CAPÍTULO 03

[KILLIAN WHITE]

Entramos na sala, onde nosso pai já estava esperando, sentado em sua cadeira.

— Até que enfim. —papai diz, enquanto sentamos na cadeira, e esperamos o sermão.

Quanto antes viesse, mais rápido terminaria.

Ele nos encarou por um tempo.

— Sabe, vocês cresceram tão rápido. —e então começou. — Ainda me lembro de vocês correndo por esse prédio, deixando todos de cabelos em pé com suas traquinagens.

Ele comenta, colocando sobre a mesa a foto da nossa família. Onde eu e meu irmão segurávamos o certificado de conclusão do curso de treinamento de guarda-costas, cursado na International Security School, na Rússia. Uma academia que era considerada a melhor do mundo.

— Eu tinha vontade de deixar vocês presos em alguma sala daqui, só para darem paz aos funcionários. —da um meio sorriso. — Mas nunca fiz isso.

Ele finalmente ergue o olhar para mim.

— Depois de se tornar um dos meus melhores homens, o mínimo que eu esperava era compromisso, Killian.

— Eu tive motivos para...

— Bater a porra do convidado de um Russo? —ele gritou repentinamente, ficando de pé. O corpo musculoso se manteve ereto. — Você perdeu a cabeça de vez, menino?

Fechei os punhos com força, até sentir os nós dos dedos formigarem. Ele não fazia ideia da merda que presenciei naquele lugar.

— Eu jamais ficaria quieto vendo uma mulher apanhar! —finalmente disse.

— Me diga, você ao menos pensou em quais consequências teríamos?

— Sinto muito, pai. Mas meu único arrependimento foi não ter matado o desgraçado.

— Killian. —meu pai me repreende.

— Porra, Killian. Explique a ele a situação. —Ethan diz ao meu lado.

— Você expôs a qualidade dos serviços prestados pela White Security, então acho bom você me dizer que merda aconteceu.

Meu pai deu duro por essa empresa e capacitou seus dois filhos para serem os maiores exemplos do lugar. Entendia por que ele estava tão chateado.

Compromisso, retidão, imparcialidade e discrição sempre foram as palavras-chaves que moviam a White Security. E eu tinha quebrado ao menos duas delas em minha última missão, e precisava assumir as consequências.

Quando recebi a designação de proteger o Russo em uma festa na própria mansão do VIP, eu sabia com o que teria de lidar. Sempre sabemos.

Pessoas arrogantes, ricos, esnobes e totalmente sem noção. Até aí tudo normal...

— O evento começou bem. —comecei. — E como eu previ, várias pessoas se embriagaram durante a festa e eu precisei escoltar o Russo até seu quarto.

À medida que fui relembrando o que aconteceu, minha mão começou a tremer, e comecei a encarar um ponto fixo no chão à minha frente.

— Fiquei na porta daquele homem um bom tempo para garantir que ninguém entraria por lá. Quando a madrugada ficou silenciosa, eu comecei a ouvir alguns sons estranhos.

— Sons? — Walter pergunta. E eu assinto.

— Ouvi um barulho no último quarto do corredor, então segui até lá e vi uma mulher sendo espancada. Ela estava pedindo por socorro, mas sua voz estava baixa, pois estava quase desmaiada por conta das agressões.

Trinquei o maxilar. Raiva voltando para mim novamente, só por lembrar da cena.

— Porra! —Ethan xinga baixinho. Ele estava na festa, mas estava fazendo a outra parte da segurança, então não sabia de toda a história.

O sofrimento através do olhar, as marcas no rosto da garota. Tudo voltou à tona como se eu ainda pudesse vê-la bem diante dos meus olhos.

— Ela era uma acompanhante de luxo, mas não fazia programa. Foi contratada para acompanhá-lo na festa e ir embora logo em seguida, mas ele a levou para o andar de cima e quis mudar o acordo do contrato. Ela não aceitou e ele a espancou.

Respiro fundo, e olho nos olhos do meu pai.

— Se eu não tivesse chegado a tempo, sabem muito bem como as coisas terminariam. —relaxo na cadeira, tendo a certeza que agi de forma correta. — Então, não... eu não podia ter ficado quieto diante da merda que eu vi.

Meu pai leva a mão aos lábios, em um silêncio, pensativo.

O Russo, nosso VIP, entendeu que aquela situação poderia ser prejudicial para seus planos com os investidores que o visitariam no dia seguinte, então eu saí de lá com apenas uma acusação de agressão.

Meu pai bateu as pontas dos dedos na mesa de mogno.

— Entendo por qual motivo fez isso, entendo mesmo. E a pobre garota, com certeza nunca se esquecerá do que fez por ela.

— Mas? —pergunto. Já sabendo que meu pai não vai deixar que eu saia dessa assim tão fácil.

— Mas sabe que não posso permitir que passe ileso por essa situação. Independentemente do que viu, você permitiu que seus instintos agressivos dominassem suas atitudes. Você sabia qual era o certo a fazer.

— Prender o homem e levá-lo às autoridades. Talvez bater a cara dele numa pilastra pelo caminho, mas...

— Ethan! —meu pai esbraveja, o que faz Ethan saltar no mesmo lugar.

— Calma, pai. Só estou brincando. —sorriu, inocente. E Walter o ignora.

— Precisa controlar sua animosidade, Killian. —passou as mãos pelos cabelos e se levantou.— E eu já sei como.

Permaneço em silêncio. Só esperando a decisão dele.

— Vou tirá-lo dos casos mais intensos, por enquanto..

