POV ETHAN
Segunda-feira de manhã, e eu não estava de bom humor. Ainda sentia os efeitos da ressaca da noite anterior. Parei no Starbucks a caminho do escritório e pedi um espresso gelado para me manter acordado.
Maldição! Precisava superar o que sentia por Grace. Isso não podia continuar assim; minha estabilidade emocional, minha vida e a carreira que tanto me custou construir estavam em jogo.
Estacionei minha Ferrari no estacionamento subterrâneo do prédio e tomei o último gole da minha bebida antes de jogá-la no lixo. Em seguida, entrei no elevador que me levaria ao meu escritório.
— Bom dia, Sr. Miller.
Parei ao ouvir uma voz desconhecida. Virei-me e vi uma mulher pequena, de pele clara e cabelo curto, sentada no lugar da Srta. Montenegro. Ela parecia filipina.
— Sou a Sra. Florencia Abanilse, do Departamento de Recursos Humanos. Hoje estou substituindo a Srta. Montenegro; ela não pôde comparecer.
Não me lembrava da Srta. Montenegro ter faltado antes. Ela sempre era pontual, ou chegava alguns minutos antes. Até costumava ficar horas extras se necessário.
— O que aconteceu com ela?
— Ela disse que não se sentia bem.
— Por quê? Está doente? Tem febre ou algo assim?
— Não sei, senhor. Ela apenas disse que não podia vir hoje.
Maldição. À tarde teria uma reunião importante com um fornecedor alemão e precisava da Srta. Montenegro para fazer as anotações. Perguntei-me se sua substituta... a Sra. Ada-mango... ou algo assim, conseguiria se atualizar mais tarde.
*
Dois dias depois, a Srta. Montenegro ainda não tinha aparecido no escritório. A impaciência começava a tomar conta de mim. Não estava acostumado a trabalhar com a Sra. Ali-mongo... ou como quer que se chamasse. Além de ser difícil lembrar seu nome, ela era minúscula, quase como uma criança; parecia desaparecer da minha vista num instante.
Estava acostumado a ter a Srta. Montenegro por perto. Ela era rápida e eficiente. Não precisava repetir minhas instruções; ela sabia o que fazer com um simples gesto ou, às vezes, sem que eu pedisse. Tudo no escritório fluía sem problemas com ela.
— Sra. Ala...
— Abanilse, senhor.
Exalei com frustração.
— Ligou para a Srta. Montenegro?
— Sim, senhor. Ela disse que não pode vir hoje. Seu coração ainda está sangrando. Ela sente que está morrendo por dentro.
Meus olhos se arregalaram. O quê? Sangrando? Morrendo?
— O que aconteceu com ela? Eu não sabia que ela tinha uma doença cardíaca grave — perguntei, alarmado.
— Ela está com o coração partido. O namorado dela, com quem estava há dois anos, terminou com ela na noite de domingo.
— Ela tinha namorado? — perguntei, surpreso.
— Sim.
Foi um golpe inesperado. Era difícil acreditar que a eficiente Srta. Montenegro tivesse uma vida amorosa. Ela sempre parecia tão rígida, conservadora e focada na carreira.
— Ela pensava que ele ia pedi-la em casamento naquela noite, mas, em vez disso, ele anunciou o término — continuou a Sra. Ala-mongo... ou como quer que se chamasse. Ela balançou a cabeça de forma dramática enquanto contava os detalhes. — E sabe o que mais? Aquele ex-namorado idiota postou ontem uma foto com a nova namorada no I*******m. Que imbecil! Ele mentiu para Alicia, dizendo que precisava focar na carreira, e acabou que ele já estava saindo com uma colega de trabalho há meses. Pobre Alicia.
— Quem é Alicia?
A Sra. Ali-mango... ou como quer que se chamasse, revirou os olhos.
— O senhor não sabe quem é Alicia? Ela é a Srta. Montenegro.
Limpando a garganta, suspirei.
— Claro que sei o nome dela. Só... queria ter certeza de que estávamos falando da mesma Alicia — menti. Na verdade, eu acabava de descobrir que o primeiro nome dela era Alicia. Percebi que não sabia nada sobre ela, além de que era a eficiente e inteligente Srta. Montenegro.
— Normalmente, uma garota se recupera de um desgosto amoroso em três semanas. Às vezes, pode levar até seis meses.
Três semanas? Seis meses? Impossível. Ela precisa voltar ao escritório amanhã!
Eu preciso dela para preparar o contrato do acordo japonês.
— Você pode trazer o dossiê pessoal de Alicia Montenegro?
— Para quê? — perguntou ela, confusa.
Olhei para ela com uma expressão severa, indicando que não era necessário questionar.
Ela pareceu envergonhada e respondeu.
— Está bem, senhor. Vou solicitar ao Departamento de Recursos Humanos.
