Cap. 94: Andrews visita o asilo.Aurora westwoodEntramos no táxi, e eu só percebi que minhas mãos tremiam quando tentei prender o cinto de segurança. Alice me olhou de canto, mas não comentou. Ela sabia que o motivo da minha tensão não era só Andrews era agora a visita. Aquele momento que eu temia e ansiava com igual intensidade.O asilo ficava do outro lado da cidade. O caminho foi silencioso, com apenas o som da cidade atravessando as janelas fechadas.— Você está bem? — Alice perguntou, finalmente, com delicadeza.Assenti.— Só... nervosa. — murmurei, olhando pela janela.Ela não insistiu. Era por isso que eu gostava tanto dela.Chegamos. O prédio era antigo, mas bem cuidado. Um jardim cercava a entrada com algumas flores e árvores miúdas que tentavam resistir ao tempo. Havia uma quietude ali, uma calma que beirava a tristeza.Respirei fundo e entrei. O cheiro da mistura de lavanda, medicamentos e nostalgia me envolveu imediatamente. Caminhei pelo corredor até o quarto 112, onde e
Cap. 95: Mãe de Andrews?Aurora WestwoodA senhora olhava para mim, assustada, as mãos ainda apertando o envelope. Andrews, por sua vez, respirava fundo, visivelmente tentando se controlar.— Você está errada. Não é o que parece. Eu não… — ele começou, mas parou ao olhar ao redor. Seus olhos encontraram Alice, que observava tudo ao longe, empurrando a cadeira da minha avó.A confusão em seu rosto foi substituída por algo mais duro, e um suspiro de resiliência escapou, como se ele quisesse evitar aquilo.— Você me seguiu? — perguntou ele, com a voz baixa, mas carregada de acusação. — Era isso? Queria me vigiar?— Claro que não, Andrews! Eu vim visitar minha avó! Que absurdo é esse?Ele desviou o olhar, apertando os punhos. Seu peito subia e descia rapidamente, como se estivesse em conflito. Mas então ele recuou. Sem mais uma palavra, se virou e foi embora, os passos firmes e pesados sumindo por entre as árvores.Eu ainda tremia, o coração disparado. Me virei para a senhora e respirei f
Cap. 96: Dançando em seus braços.Ao voltar para a mansão, Aurora largou a bolsa sobre a mesinha da entrada e perguntou por Andrews. Jacy, que organizava algumas flores no hall, respondeu com um suspiro baixo.— Ele está no escritório desde que chegou. Trancado. Disse para não ser incomodado. Ele parecia bem estranho. Aconteceu algo?— Ah... nada demais. Eu vou tentar falar com ele agora. — ela avisou, seguindo até o andar de cima.— Andrews? — chamou ao parar em frente ao escritório dele.Nada. Bateu de novo, com mais firmeza.— Podemos conversar?Silêncio.Ela encostou a testa na madeira da porta, frustrada, e então se afastou. Mas, ao invés de seguir para seu quarto, decidiu descer e sair, indo até o jardim. A brisa da tarde já começava a esfriar quando saiu caminhando pela grama, parando em frente ao escritório de Andrews no segundo andar. Olhou para aquele andar, um tanto inquieta, e espiou por entre as frestas da cortina.Lá dentro, Andrews andava de um lado para o outro com as
Cap: 97 Sinais estranhos.Caminhei ao redor daquele lugar, ansiosa. Rodrigo não pode ter pregado essa peça. Ele sabe que Andrews não pode descobrir seu sonambulismo. Eu não tinha percebido o aro na boca da garrafa, eu nem mesmo tinha bebido e parece que ele sabia. Tinha uma chave naquele aro. Peguei rapidamente, passando por Andrews, em pé, parado como uma estátua, mas meus olhos estavam fixos na porta, como se a distância entre mim e aquela maçaneta fosse a única coisa capaz de me salvar. Eu precisava sair dali.Mas, assim que eu pude alcançar a porta, Andrews segurou meu roupão como se me chamasse de volta. Eu me virei, o encarando assustada, mas ele não tinha acordado. Antes que eu pudesse reagir, os dedos dele deslizaram, sem direção exata, até o nó frouxo do meu roupão. Era um gesto inconsciente. Ou... instintivo?— Andrews… — sussurrei, a voz presa entre o susto. — Eu sinto muito. Temos que sair. Sei que não tem hora exata que você acorde, mas tenho hora para te colocar para dor
