As luzes brilhando estavam me incomodando profundamente, bem como a música excessivamente alta naquela casa imensa e desconhecida.
O que, diabos, eu estava fazendo naquele lugar? Por que eu tinha que ter cedido as suplicas de Sam? Eu nunca mais ia cair nas lamentações dele na minha vida!
Percebi um movimento ao meu lado, um garoto movendo os lábios, mas eu não conseguia ouvir uma única palavra por causa daquele som insuportável. Olhei para ele com a testa franzida, e ele riu abertamente.
- Oi? – ele se inclinou para falar diretamente no meu ouvido.
- Essa música é ridiculamente alta. – justifiquei aos berros.
- Meu nome é Muriel. – ele falou no meu ouvido novamente.
- Sarah. – eu iria ficar com dor de garganta, certeza.
Ele riu outra vez, e comecei a ficar ainda mais irritada.
- Vamos lá para fora. – não era um pedido.
Cruzei os braços, então ele voltou e se inclinou uma última vez.
- Por favor?
Bom, já que agora estava sendo educado...
Segui o estranho até o lado de fora, que era uma espécie de jardim repleto de árvores. Haviam casais por todos os lados, sob todas as sombras possíveis.
- Melhor, Sarah? – Muriel perguntou.
Olhei para ele com atenção pela primeira vez. Seus cabelos eram castanhos, cortados bem curtos, e os olhos castanhos eram brilhantes e animados. Estava vestido com uma camiseta branca e uma calça escura, ambas lisas.
- Muito. – respondi, aliviada por não precisar gritar.
- Se odeia tanto som alto, o que está fazendo aqui?
- Meu amigo me arrastou. – tentei conter uma expressão contrariada, mas não tenho certeza se deu certo – Particularmente odeio essas festas, essas casas luxuosas e essas pessoas ricas e sem medo de consequências. – as palavras saíram antes que eu pensasse direito.
Muriel pareceu perplexo por um momento.
- Ah... – murmurou instantes depois – Fico feliz em ter sua opinião. Vou pensar nisso antes de organizar qualquer outro evento do tipo.
Fiquei completamente parada, com a mente em branco, enquanto ele me dava as costas e se afastava em direção ao interior da festa.
O que tinha de errado comigo? Como eu pude dizer essas coisas para um completo estranho? Nunca senti tanta vergonha em toda a minha vida!
Rapidamente segui para onde ele tinha ido. Eu precisava pedir desculpas por ter sido tão grosseira, depois eu procuraria Sam, gritaria com ele por me enfiar naquela situação e iria embora. E nunca, jamais, eu entraria em outra festa como essa.
Felizmente não precisei procurar muito. Logo o avistei, de costas, conversando animadamente com um grupo de pessoas. A parte boa é que não parecia muito chateado comigo, já que estava sorrindo e sem nenhum traço de irritação no rosto.
Cutuquei seu ombro com o dedo, o que não parecia uma boa abordagem, mas surtiu efeito. Ele se virou para mim, procurando quem o interrompia, enquanto todas as outras pessoas também me observavam.
- É... – comecei, insegura com tantas pessoas olhando na minha direção.
Muriel sorriu, depois colocou a mão na minha nuca e juntou os lábios nos meus sem pestanejar enquanto seus amigos davam gritinhos e risadas. Arquejei de surpresa, e dei um passo para trás, atrapalhando nossos corpos, e um copo, que eu não tinha notado, derramou todo seu conteúdo na minha camiseta.
- Droga! – ele exclamou – Vem cá...
Fui arrastada pela mão até um banheiro grande, onde havia um casal que não pareceu se importar com a nossa aparição.
- Arruinei sua roupa... – ele olhou sugestivamente na minha direção.
- Sarah. – falei, incrédula que já tivesse esquecido – Acabei de te dizer isso, Muriel. – reclamei, incapaz de me conter. Eu não era grande coisa, mas ser esquecida assim era um pouco ultrajante.
- Certo... – ele respondeu baixo depois de um instante – Sarah.
Repentinamente fui puxada para o alto pela cintura e colocada sentada na pia. Sem dizer mais nada, ele investiu contra mim outra vez, tentando me beijar.
- O que é isso? – afastei meu rosto.
- O quê? – ele abriu os olhos.
- Olha, eu só vim pedir desculpas pelo meu comentário. – apoiei as mãos no seu peito – Não para isso...
- Ahn... – ele me observou por um instante – Pedido aceito. Agora podemos continuar?
- Não! – aquilo era sério?
Desci de cima da pia enquanto ele me observava com uma expressão indecifrável.
- Bom, tchau. – falei enquanto me desvencilhava do seu corpo.
Voltei mais uma vez para a confusão de pessoas e, abençoada seja a única sorte do dia, encontrei Sam com facilidade. Ele estava dançando com um grupo de pessoas que o olhavam meio torto, sem notar nada.
Sam sendo Sam.
