— Beatriz, o que foi isso? Colocou sal demais de novo? — Gabriel virou-se para ela, claramente irritado.— Ai, as outras duas também estão super salgadas... — Vitória experimentava prato por prato com uma expressão de puro desgosto.Depois, lançou um olhar para Beatriz, mordeu o lábio inferior e disse, num tom suave:— Um prato só até dá pra dizer que foi sem querer, mas todos ficaram salgados... Bia, eu sei que você não gosta de me ver comendo a comida que você faz, mas o Gabi também precisa comer, né? Você fazer isso…Ela deixou a frase no ar, depois fez uma cara de quem “entende tudo” e se virou para Gabriel:— Gabi, não fica bravo. A Bia só tá com ciúmes de mim. Estou morando aqui, e ainda por cima ela tem que cozinhar pra mim... É que ela te ama demais, só isso.— Beatriz, quantos anos você tem? Ficar com essas atitudes infantis... — Gabriel bateu a mão na mesa, perdendo a paciência. — A Vi tá só hospedada aqui! Eu não te avisei antes? Ela só tá usando seu quarto por um tempo. Cus
— Gabi, fala menos um pouco... — Disse Vitória, tentando aliviar o clima.No quarto, Beatriz colocou os fones de ouvido, deu play na música e se isolou por completo da conversa dos dois.Alguém ali queria fazer cena, mas ela sequer se deu ao trabalho de olhar.Nem tinham se passado duas horas, e Beatriz já decidiu tomar banho e se arrumar, melhor fazer isso logo do que acabar esbarrando com os dois mais tarde.Com os itens de higiene nas mãos, saiu do quarto, ainda ouvindo o papo meloso vindo da sala.Ao ouvir a porta do quarto se abrir, Gabriel levantou os olhos, e logo em seguida, ouviu o clique do banheiro sendo trancado.Algo estava estranho com Beatriz o dia todo.Ela estava com raiva? Não... Era mais como uma frieza indiferente. Um desprezo silencioso.Durante todo o tempo em que ela ficou no banheiro, ele não tirou os olhos da porta.Ao lado, Vitória o observava com um olhar enviesado, onde brilhava um ressentimento quase cruel.Depois de uns dez minutos, a porta do banheiro fin
Na cozinha, Gabriel improvisava como podia, esquentou um pouco de água e despejou sobre o arroz que ainda restava na panela.Pra falar a verdade... Até que estava gostoso. Talvez fosse o arroz feito por Beatriz?Tinha um sabor levemente adocicado, aconchegante. Algo que lembrava cuidado, casa.Na manhã seguinte, Beatriz acordou cedo, como de costume. Ao abrir a panela, notou que metade do arroz tinha sumido.Franziu a testa, tentando lembrar...Será que, ontem à noite, quando jogou fora o resto da janta, acabou descartando parte do arroz também?Preferiu não pensar demais. De qualquer forma, já não dava para fazer Arroz Biro Biro.Então preparou ovos com bacon na frigideira.Gabriel também acordou cedo, e só por causa do cheiro vindo da cozinha.A mesa estava arrumada como café de hotel: ovos, pães variados, frutas... Ela torceu o nariz.— Cadê o Arroz Biro Biro?— O arroz não deu. — Respondeu Beatriz, seca, sem nenhuma emoção no rosto.Gabriel ficou sem graça. A lembrança da noite ant
— Surpreso por me ver aqui? — Vitória perguntou com um sorriso, e logo emendou, em tom de brincadeira. — Ou tá decepcionado porque não sou a Bia?Gabriel franziu a testa na hora. A resposta escapou antes mesmo que pudesse pensar:— Claro que não! Não fala uma coisa dessas, que me dá até enjoo.Vitória deu uma risadinha e se aproximou, satisfeita com a reação. Ele completou, quase num tom defensivo:— Trazer o almoço é obrigação dela. Eu sustento ela, né? É o mínimo. Só não quis te incomodar com isso, você não precisava se envolver.— Eu só aproveitei o caminho. — Respondeu Vitória, casual. — Estou sem desfiles agora, só trabalhando meio período.— Pode deixar na mesa. Vou pedir pro meu assistente te levar pro estúdio. — Disse Gabriel, já se levantando e indo até o sofá.— Não precisa ter pressa. — Disse ela, sorrindo e sentando-se bem coladinha ao lado dele. — Quero passar um tempinho com você.Gabriel não respondeu. Abriu a marmita e, assim que o cheiro subiu, os olhos brilharam por u
