A chuva começou meia hora depois que Sam foi embora, e eu apenas me sentei na cama, com as costas apoiadas contra os travesseiros, e fiquei ouvindo seu som.
As memórias do que havíamos feito pipocaram na minha mente o tempo todo. Sua pele, seu cheiro, nós dois juntos em sincronia. Sua boca brincando com a minha tão perfeitamente que nem parecia que era a primeira vez que tinha acontecido.
E meu corpo reagia a cada pensamento, me pedindo mais. Mais de Sam.
O que era aquilo? Por que eu estava me sentindo assim, agora? Por que eu o tinha desejado tanto? Por que eu o queria naquele momento mais do que qualque
Quando acordei, minha cabeça balançava de um lado para o outro contra o banco traseiro de um carro. Estava mole, sonolenta, e não fazia ideia de como tinha ido parar ali dentro. - Ah, você acordou. – a voz parecia vir de muito longe. Pisquei meus olhos algumas vezes para conseguir focar, aos poucos, nos olhos do retrovisor. - Muriel? – me remexi, desconfortável. - Não, querida. – ele rebateu.&nb
Sam Passei as pernas pela janela de Sarah e comecei a andar sem olhar para trás. Como é que ela podia estar lá, falando com aquele imbecil, depois do que tinha acontecido entre nós dois? Nossa, eu estava completamente sem palavras. Tinha ido até sua casa na esperança de reatar nossa amizade, para que voltasse a ser como sempre tinha sido. Se eu não podia ter Sarah como realmente queria, eu só esperava não a perder totalmente também. Mas ela tinha me beijado. A iniciativa tinha vindo dela, completamente dela. 
- Vamos tornar as coisas mais fáceis, Sarah. – Marcos falou, me puxando outra vez para perto. - Nunca. – retruquei sentindo um dos meus olhos inchando. Eu lutei. Nossa, como eu lutei. Eu chutei e mexi os braços o quanto consegui mesmo estando amarrada, e o acertei algumas vezes. E suportei quando ele revidou, sem chorar, apenas movida pela necessidade de me proteger. Também gritei muito, mesmo que ninguém pudesse me ouvir. Um grito que vinha das profundidades da minha alma, que me fazia encontrar forças quando eu já estava ficando exausta.&nbs
Sam Garanti à Sarah que cuidariam bem dela na ambulância, com a expressão mais confiante que consegui reproduzir, e depois precisei me afastar porque estava prestes a desmoronar e não queria que ela visse. Fui até o carro e me sentei no chão, tomando o cuidado para ficar bem escondido da ambulância, e então comecei a chorar. Estava me doendo profundamente ver o estado em que ela estava, machucada, inchada, a roupa toda rasgada... - Sam? – não escutei os passos dele chegando, mas quando ergui os olhos, estava bem na minha frente. 
Estar sentada no carro ao lado de Sam quase me fazia lembrar dos velhos tempos, de como eu costumava ser. Naquele momento parecia que eu jamais seria a mesma pessoa, como se tivesse sido quebrada e não houvesse conserto para as pequenas partes espatifadas. Eu podia observar pelo canto do olho o quanto Sam me olhava, mas não queria corresponder. Não enquanto Muriel estivesse no banco de trás, ansioso para conversar comigo. Minha mente ainda estava muito confusa quando o carro estacionou na frente da minha casa. Sei que haviam pessoas, carros estacionados e muita gente tentando me alcançar ao mesmo tempo, mas eu estava ficando cada vez mais inacessível a cada segundo que passava.&nb
- Não sei se isso é uma boa ideia, Sarah. – Juliana cruzou os braços no peito, ainda sem me deixar passar pela porta. Permaneci parada na sua frente, segurando minha mala com as duas mãos, e senti que não conseguiria juntar forças para convencê-la de que eu precisava ficar ali. - Me deixa entrar pelo menos. – insisti. - Posso ver seus hematomas. – seus olhos me varreram sem disfarçar. Abaixei os olhos. Não queria realmente contar o que tinha acontecido, mas talvez f
Juliana e eu havíamos sido colegas na escola por um longo tempo. Não éramos totalmente próximas, mas ficávamos juntas em todas as aulas e conversávamos com bastante intimidade. Fora do ambiente escolar éramos meras conhecidas, educadas quando esbarrávamos nas ruas, mas nada além disso. Nunca saímos juntas para fazer nada, nem visitamos a casa uma da outra sem que fosse para fazer algum trabalho escolar. Ter seu endereço tinha sido apenas sorte. Juliana saiu de casa logo após o fim da escola para ser fotógrafa, seu grande e comentado sonho, e, por caus
Sam Um ano. Um maldito ano do dia que encontrei Sarah naquela cabana, machucada e chorando. A última vez que a vi, que senti seu toque e ouvi o som de sua voz. Um ano. Assim que abri os olhos, girei a cabeça para olhar para o chão, quase na esperança de que tudo não tinha passado de um sonho e eu a veria ali, dormindo tranquilamente. Claro que não havia nem mesmo um colchão ao lado da minha cama.&nbs