*
Mais tarde, eu estava revisando o dossiê pessoal da Srta. Montenegro. Na verdade, queria conseguir o endereço dela para ir vê-la e falar com ela pessoalmente. Ela estava perdendo tempo chorando e se afundando em autocomiseração por alguém que não valia a pena. Sentir pena de si mesma não a levaria a lugar algum. Eu precisava dela no escritório, agora. Não podia esperar três semanas ou seis meses para que ela se recuperasse.
Li o currículo dela e me surpreendi ao descobrir que ela tinha apenas vinte e três anos. Pensei que fosse mais velha, talvez mais de trinta. Seu estilo de se vestir e o coque sempre apertado a faziam parecer mais madura. Por que ela usava o cabelo assim? Não doía o couro cabeludo?
Continuei lendo e descobri mais coisas sobre ela.
Seu nome era Alicia. Era de Peixes... compatível com o meu signo, Escorpião. Talvez fosse por isso que nos dávamos bem no trabalho. Segundo o dossiê, ela tinha cabelos castanho-escuros e olhos cor de avelã. Pesava 54 kg e media 1,70 m. Com essas características, poderia ser modelo. Virei a página e vi sua foto. Aproximei-a do rosto e fiquei olhando por quase um minuto. É ela?
Era difícil de acreditar. Ela parecia muito diferente com o cabelo solto.
A verdade é que ela é muito bonita.
POV ALICIA— Eu te odeio! Trapaceiro! Mentiroso! — As lágrimas embaçavam meus olhos e sufocavam minha voz. Oh, Deus... Uma dor esmagadora apertava meu coração enquanto eu pensava em Jay.Como ele pôde fazer isso comigo? Fui leal, doce, carinhosa e amorosa com ele. Durante dois anos, ele foi tudo para mim: meu sol, minha lua e minhas estrelas. O que eu fiz de errado?Eu sempre estive lá quando ele precisava de ajuda. Levava as compras para a mãe dele quando ele estava fora da cidade. Uma vez, até fui buscar o pai dele no aeroporto, apesar de estar com uma tremenda ressaca. Fiz o traje da irmã dele para a semana internacional. Até emprestava dinheiro quando ele não tinha nada…Por quê?Vi sua postagem no Instagram esta manhã. Ele estava na cama com sua colega repórter, Vanessa. Procurei nossas fotos juntos. Todas tinham sido apagadas.Ele vinha me enganando e mentindo por meses. Saía em segredo com essa garota, Vanessa, há dois meses. Descobri isso graças à prima dele, que não suportava
POV ETHANO que está acontecendo com ela? O apartamento dela parece um museu dedicado ao namorado! As paredes estão cheias de fotos daquele loiro, a mesa tem porta-retratos dourados com imagens dele, e há velas grandes ao lado. Está venerando ele?Olhei para a cozinha. O que diabos? Havia uma grande foto do mesmo cara bem acima do fogão. Provavelmente ele a observa até quando ela cozinha. Ela é obcecada por ele.Franzi os lábios. A senhorita Montenegro, obviamente, está pior do que eu com relação à Grace.— Sente-se, senhor.Sentei-me e a observei enquanto ela se acomodava na poltrona à minha frente. Era a primeira vez que a olhava de verdade. Ela era incrivelmente bonita. Tinha o cabelo despenteado, como se tivesse acabado de ter uma noite apaixonada, e lábios carnudos, como se tivesse terminado um...Ela usava um robe verde com bolinhas brancas e um pijama vermelho. Que fofa. Me lembrou o Natal. Eu quase conseguia ver flocos de neve em seu cabelo. Pisquei algumas vezes para clarear
POV ALICIA O que eu estou fazendo? Não consigo acreditar que acabei de aceitar ser sua namorada falsa.Fiquei olhando para o meu reflexo no espelho do banheiro. Meu cabelo estava um desastre, e as escamas de caspa estavam visíveis no meu couro cabeludo. Meu Deus, que vergonha. O Sr. Miller deve ter visto tudo isso.Meus ombros caíram. Eu estava com dúvidas. Será que tomei a decisão certa? Eu me sentia vulnerável neste momento, e tomar decisões apressadas não era prudente.Mas a oferta do Sr. Miller de um milhão de dólares era boa demais.Meu pai precisava de uma cirurgia de substituição total dos dois joelhos. O custo da operação seria em torno de cem mil dólares, sem contar os remédios e as despesas de recuperação. Quase duzentos mil dólares seriam necessários para cobrir todos os seus gastos médicos. Mamãe poderia expandir o negócio de padaria dela, e papai poderia ajudá-la novamente. Eu também poderia pagar a faculdade de medicina do meu irmão. Liam era muito inteligente e sempre
