Roberto guardou silenciosamente o caderno que estava na cama e o colocou novamente no bolso. — Agora você pode ficar tranquila, certo? Descanse bem. Aguarde por um coração compatível. Você com certeza ficará bem. — Roberto, você sabia? — Ângela tinha um olhar doce, mas carregado de uma leve tristeza. — Eu já tinha perdido todas as esperanças. Já estava preparada para o pior. Mas agora... Agora que finalmente você se divorciou, o meu coração voltou a ter esperança. Eu sei que você vai se casar comigo. Você é um homem de palavra. De qualquer forma, eu vou resistir. Farei de tudo para viver e me tornar sua esposa. Comparado à emoção estampada no rosto de Ângela, Roberto parecia extraordinariamente calmo. Seu semblante estava quase inexpressivo. Ele apenas assentiu levemente. — Não fique tão animada. Mantenha a calma. Caso contrário, isso não será bom para o seu coração. Ângela percebeu a serenidade no rosto de Roberto e sentiu um leve descontentamento em seu coração. Ele havia s
Jaqueline já havia se instalado na nova casa. Ela ficaria ali temporariamente, avaliando as circunstâncias e planejando os próximos passos. Afinal, o mais urgente era encontrar um lugar definitivo para morar. Com sua permissão, George instalou uma fechadura com senha e outros recursos de segurança na casa. O sistema incluía uma função contra invasões: caso a porta não fosse desbloqueada com a impressão da palma da mão dentro do tempo determinado, um alarme soaria imediatamente, acionando a delegacia local, que ficava a apenas cinco minutos dali. — George, muito obrigada! Eu realmente não sei como te agradecer. George a havia ajudado muito, cuidando de tudo para ela. — Não tem problema, não precisa ser tão formal comigo. Embora já tivessem definido que eram bons amigos, George ainda sentia que Jaqueline não se comportava com ele de maneira tão natural quanto com Hebe. Isso, no entanto, era compreensível. Ela e Hebe eram amigas de longa data, enquanto ele e Jaqueline se c
Jaqueline puxou levemente o canto da boca. — Não tem nada de interessante, vovó. Você sabe, eu não estou trabalhando no momento, então... — Ah, falando em trabalho, que tal considerar trabalhar no banco da sua sogra? Afinal, você fez faculdade de Finanças, seria uma ótima oportunidade na sua área. Se Jaqueline pudesse trabalhar lá, Catarina ficaria mais tranquila. Pelo menos haveria alguém para cuidar dela e evitar que fosse maltratada. Embora Nádia tivesse um temperamento frio, ela não era uma pessoa má. — Eu... — Na verdade, Jaqueline não queria se envolver com nenhuma empresa associada à família Santana. Ela estava disposta a visitar a avó com frequência, passar tempo com ela e cuidar dela, mas, em outros aspectos de sua vida, preferia manter distância da família Santana. Ao perceber a hesitação de Jaqueline, o sorriso de Catarina diminuiu um pouco. — O que foi? Você não quer? — Vovó, sobre trabalho, eu mesma vou encontrar uma solução. Você não precisa se preocupar.
