[CECILY RUSSEL]
Depois de enrolar o tanto que podia, decidi enfrentar as consequências logo de uma vez.Não poderia ser tão ruim assim, não é?Balanço a cabeça.As vezes nem é sobre isso que ele quer falar.Entrando em seu escritório, encontro meu pai em pé, perto da janela. A sala não é muito grande, ao contrário do imenso salão onde acontecem as reuniões da Bratva.— Bom dia, papai! —cumprimento, tentando parecer animada. Mesmo estando morrendo de medo.— Bom dia, filha. —ele responde, sem qualquer alegria a qual sempre me oferece.Enquanto ele ainda continua de costas, sento na cadeira e permaneço imóvel. E depois de longos segundos torturantes em silêncio, ele começa.— Você não tem a menor noção do que está fazendo ao sair assim, sem o mínimo de segurança.Papai decide virar para mim, me olhando nos olhos enquanto segura um copo de uísque nas mãos.Bebendo já cedo? Merda! Estou tão fodida.Mas tentei manter a calma.— Pai, eu só queria sair um pouco. E afinal de contas, ninguém se machucou. Estou bem.— Ninguém se machucou... —ele repete baixo, sorrindo de um jeito sombrio. — Mas você poderia ter se machucado! Algo poderia ter acontecido!De repente ele explode com raiva. E eu me encolho, um pouco assustada com a reação que ele nunca tem comigo.— Tudo o que eu faço é para sua segurança. É para te manter segura dessa merda toda. —a voz dele é tão dura quanto seu olhar.Olhar esse que eu estou evitando nesse exato momento.— Você acha que eu não me importo com você, Cecily? —ele pergunta. E espera minha resposta.— Se você se importasse, não me manteria fechada. —solto. — Você acha que minha mãe iria gostar que eu vivesse assim?— Acha mesmo que sua mãe iria gostar de deixar você se colocar em risco?Com raiva respondo.— Ela não iria querer me ver como um pássaro enjaulado. Isso eu tenho certeza.Sinto meus olhos queimarem, com a vontade de chorar. Mas tento me controlar.— Eu sei muito bem a dor que é perder alguém, Cecily. Perder uma das pessoas que mais se ama no mundo. E eu não vou cometer esse erro de novo.Ele balança a cabeça e aperta a testa com os dedos.— Sei que pode não entender tudo o que eu faço. Mas tudo, absolutamente tudo, é por você, pra você. — vejo a dor em sua voz, e por um instante, me sinto culpada. — Eu só quero te proteger, e não vou medir esforços para isso.Continuo olhando para o chão. As lágrimas agora ganhando força.— Você pode me odiar a vontade, filha. Mas eu prefiro que você me odeie estando viva, do que o seu amor quando estiver morta.Uma súbita vontade de chorar toma conta de mim. E eu deixo que as lágrimas finalmente saiam.Meu pai tem olheiras ao redor dos lindos olhos , e seu semblante está cansado. No fim das contas, todos estávamos sofrendo por algo, mas minha liberdade não devia pagar por isso.— Pai, eu entendo. Eu juro que entendo. —falo. —Mas eu não quero viver trancada nessa casa. Não quero ter que me esconder do mundo.Olhando em seus olhos, continuo.— Eu sou jovem, quero conhecer o mundo, quero viver como as garotas da minha idade vivem. Eu quero pode sair em uma festa, com colegas da minha faculdade, quero poder ir ao shopping, ao cinema.— Mas filha...— Não quero passar o resto da vida mofando aqui, enquanto a vida passa diante dos meus olhos. Isso não é diferente de morrer.Suspira, esfregando as têmporas na tentativa de aliviar a tensão. Uma das manias dele.— Não estou pedindo para que fique presa aqui. —diz.— Não? —confusa, pergunto.— Contratei uma equipe extra para te acompanhar.— O quê...?Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, um barulho reverberou pelo jardim.Uma moto, é o que parece.— O que isso?— É o chefe da nova equipe de segurança que contratei. E será seu guardas-costas.— Mas que merda?Eu não posso acreditar no que acabei de escutar. Não pode ser.— CECILY! Que modos são esses? —meu pai agora está furioso. — Não foi essa educação que te dei!Que ódio! e eu pensando que meu pai iria aliviar as coisas. Mal sabia eu que ele iria era piorar.— Trate de respeitar o homem. Você não terá outra opção.— Ah, que ótimo, pai. —movi a cabeça em negação, magoada.Nós dois ficamos sentados em silêncio por um momento, lutando com o peso da situação. Esperando o novo idiota aparecer.Isso só podia ser um pesadelo. Tinha que ser. ○●○○●○●○●○●○●○●○●○●○●○●○Alguns minutos se passam até a porta ser aberta.Sem me encomodar em olhar para trás, permaneci sentada na cadeira. Parecendo uma criança birrenta.Foda-se! Estou furiosa.— Killian? Seja bem-vindo! Sou Edgar Russel.O homem não disse nada. Mas sei que havia entrado no escritório, pois ouvi seus passos atrás da cadeira em que estou sentada.Ah, que ótimo! Era tudo de que eu precisava. Um mal humorado.Depois de pegar na mão do homem para cumprimentá-lo, meu pai vai ao meu lado.— Quero que conheça minha filha.Antes que eu pudesse me virar, meu pai agarra a cadeira e a vira, fazendo com que eu fique de frente para o homem.E engulo em seco.Deus... O cara é um gato!Alto, musculoso, bronzeado, e estava parado como uma estátua, sem mexer um único músculo. Os cabelos pretos escuros são longos e lisos no meio. Seu nariz tem uma vibração aristocrática, embora pareça um pouco torto como se tivesse sido machucado antes.Essa pequena imperfeição acrescenta mais mistério e intriga a ele.Seus olhos escuros e sombrios vieram até os meus. Permaneci imóvel, assim como ele.O homem tinha uma presença intimidante. Isso era fato.Os olhos profundos sondaram meu rosto com precisão e tive a impressão de que toda minha alma estava sendo exposta pelo homem que exalava perigo e agressividade.Meu pai nos fitou por algum momento, mas então começou a falar.— Me escute, Killian.Killian volta a olhar para meu pai, e eu suspiro de alívio.— Na sua frente, está a coisa mais importante para mim. Então eu preciso que você a proteja de tudo e todos. Sei que ela é difícil de lidar as vezes, e muito impulsiva...Desviei os olhos do homem, e mirei em meu pai.— Pai! —envergonhada, o repreendo. Mas me ignorando, ele continua.— Já não sei mais o que fazer para mantê-la em segurança. Meu último recurso é você. Seu pai me disse que você é o melhor, então eu espero que consiga conter essa garota.Raiva borbulha dentro de mim.— Não vou ficar aqui ouvindo essa merda.O que ele estava fazendo? tentando me envergonhar na frente desse cara?Antes que meu pai pudesse dizer algo, saí porta a fora.[KILLIAN WHITE]Surpresa. Essa é a palavra certa para esse momento. Pois não imaginava que a garota fosse tão... assim.Loira, olhos claros, pele de porcelana, parecia uma boneca. Mas o rosto, estava com uma leve carranca.Enquanto seu pai falava sobre ela, vi sua expressão mudar de surpresa para vergonha e raiva. Ela então passou por mim e saiu batendo a porta.Eu apenas permaneci em silêncio, encarando o homem, esperando que alguma reação bruta surgisse dele. Mas nada veio.Ele apenas apoiou os punhos na cintura e respirou fundo.Se alguém me dissesse que uma menina petulante iria gritar e sair batendo a porta na cara de um líder da Bratva, eu jamais acreditaria que ela sairia viva da situação. Mas pelo que vejo, aqui tem um pai desesperado de mais com a proteção da única filha. - Tenho a sensação de que sua filha é muito mais que apenas impulsiva. —comento.— Tem razão. Cecily é...difícil de lidar.O homem passa as mãos em seus cabelos. Posso dizer que o homem está realmente sem
As janelas da minha casa tremem com o poder do trovão rolando pelos céus. Os raios caem ao longe, iluminando a noite. Meus olhos se abrem e tropeço para fora da cama, alisando meu cabelo para que caia na parte inferior das minhas costas.Tive mais um pesadelo dos infernos. Alguém me perseguindo, alguém prestes a me devorar. Ainda posso sentir a respiração desse animal selvagem em meu rosto. A única luz vem da lâmpada da varanda que sempre deixo acesa. Não alcanço o interruptor da lâmpada nem tento tocá-lo. Algo me diz que se iluminar qualquer animal que esteja à espreita por aí, a situação irá divergir em uma direção feia.O que é uma loucura. Sabe aquela torre de marfim em que Rapunzel ficou?meu quarto nessa mansão é a personificação disso. Inferno, há até guardas embaixo da varanda. Não tem a menor chance de alguém ter entrado em meu quarto. No lado positivo, no entanto, estou protegida. Estou protegida desde o dia em que nasci na família Russel.Então isso é apenas mais um dos
Cabelo, roupa, maquiagem, sapato. Dou uma última voltinha em frente ao grande espelho do closet. E ao olhar para o relógio dourado da parede, constato que já são 21h. — Hora de ir. Desço as escadas. E ao chegar a sala, encontro papai finalizando uma ligação. Quando cheguei da universidade mais cedo, fui ao seu escritório para perguntar se poderia ir até a festa hoje a noite com a Reina. Mesmo um pouco relutante, ele concordou. No entanto, disse que Killian teria que me acompanhar. E eu não deveria em hipótese alguma, me afastar dele. Era ridiculo toda a situação. Porém, não discuti. Não ia adiantar de nada mesmo. — Você está linda, meu amor. - papai elogia ao se aproximar de mim, com olhos atentos. Sorrio, e o agradeço. — Obrigada, pai. — Animada? — Sim. Faz tempo que não vou a uma festa com meus amigos. Ele me abraça, e deposita um beijo em minha testa. Como sempre faz. — Só tome cuidado, tudo bem? E não se meta em encrencas. - ele sorri. — Aquele guarda-costas estará lá
Pisquei até abrir os olhos. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas o ar estava mais frio que o normal.Já eram seis horas? Meu alarme não havia despertado.Estendi a mão e apertei o botão do dispositivo na mesa de cabeceira, ouvindo a voz masculina dizer em alto e bom tom: "quatro e meia da manhã".— Quatro e meia? -ofeguei, totalmente acordada agora.Fechei os olhos outra vez, torcendo para dormir novamente, mas meu cérebro já havia despertado. O problema com o sono estava saindo de controle. — Droga! A noite estava silenciosa do lado de fora. Nada de chuva ou ventania, mas era previsto que caísse neve no próximo mês. Levantei da cama e não me incomodei em vestir uma roupa decente, enquanto descia para ir até o estúdio de dança, que ficava depois do jardim da mansão.○●○●○●○●○●○●○●○●○●Levantei as mãos, saltando pelo chão, os músculos das costas e ombros se esticando ao máximo enquanto mantinha a cabeça e rosto erguidos na direção do teto.Dançar sempre me distraia e me fazia re
