Ao ouvir o comentário de Vitória, o sorriso no rosto de Gabriel foi desaparecendo aos poucos.Ele apertou os lábios, ficou em silêncio por alguns segundos e, então, franziu a testa:— Não é para agradar ela. E também... Não tem sentimento nenhum envolvido.— Mas não foi esse colar que você comprou para ela? — Vitória perguntou entre os dentes, tentando controlar o tom.Gabriel ficou calado de novo e dessa vez, por ainda mais tempo.Minutos se passaram antes que ele murmurasse, sem jeito:— Eu só estou compensando por você. Para de viajar. Essa coisa entre nós é só um casamento de fachada... Imposto pelo meu avô. Eu nunca vou gostar dela de verdade.Se fosse em outro momento, talvez Vitória acreditasse.Mas agora? Não mais.No leilão, Gabriel nem pediu sua opinião. Viu a Coroa de Rosas e, sem hesitar, entrou na disputa como se aquilo fosse vital.Para ela, ele nunca sequer cogitou comprar nada.Amar ou não amar... Isso já estava mais do que claro.Quando chegaram ao prédio, dentro do el
— Dá esse presente para quem você quiser. Eu não faço a menor questão. — Respondeu Beatriz, fria como gelo.Gabriel sentia que ia explodir.Ficou parado, encarando aquela expressão dela, aquele olhar calmo, distante, que ele mais odiava.Como se ele fosse um completo estranho. Como se não passasse de um nada.— Se não tem mais nada, pode sair. Eu quero dormir. — Disse ela, apontando para a porta.— Dormir o quê?! São só dez da noite! — Gabriel gritou, perdendo totalmente o controle. — Eu já comprei aquele colar para você! O que mais você quer?! Fala!A postura agressiva dele fez Beatriz recuar instintivamente.Deu um passo para trás, assustada, por um instante, achou mesmo que ele poderia bater nela.Se ele levantasse a mão agora, aquilo seria apenas violência doméstica...Mas se fosse outro homem, alguém fora do casamento, já seria tentativa de agressão com pena de prisão de até três anos.O ar ficou pesado.Eles se encaravam em silêncio, a tensão enchendo cada centímetro do quarto.D
Beatriz encarava aquele homem em surto, os dentes cerrados, tentando com todas as forças não brigar.Doente. Insano. Louco.Nada parecia suficiente para descrever Gabriel naquele momento.Ele trancou a porta com chave e ainda passou mais duas trancas de segurança.Depois disso, ficou ali, imóvel diante da porta, feito um carcereiro, como se estivesse vigiando sua própria prisão.Beatriz deu meia-volta sem dizer nada, entrou no quarto e bateu a porta com firmeza.Não valia a pena gastar energia com um psicopata desses.Gabriel viu ela sumir no corredor e o rosto dele até relaxou um pouco. Mas só por alguns segundos.Logo depois, ouviu um barulho e viu a caixinha da joia sendo arremessada para fora do quarto.Ele rangeu os dentes de raiva.Mas não se foi para pegar.O som cessou.Foi então que, na suíte de hóspedes, a porta se abriu lentamente.Vitória apareceu com passos leves, o olhar atento e um sorriso doce no rosto.Abaixou-se, pegou a caixinha do chão com todo cuidado e se aproximo
No hospital.Gabriel havia levado Vitória às pressas para o pronto-socorro. Depois de alguns exames, ela estava deitada em uma maca, os olhos fechados e uma expressão de dor no rosto.— Doutor, o que ela tem? — Perguntou Gabriel, visivelmente preocupado. — Ela só disse que estava tonta, se sentindo mal... E aí desmaiou.— Os sinais vitais estão normais, inclusive a frequência cardíaca. Provavelmente ela inalou uma pequena quantidade de gás, o que causou a tontura. — Explicou o médico, com calma.Ao ouvir isso, Gabriel ficou paralisado por um instante. Gás...Então aquele cheiro estranho que sentiu ao abrir a porta... Era gás encanado?— Um incidente nesse horário... Provavelmente houve um vazamento de gás na sua casa. Vocês precisam chamar os bombeiros e fazer uma inspeção imediatamente. Se o gás se acumular em grande quantidade, pode provocar uma explosão. — Alertou o médico, com um olhar sério.Ao escutar a palavra "explosão", algo se acendeu na mente de Gabriel. Seus olhos se arreg
