosse o vilão da história.Afinal… Quem ele salvou primeiro, no calor do momento? A amante.E agora estava ali, fazendo pose de marido preocupado… Enquanto a esposa legítima ainda lutava entre a vida e a morte.Na manhã seguinte, Gabriel pediu licença do trabalho. Permaneceu o tempo todo do lado de fora do quarto, em silêncio, de guarda. Já não fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Nem sequer tinha ido ver Vitória.No fim, foi Vitória quem o procurou. Quando a viu se aproximando, Gabriel saiu do torpor, levantou-se apressado e correu para ajudá-la a sentar-se.— E a Bia? Como ela tá? A culpa foi minha... Eu desmaiei e nem consegui avisar a
Enquanto ouvia os xingamentos furiosos de Gabriel, Vitória, com a cabeça baixa, deixou escapar um leve sorriso no canto dos lábios… Que desapareceu no segundo seguinte.Gabriel tinha tirado o dia de folga, mas logo após o almoço decidiu voltar ao trabalho.Vitória permaneceu no hospital. Embora já estivesse acordada, ainda sentia a cabeça um pouco tonta. Com a presença dos enfermeiros e acompanhamento médico, Gabriel se sentia mais tranquilo deixando-a ali.Depois de tudo o que aconteceu, era como se uma nuvem negra o seguisse. Seu humor estava completamente azedo.Na cabeça de Gabriel, Beatriz, tomada de ciúmes por causa de Vitória, havia arquitetado aquele plano absurdo envolvendo gás, um plano que poderia ter matado a todos, até ele. Aquilo era coisa de psicopata! Coisa de gente fora de si!No escritório, não demorou para que Rafael percebesse o mau humor do chefe. Em menos de uma hora, Gabriel já tinha perdido a paciência três vezes. Ao levar alguns documentos para a assinatura del
— Moça… se alguém perguntar se eu acordei, diz que sim. Que acordei e voltei a dormir. — Pediu Beatriz, com a voz baixa.A enfermeira a observou por um instante. Duvidava que ele fosse perguntar… Mas mesmo assim assentiu com a cabeça.O quarto era individual. Beatriz estava deitada, encarando a janela com um olhar vazio.Ela queria ir embora. Queria sumir. Queria, de uma vez por todas, se afastar daquele casal desprezível.“Faltavam só três dias…Por quê? Por que eles ainda precisam me torturar?Não. Errado.Já só faltam dois.Amanhã… Finalmente, eu vou embora.”Beatriz fechou os olhos. Já tinha deixado tudo pronto, malas arrumadas, decisões tomadas. Agora, só desejava que o tempo passasse depressa.No início da tarde, uma visita inesperada apareceu.Era Rafael.— Sra. Beatriz, a senhora está bem? — Ele entrou com uma cesta de frutas nas mãos, tentando soar leve e gentil. — O Sr. Gabriel pediu que eu viesse ver se a senhora já havia acordado.Beatriz não respondeu. O rosto seguia inexp
Enquanto ainda estava perdido em pensamentos, alguém bateu na porta do escritório, era Rafael que havia voltado.— Ela já acordou? — Perguntou Gabriel assim que o viu entrar.— Acordou. — Respondeu Rafael. — Perguntei à enfermeira sobre o estado detalhado da Sra. Beatriz. Está se recuperando bem, não precisa mais de oxigênio, só está com muito sono.Gabriel não reagiu. Seu rosto permaneceu fechado, indiferente. Em sua expressão, não havia o menor traço de alegria pela melhora de Beatriz.Rafael ficou parado por alguns segundos. Quando já estava prestes a sair, Gabriel o chamou:— Procure um imóvel. Um lugar com bom ambiente, condomínio seguro, bastante privacidade. Totalmente mobiliado. Foram as exigências de Gabriel.Rafael hesitou por um instante.“Será que o Sr. Gabriel vai se mudar? Vai morar com a amante?”Mas se limitou a responder com um leve aceno:— Entendido. Já vou começar a procurar.Quando já estava quase cruzando a porta, a voz do chefe soou novamente, fria:— E ela... N
Afinal, mesmo que mostrasse a gravação, Gabriel iria dar um jeito de arranjar alguma desculpa para livrar a cara da Vitória.Quem ama, não vê defeitos. Para ele, tudo o que Vitória fazia era certo. E quanto a Beatriz... Ele só sentia desprezo.Talvez, no fundo, ele até desejasse que ela tivesse morrido.Beatriz curvou os lábios num sorriso amargo. Dois anos de dedicação… E o que recebeu em troca foi o desejo dele de vê-la fora da própria vida.Naquele momento...Vitória já havia voltado para casa de táxi, e imediatamente chamou um técnico especializado em informática.Descobriu que o computador no escritório de Gabriel tinha senha. Tentou digitar sua própria data de nascimento... E no segundo seguinte, o sistema foi desbloqueado.Seus lábios se curvaram num sorriso de vitória.“A senha do computador e do celular são baseadas em mim... Se isso não é amor, o que seria?”Vitória mandou o técnico apagar todos os registros das câmeras. Quando ele terminou, ela perguntou:— Tem certeza de qu
À noite, como de costume, Gabriel saiu do trabalho e foi direto visitar Vitória antes de voltar para casa. Mais um dia em que não foi ver Beatriz.Naquele dia, teve um jantar de negócios. Bebeu um pouco, e o estômago não estava dos melhores. Sentou-se à mesa da sala de jantar, incomodado... E, de repente, a imagem de Beatriz surgiu em sua mente, ela trazendo a ele uma sopa caseira para curar a ressaca.Sempre atenciosa, o lembrava com paciência, quase como uma velha governanta. E quando ele a repreendia, ela apenas abaixava a cabeça e ficava ali, calada, ao lado dele, esperando obedientemente.Mas ao voltar à realidade... A casa estava vazia. Enorme. Silenciosa. Já não havia mais ninguém ali.Gabriel franziu a testa. Nos últimos dias, vinha pensando em Beatriz com frequência, e isso o incomodava profundamente.Levantou-se para pegar um remédio, encheu um copo d’água... e teve a estranha sensação de que algo estava faltando ali.Demorou alguns segundos, então percebeu, era o copo de águ