POV ETHANJá eram onze da manhã quando estacionei minha Ferrari vermelha no subsolo do edifício. Saí do carro, observei o lugar ao meu redor, ajeitei a gravata e me dirigi ao elevador.— Bom dia, senhor Miller — cumprimentou-me o segurança ao lado da porta do elevador.— Bom dia, Dan.Esta manhã eu tinha me levantado tarde; na noite anterior, não dormi bem. Grace havia me mandado uma mensagem me convidando para uma bebida em sua cabine. Eu sabia perfeitamente o que isso significava: uma longa noite de sexo apaixonado e desenfreado. O marido dela, Louis, estava em Brunei e não voltaria por uma semana.Eu estive a um passo de cair na tentação de ir até ela. Se não fosse pelo meu acordo com a senhorita Montenegro… digo, Alicia, teria ido ver Grace sem hesitar. Mas eu tinha compromissos importantes com clientes hoje e não podia me dar ao luxo de perdê-los.Não entendo por que fico tão fraco quando se trata de Grace, se eu sei perfeitamente que ela não me convém!Entrei no elevador e press
POV ALICIALi o contrato cuidadosamente, uma e outra vez, enquanto o advogado e o Sr. Miller esperavam. Queria ter certeza de que entendia perfeitamente o que estava prestes a assinar. Não queria acabar na cadeia no dia seguinte.Olhei para o Sr. Miller, que estava recostado em sua cadeira com uma mão apoiada na mesa de conferências. Nossos olhares se encontraram imediatamente.— Não se preocupe, Alicia. Tome seu tempo — assegurou-me ele, mas o advogado tamborilava os dedos enrugados na mesa e olhava para o relógio de vez em quando.Li atentamente a cláusula que especificava que seríamos namorados exclusivos por um ano. Não seria permitido nenhum vínculo romântico com outra pessoa. Deveríamos ser fiéis um ao outro e nos apresentarmos como um casal para o mundo.Então, isso significava que o Sr. Miller ficaria celibatário por um ano? Isso me parecia impossível, especialmente depois de vê-lo em ação com a Sra. Hills. Duvidava muito disso.O contrato também estipulava o que eu receberia.
POV ETHANEu estava no bar, bebendo uísque com meu melhor amigo ítalo-russo, Yuri Conti. Meu irmão de outra mãe.Éramos vizinhos quando crianças na Itália e juntos fizemos muitas besteiras. O pai dele também estava envolvido com a máfia e morreu junto com meus pais durante um atentado terrorista-mafioso.Queríamos mudar nosso futuro. Fazer o bem, não o mal. Yuri agora se dedicava à venda de carros extremamente caros pelo mundo, do tipo que apenas multimilionários podiam comprar.— Ela é bonita? — perguntou Yuri enquanto tomava um gole de uísque e se recostava na cadeira.— Se fosse bonita, eu não teria assinado um contrato com ela. Mas... — dei de ombros, lembrando do cabelo azul dela —, ela é ok.— Ah, então você escolheu alguém que não é seu tipo. Bem diferente da Grace, certo?— Exato — sorri satisfeito.Eu não conseguia me imaginar apaixonado por Alicia. Sua beleza não me atraía. Qualquer que fosse a cor do cabelo dela, castanho ou azul... ela simplesmente não era meu tipo. Era mu
POV ETHANFome, sede e medo.Estou enterrado debaixo da terra, encolhido em uma posição insuportavelmente desconfortável. Ao meu lado há armas, drogas e uma sacola de dinheiro. Os "grandes homens" vão dividir esse dinheiro mais tarde. Como sempre, as noites de festa para eles parecem intermináveis: bebem, fumam, cantam e dançam. Contratam mulheres, prostitutas, para entretê-los. Gastam sem remorso o dinheiro que roubam dos ricos.Eles estão demorando demais para voltar. Já dormi três vezes. E se esquecerem que estou aqui? E se algo acontecer com o papai e a mamãe? Só de pensar nisso, o medo aperta meu peito.Sei que mamãe nunca me esqueceria. Arriscaria sua vida por mim, se fosse necessário. Ela me ama mais do que qualquer coisa no mundo.Mas não consigo evitar chorar. O desconforto é insuportável. Os insetos arranham minha pele, a escuridão parece me sufocar, e a fome e a sede estão me deixando sem forças.— Mamãe! Mamãe! — grito com todas as minhas forças. Mais uma vez empurro a por
POV ETHANNo domingo de manhã, fui sozinho à igreja. Minha nonna, Anastasia, costumava me acompanhar, mas agora passava mais tempo na Itália.Não sou um homem particularmente religioso, mas sempre procuro assistir à missa todos os domingos. Minha mãe me ensinou a acreditar e a ter fé em Deus, que tem sido minha força, meu protetor e meu guia, especialmente desde que perdi meus pais.Depois da missa, voltei a sentir-me sozinho. Fui a uma cafeteria e pedi um café macchiato. Sentei-me numa mesa para dois e abri o jornal que havia pegado perto do balcão. Depois de ler alguns artigos da primeira página, larguei-o. Alguma bobagem sobre Brad Pitt e sua suposta reconciliação com Jennifer Aniston ocupava as manchetes, em vez de falar sobre o que realmente importa no mundo. Balancei a cabeça com incredulidade e olhei para os meus seguranças, que esperavam do lado de fora da cafeteria. Sempre precisava deles. Os inimigos do meu avô e do meu pai ainda estavam vivos, e, à medida que eu crescia no