— E aquela moça de cabelo cacheado? Tem que salvar todo mundo! — Gritou a senhora mais uma vez, exaltada.— Já a levei pro hospital antes. — Respondeu Gabriel às pressas, sem notar a armadilha nas palavras da vizinha fofoqueira, deixando a frase no ar antes de desaparecer de vista.Atrás dele, umas três ou cinco pessoas que assistiam à cena como quem acompanha novela se entreolharam, trocando olhares de cumplicidade, logo assumindo expressões de “sabia que era isso!”Se não estavam enganados, a mulher que morava com ele devia ser a esposa legítima, certo? Então aquela outra... Só podia ser a amante.E o mais suspeito: ele claramente sabia do vazamento de gás. Se não soubesse, por que teria levado a outra primeiro ao hospital?No fim das contas, deixou a esposa pra trás, sozinha, se arrastando pra fora do apartamento... até desmaiar bem na porta.Lamentável! Uma cena dessas não se esquece fácil.O rapaz até que era bonito, mas quem diria que por trás daquela aparência estava um canalha
Duas mulheres chegaram ao hospital na mesma manhã, ambas envolvidas num caso de vazamento de gás.Embora só uma delas estivesse em estado grave e precisasse de tratamento de emergência, as enfermeiras, já por dentro do burburinho, tratavam o assunto como se fosse drama de novela.Olhavam para aquele homem com desprezo escancarado, como se ele fosse o vilão da história.Afinal… Quem ele salvou primeiro, no calor do momento? A amante.E agora estava ali, fazendo pose de marido preocupado… Enquanto a esposa legítima ainda lutava entre a vida e a morte.Na manhã seguinte, Gabriel pediu licença do trabalho. Permaneceu o tempo todo do lado de fora do quarto, em silêncio, de guarda. Já não fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Nem sequer tinha ido ver Vitória.No fim, foi Vitória quem o procurou. Quando a viu se aproximando, Gabriel saiu do torpor, levantou-se apressado e correu para ajudá-la a sentar-se.— E a Bia? Como ela tá? A culpa foi minha... Eu desmaiei e nem consegui avisar a
Enquanto ouvia os xingamentos furiosos de Gabriel, Vitória, com a cabeça baixa, deixou escapar um leve sorriso no canto dos lábios… Que desapareceu no segundo seguinte.Gabriel tinha tirado o dia de folga, mas logo após o almoço decidiu voltar ao trabalho.Vitória permaneceu no hospital. Embora já estivesse acordada, ainda sentia a cabeça um pouco tonta. Com a presença dos enfermeiros e acompanhamento médico, Gabriel se sentia mais tranquilo deixando-a ali.Depois de tudo o que aconteceu, era como se uma nuvem negra o seguisse. Seu humor estava completamente azedo.Na cabeça de Gabriel, Beatriz, tomada de ciúmes por causa de Vitória, havia arquitetado aquele plano absurdo envolvendo gás, um plano que poderia ter matado a todos, até ele. Aquilo era coisa de psicopata! Coisa de gente fora de si!No escritório, não demorou para que Rafael percebesse o mau humor do chefe. Em menos de uma hora, Gabriel já tinha perdido a paciência três vezes. Ao levar alguns documentos para a assinatura del
— Moça… se alguém perguntar se eu acordei, diz que sim. Que acordei e voltei a dormir. — Pediu Beatriz, com a voz baixa.A enfermeira a observou por um instante. Duvidava que ele fosse perguntar… Mas mesmo assim assentiu com a cabeça.O quarto era individual. Beatriz estava deitada, encarando a janela com um olhar vazio.Ela queria ir embora. Queria sumir. Queria, de uma vez por todas, se afastar daquele casal desprezível.“Faltavam só três dias…Por quê? Por que eles ainda precisam me torturar?Não. Errado.Já só faltam dois.Amanhã… Finalmente, eu vou embora.”Beatriz fechou os olhos. Já tinha deixado tudo pronto, malas arrumadas, decisões tomadas. Agora, só desejava que o tempo passasse depressa.No início da tarde, uma visita inesperada apareceu.Era Rafael.— Sra. Beatriz, a senhora está bem? — Ele entrou com uma cesta de frutas nas mãos, tentando soar leve e gentil. — O Sr. Gabriel pediu que eu viesse ver se a senhora já havia acordado.Beatriz não respondeu. O rosto seguia inexp