A recepcionista mantinha a cabeça baixa, sem coragem de responder. Rafael, que vinha logo atrás de Vitória, revirou os olhos discretamente diante daquela atitude mandona e arrogante.Nem mesmo a esposa legítima do Sr. Gabriel era tão prepotente... E, ainda assim, ele parecia gostar daquela amante descarada.Enquanto isso, em casa.Beatriz ajustava seu currículo. Já fazia dois anos que estava fora do mercado. Embora pudesse entrar na empresa de Daniel por indicação, ainda assim teria que passar pelos trâmites normais do RH.O celular vibrou umas sete, oito vezes seguidas. Mas Beatriz nem se deu ao trabalho de olhar.Devia ser Gabriel surtando de novo, como sempre, defendendo Vitória como se ela fosse uma pobre injustiçada.Ela que pediu para levar o almoço? Foi a própria Vitória quem se ofereceu, toda solícita.Mas agora que o acordo de divórcio já estava nas mãos dela, não era de se esperar que voltasse a mexer na comida só pra depois tentar jogar a culpa em cima de ela.Vitória já est
Cinco noites atrás, Gabriel tinha voltado para casa e, mais uma vez, acabou brigando com Beatriz. Reclamou que ela estava sendo preguiçosa, que deixava a Vi levar comida para ele, e ainda disse que o fato de ela não responder às mensagens mostrava uma completa falta de consideração.Mas, para sua surpresa, Beatriz, que sempre retrucava, dessa vez não disse uma palavra. Ficou apenas ali, em silêncio, ouvindo tudo. Quem acabou assumindo a culpa foi a própria Vi, dizendo que tinha se oferecido para fazer as entregas. E nos dias seguintes, foi sempre ela quem apareceu na hora do almoço.Gabriel apertou os lábios, frustrado. O mau humor de Beatriz já se arrastava por tempo demais… Ele sentia que tinha chegado ao limite.Talvez a culpa fosse dele mesmo, por ter sido complacente demais. Agora, ela nem sabia mais qual era o lugar dela.Com o rosto fechado, Gabriel se levantou da cadeira, decidido a ter uma conversa séria com Beatriz naquela noite, ou melhor, a dar uma boa lição.Em 17h00.Vitó
— Sem valor algum? Heh... Claro, para você, Gabriel, nada tem importância mesmo. — Beatriz o encarava com os olhos cheios de raiva, tremendo da cabeça aos pés. Os dentes cerrados, lutava para conter a dor que transbordava.Foi a Vitória quem perdeu o colar, mas mesmo assim Gabriel apareceu só pra acusar Beatriz de estar sendo mesquinha.Ao notar que ela estava à beira das lágrimas, os olhos marejados e vermelhos, Gabriel congelou por um instante.— Era só um colar... Eu compro outro para você. — Murmurou, num tom mais baixo.— Quem quer sua compensação? — Beatriz rebateu, mordendo os lábios. — Nenhum dinheiro no mundo paga o valor que aquilo tinha para mim!Virou-se de repente, tomada pela fúria.— Não seja ingrata! Eu estou dizendo que vou pagar pela Vi, o que mais você quer?! — Gabriel perdeu a paciência e gritou.A resposta veio no som seco da porta batendo. Isso só piorou o humor dele.Nem tinha tido tempo de tirar satisfação com Beatriz pelo comportamento dos últimos dias e agora
Do outro lado da mesa, Gabriel mexia no celular, trocando mensagens e pesquisando antecipadamente os itens que seriam leiloados naquela noite. Estava tão concentrado que nem notou o rosto de Vitória se contorcendo num misto de inveja e ódio, uma expressão quase monstruosa.Após o jantar, Gabriel levou Vitória de carro até o local do leilão.Durante o trajeto, ela ainda pensava consigo mesma que Gabriel com certeza compraria algo pra ela também.E quanto ao presente da Beatriz... Mais tarde, ela daria um jeito de tomar pra si.Só de pensar nisso, um sorriso torto surgiu no canto da sua boca. Ela apertou os punhos e bufou em silêncio, carregada de desprezo.Quando o leilão começou de fato...— Vi, o que você acha desse colar de rubi? — Gabriel perguntou, apontando para a tela onde a peça aparecia em destaque.Vitória quase sorriu antes mesmo de responder. Era óbvio que Gabriel não se esqueceria dela.— É lindo. A cor é viva, marcante, mas ainda assim elegante. — Disse, com um olhar tími