Não poderia ser mais perfeito, Guilherme era o sonho de consumo de qualquer mulher. Não somente por seus atributos físicos, ele era simplesmente lindo, não havia como negar, mas amá-lo era muito mais do que algo estético. Amar o Gui era fácil, leve, sem pressão ou cobrança. Ele possuía uma bondade que constrangia as pessoas ao redor, quando sorria, parecia que conseguia iluminar o mundo. Se alguém poderia resgatar uma alma em meio às trevas, esse alguém era ele.
E foi assim, perdida, lançada à minha própria sorte, presa em amarras emocionais e feridas que dilaceravam a minha alma, que ele me encontrou. Com um amor e cuidado que jamais entenderei, cuidou e zelou por mim, mesmo em meus dias mais tenebrosos. Ele jamais me deixou, ao contrário, trouxe luz à minha escuridão.
Me chamo Bianca Oliveira e vou contar a vocês a minha história.
É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada.William ShakespeareEstamos sentados na mesinha da pequena sorveteria, fizemos deste lugar o nosso canto feliz, onde esquecemos de tudo ao redor e somos somente ele e eu. Há um ano vamos lá todos os sábados e pedimos o mesmo sorvete: flocos com cobertura de caramelo. Sei que para muitas pessoas isso pode parecer tedioso, mas não para nós, é a rotina que amamos. Guilherme conversava com o rapaz que nos atendia sempre, o bom de se morar em uma cidade pequena é que não há mudanças e corre-corre de pessoas, ao contrário, todos acabam se conhecendo pelo nome.
Eu sou resultado de um desses fetos guerreiros. Às vezes paro para pensar em como consegui sobreviver e crescer o suficiente naquele lugar, mas até hoje não achei uma resposta, só sei que cresci. Fui usada de saco de pancada para as crises existenciais dela e de todos os amantes que arrumou. Meu corpo foi abrigo dos incestos mais nojentos e ainda hoje, carrego marcas da sujeira e picadas. Não passava de um bebê quando o primeiro contato improprio aconteceu, acredito que antes de chegar aos quatro anos. Um dos caras que a visitava com mais frequência, descobriu que sua mente doentia conseguia sentir prazer me tocando e me ensinando a tocá-lo. Aos dez anos de idade, sofri o primeiro abuso com penetração, não consigo me lembrar do rosto dele, mas a
Tarde demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o.William Shakespeare— Sabe que não precisa aceitar tudo isso, né? — Estávamos deitados na rede, balançando devagar na varanda. Minha querida sogra já havia me atropelado com todas as informações sobre os preparativos para a cerimônia, escolhemos músicas, arrumamos o mapa de mesas e tudo mais que aquela agenda poderia guardar em suas páginas. Meu noivo me resgatou, deixando claro que precisava de mim para o merecido descanso “pós almoço”.— J
Nunca me preocupei com isso, afinal, nunca tive comida o suficiente para engordar de tanto comer. Tanto que nos primeiros meses com o Gui, engordei dez quilos, o que me deixou muito satisfeita e bem com meu próprio corpo, mas agora, após o bendito pedido das presilhas, notei que realmente estava magra demais.Gustavo entrou no quarto com o sorriso típico nos lábios e com Helô logo atrás dele.— Querida, já lhe disse que não pode fazer isso. — Ele parecia implorar para a esposa lhe dar ouvidos.— E eu ouvi, amor, só não ligo. Quero ver quem neste hospital vai me impedir de ficar com a Bia. — Ela era mesmo desafiadora. Sorri a recebendo em meus
Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.William Shakespeare— Só mais uma colherada. — Ele estava com a colher levantada na altura da minha boca e me olhava suplicante.— A última — disse quase miando. Não gostava de negar os pedidos dele, mas não aguentava mais nada.— A última! — Ele disse decidido com um sorriso vitorioso nos lábios.Assim terminamos o prato de canja que Maria havia me trazido, segundo ela, ningué
O segredo do amor é maior do que o segredo da morte.Oscar WildeNão era justo, nada daquilo era justo, não entendo e jamais entenderei porque Ele fez isso comigo. Eu pedi com todas as minhas forças, eu confiei n’Ele e, ainda assim, ela se foi. Bia estava deitada dentro daquela caixa fria, coberta por lírios brancos. Ela odiava flores. Estava parado ao lado do caixão.— Ela odeia flores. — Me ouvi dizendo baixo para ninguém em especial. — Ela odeia flores... — Minha voz ganhou mais força e a atenção da minha mãe e da Helô.Comecei a tirar os lírios de cima dela, jogando longe tudo
Um mês depois...— Você precisa sair dessa cama, Guilherme. — Minha mãe implorava mais uma vez. Ela não entendia que eu só queria dormir e nada mais. Há trinta dias que minha vida foi lacrada naquele caixão junto com ela. Há trinta dias que não conseguia comer, sair, viver, não sem ela.— Apague essa luz, mãe, e me deixe em paz!Quarenta e cinco dias depois...— Chega, Guilherme, sai dessa cama agora!Helô era um furacão em forma de gente. Entrou em meu quarto berrando, abrindo
Três anos depois. — Dr. Guilherme, a consulta das quinze horas foi cancelada, não temos mais pacientes hoje. — Está bem, Judite, vamos para casa descansar então — disse já me levantando e pegando minha maleta. — Bom final de semana para vocês e diga ao Roberto que mandei um abraço.Judite estava comigo há muitos anos, essa senhora era um anjo em minha vida e minha mãe que não me ouça, mas não sei o que faria da minha vida profissional sem ela.Fechei a porta do consultório e segui andando para meu apartamento. Morava a poucas quadras dali e passaria na cafeteria da esquina antes, estava precisando de um copo grande de cafeína. <