Estava jogada na cama, com meu pijama confortável. Sem um pingo de vontade de comparecer a grande festa que meu pai iria dar essa noite. — Senhorita Russel? -Rosalina chama ao dar uma batidinha na porta. — Sim? — Posso entrar? — Sim. -sento na cama, enquanto ela entra no quarto, me olhando com indignação. — Você não deveria estar pronta? — Deveria? -dou um olhar zombeteiro. — Cecily, você sabe como este evento é importante para seu pai. Ele ficaria muito chateado se você não aparecesse. — Eu sei. -assegurei. — Vou me arrumar. — Tem vestidos novos em seu closet, seu pai providenciou mais cedo. Pode escolher algum. E dar um jeito nessa sua cara pálida. -os lábios dela ficam rígidos, mostrando sua irritação.Rosalina trabalha nessa casa desde quando meus pais se casaram. Ela é uma boa pessoa, mas rigorosa as vezes. Levanto da cama com um sorriso no rosto, me inclino e deposito um beijo em sua testa. Ela segura o riso, e me da tapinhas nos braços. — Vamos, você precisa se apres
Depois de quase ter cãibras nas bochechas, de tanto sorrir, meu pai me deixou livre. Encontro Reina conversando com um homem, jovem e bonito. Sorrio e, decido deixar ela aproveitar a noite. Já que Killian está como convidado, talvez hoje seja meu dia de sorte e eu possa ficar livre. Mais pessoas continuam entrando na mansão em ondas. Passo pelo Hall de entrada, onde alguns guardas estão parados como estátuas ao longo da entrada, e tenho certeza de que outros estão escondidos. Passando pelo jardim, escuto alguém se aproximar. — Cecily? Congelo. No entanto, forço um sorriso assim que ele me alcança. — Trevor? O idiota se aproxima e me puxa para um abraço, enquanto desliza sua mão em minha cintura. — Nossa, estava ansioso para te ver está noite. Seus olhos passaram pelo meu corpo todo. Um sorriso brilhando em seus lábios. E eu tento me afastar dele, totalmente desconfortável.— Você está linda. Dou dois passos para trás.Trevor e eu tivemos um breve namoro. Mas tudo acabou da
Depois de me arrumar para ir até o abrigo onde Reina cuida dos animais, desci tomar meu café. Porém, graças ao meu estômago que revira cada vez que penso nas palavras de Trevor, não consegui comer absolutamente nada.Graças a Deus Edgar não está aqui agora. Seria péssimo começar o dia brigando. Prestes a ir para o abrigo, escuto passos se aproximando. — Filha, bom dia! Não te vi mais na festa ontem. Respiro fundo, tentando manter a calma. — Não me senti bem, então vim deitar. — Oh. -ele me olha, preocupado. — O que você tem? Ainda tentando manter a calma, mas falhando miseravelmente, eu o encaro. — Preocupado comigo? Ele franze a testa. — O que houve? — Engraçado. Você diz que se preocupa comigo, que só quer o meu bem, contratou todos esses guardas-costas só para me proteger, mas na primeira oportunidade, decidi me negociar como se eu fosse uma mercadoria. -desabafo. — Do que está falando? Para crédito do meu pai, ele realmente parece surpreso. — Trevor, pai. É sério? Voc
Volto para o carro e encontro Killian parado exatamente do mesmo jeito de quando entrei no abrigo. Abraçando minha bolsa, paro ao lado dele e coloco meu melhor sorriso.— Você não cansa de ficar assim... -aceno com a cabeça para ele. —Parecendo uma estátua? Ele não responde, mas não precisa. Por mais que tenha tentado arrancar palavras dele nas poucas semanas que o conheço, cheguei à conclusão amarga de que ele simplesmente não é do tipo falante. Pior, ele leva o jogo de tratamento silencioso para o próximo nível que faz você se sentir menos do que a sujeira em seus sapatos de grife.Para o registro, meu orgulho está ferido. Normalmente, sou capaz de fazer amizade com qualquer pessoa. Conto histórias espirituosas e sorrio e eles se apaixonam por mim, simples assim.A única exceção é essa parede de músculo de um metro e noventa.— Que seja. Vamos para casa, tenho uma festa para ir a noite. Ele olha para mim com aquela ponta de sua desaprovação habitual.— Que foi? Não gosta de fes