Cap. 90 Borboletas na barriga.Dia seguinte. Como esperado… ele não se lembrava.Saí do quarto já arrumada e o encontrei próximo à escada. Ele estava como de costume — perfeitamente alinhado. Seu perfume se espalhava pelo corredor com um frescor limpo e sofisticado. Os fios de cabelo estavam penteados para trás, e ele parecia mais descansado. Havia algo sereno em sua postura.Me aproximei com cautela enquanto ele ajeitava distraidamente a abotoadura do blazer, que lhe encaixava como uma luva. Na verdade, suas roupas sempre pareciam ter sido feitas sob medida, realçando ainda mais sua presença impecável.Nem percebi o quanto estava distraída, olhando demais, até que ele arqueou uma sobrancelha e me encarou.— Algo errado? — ele perguntou, com o olhar fixo em mim.— Com certeza… — murmurei involuntariamente e, logo depois, sorri sem graça quando percebi sua expressão confusa. — Está tudo bem. Bom dia, senhor Andrews. — respondi, abaixando a cabeça com certa vergonha.— Ok… bom dia. — Su
Cap. 91 Cruzando uma linha com Andrews.Andrews... minha mente gritou pensando o pior, corri segurando o seu braço, não que aquilo fosse o salvar se ele desequilibrasse, mas queria que ele recuasse, seu olhar estava vazio, a expressão completamente perdida.— Andrews...? — chamei num sussurro, a voz trêmula.Ele não respondeu. Apenas começou a descer os degraus com uma lentidão que me gelou por dentro. Era como se estivesse sendo puxado por algo que eu não conseguia ver. Algo que não estava ali.Meu coração começou a bater rápido demais. O medo se misturava ao instinto. Ele podia cair. Podia se machucar, enquanto seguia, eu travei o observando, não tinha nem como eu conseguir salvar ele se ele desequilibrasse.— Não... não agora — murmurei, descendo correndo para alcançar o último degrau antes dele. — Andrews, por favor, você tem que voltar pro quarto...Tentei segurá-lo pelo braço com o máximo de delicadeza, como se ele fosse vidro prestes a se estilhaçar. Mas ele me ignorou. Me atra
Cap. 92: desconfiado.— Andrews...? — murmurei, com a voz falha. — Você... está acordado?Mas ele não respondeu. Seus olhos estavam abertos, sim, porém enevoados, distantes. O sonambulismo ainda o mantinha preso em seu próprio mundo, como se flutuasse entre a realidade e os sonhos.Suspirei, dividida entre a preocupação e aquele novo turbilhão que crescia dentro de mim, quente, intenso, incontrolável.Foi então que senti sua mão se mover. Lentamente, os dedos deslizaram até o centro das minhas costas, como se procurassem abrigo em mim. O toque era suave, mas firme o suficiente para arrancar de mim um suspiro involuntário. Fechei os olhos, sentindo o peso do seu corpo sob o meu, o calor que ele irradiava... e o quanto o meu corpo parecia implorar para permanecer ali.Deixei os dedos passearem por seus ombros, sentindo a firmeza dos músculos sob o tecido da camisa. Um por um, desfiz os botões com reverência, como se revelasse um segredo sagrado que só eu poderia conhecer. Sua pele era q
cap. 93: mesmo que eu queira te evitar.Aurora westwood.Na manhã seguinte, acordei com o coração ainda acelerado, A vergonha da noite anterior me corroía. Levantei da cama o mais rápido que pude, tomei um banho frio, me arrumei e prendi o cabelo num coque mal feito, meu único pensamento era, eu não posso vê-lo.Não hoje, a intenção era... que eu tinha que trabalhar e tinha que sair antes que ele pudesse me ver.Além disso, Alice tinha me ligado cedo, lembrando que era o dia da visita à minha avó no asilo, Eu tinha esquecido completamente. Combinei com ela de ir até lá perto do meio-dia assim que encerrasse o expediente da manhã, e olhei para o relógio, Ainda era cedo. Naquele horário, Andrews geralmente dormia ou estava se arrumando.Minha chance.Saí do quarto na ponta dos pés, coração apertado, respiração presa, rezando para que o universo me deixasse escapar em paz, Mas bastou abrir a porta para o destino me dar um tapa na cara ou melhor, no nariz.Bati direto contra alguém.— Ai!
