POV ETHAN
—Ei, vai mais devagar —disse meu primo, Dillan Pedrosa, enquanto eu tomava outro copo de uísque em menos de um minuto—. Está tentando se suicidar?
—Estou muito frustrado. Meu orgulho está no chão, como lixo.
Vi Grace e seu marido há algum tempo em um evento beneficente. Ela sabia que eu estaria lá. Estava usando um vestido muito sedutor e não parava de piscar para mim. O pouco autocontrole que eu tinha quase se foi quando ela deliberadamente encostou os seios no meu braço ao pegar uma taça de vinho que estava na mesa. Ela estava me provocando, e eu estava muito vulnerável aos seus encantos.
—Não seja estúpido.
—Essa garota é uma manipuladora. Ela me trata como se eu fosse seu brinquedo —levantei-me, cambaleando. Droga! Voltei a sentar no banco do bar e pedi outro copo de uísque.
—Não. Sirva uma cerveja para ele —ordenou Dillan ao barman.
Eu estava tão irritado que pensei que enlouqueceria. Precisava de alguém com quem conversar, e Dillan era o único em quem eu podia confiar. Desde que reencontrei meus parentes, os Pedrosa, há alguns meses, tenho saído muito com eles, especialmente com Dillan e meu outro primo, Charles Méndez.
—A culpa é sua. Você permite que te tratem assim.
—Como posso evitar? Eu a amo —disse com angústia.
—Isso é mentira. Acho que você nem sabe o que é o amor, Ethan.
Franzi a testa, mostrando uma expressão estranha.
—Claro que sei. O amor é como A-B-C. Tão fácil.
—Sério? Então me diga. Como você define o amor?
—Ah, vamos, Dillan. Eu não sou uma criança que não sabe o que é amor. E pare de agir como um professor de literatura inglesa. Amor é o que você sente cada vez que a vê. Como você faz com Clara.
—Como exatamente?
—Como, ah... você quer arrancar as roupas dela e fazer amor até ela gritar seu nome?
Vi a decepção no rosto de Dillan. Então ele deixou sua bebida e se levantou.
—Estou indo embora. Você é um caso perdido.
—Ei! Não me deixe, cara. Eu disse algo errado?
—Sua definição de amor está errada. O que você sente não é amor. É luxúria —ele me olhou de frente, cruzando os braços sobre o peito.
—Quer dizer que eu não amo Grace?
—Não sei, descubra você mesmo.
—Como?
—O amor não é tão fácil como você diz —Dillan apertou os lábios—. Amar é quando você não consegue parar de pensar nela. Você quer estar sempre com ela, fazer coisas juntos, ir ao supermercado, ver filmes, lavar pratos, dormir juntos... não apenas sexo. Você quer ser a razão pela qual ela sorri com frequência. Fica feliz quando ela está feliz e triste quando ela não está.
—Hein?
—Você ainda não me entende, né? —Ele me deu um tapa no ombro tão forte que eu tremi—. Amar é quando seu coração ignora seu cérebro gritando para ficar quieto.
—Hein? —perguntei novamente. Do que diabos ele está falando?
Ele balançou a cabeça, levantando as mãos em sinal de rendição.
—Você é um idiota quando se trata de amor. Fique só com bancos e finanças.
*
POV ALICIA
—Você tem molho nos lábios —estendi a mão para limpar a mancha de molho de lagosta no canto dos lábios de Jay.
—Não, deixa que eu faço —ele desviou minha mão e limpou a boca com o guardanapo da mesa.
Ele devia estar com muita fome; pediu muitos pratos. Lagostas, caviar, sushi, carne de Kobe, queijo pule, um sorvete de opulência dourada e champanhe, os pratos mais caros. No fundo da minha mente, pensei, quanto isso vai me custar esta noite?
Mas eu não devia pensar em gastos. Dinheiro é só dinheiro, dá para ganhar mais. O importante somos nós. O fato de Jay pedir champanhe significava que estávamos comemorando esta noite.
