— Surpreso por me ver aqui? — Vitória perguntou com um sorriso, e logo emendou, em tom de brincadeira. — Ou tá decepcionado porque não sou a Bia?Gabriel franziu a testa na hora. A resposta escapou antes mesmo que pudesse pensar:— Claro que não! Não fala uma coisa dessas, que me dá até enjoo.Vitória deu uma risadinha e se aproximou, satisfeita com a reação. Ele completou, quase num tom defensivo:— Trazer o almoço é obrigação dela. Eu sustento ela, né? É o mínimo. Só não quis te incomodar com isso, você não precisava se envolver.— Eu só aproveitei o caminho. — Respondeu Vitória, casual. — Estou sem desfiles agora, só trabalhando meio período.— Pode deixar na mesa. Vou pedir pro meu assistente te levar pro estúdio. — Disse Gabriel, já se levantando e indo até o sofá.— Não precisa ter pressa. — Disse ela, sorrindo e sentando-se bem coladinha ao lado dele. — Quero passar um tempinho com você.Gabriel não respondeu. Abriu a marmita e, assim que o cheiro subiu, os olhos brilharam por u
A recepcionista mantinha a cabeça baixa, sem coragem de responder. Rafael, que vinha logo atrás de Vitória, revirou os olhos discretamente diante daquela atitude mandona e arrogante.Nem mesmo a esposa legítima do Sr. Gabriel era tão prepotente... E, ainda assim, ele parecia gostar daquela amante descarada.Enquanto isso, em casa.Beatriz ajustava seu currículo. Já fazia dois anos que estava fora do mercado. Embora pudesse entrar na empresa de Daniel por indicação, ainda assim teria que passar pelos trâmites normais do RH.O celular vibrou umas sete, oito vezes seguidas. Mas Beatriz nem se deu ao trabalho de olhar.Devia ser Gabriel surtando de novo, como sempre, defendendo Vitória como se ela fosse uma pobre injustiçada.Ela que pediu para levar o almoço? Foi a própria Vitória quem se ofereceu, toda solícita.Mas agora que o acordo de divórcio já estava nas mãos dela, não era de se esperar que voltasse a mexer na comida só pra depois tentar jogar a culpa em cima de ela.Vitória já est
Cinco noites atrás, Gabriel tinha voltado para casa e, mais uma vez, acabou brigando com Beatriz. Reclamou que ela estava sendo preguiçosa, que deixava a Vi levar comida para ele, e ainda disse que o fato de ela não responder às mensagens mostrava uma completa falta de consideração.Mas, para sua surpresa, Beatriz, que sempre retrucava, dessa vez não disse uma palavra. Ficou apenas ali, em silêncio, ouvindo tudo. Quem acabou assumindo a culpa foi a própria Vi, dizendo que tinha se oferecido para fazer as entregas. E nos dias seguintes, foi sempre ela quem apareceu na hora do almoço.Gabriel apertou os lábios, frustrado. O mau humor de Beatriz já se arrastava por tempo demais… Ele sentia que tinha chegado ao limite.Talvez a culpa fosse dele mesmo, por ter sido complacente demais. Agora, ela nem sabia mais qual era o lugar dela.Com o rosto fechado, Gabriel se levantou da cadeira, decidido a ter uma conversa séria com Beatriz naquela noite, ou melhor, a dar uma boa lição.Em 17h00.Vitó
— Sem valor algum? Heh... Claro, para você, Gabriel, nada tem importância mesmo. — Beatriz o encarava com os olhos cheios de raiva, tremendo da cabeça aos pés. Os dentes cerrados, lutava para conter a dor que transbordava.Foi a Vitória quem perdeu o colar, mas mesmo assim Gabriel apareceu só pra acusar Beatriz de estar sendo mesquinha.Ao notar que ela estava à beira das lágrimas, os olhos marejados e vermelhos, Gabriel congelou por um instante.— Era só um colar... Eu compro outro para você. — Murmurou, num tom mais baixo.— Quem quer sua compensação? — Beatriz rebateu, mordendo os lábios. — Nenhum dinheiro no mundo paga o valor que aquilo tinha para mim!Virou-se de repente, tomada pela fúria.— Não seja ingrata! Eu estou dizendo que vou pagar pela Vi, o que mais você quer?! — Gabriel perdeu a paciência e gritou.A resposta veio no som seco da porta batendo. Isso só piorou o humor dele.Nem tinha tido tempo de tirar satisfação com Beatriz pelo comportamento dos últimos dias e agora
