- Você vai aceitar sair com ele? – Sam perguntou, deitado na minha cama e com as pernas para o alto, apoiadas na parede.
- Não sei. – respondi abrindo meu guarda roupa e observando minhas roupas – Acha que eu devo?
- Não sei. Ele era atraente? – ele começou a jogar uma bola de tênis contra a parede.
- Para dizer a verdade, era sim. – respondi pensando em seus olhos escuros, na maciez dos lábios.
Sam se sentou e me observou empurrar os cabides de um lado para o outro mecanicamente.
- Talvez você deva, então. – deu de ombros.
- Acha mesmo? – me afastei do guarda roupa e sentei de frente para ele, no tapete felpudo e macio.
- Sarah, você não tem muito encontros. Na verdade, acho que não tem um há anos. – ele sorriu, batendo a bola de encontro ao chão.
- Você também não sai muito. – retruquei abraçando os joelhos.
- Não, mas tive mais do que você.
- Nunca namorou. – provoquei.
- Tive vários encontros, e deixei as partes físicas deles de fora. – ele apoiou a bola na cama e me olhou.
- Deixou? – questionei erguendo uma sobrancelha, nós não guardávamos segredos um do outro.
- Claro que sim. – ele riu.
- Está me dizendo agora que tem segredos de mim? – reclamei, esticando o pé para chutar sua canela de leve.
- Não é segredo! – ele escorregou da cama para o chão – É só que é muito íntimo e não era só sobre mim, né?
Pensei sobre aquilo por um instante. Sam era como um irmão para mim, era estranho imaginar que algumas garotas poderiam achá-lo atraente. Não que eu não o achasse bonito... Sam tinha belos olhos verdes, um cabelo castanho claro meio bagunçado, um sorriso que era mesmo encantador e era muito gentil, com todo mundo, sempre. Exceto quando agia estranho naquelas festas idiotas...
- Alguma garota já dormiu no seu quarto? – perguntei de repente, com imagens surgindo na minha cabeça. Eu nunca tinha imaginado Sam daquela forma.
- Já. – ele respondeu me encarando de forma curiosa – Está com ciúmes? – sorriu sarcasticamente.
Joguei uma almofada nele, errando completamente.
- Claro que não. – respondi sorrindo – É só que eu não imaginava você assim...
- Assim como? – franziu a testa.
- É, bem... eu... – gaguejei, sem graça.
- Sarah! – ele gargalhou, jogando a cabeça – Você não achava seriamente que eu era virgem, não é?
Meu rosto esquentou de uma forma que tive certeza que estava completamente vermelha. Fiquei em pé num instante, tropeçando no tapete.
- Ei. – Sam me amparou antes que eu desabasse – Não fique sem graça. – ele segurou a minha mão delicadamente.
- Está tudo bem, Sam. – me virei para o outro lado.
Voltei ao guarda-roupa e enfiei a cabeça lá dentro, vasculhando as roupas sem mesmo vê-las. Eu adoraria não ter entrado nesse assunto.
- Sarah. – Sam apoiou o quadril ao lado do guarda-roupa – Eu não queria te chatear, nem nada do tipo.
- Não estou chateada. – respondi sem olhá-lo – Só fiquei um pouco envergonhada.
- Não precisa...
Finalmente, quando meu rosto tinha voltado para a temperatura normal, tirei a cabeça de dentro do guarda-roupa e olhei para ele. Sam estava me encarando com gentileza, já sem nenhum traço da ironia.
- Desculpa ter envergonhado você. – pediu com sinceridade.
- Já passou. – garanti.
- Essa parte de amizade entre garoto e garota não é tão simples, não é? – ele sorriu – Nós nunca entramos exatamente nesses detalhes.
- Bom, da minha parte foi porque não havia muito o que dizer. – me afastei, voltando para a posição no tapete.
- Sério? – Sam se sentou ao meu lado, parecendo realmente surpreso.
- Sério. – confirmei olhando em seus olhos.
