Roman Ostrov
O quarto estava mergulhado em penumbra quando acordei. O peso suave de Donatella contra meu peito era um lembrete do quanto as coisas haviam mudado. Ela estava ali, vulnerável e ao mesmo tempo cheia de uma força que tentava esconder de si mesma. Sua respiração era lenta e ritmada, um contraste com a agitação constante que pairava na minha mente. Não queria movê-la, mas o dia já havia começado, e com ele, minhas responsabilidades. Passei os dedos pelos cabelos dela antes de deslizar suavemente para fora da cama, cobrindo-a com o edredom. Ela murmurou algo em seu sono, e por um momento, pensei em ficar. Mas a realidade sempre chama, e o mundo que habitamos nunca dá espaço para momentos de tranquilidade duradoura. Na sala de reuniões, Dmitry estava à minha espera, como sempre, sua postura impecável e olhar atento. Ele tinha uma habilidade irritante de sempre parecer saber mais do que estava disposto a compartiRoman Ostrov O consultório médico era sufocantemente silencioso, como se até o ar temesse perturbar o peso das palavras prestes a serem ditas. A iluminação fria destacava os detalhes meticulosos da sala: a mesa impecavelmente organizada, os instrumentos cirurgicamente alinhados. Mas o foco estava no médico à nossa frente. Ele ajustou os óculos com a calma de alguém acostumado a dar notícias difíceis, mas até mesmo essa postura treinada não escondia a gravidade em sua voz. — Senhor Ostrov... Precisamos explorar todas as possibilidades. — Ele fez uma pausa, como se tentasse encontrar uma forma mais branda de prosseguir. — Considerando a gravidade da situação e a falta de respostas, eu recomendaria a exumação do corpo de Mickail Romanov. Ao ouvir o nome de seu pai, Donatella ergueu os olhos lentamente. Sua expressão era neutra, mas eu podia ver o impacto daquelas palavras em seus lábios ligeiramente trêmulos. Ela mantinha as mãos entrelaçada
Donatella Romanova A noite estava mais fria que de costume, mas o calor do conhaque descia pela minha garganta como uma espécie de consolo. Não era a primeira taça, e eu sabia que não seria a última. O líquido âmbar parecia ser a única coisa capaz de silenciar os ecos constantes em minha mente — as dúvidas, as memórias. Sentada na poltrona da biblioteca, eu brincava com o copo em minhas mãos, observando as luzes fracas da sala refletirem na superfície do conhaque. Era reconfortante, familiar, e ao mesmo tempo, uma lembrança dolorosa. A voz de Roman me tirou do transe. Ele estava parado na soleira da porta, com uma jaqueta de couro preta e um jeans escuro. Para mim, era a própria personificação do diabo, tão sedutor e cruel na mesma medida. — Você tem bebido mais do que deveria. — Ele estava parado na porta, os braços cruzados, me observando com aquele olhar crítico que ele ostentava com destreza. Suspirei, levando o copo aos lábios novamente antes de responder. — Não sabia
Roman Ostrov – Como ela está hoje? – Dmitry me olhava com preocupação. – Mal. – Respondi, um nó se formando na garganta ao pensar na condição atual de Donatella, e um sentimento de culpa me envolveu. – Não deveria tê-la aceitado treiná-la, eu sabia da condição frágil dela. – Chefe, ela me pareceu muito bem durante o treinamento, o que, sinceramente, é estranho. – O que quer dizer, Dmitry? – Olhei-o com severidade, meu humor estava pior do que nunca. – Eu não sou médico, mas é estranho que Donatella, com um coração tão frágil, tenha sobrevivido às pressões do treinamento. – Acha que ela está me enganando? – Perguntei irritado, minha voz ecoando alta na sala de reuniões do conselho, no momento sendo ocupada apenas por nós dois. – Eu sinto muito, chefe. Não deveria ter exposto os meus pensamentos dessa forma... Levantei-me da cadeira, sentindo o corpo tenso. “Não, ela não está mentindo pra mim, de novo.” Pensei comigo mesmo, mas ainda assim uma fagulha de desconfiança pous
Donatella Romanova — Senhora Volkova está aqui — uma das empregadas anunciou. Me levantei surpresa. Victoria não costumava aparecer sem avisar. Quando entrei na sala de visitas, ela estava lá, impecável como sempre. — Donatella... — Sua voz soou casual — Espero não estar te incomodando com a minha visita. — Você sabe que não. — Dei um sorriso amistoso, apesar de tudo o que Victoria havia feito — Está tudo bem? — Eu estava por perto e decidi passar para ver como você está. — Ela se aproximou, seus olhos me avaliando com uma leve preocupação. — Parece que as coisas têm sido difíceis. Sergei me contou. — Ah claro... Roman tem estado um pouco ausente nas reuniões do conselho. — Ah querida, eu sinto muito — Victoria me abraçou apertado, afagando os meus cabelos com delicadeza. — Eu soube que não tem passado muito bem, seria um Ostrov a caminho? Sorrio com o pensamento, sinceramente gostaria de ter um bebê em minha barriga. — Ainda não... mas estamos praticando — confess
Roman Ostrov A noite estava fria, mas meu sangue fervia enquanto segurava Donatella em meus braços. Ela estava inconsciente, o rosto pálido como a lua que iluminava o caminho até o carro. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu dirigia às pressas para o hospital, a cabeça cheia de pensamentos caóticos e perguntas sem respostas. — Aguente firme, Donatella. — Murmurei, mesmo sabendo que ela não podia me ouvir. Assim que chegamos ao hospital, uma equipe de médicos e enfermeiros a levou para a emergência. Caminhei atrás deles, incapaz de ficar parado, mas sabendo que não podia fazer mais nada além de esperar. O corredor branco e estéril parecia sufocante, e minha mente trabalhava incessantemente, tentando encontrar uma explicação para o que estava acontecendo. Depois de um tempo que pareceu infinito, o médico que cuidava de Donatella se aproximou. Ele parecia preocupado, a gravidade em sua expressão apenas reforçando o aperto no meu peito. — Senhor Ostrov, preciso falar com
Donatella Romanova Acordei sentindo o mundo girar, como se estivesse presa em um carrossel descontrolado. Meus olhos piscavam contra a luz forte do quarto do hospital, e um zumbido irritante preenchia meus ouvidos. Meu corpo parecia pesado, cada movimento um esforço monumental. — Que tontura... — murmurei, tentando me sentar. Uma mão firme pousou no meu ombro, me impedindo. O médico estava ao meu lado, uma expressão neutra no rosto, mas seus olhos revelavam preocupação. — Calma, Sra. Ostrova. Você precisa descansar. — Sua voz era tranquila, mas havia algo de grave no tom. — O que aconteceu? — Perguntei, minha voz saindo fraca. Ele pegou meu pulso, verificando os sinais vitais enquanto respondia. — Seu quadro piorou. Descobrimos que o conhaque que você vinha consumindo continha um veneno muito específico. É isso que está comprometendo seu coração. A tontura foi imediatamente substituída por uma onda de náusea. Meu estômago revirou enquanto o impacto daquelas palavras se
Roman Ostrov O salão principal da mansão estava mais iluminado do que nunca, cada lustre de cristal refletindo o brilho das taças que tilintavam e as gargalhadas que ecoavam pelo ambiente. Era irônico, talvez até cruel, estarmos celebrando em meio a tanto caos. Mas Donatella queria essa festa. Ela insistiu que não haveria luto pelo que estava por vir, apenas celebração pelo presente que recebemos: nosso filho. Permaneci ao lado dela a maior parte da noite, minha mão pousada em sua cintura enquanto cumprimentávamos os membros do conselho da Bratva, cada um mais entusiasmado do que o outro. Dmitry estava ao fundo, sempre atento, sua postura impecável. Donatella usava um vestido azul que caía perfeitamente em suas curvas. Ela sorria com uma graça que fazia todos ao nosso redor se encantarem. Donatella era sem dúvida a personificação da perfeição, bela e graciosa. — Você está bem? — Perguntei em voz baixa, me inclinando para ela enquanto fingia um sorriso para os convidados. —
Roman Ostrov Donatella parecia perplexa com a revelação, mas ainda havia muito mais a ser dito. — Mas Anastacia... — Continuei, minha voz endurecendo. — Anastacia foi diferente. Anastacia fez um acordo com o meu pai, você continuaria viva desde que se casasse comigo. — Ela me entregou pra você... — Ela murmurou, quase sem acreditar. — Sim. Eu vi a crueldade por trás do ato de Anastacia. Qual é a mãe que entrega a própria filha na mão de um monstro como eu? — Você não é um monstro, Roman. — Donatella me olhava com admiração. — Você fez o que precisava ser feito. — Quando Anastacia fugiu e deixou você para trás, eu fui atrás dela. Afinal, não foi apenas pela crueldade dela com você. — Fiz uma pausa, minha voz ficando ainda mais baixa — Pesquisei mais sobre ela, e descobri os negócios sujos dela em Nova York, tráfico de mulheres. — Tráfico de mulheres? Minha mãe? — Ela balançou a cabeça, como se tentasse afastar a ideia. — Isso não faz sentido, Roman. — Faz. — Respondi