Jaqueline tapava os ouvidos, tremendo de medo. Ela sabia que, se abrisse a porta, sua tia provavelmente bateria nela. Embora, quando estava sóbria, sua tia fosse apenas verbalmente agressiva e raramente a agredisse fisicamente, tudo mudava completamente quando ela estava bêbada e perdia toda a razão. Depois de apanhar duas vezes, Jaqueline aprendeu a lição. Sempre que a tia bebia, ela se trancava no quarto. Quando a tia cansava de gritar, voltava para o próprio quarto e caía no sono. Só então Jaqueline se sentia segura. Aqueles tempos foram realmente sombrios. Jaqueline se lembrava de como sua tia frequentemente levava diferentes homens para casa. A única coisa que ela podia fazer nessas ocasiões era se refugiar no quarto e tapar os ouvidos. Mais tarde, a tia a abandonou na porta do Grupo Século. Antes de ir embora, ela ainda disse: — Jaqueline, espera aqui. Daqui a pouco eu volto para te buscar. E o "daqui a pouco" virou dois dias. Durante esses dois dias, Jaqueline permanec
— Então você sabe que não vem aqui com frequência, né! — Catarina bufou friamente. — Só aparece quando tem algum assunto. Se não, nem visita a sua avó. Se não fosse pela Jaque, eu, uma velha, estaria fadada a terminar meus dias na solidão.Roberto se aproximou, se sentando ao lado de Catarina. — Vovó, como isso seria possível? Eu prometo que, daqui pra frente, virei te visitar com mais frequência. Catarina soltou uma risada sarcástica: — Quantas vezes você já disse isso? Nem acredito mais em você. — Vovó, o Roberto tem algo para te dizer, não é? Que tal ouvir o que ele tem pra falar? — A voz suave de Jaqueline ecoou. Quando Roberto ouviu o nome dele saindo da boca dela, sentiu como se algo macio e quente o tivesse atingido no peito. Ele pensava que ela nunca mais chamaria seu nome. Catarina bufou levemente: — Tudo bem. — Ela virou o rosto para Roberto. — Diga, o que é que você quer falar? O olhar de Roberto passou por Catarina e pousou novamente em Jaqueline. Ele estava
O cérebro de Jaqueline quase entrou em colapso. Ela estava a ponto de dar um tapa em Roberto com toda a força. Aquele homem estava se tornando cada vez mais insuportável. Um som de tosse, como um lembrete, ecoou de repente. Jaqueline e Roberto ficaram paralisados no mesmo instante e, então, se viraram lentamente. O mordomo Enrico estava segurando Catarina, que se apoiava nele, a poucos metros de distância. Eles não sabiam desde quando ela estava ali, nem por quanto tempo havia escutado da conversa deles. Foi apenas quando o mordomo tossiu intencionalmente que os dois pararam. Em seus rostos, havia expressões de surpresa em diferentes graus. Catarina permanecia ali, em silêncio, encarando os dois com olhos furiosos. Ao olhar para Roberto ou para Jaqueline, seus olhos transpareciam uma raiva profunda. Com indignação, ela apertou o cabo de sua bengala e bateu no chão com força. Soltou um "humph" frio e se virou para o mordomo, dizendo: — Me leve de volta ao meu quarto. Dep
— Se você não tivesse mencionado o divórcio, nada disso teria acontecido! — Jaqueline praticamente rugiu, já que a situação havia chegado a esse ponto. Ela não se segurou mais e soltou bruscamente a mão dele. — Roberto, foi você quem pediu o divórcio, quem quis ficar com a Ângela! Agora que estamos divorciados, não pense que pode colocar toda a culpa em mim! Se eu errei em algo, meu único erro foi ter me casado com você! Casar com um homem cujo coração sempre pertenceu a outra mulher foi o maior erro da minha vida! Ao terminar de falar com tanta emoção, Jaqueline abriu a porta do carro, entrou e foi embora. Roberto ficou parado, observando o carro se afastar cada vez mais, com uma expressão de profunda melancolia nos olhos. As palavras dela, cada uma delas, eram como marteladas pesadas batendo diretamente no coração dele. Ele suspirou, pensou por um momento e, ao invés de sair, entrou novamente na mansão. Meia hora depois, Roberto saiu da mansão, entrou no carro e foi embora.