- Mesmo com seus dois namorados?
- Sério. – repeti enfaticamente.
O silêncio caiu entre nós.
Eu não era exatamente, completamente, totalmente inexperiente, mas não tinha ido também exatamente, completamente e totalmente ao fim da coisa toda. E tinha acabado de constatar que, ridiculamente, eu tinha suposto o tempo todo que era assim também para Sam.
De repente meu celular apitou e estiquei o braço para pegá-lo em cima da escrivaninha. Era uma mensagem de texto de um número estranho, mas eu já podia imaginar quem seria.
“Oi. Será que agora está disposta a aceitar minha proposta? Posso buscar você.”
- Ele nem mesmo precisa dizer quem é... – comentei.
- Vai sair com ele? – Sam perguntou.
Olhei para ele por um instante, enquanto ele também me observava, esperando por uma resposta.
- Que mal teria, não é? – dei de ombros.
- Pois é. – concordou.
“Sim, estou disposta.” Acrescentei meu endereço.
- Bom, talvez você queira se arrumar. – Sam se levantou e esticou os braços acima da cabeça – Melhor eu ir para casa.
Fiquei em pé também. Subitamente tinha ficado nervosa com o encontro.
“Passo aí as 19h”.
- Tem certeza que não quer ficar? – perguntei guardando o celular no bolso.
- Tenho uma casa inteira para mim. – respondeu andando até a porta do quarto.
Acompanhei meu amigo até a porta da casa, como sempre fazíamos.
- Tome cuidado, ok? – ele me abraçou como despedida.
- Mas você disse que achava que eu deveria ir. – retruquei, ficando ainda mais nervosa.
- Ah, eu acho. – ele se afastou e tocou a ponta do meu nariz com o dedo por um instante – Mas ele é um homem, e eu não coloco a mão no fogo.
Não pude deixar de sorrir enquanto Sam se afastava. Ele sempre se preocupava comigo de um modo que não me sufocava e deixava claro que eu podia contar com sua amizade para qualquer coisa.
A próxima hora foi destinada à minha preparação. Eu não era muito vaidosa, não usava quilos de maquiagem ou saltos muito altos, mas ainda tinha meus momentos de tensão sempre que ia me encontrar com alguém.
Acabei optando por uma calça jeans e uma blusa justa de mangas compridas, e conclui, me olhando no espelho, que eu estava confortável e bonita ao mesmo tempo. Estava mais do que ótimo.
- Vai sair? – meu pai perguntou quando me viu aparecendo na sala minutos depois.
- Sim. – respondi com simplicidade.
- Tome cuidado. – alertou sem me olhar novamente, folheando as páginas de um livro.
Sempre tive liberdade em casa e, depois de uma certa idade, meus pais não tentavam realmente saber quem eram as pessoas com quem eu saia. Eu nunca tinha feito nada de errado, era muito caseira inclusive, então eles confiavam em mim e na minha capacidade de fazer boas escolhas.
Sai ao mesmo tempo que um carro preto estacionava na minha porta. Eu não entendia nada de carro, mas aquele realmente parecia um modelo muito caro. Muriel devia realmente ter bastante dinheiro.
- Oi. – ele abriu a janela do passageiro – Aí está você.
- Oi. – respondi, ainda um pouco tímida.
- Entre. – ele sorriu abertamente.
Abri a porta e me acomodei no banco do passageiro. Todo o ambiente estava cheirando um perfume masculino muito bom.
- Posso te levar para um lugar surpresa? – Muriel estava muito mais confiante do que mais cedo na sorveteria.
- Ahn... acho que sim. – respondi sem ter muita certeza.
- Não se preocupe. – ele disse, percebendo meu desconforto – Não é nada deserto ou afastado.
- Certo. – respondi com um pouco mais de animação.
Seguimos por algumas ruas em silêncio. Finalmente eu estava começando a relaxar, decidida a aproveitar a noite da melhor forma que fosse possível. Eu merecia ter uma noite legal, afinal!
- Quantos anos tem, Sarah? – Muriel perguntou me olhando de relance.
- Vinte. – respondi observando a forma que suas mãos ficavam no volante – E você? – acrescentei um minuto depois.
- Vinte e três.
- Legal. – falei apenas por não saber como dar andamento ao assunto.
No fim, ele parou em frente há um restaurante que ficava ao lado de um lago. Era um lugar bonito, com uma parede de vidro virada para o lago e mesas elegantes decoradas com flores.
Fomos guiadas até uma mesa para duas pessoas e sentamos um de frente para o outro. Do meu lado direito eu conseguia ver as águas do lago se movendo suavemente sob a luz do luar, o que era uma paisagem bem romântica para um encontro.
O jantar aconteceu de forma tranquila, com pouca conversa, mas acabei relaxando até estar realmente confortável em apenas comer. Depois disso, Muriel pagou a conta sem me deixar ver o quanto tinha gasto e me guiou até o lago.
- Podemos dar uma volta por aqui? – perguntou sem me olhar.
- Podemos. – concordei.
Começamos a contornar o lago lentamente, com uma distância considerável entre nossos corpos. Algumas pessoas cruzaram conosco, a maioria casais de mãos dadas, mas ainda assim alguns grupos de amigos animados com as últimas horas do fim de semana.
- Posso chegar mais perto? – Muriel quebrou o silêncio de repente, me arrancando dos meus pensamentos.
- Pode. – concordei sentindo meu coração acelerando.
Ele parou completamente de andar e encostou as costas na grade que circulava todo o lago. Sem saber bem o que deveria fazer, parei na frente dele e cruzei os braços, que começaram a parecer longos e desajeitados.
- Vem aqui. – me pediu com um sorriso, entendendo a mão e tocando meu braço.
Obedeci, um pouco inebriada pela sua imagem ali, com as luzes mais amareladas e o lago por trás. Quase parecia a cena de um filme romântico.
Muriel me abraçou, subindo uma das mãos pelas minhas costas e encaixando-a na nuca. Senti o calor de sua pele arrepiar meu corpo enquanto nossos olhos se prendiam um ao outro. Cheguei ainda mais perto, colando nossos corpos e fechei os olhos.
O beijo foi muito mais suave do que na noite anterior, mais delicado e profundo, sem pressa para chegar ao fim. E quando terminou, ele me deu uma sequencias de beijos suaves e rápidos antes de se afastar realmente.
- Melhor irmos embora. – Muriel virou o rosto, como se tivesse se lembrado de alguma coisa naquele instante.
- Tudo bem. – concordei, sentindo que o clima havia sido quebrado por algum motivo que eu não conseguia perceber.
Voltamos para o carro lado a lado, novamente um pouco distantes. Me senti estranha porque imaginei que ele iria segurar a mão depois de ter me beijado daquele jeito, mas Muriel enfiou as mãos nos bolsos e quase não parecia notar minha presença.
Todo o caminho até minha casa foi no mais absoluto silêncio, que agora me parecia pesado e desconfortável. Procurei algo na minha mente que pudesse quebrar todo aquele gelo, mas não consegui nada e quando me dei conta, o carro estava parando na frente da minha casa.
- Foi uma ótima noite. – Muriel disse olhando para a frente.
- Foi. – concordei um pouco confusa – Boa noite? – saiu mais como uma pergunta do que como uma despedida.
- Boa noite. – ele virou o rosto para mim sem tirar as mãos e sorriu levemente.
- Certo. – finalmente uma onda de irritação percorreu meu corpo e abri a porta do carro com um pouco mais de firmeza do que esperava.
Bati a porta sem me preocupar em olhar para trás, e comecei a marchar em direção à minha casa. Que coisa mais ridícula. Talvez eu nem devesse ter aceitado sair com esse cara.
- Sarah. – escutei os passos dele atrás de mim.
- O que foi? – perguntei agressivamente, me virando.