Jaqueline tapava os ouvidos, tremendo de medo. Ela sabia que, se abrisse a porta, sua tia provavelmente bateria nela. Embora, quando estava sóbria, sua tia fosse apenas verbalmente agressiva e raramente a agredisse fisicamente, tudo mudava completamente quando ela estava bêbada e perdia toda a razão. Depois de apanhar duas vezes, Jaqueline aprendeu a lição. Sempre que a tia bebia, ela se trancava no quarto. Quando a tia cansava de gritar, voltava para o próprio quarto e caía no sono. Só então Jaqueline se sentia segura. Aqueles tempos foram realmente sombrios. Jaqueline se lembrava de como sua tia frequentemente levava diferentes homens para casa. A única coisa que ela podia fazer nessas ocasiões era se refugiar no quarto e tapar os ouvidos. Mais tarde, a tia a abandonou na porta do Grupo Século. Antes de ir embora, ela ainda disse: — Jaqueline, espera aqui. Daqui a pouco eu volto para te buscar. E o "daqui a pouco" virou dois dias. Durante esses dois dias, Jaqueline permanec
— Então você sabe que não vem aqui com frequência, né! — Catarina bufou friamente. — Só aparece quando tem algum assunto. Se não, nem visita a sua avó. Se não fosse pela Jaque, eu, uma velha, estaria fadada a terminar meus dias na solidão.Roberto se aproximou, se sentando ao lado de Catarina. — Vovó, como isso seria possível? Eu prometo que, daqui pra frente, virei te visitar com mais frequência. Catarina soltou uma risada sarcástica: — Quantas vezes você já disse isso? Nem acredito mais em você. — Vovó, o Roberto tem algo para te dizer, não é? Que tal ouvir o que ele tem pra falar? — A voz suave de Jaqueline ecoou. Quando Roberto ouviu o nome dele saindo da boca dela, sentiu como se algo macio e quente o tivesse atingido no peito. Ele pensava que ela nunca mais chamaria seu nome. Catarina bufou levemente: — Tudo bem. — Ela virou o rosto para Roberto. — Diga, o que é que você quer falar? O olhar de Roberto passou por Catarina e pousou novamente em Jaqueline. Ele estava
O cérebro de Jaqueline quase entrou em colapso. Ela estava a ponto de dar um tapa em Roberto com toda a força. Aquele homem estava se tornando cada vez mais insuportável. Um som de tosse, como um lembrete, ecoou de repente. Jaqueline e Roberto ficaram paralisados no mesmo instante e, então, se viraram lentamente. O mordomo Enrico estava segurando Catarina, que se apoiava nele, a poucos metros de distância. Eles não sabiam desde quando ela estava ali, nem por quanto tempo havia escutado da conversa deles. Foi apenas quando o mordomo tossiu intencionalmente que os dois pararam. Em seus rostos, havia expressões de surpresa em diferentes graus. Catarina permanecia ali, em silêncio, encarando os dois com olhos furiosos. Ao olhar para Roberto ou para Jaqueline, seus olhos transpareciam uma raiva profunda. Com indignação, ela apertou o cabo de sua bengala e bateu no chão com força. Soltou um "humph" frio e se virou para o mordomo, dizendo: — Me leve de volta ao meu quarto. Dep
— Se você não tivesse mencionado o divórcio, nada disso teria acontecido! — Jaqueline praticamente rugiu, já que a situação havia chegado a esse ponto. Ela não se segurou mais e soltou bruscamente a mão dele. — Roberto, foi você quem pediu o divórcio, quem quis ficar com a Ângela! Agora que estamos divorciados, não pense que pode colocar toda a culpa em mim! Se eu errei em algo, meu único erro foi ter me casado com você! Casar com um homem cujo coração sempre pertenceu a outra mulher foi o maior erro da minha vida! Ao terminar de falar com tanta emoção, Jaqueline abriu a porta do carro, entrou e foi embora. Roberto ficou parado, observando o carro se afastar cada vez mais, com uma expressão de profunda melancolia nos olhos. As palavras dela, cada uma delas, eram como marteladas pesadas batendo diretamente no coração dele. Ele suspirou, pensou por um momento e, ao invés de sair, entrou novamente na mansão. Meia hora depois, Roberto saiu da mansão, entrou no carro e foi embora.
O mordomo Enrico balançou a cabeça novamente. — A Sra. Catarina disse que não quer vê-la, Sra. Santana. É melhor a senhora não vir por enquanto. Jaqueline cerrou os punhos e, de repente, começou a chorar. Ao ver as lágrimas de Jaqueline, o mordomo Enrico ficou imediatamente atônito. — Sra. Santana, por favor, não chore. Vamos conversar com calma. — Eu "estou" tentando conversar com calma, mas... Mas a vovó não quer me ver, e isso me deixa muito triste. — Jaqueline abaixou a cabeça, chorando ainda mais intensamente. Ela estava realmente magoada, suas lágrimas eram genuínas. A cena de Jaqueline chorando despertava uma imensa compaixão. O mordomo ficou completamente nervoso. Nesse momento, um toque de celular interrompeu a situação. O mordomo tirou o celular do bolso. — Alô, Sra. Catarina. Ao ouvir o nome "Sra. Catarina", Jaqueline percebeu que era sua avó quem estava ligando para o mordomo. Ela começou a chorar ainda mais alto, como se quisesse que a pessoa do outro