O mordomo Enrico balançou a cabeça novamente. — A Sra. Catarina disse que não quer vê-la, Sra. Santana. É melhor a senhora não vir por enquanto. Jaqueline cerrou os punhos e, de repente, começou a chorar. Ao ver as lágrimas de Jaqueline, o mordomo Enrico ficou imediatamente atônito. — Sra. Santana, por favor, não chore. Vamos conversar com calma. — Eu "estou" tentando conversar com calma, mas... Mas a vovó não quer me ver, e isso me deixa muito triste. — Jaqueline abaixou a cabeça, chorando ainda mais intensamente. Ela estava realmente magoada, suas lágrimas eram genuínas. A cena de Jaqueline chorando despertava uma imensa compaixão. O mordomo ficou completamente nervoso. Nesse momento, um toque de celular interrompeu a situação. O mordomo tirou o celular do bolso. — Alô, Sra. Catarina. Ao ouvir o nome "Sra. Catarina", Jaqueline percebeu que era sua avó quem estava ligando para o mordomo. Ela começou a chorar ainda mais alto, como se quisesse que a pessoa do outro
— Vovó, não importa qual tenha sido o mal-entendido, realmente não deveria ter passado a noite na casa de um amigo. Mas fique tranquila, George e eu somos apenas amigos, não aconteceu nada entre nós. Ele é uma pessoa muito boa e nunca fez nada inapropriado comigo. Catarina sorriu suavemente: — Está tão apressada para defendê-lo. Parece que ele realmente é uma boa pessoa. — Vovó, ele é o presidente do Grupo Cardoso. — Grupo Cardoso? — Ao ouvir esse nome, Catarina pareceu entender. — Ah, então é isso. Parece que ele é filho do presidente do Grupo Cardoso. É alguém muito capaz. — Vovó. — Jaqueline se agachou no chão. — Se isso te desagrada, eu posso me afastar dele no futuro. Catarina suspirou: — Ele é seu amigo, e eu não posso proibir você de ter amigos. Agora que você e o Roberto já estão divorciados, que direito eu teria de exigir algo? — Vovó, a culpa é minha. Eu não consegui manter meu casamento com o Roberto. Eu te decepcionei. Se Roberto não tivesse pedido o divór
3Catarina, de repente, começou a rir: — Falei tanto e, no fim, o que chamou sua atenção foi que eu bati nele. Parece que você ainda se importa muito com ele. — Vovó, eu não! — Jaqueline respondeu com um sorriso constrangido. — Eu só... Só fiquei um pouco surpresa, só isso. — É mesmo? Só surpresa? — Catarina retrucou com desdém. — Que bom, então. A vovó deu uma lição nele por você. Aposto que ele ainda está deitado na cama agora. Jaqueline apertou a barra da roupa, nervosa e inquieta. Não pôde evitar pensar na imagem de Roberto machucado e se sentiu um pouco ansiosa. — Vovó, não importa o que tenha acontecido, a senhora não deveria ter se irritado e batido nele. Não é que eu esteja preocupada com ele, estou preocupada que a senhora se machuque. Bater em alguém também requer esforço. Apesar dessas palavras, Jaqueline não conseguiu evitar que a preocupação por Roberto tomasse conta de seus pensamentos. Ela nunca esperava que Roberto dissesse aquelas coisas e assumisse toda a
— Mordomo, o Roberto já organizou o trabalho de vocês? — O Sr. Roberto ainda não foi para sua nova residência. Ele ainda está no apartamento de vocês, na casa de recém-casados. Nós também não nos mudamos. — É mesmo? Vocês ainda estão na antiga mansão? — Ela ficou chocada, achando que Roberto teria se mudado no mesmo dia do divórcio. — Roberto... Ele está em casa agora? Ela perguntou novamente. — Está, sim. O Sr. Roberto está ferido. Pelo jeito, parece que foi a bengala da Sra. Catarina que causou isso. Ele vai precisar ficar de repouso por alguns dias. Jaqueline franziu as sobrancelhas, unindo elas. "Ultimamente, ele está sempre se machucando. Com certeza a avó bateu com força. Do contrário, ele não precisaria ficar dias deitado." — Sra. Santana, a senhora não gostaria de voltar para dar uma olhada no Sr. Roberto? — Eu... Acho que não seria apropriado voltar agora. Eu e ele já nos divorciamos. Eu não sou mais a Sra. Santana de vocês. — Mas a senhora ainda faz parte da