Estava comendo o sorvete de opulência dourada com muito cuidado. E se ele escondeu o anel de noivado nele? Não queria engolir. Mas Jay estava comendo rápido demais. Eu mal provei o sorvete dourado de mil dólares, e ele já tinha acabado em segundos.
—Estou tão cheio. Obrigado, estava delicioso —Jay se recostou na cadeira, esfregando a barriga. Aww... ele parecia tão fofo, como uma criança pequena. Seus olhos já estavam um pouco sonolentos. Fiquei feliz por tê-lo trazido a este restaurante. Eu ficava feliz quando ele estava feliz.
—De nada. Qualquer coisa por você, meu amorzinho —procurei sua mão, mas ele a afastou, segurando a garrafa de champanhe.
—Quer mais uma taça?
—Claro! Eu adoraria —pensei que ele faria um brinde à nossa vida juntos, ao nosso futuro casamento e aos nossos filhos.
—Vamos fazer um brinde —disse Jay, levantando sua taça.
Viram? Eu tinha razão.
—Por você, Alicia, que é tão incrível. Você é linda, gentil, atenciosa e carinhosa. Qualquer homem teria muita sorte de ter você como companheira de vida algum dia.
Aww... Meu coração derreteu. Suas palavras me tocaram tanto que fiquei corada.
—Obrigada, Jay. São as palavras mais bonitas que já ouvi. Sinto-me tão apreciada.
—De nada, Alicia. Um brinde ao futuro. Que nossa amizade dure para sempre.
Amizade? O que ele quer dizer com isso? Mas ele dizia que, para que um casal casado fique junto para sempre, eles também precisam se tratar como melhores amigos. Talvez, é isso que Jay quis dizer?
—Saúde —brindamos e continuamos rindo, relembrando momentos engraçados que já vivemos juntos. Mais tarde, perguntei—. O que você queria me dizer, Jay? Disse que tinha algo importante para me falar.
Seu sorriso desapareceu. Ele colocou o copo na mesa e passou os dedos na borda dourada.
—Não sei como dizer isso... você pode ficar brava.
—Eu? —dei de ombros—. Você já me conhece, eu não fico brava facilmente. Fale. Não vou me irritar.
—Promete?
—Ok... eu prometo —olhei para o céu e depois sorri para ele.
—Vou terminar com você, Alicia.
—O QUÊ!? Por quê? —fiquei confusa. Parecia que eu estava em um pesadelo horrível. Todo o meu corpo esfriou.
—Preciso me concentrar na minha carreira.
—Do que você está falando? Eu não estou te atrapalhando na sua carreira. Você pode fazer o que quiser. Não entendo...
—Esse é o problema. Você não me entende... e eu também não me entendo. Não sei o que quero, e enquanto me sinto assim, não é justo com você. Precisamos de um tempo, Alicia. Somos melhores como amigos.
Fiquei sem palavras. A dor era insuportável, e eu sentia meu corpo inteiro entorpecido. Meu coração sangrava miseravelmente.
—Está bem? Você ainda vai pagar pela comida, certo? —perguntou Jay.
Naquela noite, perdi um namorado e cinco mil dólares das minhas economias.
