Capítulo 7

BELINDA

— Bom dia minha menina!

Exclamou a senhora Johnson, minha vizinha. A casa que comprei além de uma excelente arquitetura e paisagem, tem uma boa vizinhança. Fiz questão em comprar em especial a casa ao lado da senhora Johnson, uma antiga professora do colégio interno que frequentei no passado. Diferente do pensamento da maioria das pessoas, tive uma experiência satisfatória e em minha mente só habitam boas memórias.

As professoras  possuíam conhecimento em como disciplinar e educar os alunos. Todo o corpo docente era rígido, mas acolhedor. Haviam muitas meninas órfãs, assim como eu. Mesmo que eu tivesse o meu padrinho, não era a mesma coisa que ter seus pais vivos.

— Bom dia senhora Johnson. A torta de maçã estava uma delícia.

Digo sorridente. Um sorriso de orelha a orelha formou-se na face da senhora de meia idade. 

Entreguei o recipiente à mulher que ruborizou, acanhada mesmo sendo a mesma cujo tratou-me com gentileza e afeto.

— Mas eu devo repreendê-la senhora Johnson.

— Pelo o que minha menina ?

Eu sorri.

— Se a senhora continuar me alimentando desta maneira, o meu fim será como o da Petúnia Dursley.

A mulher diante de mim franziu o cenho confusa. 

— Não conhece ?

— Não faço a mínima ideia.

Gargalhei segurando o meu ventre que dava um pequeno vislumbre.

— É uma personagem de Harry Potter. Petúnia Dursley é a irmã da mãe do protagonista da obra. A senhora deveria ver, é um dos meus filmes favoritos.

A senhora Johnson e eu iniciamos uma conversa animada. Quando a hora aproximou-se do meio dia, nós nos despedimos e eu partir rumo ao centro da cidade.

Estacionei o meu carro diante da cafeteria Huff’s. Esse local era um dos meus lugares favoritos no passado quando era jovem, foi este o lugar onde Liam e eu nos encontrávamos no começo do nosso namorado, quando eu ainda era uma garota jovem e inexperiente nos assuntos da vida. 

— Belinda ?

Uma voz familiar inundou os meus ouvidos. O sorriso que brotou nos meus lábios foi genuíno.

— Mikael!

Desci do veículo me jogando em seus braços.

Mikael e eu nos conhecemos no colégio interno. Havia uma ala para meninos e outra para meninas, mas isso não era suficiente para nos esgueiramos pela madrugada enquanto vagávamos pelo local aprofundando nossas memórias e a nossa amizade. Quando eu decidi me entregar e casar com Liam eu tinha dezesseis anos e essa tola e apaixonada atitude minha ocasionou no meu afastamento das pessoas como Mikael. Depois de algum tempo descobri que o mesmo foi enviado para Dubai, às ordens de seus pais.Afinal, ele é o único herdeiro da família Seymour, sendo assim, desde o seu nascimento ele havia de ser instruído para assumir o seu lugar de direito.

— Senti sua falta.

Meu melhor amigo exclamou.

— Eu também. Senti muita saudade de você. Por onde andou ? Nunca mais recebi notícias suas. Se você pretendia se aventurar, porque não me deixou ao menos um contato ?

— Como eu poderia ?

Mikael indagou. Eu me enfureci pelo o seu semblante surpreso.

— Como eu poderia ? Eu fui atrás de você no internato.

— Você foi atrás de mim ? 

A voz baixa e surpresa de Mikael abriu uma antiga ferida no meu peito. Fazendo-me lembrar a profundidade do nosso afastamento.

“Eu não consigo acreditar nisso Belinda. Eu não vou aceitar que você se case com aquele cara!”

Mikael gritou segurando o meu pulso com possessividade.

"Você não tem que aceitar nada. Eu vou me casar com ele porque nós nos amamos.”

Retruquei como se possuísse a verdade em meus pulmões. Se naquela época eu soubesse como o meu casamento terminaria, eu não teria dito aquelas palavras. A minha versão do futuro teria uma longa conversa com a Belinda do passado.

Debaixo da chuva ao lado do depósito nós permanecemos em silêncio. Naquela época eu já desconfiava, mas sempre ignorei os sentimentos de Mikael por mim. No fundo eu achava que ele estava confuso, nós éramos jovens e eu não queria perder o meu melhor amigo ao me aventurar em um romance.

“Eu amo você Belinda.”

Essa frase sentenciou a nossa amizade.

Eu fiquei em silêncio, então Mikael continuou.

“Eu amo você, eu amo há muito tempo. Não acredite nas palavras mentirosas daquele oportunista. Em breve farei dezoito anos e posso lhe dar o futuro Belinda! Só me dê mais um tempo, até eu ter o controle das finanças da família.”

Naquele momento eu desejei que uma fenda fosse aberta debaixo dos meus pés para que eu não machucasse o seu coração. Entretanto, isso não aconteceu e eu deveria ser firme pois eu o amava, mas não como homem.

“Eu não amo você Mikael… não dessa maneira.”

Durante toda a minha vida eu nunca havia um homem chorar, não como Mikael chorou naquele momento. Soltando os meus pulsos ele desabou sobre os joelhos.

O seu choro foi desolador. Eu me abracei, de cabeça baixa enquanto ele soluçava entre as gotículas da chuva. Nós dois permanecemos em silêncio por um longo tempo, até que o fôlego acabou e os nossos corações partiram. Cada um a sua maneira.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo