Donatella Romanova O tempo no hospital parecia existir em uma dimensão diferente. Cada minuto era arrastado, cada hora um peso esmagador. Depois de quatro dias inconsciente, acordei com a sensação de que algo havia mudado para sempre. Não era apenas meu coração fraco, falhando sob a monitoração constante, mas também um vazio crescente, como se algo essencial dentro de mim estivesse se desfazendo. Os sons eram abafados, o bip constante da máquina parecia mais alto que o necessário, um lembrete cruel de que algo em mim estava quebrado. Mas nada, absolutamente nada, me consumia mais do que as palavras que Roman havia dito antes de eu apagar. "Você queria se casar comigo?" "Não, Donatella." Essas palavras ecoavam na minha mente como um sino fúnebre. Eu sabia que nosso casamento era um arranjo, uma aliança estratégica. Mas, em algum lugar, havia me permitido acreditar que poderia significar algo mais. Agora, parecia q
Donatella Romanova Os primeiros dias em casa após a alta do hospital foram um exercício de negação. Eu me recusava a admitir que meu corpo estava mais frágil do que nunca. Cada movimento parecia um lembrete de que algo dentro de mim estava quebrado, mas eu me agarrava à ideia de que a força não vinha apenas da saúde, e sim da determinação. A mansão estava mais silenciosa do que o habitual. Roman parecia ocupado com negócios que não compartilhava comigo, mas sua presença era constante. Ele não dizia nada, não pressionava, mas eu sentia seus olhos em mim. Observando. Avaliando. Naquela manhã, o céu estava cinzento, refletindo perfeitamente o que eu sentia. O som das gotas de chuva contra as janelas preenchia o vazio da casa. Caminhei até o escritório, pretendendo pegar um livro, mas ao passar pela porta entreaberta, ouvi sua voz. — Ela não está melhorando. — Roman falava ao telefone, sua voz baixa, mas carregada de preocupação. Meu coração apertou. Ele não mencionou meu nome,
Roman Ostrov O quarto estava mergulhado em penumbra quando acordei. O peso suave de Donatella contra meu peito era um lembrete do quanto as coisas haviam mudado. Ela estava ali, vulnerável e ao mesmo tempo cheia de uma força que tentava esconder de si mesma. Sua respiração era lenta e ritmada, um contraste com a agitação constante que pairava na minha mente. Não queria movê-la, mas o dia já havia começado, e com ele, minhas responsabilidades. Passei os dedos pelos cabelos dela antes de deslizar suavemente para fora da cama, cobrindo-a com o edredom. Ela murmurou algo em seu sono, e por um momento, pensei em ficar. Mas a realidade sempre chama, e o mundo que habitamos nunca dá espaço para momentos de tranquilidade duradoura. Na sala de reuniões, Dmitry estava à minha espera, como sempre, sua postura impecável e olhar atento. Ele tinha uma habilidade irritante de sempre parecer saber mais do que estava disposto a comparti
Roman Ostrov O consultório médico era sufocantemente silencioso, como se até o ar temesse perturbar o peso das palavras prestes a serem ditas. A iluminação fria destacava os detalhes meticulosos da sala: a mesa impecavelmente organizada, os instrumentos cirurgicamente alinhados. Mas o foco estava no médico à nossa frente. Ele ajustou os óculos com a calma de alguém acostumado a dar notícias difíceis, mas até mesmo essa postura treinada não escondia a gravidade em sua voz. — Senhor Ostrov... Precisamos explorar todas as possibilidades. — Ele fez uma pausa, como se tentasse encontrar uma forma mais branda de prosseguir. — Considerando a gravidade da situação e a falta de respostas, eu recomendaria a exumação do corpo de Mickail Romanov. Ao ouvir o nome de seu pai, Donatella ergueu os olhos lentamente. Sua expressão era neutra, mas eu podia ver o impacto daquelas palavras em seus lábios ligeiramente trêmulos. Ela mantinha as mãos entrelaçada
Donatella Romanova A noite estava mais fria que de costume, mas o calor do conhaque descia pela minha garganta como uma espécie de consolo. Não era a primeira taça, e eu sabia que não seria a última. O líquido âmbar parecia ser a única coisa capaz de silenciar os ecos constantes em minha mente — as dúvidas, as memórias. Sentada na poltrona da biblioteca, eu brincava com o copo em minhas mãos, observando as luzes fracas da sala refletirem na superfície do conhaque. Era reconfortante, familiar, e ao mesmo tempo, uma lembrança dolorosa. A voz de Roman me tirou do transe. Ele estava parado na soleira da porta, com uma jaqueta de couro preta e um jeans escuro. Para mim, era a própria personificação do diabo, tão sedutor e cruel na mesma medida. — Você tem bebido mais do que deveria. — Ele estava parado na porta, os braços cruzados, me observando com aquele olhar crítico que ele ostentava com destreza. Suspirei, levando o copo aos lábios novamente antes de responder. — Não sabia
Roman Ostrov – Como ela está hoje? – Dmitry me olhava com preocupação. – Mal. – Respondi, um nó se formando na garganta ao pensar na condição atual de Donatella, e um sentimento de culpa me envolveu. – Não deveria tê-la aceitado treiná-la, eu sabia da condição frágil dela. – Chefe, ela me pareceu muito bem durante o treinamento, o que, sinceramente, é estranho. – O que quer dizer, Dmitry? – Olhei-o com severidade, meu humor estava pior do que nunca. – Eu não sou médico, mas é estranho que Donatella, com um coração tão frágil, tenha sobrevivido às pressões do treinamento. – Acha que ela está me enganando? – Perguntei irritado, minha voz ecoando alta na sala de reuniões do conselho, no momento sendo ocupada apenas por nós dois. – Eu sinto muito, chefe. Não deveria ter exposto os meus pensamentos dessa forma... Levantei-me da cadeira, sentindo o corpo tenso. “Não, ela não está mentindo pra mim, de novo.” Pensei comigo mesmo, mas ainda assim uma fagulha de desconfiança pous
Donatella Romanova — Senhora Volkova está aqui — uma das empregadas anunciou. Me levantei surpresa. Victoria não costumava aparecer sem avisar. Quando entrei na sala de visitas, ela estava lá, impecável como sempre. — Donatella... — Sua voz soou casual — Espero não estar te incomodando com a minha visita. — Você sabe que não. — Dei um sorriso amistoso, apesar de tudo o que Victoria havia feito — Está tudo bem? — Eu estava por perto e decidi passar para ver como você está. — Ela se aproximou, seus olhos me avaliando com uma leve preocupação. — Parece que as coisas têm sido difíceis. Sergei me contou. — Ah claro... Roman tem estado um pouco ausente nas reuniões do conselho. — Ah querida, eu sinto muito — Victoria me abraçou apertado, afagando os meus cabelos com delicadeza. — Eu soube que não tem passado muito bem, seria um Ostrov a caminho? Sorrio com o pensamento, sinceramente gostaria de ter um bebê em minha barriga. — Ainda não... mas estamos praticando — confess
Roman Ostrov A noite estava fria, mas meu sangue fervia enquanto segurava Donatella em meus braços. Ela estava inconsciente, o rosto pálido como a lua que iluminava o caminho até o carro. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu dirigia às pressas para o hospital, a cabeça cheia de pensamentos caóticos e perguntas sem respostas. — Aguente firme, Donatella. — Murmurei, mesmo sabendo que ela não podia me ouvir. Assim que chegamos ao hospital, uma equipe de médicos e enfermeiros a levou para a emergência. Caminhei atrás deles, incapaz de ficar parado, mas sabendo que não podia fazer mais nada além de esperar. O corredor branco e estéril parecia sufocante, e minha mente trabalhava incessantemente, tentando encontrar uma explicação para o que estava acontecendo. Depois de um tempo que pareceu infinito, o médico que cuidava de Donatella se aproximou. Ele parecia preocupado, a gravidade em sua expressão apenas reforçando o aperto no meu peito. — Senhor Ostrov, preciso falar com