— O quê? Tenho três casos já assinados. Não posso abandoná-los.

— Ethan ficará com eles.

— Pai, eu sei cuidar dos meus casos. Aquilo foi um caso isolado. — tento, mas ele dá de ombros.

— Já está decidido. Além do mais, tenho uma missão para você. E você só vai voltar para os seus VIPS depois que cuidar desse caso.

— Que caso? —surpreso, pergunto.

— Ihh... já sei que você não vai gostar nada disso. — Ethan diz sorrindo.

O desgraçado estava achando graça.

— Hoje de manhã, antes de vocês chegarem aqui, um homem importante da Bratva apareceu me pedindo por um favor. —começa — E como achei que seria ótimo para nossos negócios ter alguém de la nos devendo um favor, eu aceitei.

— Hmm. E o que seria? —pergunto.

— Ele precisa de um guardas-costas para sua filha...

Mas que porra...?

— Você só pode estar de brincadeira? —bato as mãos na mesa.

— Killian. —Walter me repreende. Mas eu o ignoro, furioso de mais por ele estar pensando em me colocar como babá de alguém.

— Não! Nem pensar. Por acaso eu tenho cara de babá de patricinha?

Ethan ri. E meu pai olha para ele com repreensão.

Escuta, filho, ele me pediu o melhor e no momento, você afastado dos VIPS, está disponível.

— Leve como um elogio, irmão. Você é o melhor. —Ethan provoca, e eu respondo:

— Cala boca, idiota.

— Killian, eu sei...

— Qualquer coisa, menos isso. Não vou fazer essa merda. Não mesmo.

— Vai ser bom para nós esse favor que faremos para o Russel. Teremos um homem importante devendo um favor a nós.

— A custo da minha desgraça?

— Ela é bonita? Posso fazer... —meu irmão começa, mas logo é cortado.

— Fique quieto ou eu vou te dar a missão para tomar conta de um bebê.

— Porra! Ficarei caladinho. —ele se acomoda na cadeira.

— Não há nada que eu possa fazer para me livrar disso, não é? —pergunto.

Sedi contra minha vontade, e me sentei de novo. Eu sábia que meu pai não voltaria atrás na sua decisão.

— Escute, ao que tudo indica, uma ameaça do passado está de volta, e mandou várias ameaças para o Russel. — ele coloca uma pasta em cima da mesa. — Ele está preocupado com a segurança da sua filha.

— Quantos anos ela tem? —pergunto, pedindo a Deus que não fosse nenhuma adolescente. Preferiria até uma criança do que uma adolescente mimada.

— Dezenove anos. Única herdeira. Pelo que ele disse, sua mulher foi morta quando a menina ainda tinha nove anos. E eles desconfiam que seja a mesma pessoa que está enviando as ameaças. E parece que a menina não gosta das proteções excessivas, e está acostumada a escapar dos guardas-costas.

Em que bela merda eu me meti?

— Foi por isso que ele nos procurou. A menina é esperta, enganou dois homens ontem a noite, e mais meia dúzia dos que ele contratou.

— Precisamos admitir que a garota é inteligente mesmo, já que conseguiu fugir de dois guardas-costas. —Ethan diz, e papai concorda.

— Você precisa ficar atendo com ela, Killian. Ou ela pode te enganar também.

— Duvido muito. — dou de ombros.

— Não duvide. Ela conseguiu enganar tantos homens, a menina é uma bela garota, pode tentar usar da beleza para ganhar o que quer. Talvez essa seja a única explicação para ela ter enganado todos aqueles guardas-costas.

Escuto a risadinha de Ethan antes dele dizer:

— Gostei da garota!

— Então vá você a missão. —respondo. E na verdade, eu até pagaria ele pra ir em meu lugar.

— Papai disse o melhor, e você é a ovelha premiada.

Filho da puta. Estava adorando me ver nessa situação de merda.

— Você não pode falhar. Ela é a coisa mais importante para o Russel. E você sabe que o homem é perigoso.

— Sabe muito bem que nenhuma missão falhará em minhas mãos. Mesmo contra vontade, vou proteger a garota.

— Ela perdeu a mãe, Killian. E mataram seu guardas-costas também. E eu aposto que ele pensava o mesmo que você. Que poderia protegê-las. —Walter diz, sério. E eu sei que ele esta preocupado. — É ainda mais difícil proteger alguém que não quer ser protegido, filho. Então tome muito cuidado.

— Considere o trabalho feito.

Levanto da mesa, e pego a pasta em mãos.

— Boa sorte, irmão. —Ethan diz. Não mais com um sorriso zombeteiro no rosto, mas como se desejasse que nada me acontecesse. E eu assinto.

— Você terá que ir até a casa dela amanhã. O pai dela te apresentará a ela e a missão.

— Certo.

Dou alguns passos até a porta. Mas então meu pai diz:

— Tome cuidado. Sua mãe me mataria se algo acontecesse a você.

Ele diz em um tom mais leve. E eu sorrio um pouco.

— Pode apostar que sim, velhote. —meu irmão da um leve tapinha no ombro do meu pai.

— Velhote? Ah, vamos ver a missão que o velhote vai encontrar a você. —papai provoca, e Ethan para de rir na hora.

E saio da sala rindo. Mesmo tendo uma missão de merda pela frente..

Era uma vergonha ter trabalhado com tantos nomes importantes e agora ter sido reduzido, ainda que temporariamente, a babá de uma patricinha dos infernos.

Mas de uma coisa eu tinha certeza...

Ninguém poderia protegê-la melhor do que eu.

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