CAPÍTULO 05

[CECILY RUSSEL]

Depois de enrolar o tanto que podia, decidi enfrentar as consequências logo de uma vez.

Não poderia ser tão ruim assim, não é?

Balanço a cabeça.

As vezes nem é sobre isso que ele quer falar.

Entrando em seu escritório, encontro meu pai em pé, perto da janela. A sala não é muito grande, ao contrário do imenso salão onde acontecem as reuniões da Bratva.

— Bom dia, papai! —cumprimento, tentando parecer animada. Mesmo estando morrendo de medo.

— Bom dia, filha. —ele responde, sem qualquer alegria a qual sempre me oferece.

Enquanto ele ainda continua de costas, sento na cadeira e permaneço imóvel. E depois de longos segundos torturantes em silêncio, ele começa.

— Você não tem a menor noção do que está fazendo ao sair assim, sem o mínimo de segurança.

Papai decide virar para mim, me olhando nos olhos enquanto segura um copo de uísque nas mãos.

Bebendo já cedo? Merda! Estou tão fodida.

Mas tentei manter a calma.

— Pai, eu só queria sair um pouco. E afinal de contas, ninguém se machucou. Estou bem.

— Ninguém se machucou... —ele repete baixo, sorrindo de um jeito sombrio. — Mas você poderia ter se machucado! Algo poderia ter acontecido!

De repente ele explode com raiva. E eu me encolho, um pouco assustada com a reação que ele nunca tem comigo.

— Tudo o que eu faço é para sua segurança. É para te manter segura dessa merda toda. —a voz dele é tão dura quanto seu olhar.

Olhar esse que eu estou evitando nesse exato momento.

— Você acha que eu não me importo com você, Cecily? —ele pergunta. E espera minha resposta.

— Se você se importasse, não me manteria fechada. —solto. — Você acha que minha mãe iria gostar que eu vivesse assim?

— Acha mesmo que sua mãe iria gostar de deixar você se colocar em risco?

Com raiva respondo.

— Ela não iria querer me ver como um pássaro enjaulado. Isso eu tenho certeza.

Sinto meus olhos queimarem, com a vontade de chorar. Mas tento me controlar.

— Eu sei muito bem a dor que é perder alguém, Cecily. Perder uma das pessoas que mais se ama no mundo. E eu não vou cometer esse erro de novo.

Ele balança a cabeça e aperta a testa com os dedos.

— Sei que pode não entender tudo o que eu faço. Mas tudo, absolutamente tudo, é por você, pra você. — vejo a dor em sua voz, e por um instante, me sinto culpada. — Eu só quero te proteger, e não vou medir esforços para isso.

Continuo olhando para o chão. As lágrimas agora ganhando força.

— Você pode me odiar a vontade, filha. Mas eu prefiro que você me odeie estando viva, do que o seu amor quando estiver morta.

Uma súbita vontade de chorar toma conta de mim. E eu deixo que as lágrimas finalmente saiam.

Meu pai tem olheiras ao redor dos lindos olhos , e seu semblante está cansado. No fim das contas, todos estávamos sofrendo por algo, mas minha liberdade não devia pagar por isso.

— Pai, eu entendo. Eu juro que entendo. —falo. —Mas eu não quero viver trancada nessa casa. Não quero ter que me esconder do mundo.

Olhando em seus olhos, continuo.

— Eu sou jovem, quero conhecer o mundo, quero viver como as garotas da minha idade vivem. Eu quero pode sair em uma festa, com colegas da minha faculdade, quero poder ir ao shopping, ao cinema.

— Mas filha...

— Não quero passar o resto da vida mofando aqui, enquanto a vida passa diante dos meus olhos. Isso não é diferente de morrer.

Suspira, esfregando as têmporas na tentativa de aliviar a tensão. Uma das manias dele.

— Não estou pedindo para que fique presa aqui. —diz.

— Não? —confusa, pergunto.

— Contratei uma equipe extra para te acompanhar.

— O quê...?

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, um barulho reverberou pelo jardim.

Uma moto, é o que parece.

— O que isso?

— É o chefe da nova equipe de segurança que contratei. E será seu guardas-costas.

— Mas que merda?

Eu não posso acreditar no que acabei de escutar. Não pode ser.

— CECILY! Que modos são esses? —meu pai agora está furioso. — Não foi essa educação que te dei!

Que ódio! e eu pensando que meu pai iria aliviar as coisas. Mal sabia eu que ele iria era piorar.

— Trate de respeitar o homem. Você não terá outra opção.

— Ah, que ótimo, pai. —movi a cabeça em negação, magoada.

Nós dois ficamos sentados em silêncio por um momento, lutando com o peso da situação. Esperando o novo idiota aparecer.

Isso só podia ser um pesadelo. Tinha que ser.

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Alguns minutos se passam até a porta ser aberta.

Sem me encomodar em olhar para trás, permaneci sentada na cadeira. Parecendo uma criança birrenta.

Foda-se! Estou furiosa.

— Killian? Seja bem-vindo! Sou Edgar Russel.

O homem não disse nada. Mas sei que havia entrado no escritório, pois ouvi seus passos atrás da cadeira em que estou sentada.

Ah, que ótimo! Era tudo de que eu precisava. Um mal humorado.

Depois de pegar na mão do homem para cumprimentá-lo, meu pai vai ao meu lado.

— Quero que conheça minha filha.

Antes que eu pudesse me virar, meu pai agarra a cadeira e a vira, fazendo com que eu fique de frente para o homem.

E engulo em seco.

Deus... O cara é um gato!

Alto, musculoso, bronzeado, e estava parado como uma estátua, sem mexer um único músculo. Os cabelos pretos escuros são longos e lisos no meio. Seu nariz tem uma vibração aristocrática, embora pareça um pouco torto como se tivesse sido machucado antes.

Essa pequena imperfeição acrescenta mais mistério e intriga a ele.

Seus olhos escuros e sombrios vieram até os meus. Permaneci imóvel, assim como ele.

O homem tinha uma presença intimidante. Isso era fato.

Os olhos profundos sondaram meu rosto com precisão e tive a impressão de que toda minha alma estava sendo exposta pelo homem que exalava perigo e agressividade.

Meu pai nos fitou por algum momento, mas então começou a falar.

— Me escute, Killian.

Killian volta a olhar para meu pai, e eu suspiro de alívio.

— Na sua frente, está a coisa mais importante para mim. Então eu preciso que você a proteja de tudo e todos. Sei que ela é difícil de lidar as vezes, e muito impulsiva...

Desviei os olhos do homem, e mirei em meu pai.

— Pai! —envergonhada, o repreendo. Mas me ignorando, ele continua.

— Já não sei mais o que fazer para mantê-la em segurança. Meu último recurso é você. Seu pai me disse que você é o melhor, então eu espero que consiga conter essa garota.

Raiva borbulha dentro de mim.

— Não vou ficar aqui ouvindo essa merda.

O que ele estava fazendo? tentando me envergonhar na frente desse cara?

Antes que meu pai pudesse dizer algo, saí porta a fora.

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