Do outro lado da mesa, Gabriel mexia no celular, trocando mensagens e pesquisando antecipadamente os itens que seriam leiloados naquela noite. Estava tão concentrado que nem notou o rosto de Vitória se contorcendo num misto de inveja e ódio, uma expressão quase monstruosa.Após o jantar, Gabriel levou Vitória de carro até o local do leilão.Durante o trajeto, ela ainda pensava consigo mesma que Gabriel com certeza compraria algo pra ela também.E quanto ao presente da Beatriz... Mais tarde, ela daria um jeito de tomar pra si.Só de pensar nisso, um sorriso torto surgiu no canto da sua boca. Ela apertou os punhos e bufou em silêncio, carregada de desprezo.Quando o leilão começou de fato...— Vi, o que você acha desse colar de rubi? — Gabriel perguntou, apontando para a tela onde a peça aparecia em destaque.Vitória quase sorriu antes mesmo de responder. Era óbvio que Gabriel não se esqueceria dela.— É lindo. A cor é viva, marcante, mas ainda assim elegante. — Disse, com um olhar tími
Ao ouvir o comentário de Vitória, o sorriso no rosto de Gabriel foi desaparecendo aos poucos.Ele apertou os lábios, ficou em silêncio por alguns segundos e, então, franziu a testa:— Não é para agradar ela. E também... Não tem sentimento nenhum envolvido.— Mas não foi esse colar que você comprou para ela? — Vitória perguntou entre os dentes, tentando controlar o tom.Gabriel ficou calado de novo e dessa vez, por ainda mais tempo.Minutos se passaram antes que ele murmurasse, sem jeito:— Eu só estou compensando por você. Para de viajar. Essa coisa entre nós é só um casamento de fachada... Imposto pelo meu avô. Eu nunca vou gostar dela de verdade.Se fosse em outro momento, talvez Vitória acreditasse.Mas agora? Não mais.No leilão, Gabriel nem pediu sua opinião. Viu a Coroa de Rosas e, sem hesitar, entrou na disputa como se aquilo fosse vital.Para ela, ele nunca sequer cogitou comprar nada.Amar ou não amar... Isso já estava mais do que claro.Quando chegaram ao prédio, dentro do el
— Dá esse presente para quem você quiser. Eu não faço a menor questão. — Respondeu Beatriz, fria como gelo.Gabriel sentia que ia explodir.Ficou parado, encarando aquela expressão dela, aquele olhar calmo, distante, que ele mais odiava.Como se ele fosse um completo estranho. Como se não passasse de um nada.— Se não tem mais nada, pode sair. Eu quero dormir. — Disse ela, apontando para a porta.— Dormir o quê?! São só dez da noite! — Gabriel gritou, perdendo totalmente o controle. — Eu já comprei aquele colar para você! O que mais você quer?! Fala!A postura agressiva dele fez Beatriz recuar instintivamente.Deu um passo para trás, assustada, por um instante, achou mesmo que ele poderia bater nela.Se ele levantasse a mão agora, aquilo seria apenas violência doméstica...Mas se fosse outro homem, alguém fora do casamento, já seria tentativa de agressão com pena de prisão de até três anos.O ar ficou pesado.Eles se encaravam em silêncio, a tensão enchendo cada centímetro do quarto.D
Beatriz encarava aquele homem em surto, os dentes cerrados, tentando com todas as forças não brigar.Doente. Insano. Louco.Nada parecia suficiente para descrever Gabriel naquele momento.Ele trancou a porta com chave e ainda passou mais duas trancas de segurança.Depois disso, ficou ali, imóvel diante da porta, feito um carcereiro, como se estivesse vigiando sua própria prisão.Beatriz deu meia-volta sem dizer nada, entrou no quarto e bateu a porta com firmeza.Não valia a pena gastar energia com um psicopata desses.Gabriel viu ela sumir no corredor e o rosto dele até relaxou um pouco. Mas só por alguns segundos.Logo depois, ouviu um barulho e viu a caixinha da joia sendo arremessada para fora do quarto.Ele rangeu os dentes de raiva.Mas não se foi para pegar.O som cessou.Foi então que, na suíte de hóspedes, a porta se abriu lentamente.Vitória apareceu com passos leves, o olhar atento e um sorriso doce no rosto.Abaixou-se, pegou a caixinha do chão com todo cuidado e se aproximo