POV ETHAN Segunda-feira de manhã, e eu não estava de bom humor. Ainda sentia os efeitos da ressaca da noite anterior. Parei no Starbucks a caminho do escritório e pedi um espresso gelado para me manter acordado.Maldição! Precisava superar o que sentia por Grace. Isso não podia continuar assim; minha estabilidade emocional, minha vida e a carreira que tanto me custou construir estavam em jogo.Estacionei minha Ferrari no estacionamento subterrâneo do prédio e tomei o último gole da minha bebida antes de jogá-la no lixo. Em seguida, entrei no elevador que me levaria ao meu escritório.— Bom dia, Sr. Miller.Parei ao ouvir uma voz desconhecida. Virei-me e vi uma mulher pequena, de pele clara e cabelo curto, sentada no lugar da Srta. Montenegro. Ela parecia filipina.— Sou a Sra. Florencia Abanilse, do Departamento de Recursos Humanos. Hoje estou substituindo a Srta. Montenegro; ela não pôde comparecer.Não me lembrava da Srta. Montenegro ter faltado antes. Ela sempre era pontual, ou ch
POV ALICIA— Eu te odeio! Trapaceiro! Mentiroso! — As lágrimas embaçavam meus olhos e sufocavam minha voz. Oh, Deus... Uma dor esmagadora apertava meu coração enquanto eu pensava em Jay.Como ele pôde fazer isso comigo? Fui leal, doce, carinhosa e amorosa com ele. Durante dois anos, ele foi tudo para mim: meu sol, minha lua e minhas estrelas. O que eu fiz de errado?Eu sempre estive lá quando ele precisava de ajuda. Levava as compras para a mãe dele quando ele estava fora da cidade. Uma vez, até fui buscar o pai dele no aeroporto, apesar de estar com uma tremenda ressaca. Fiz o traje da irmã dele para a semana internacional. Até emprestava dinheiro quando ele não tinha nada…Por quê?Vi sua postagem no Instagram esta manhã. Ele estava na cama com sua colega repórter, Vanessa. Procurei nossas fotos juntos. Todas tinham sido apagadas.Ele vinha me enganando e mentindo por meses. Saía em segredo com essa garota, Vanessa, há dois meses. Descobri isso graças à prima dele, que não suportava
POV ETHANO que está acontecendo com ela? O apartamento dela parece um museu dedicado ao namorado! As paredes estão cheias de fotos daquele loiro, a mesa tem porta-retratos dourados com imagens dele, e há velas grandes ao lado. Está venerando ele?Olhei para a cozinha. O que diabos? Havia uma grande foto do mesmo cara bem acima do fogão. Provavelmente ele a observa até quando ela cozinha. Ela é obcecada por ele.Franzi os lábios. A senhorita Montenegro, obviamente, está pior do que eu com relação à Grace.— Sente-se, senhor.Sentei-me e a observei enquanto ela se acomodava na poltrona à minha frente. Era a primeira vez que a olhava de verdade. Ela era incrivelmente bonita. Tinha o cabelo despenteado, como se tivesse acabado de ter uma noite apaixonada, e lábios carnudos, como se tivesse terminado um...Ela usava um robe verde com bolinhas brancas e um pijama vermelho. Que fofa. Me lembrou o Natal. Eu quase conseguia ver flocos de neve em seu cabelo. Pisquei algumas vezes para clarear
POV ALICIA O que eu estou fazendo? Não consigo acreditar que acabei de aceitar ser sua namorada falsa.Fiquei olhando para o meu reflexo no espelho do banheiro. Meu cabelo estava um desastre, e as escamas de caspa estavam visíveis no meu couro cabeludo. Meu Deus, que vergonha. O Sr. Miller deve ter visto tudo isso.Meus ombros caíram. Eu estava com dúvidas. Será que tomei a decisão certa? Eu me sentia vulnerável neste momento, e tomar decisões apressadas não era prudente.Mas a oferta do Sr. Miller de um milhão de dólares era boa demais.Meu pai precisava de uma cirurgia de substituição total dos dois joelhos. O custo da operação seria em torno de cem mil dólares, sem contar os remédios e as despesas de recuperação. Quase duzentos mil dólares seriam necessários para cobrir todos os seus gastos médicos. Mamãe poderia expandir o negócio de padaria dela, e papai poderia ajudá-la novamente. Eu também poderia pagar a faculdade de medicina do meu irmão. Liam era muito inteligente e sempre