- Ei. – o peguei pelo braço.
- Que isso, Sarah! – ele deu um pulo de susto.
- Vamos embora. – decretei – Já chega.
- Ah, Sarah! – ele ergueu o copo, derramando o conteúdo em uma garota que o olhou como se pudesse matá-lo ali mesmo – Mas está tão ótimo!
- Que seja. – dei as costas e sai andando em direção a porta da frente.
Se Sam queria ficar naquela loucura, que ficasse. Para mim já estava bom por aquela noite. Eu já tinha sido idiota com um cara que tinha sido legal comigo e depois o tal cara agiu de um modo completamente confuso. Ele me beijou! Do nada!
- Gostei da camiseta. – Sam me alcançou e comentou sarcasticamente.
- O quê? – automaticamente olhei para baixo e percebi que estava transparente.
Eu tinha esquecido completamente de que tinha caído bebida na minha camiseta branca. Agora dava para ver todo meu sutiã.
- Mas que ótimo. – cruzei os braços com força no peito.
Abri os olhos, repentinamente desperta, e encarei o teto do quarto. A noite passada parecia um sonho distante e confuso. Mais uma vez jurei que jamais voltaria para uma festa daquele tipo em toda a minha vida. Me sentei, ainda me sentindo um pouco mau humorada, e observei Sam dormindo no colchão no chão, de boca aberta e barriga para baixo. Como é que aquele babaca sempre me convencia a ir naqueles locais que eu odiava? Taquei um travesseiro na cara dele com força. - O quê? – ele gritou, desperto e assustado.&n
- Você vai aceitar sair com ele? – Sam perguntou, deitado na minha cama e com as pernas para o alto, apoiadas na parede. - Não sei. – respondi abrindo meu guarda roupa e observando minhas roupas – Acha que eu devo? - Não sei. Ele era atraente? – ele começou a jogar uma bola de tênis contra a parede. - Para dizer a verdade, era sim. – respondi pensando em seus olhos escuros, na maciez dos lábios. Sam se sentou e me observou empurrar os cabides de um lado para o outro mecanica
- Pensei que estava num encontro. – Sam abriu a porta da casa usando apenas uma calça de moletom. - Está acompanhado? – perguntei olhando através dele. - Não, mas você não deveria? – insistiu. - Sei lá. – respondi passando por baixo do seu braço. - O que aconteceu? – Sam me seguiu, muito sério e preocupado – O que ele fez? Me joguei no sofá da
Enquanto eu estava suada, ajeitando algumas caixas que estavam fora do lugar nos meus últimos dez minutos, meu celular apitou. Retirei ele do bolso e constatei que Muriel havia me mandando uma mensagem. “Oi. Como você está?” Sério? Só isso? Revirei os olhos e terminei o que estava fazendo. “Só queria dizer que adorei nosso encontro ontem.” Sentei numa cadeira e fiquei encarando a tela. Será que eu deveria responder?&n
O dia seguinte passou incrivelmente devagar, mas sem clientes excessivamente chatos para acabar com clima do trabalho. Eu estava ansiosa por saber que encontraria Muriel, e minha mente teimava em se afastar da realidade o tempo todo. Onde iriamos? Será que dessa vez acabaria sem um clima estranho? Passaríamos mais tempo nos beijando do que da outra vez? Isso me dava um frio na barriga... Quando finalmente fui para casa, gastei um bom tempo no banho e depois ajeitando o cabelo e a roupa e, quando finalmente fiquei pronta, meus pais estavam sentados na sala apenas esperando que eu aparecesse. - Você está linda, quer
- Acho que ele está jogando com você. – Sam disse depois que acabei de contar tudo que tinha acontecido. - Jogando como? E por quê? – insisti, deitada ao seu lado. - Sei lá, Sarah. Alguns caras são muito babacas. – seu tom era levemente hostil – Ele queria... você sabe, algo mais. - Sim. E eu disse não e ele parou. – concordei. - Isso não é nada além do mínimo, você sabe. – ele virou o ro
Sam apareceu apenas na quinta à noite, enquanto eu estava arrumando meu quarto bagunçado. - Resolveu aparecer? – perguntei, irritada, assim que ele passou pela porta. - Você não quer realmente brigar comigo, quer? – ele retrucou numa voz cansada. - Não. – me virei para olhá-lo – O que foi? - Nada. – negou rapidamente – Só cansaço. Andei até onde ele e
Assim que Muriel me deixou em casa, decidi ir até a casa de Sam, sem nem mesmo entrar na minha. Era um pouco tarde, mas como não havia trabalho ou faculdade no dia seguinte, não teria problema. Acelerei o passo nas ruas escuras e logo cheguei ao meu destino, sem cruzar com nenhuma outra pessoa durante todo o caminho, e só então percebi que não poderia simplesmente bater porque acordaria os pais dele. “Sam, estou na sua porta.” – enviei. “Sam, por favor.” – mandei dois minutos depois.&n