Cap. 94: Andrews visita o asilo.Aurora westwoodEntramos no táxi, e eu só percebi que minhas mãos tremiam quando tentei prender o cinto de segurança. Alice me olhou de canto, mas não comentou. Ela sabia que o motivo da minha tensão não era só Andrews era agora a visita. Aquele momento que eu temia e ansiava com igual intensidade.O asilo ficava do outro lado da cidade. O caminho foi silencioso, com apenas o som da cidade atravessando as janelas fechadas.— Você está bem? — Alice perguntou, finalmente, com delicadeza.Assenti.— Só... nervosa. — murmurei, olhando pela janela.Ela não insistiu. Era por isso que eu gostava tanto dela.Chegamos. O prédio era antigo, mas bem cuidado. Um jardim cercava a entrada com algumas flores e árvores miúdas que tentavam resistir ao tempo. Havia uma quietude ali, uma calma que beirava a tristeza.Respirei fundo e entrei. O cheiro da mistura de lavanda, medicamentos e nostalgia me envolveu imediatamente. Caminhei pelo corredor até o quarto 112, onde e
Cap. 95: Mãe de Andrews?Aurora WestwoodA senhora olhava para mim, assustada, as mãos ainda apertando o envelope. Andrews, por sua vez, respirava fundo, visivelmente tentando se controlar.— Você está errada. Não é o que parece. Eu não… — ele começou, mas parou ao olhar ao redor. Seus olhos encontraram Alice, que observava tudo ao longe, empurrando a cadeira da minha avó.A confusão em seu rosto foi substituída por algo mais duro, e um suspiro de resiliência escapou, como se ele quisesse evitar aquilo.— Você me seguiu? — perguntou ele, com a voz baixa, mas carregada de acusação. — Era isso? Queria me vigiar?— Claro que não, Andrews! Eu vim visitar minha avó! Que absurdo é esse?Ele desviou o olhar, apertando os punhos. Seu peito subia e descia rapidamente, como se estivesse em conflito. Mas então ele recuou. Sem mais uma palavra, se virou e foi embora, os passos firmes e pesados sumindo por entre as árvores.Eu ainda tremia, o coração disparado. Me virei para a senhora e respirei f
Cap. 96: Dançando em seus braços.Ao voltar para a mansão, Aurora largou a bolsa sobre a mesinha da entrada e perguntou por Andrews. Jacy, que organizava algumas flores no hall, respondeu com um suspiro baixo.— Ele está no escritório desde que chegou. Trancado. Disse para não ser incomodado. Ele parecia bem estranho. Aconteceu algo?— Ah... nada demais. Eu vou tentar falar com ele agora. — ela avisou, seguindo até o andar de cima.— Andrews? — chamou ao parar em frente ao escritório dele.Nada. Bateu de novo, com mais firmeza.— Podemos conversar?Silêncio.Ela encostou a testa na madeira da porta, frustrada, e então se afastou. Mas, ao invés de seguir para seu quarto, decidiu descer e sair, indo até o jardim. A brisa da tarde já começava a esfriar quando saiu caminhando pela grama, parando em frente ao escritório de Andrews no segundo andar. Olhou para aquele andar, um tanto inquieta, e espiou por entre as frestas da cortina.Lá dentro, Andrews andava de um lado para o outro com as
Cap: 97 Sinais estranhos.Caminhei ao redor daquele lugar, ansiosa. Rodrigo não pode ter pregado essa peça. Ele sabe que Andrews não pode descobrir seu sonambulismo. Eu não tinha percebido o aro na boca da garrafa, eu nem mesmo tinha bebido e parece que ele sabia. Tinha uma chave naquele aro. Peguei rapidamente, passando por Andrews, em pé, parado como uma estátua, mas meus olhos estavam fixos na porta, como se a distância entre mim e aquela maçaneta fosse a única coisa capaz de me salvar. Eu precisava sair dali.Mas, assim que eu pude alcançar a porta, Andrews segurou meu roupão como se me chamasse de volta. Eu me virei, o encarando assustada, mas ele não tinha acordado. Antes que eu pudesse reagir, os dedos dele deslizaram, sem direção exata, até o nó frouxo do meu roupão. Era um gesto inconsciente. Ou... instintivo?— Andrews… — sussurrei, a voz presa entre o susto. — Eu sinto muito. Temos que sair. Sei que não tem hora exata que você acorde, mas tenho hora para te colocar para dor