POV ETHANJá eram onze da manhã quando estacionei minha Ferrari vermelha no subsolo do edifício. Saí do carro, observei o lugar ao meu redor, ajeitei a gravata e me dirigi ao elevador.— Bom dia, senhor Miller — cumprimentou-me o segurança ao lado da porta do elevador.— Bom dia, Dan.Esta manhã eu tinha me levantado tarde; na noite anterior, não dormi bem. Grace havia me mandado uma mensagem me convidando para uma bebida em sua cabine. Eu sabia perfeitamente o que isso significava: uma longa noite de sexo apaixonado e desenfreado. O marido dela, Louis, estava em Brunei e não voltaria por uma semana.Eu estive a um passo de cair na tentação de ir até ela. Se não fosse pelo meu acordo com a senhorita Montenegro… digo, Alicia, teria ido ver Grace sem hesitar. Mas eu tinha compromissos importantes com clientes hoje e não podia me dar ao luxo de perdê-los.Não entendo por que fico tão fraco quando se trata de Grace, se eu sei perfeitamente que ela não me convém!Entrei no elevador e press
POV ALICIALi o contrato cuidadosamente, uma e outra vez, enquanto o advogado e o Sr. Miller esperavam. Queria ter certeza de que entendia perfeitamente o que estava prestes a assinar. Não queria acabar na cadeia no dia seguinte.Olhei para o Sr. Miller, que estava recostado em sua cadeira com uma mão apoiada na mesa de conferências. Nossos olhares se encontraram imediatamente.— Não se preocupe, Alicia. Tome seu tempo — assegurou-me ele, mas o advogado tamborilava os dedos enrugados na mesa e olhava para o relógio de vez em quando.Li atentamente a cláusula que especificava que seríamos namorados exclusivos por um ano. Não seria permitido nenhum vínculo romântico com outra pessoa. Deveríamos ser fiéis um ao outro e nos apresentarmos como um casal para o mundo.Então, isso significava que o Sr. Miller ficaria celibatário por um ano? Isso me parecia impossível, especialmente depois de vê-lo em ação com a Sra. Hills. Duvidava muito disso.O contrato também estipulava o que eu receberia.
POV ETHANEu estava no bar, bebendo uísque com meu melhor amigo ítalo-russo, Yuri Conti. Meu irmão de outra mãe.Éramos vizinhos quando crianças na Itália e juntos fizemos muitas besteiras. O pai dele também estava envolvido com a máfia e morreu junto com meus pais durante um atentado terrorista-mafioso.Queríamos mudar nosso futuro. Fazer o bem, não o mal. Yuri agora se dedicava à venda de carros extremamente caros pelo mundo, do tipo que apenas multimilionários podiam comprar.— Ela é bonita? — perguntou Yuri enquanto tomava um gole de uísque e se recostava na cadeira.— Se fosse bonita, eu não teria assinado um contrato com ela. Mas... — dei de ombros, lembrando do cabelo azul dela —, ela é ok.— Ah, então você escolheu alguém que não é seu tipo. Bem diferente da Grace, certo?— Exato — sorri satisfeito.Eu não conseguia me imaginar apaixonado por Alicia. Sua beleza não me atraía. Qualquer que fosse a cor do cabelo dela, castanho ou azul... ela simplesmente não era meu tipo. Era mu
POV ETHANFome, sede e medo.Estou enterrado debaixo da terra, encolhido em uma posição insuportavelmente desconfortável. Ao meu lado há armas, drogas e uma sacola de dinheiro. Os "grandes homens" vão dividir esse dinheiro mais tarde. Como sempre, as noites de festa para eles parecem intermináveis: bebem, fumam, cantam e dançam. Contratam mulheres, prostitutas, para entretê-los. Gastam sem remorso o dinheiro que roubam dos ricos.Eles estão demorando demais para voltar. Já dormi três vezes. E se esquecerem que estou aqui? E se algo acontecer com o papai e a mamãe? Só de pensar nisso, o medo aperta meu peito.Sei que mamãe nunca me esqueceria. Arriscaria sua vida por mim, se fosse necessário. Ela me ama mais do que qualquer coisa no mundo.Mas não consigo evitar chorar. O desconforto é insuportável. Os insetos arranham minha pele, a escuridão parece me sufocar, e a fome e a sede estão me deixando sem forças.— Mamãe! Mamãe! — grito com todas as minhas forças. Mais uma vez empurro a por