Sem dizer nada, ele me beijou outra vez, envolvendo meu rosto com as mãos.
- Muriel! – exclamei me afastando, surpresa.
- Isso sim foi um boa noite. – sorriu, correndo de volta para o carro.
- Pensei que estava num encontro. – Sam abriu a porta da casa usando apenas uma calça de moletom. - Está acompanhado? – perguntei olhando através dele. - Não, mas você não deveria? – insistiu. - Sei lá. – respondi passando por baixo do seu braço. - O que aconteceu? – Sam me seguiu, muito sério e preocupado – O que ele fez? Me joguei no sofá da
Enquanto eu estava suada, ajeitando algumas caixas que estavam fora do lugar nos meus últimos dez minutos, meu celular apitou. Retirei ele do bolso e constatei que Muriel havia me mandando uma mensagem. “Oi. Como você está?” Sério? Só isso? Revirei os olhos e terminei o que estava fazendo. “Só queria dizer que adorei nosso encontro ontem.” Sentei numa cadeira e fiquei encarando a tela. Será que eu deveria responder?&n
O dia seguinte passou incrivelmente devagar, mas sem clientes excessivamente chatos para acabar com clima do trabalho. Eu estava ansiosa por saber que encontraria Muriel, e minha mente teimava em se afastar da realidade o tempo todo. Onde iriamos? Será que dessa vez acabaria sem um clima estranho? Passaríamos mais tempo nos beijando do que da outra vez? Isso me dava um frio na barriga... Quando finalmente fui para casa, gastei um bom tempo no banho e depois ajeitando o cabelo e a roupa e, quando finalmente fiquei pronta, meus pais estavam sentados na sala apenas esperando que eu aparecesse. - Você está linda, quer
- Acho que ele está jogando com você. – Sam disse depois que acabei de contar tudo que tinha acontecido. - Jogando como? E por quê? – insisti, deitada ao seu lado. - Sei lá, Sarah. Alguns caras são muito babacas. – seu tom era levemente hostil – Ele queria... você sabe, algo mais. - Sim. E eu disse não e ele parou. – concordei. - Isso não é nada além do mínimo, você sabe. – ele virou o ro
Sam apareceu apenas na quinta à noite, enquanto eu estava arrumando meu quarto bagunçado. - Resolveu aparecer? – perguntei, irritada, assim que ele passou pela porta. - Você não quer realmente brigar comigo, quer? – ele retrucou numa voz cansada. - Não. – me virei para olhá-lo – O que foi? - Nada. – negou rapidamente – Só cansaço. Andei até onde ele e
Assim que Muriel me deixou em casa, decidi ir até a casa de Sam, sem nem mesmo entrar na minha. Era um pouco tarde, mas como não havia trabalho ou faculdade no dia seguinte, não teria problema. Acelerei o passo nas ruas escuras e logo cheguei ao meu destino, sem cruzar com nenhuma outra pessoa durante todo o caminho, e só então percebi que não poderia simplesmente bater porque acordaria os pais dele. “Sam, estou na sua porta.” – enviei. “Sam, por favor.” – mandei dois minutos depois.&n
- Sarah? – escutei Sam me chamando, mas estava tão confortável que apenas afundei um pouco no colchão – Sarah? – ele insistiu tocando meu ombro. - O que é? – rolei para ficar de barriga para cima, mas cobri o rosto com o braço. O colchão se moveu e senti o corpo dele ao lado do meu. - Acorda. – falou no meu ouvido. - Já acordei. – reclamei – Mas é sábado e eu queria dormir até mais tarde.&n
Muriel estava impecável quando entrei no carro, e seu sorriso era encantador. - Oi. – cumprimentei me acomodando no banco. - Oi. – ele se inclinou e me beijou profundamente. Assim que ele se afastou para dirigir, conferi se havia alguém nos espiando da minha casa. Não captei nenhum movimento, mas isso não garantia nada. - Onde estamos indo? – perguntei decidida a não me preocupar. - É uma