Cap: 98 acusada de assédio.— Aurora... o que você estava pensando em fazer? — Andrews perguntou, incrédulo, apontando o dedo para ela como se fosse a criminosa da história. — Você?!— Não é o que você está pensando! — ela ergueu as mãos instintivamente, apertando o robe contra o corpo como se aquilo pudesse protegê-la da vergonha. Estava exposta em todos os sentidos — de corpo, de alma, de desculpas.— Aurora... você fez algo comigo?— Não! — respondeu de imediato, balançando a cabeça com força. — Claro que não!Mas nem ela mesma sabia exatamente o que havia acontecido ali. Como explicar que, no fundo, havia acabado de entregar que não era sonâmbula? Como justificar aquela situação sem parecer ainda mais culpada?Ele se aproximou devagar. Os olhos cravados nela queimavam como uma lâmina morna, carregados de dúvida, choque... e algo mais. Curiosidade? Um resquício do que ele sentira enquanto ainda dormia?Seus dedos tocaram devagar a gola do roupão dela. E, com um gesto lento, ele pux
Cap: 99 Por que ela está do meu lado?Ela estava encolhida ao meu lado, como se tivesse se esquecido de ir embora… ou como se tivesse voltado sem nem perceber. Dormia profundamente. A respiração serena, os lábios entreabertos.Eu não consegui me mover.Fiquei ali, imóvel, olhando. Confuso. Perdido. Ela invadiu meu quarto mais uma vez? Ela está louca? Pensei em acordá-la, mas a realidade veio como um choque. Olhei ao redor, focando nos detalhes ao meu redor, e arregalei os olhos.Aquele não era o meu quarto.Eu tinha invadido o quarto dela. E como ela não acordou com alguém a abraçando de forma tão íntima? Me afastei um pouco sem conseguir tirar meu braço de debaixo dela.O lençol mal cobria seu corpo. Meu braço a envolvia com uma naturalidade que me deixou sem ar, como se sempre tivesse feito aquilo, como se o corpo dela pertencesse àquele espaço… ao espaço que, até então, eu pensava ser só meu.Meus olhos desceram, seguindo a linha de suas pernas expostas sob a luz tímida da manhã. U
Cap. 100 Romance com um sonâmbulo.Segui até a sala de vigilância — as paredes tomadas por câmeras —, mas nunca ficava alguém ali para vigiar nada. Numa época muito distante, precisei dessas câmeras por causa de alguém importante. Mas, desde que deixei a mansão, elas haviam sido desligadas… até voltarem a funcionar quando comecei a ter esse problema.Donovan, Jacy e Rodrigo estavam bem animados, como se estivessem prestes a assistir a um filme inédito. Não disse nada por ora, mas sabia que nem tudo poderia ser assistido… ainda mais se fosse dentro dos quartos.A sala estava escura, iluminada apenas pelas luzes das telas e pelos reflexos da ansiedade nos rostos de Rodrigo, Jacy e Donovan. Eles estavam acomodados em poltronas improvisadas, com um balde de pipoca no colo, como se estivessem prestes a assistir a um filme qualquer.Mas aquele filme… era sobre mim.E sobre ela.Dei play na primeira gravação. A primeira vez que comecei a andar pela casa enquanto dormia. Me vi caminhando como
Cap. 101 Culpado.— Foi você quem mandou ela me levar pra lá? — perguntei, de repente, encarando Rodrigo com um peso diferente na voz. — Só porque a sala tem gravação sem precisar de senha?Ele arregalou os olhos, surpreso pela pergunta.— Eu… mandei por proteção. Queria garantir que ela estivesse segura. Mas eu não vi nada, só fiquei perto da porta, ouvindo, caso houvesse algum barulho estranho. Além disso, você pode se certificar: eu não ousei ligar as câmeras. Até porque eu peguei vocês em uma situação bem íntima no corredor. Você é louco... nunca pensei que um sonâmbulo poderia beijar e agarrar alguém. Mas eu juro pela minha vida que não sei o que vocês fizeram lá, só sei que ficavam muito tempo.Assenti, baixando os olhos, constrangido.Voltei a fita. Dei play na primeira noite.E quando a imagem surgiu... meu corpo inteiro enrijeceu.Ela estava sentada comigo no sofá. Eu... eu a puxava para o meu colo com naturalidade. Intimidade. As mãos passavam pelas pernas dela com uma delic