Donatella Romanova O jardim da mansão era um lugar mágico à noite, mas também carregava um ar de mistério. A brisa fria da Rússia sussurrava entre as árvores, e o som das folhas se movendo era quase hipnotizante. O céu estava claro, iluminado por uma lua cheia que lançava uma luz prateada sobre as flores e os arbustos perfeitamente aparados. Eu não conseguia aproveitar a beleza do momento; minha atenção estava fixada em Roman, que segurava uma venda preta nas mãos, seu olhar intenso perfurando o meu. Ele estava vestido de preto, como sempre, com uma jaqueta de couro ajustada que acentuava seus ombros largos. A luz da lua refletia em seus cabelos dourados, criando um halo quase angelical, embora soubesse que ele estava longe de ser um anjo. — Hoje você vai aprender algo diferente, Donatella. — Ele disse, sua voz carregada de calma, mas também com uma nota de desafio. Eu cruzei os braços, tentando parecer confiante, mesmo sentindo o nervosismo se agitar em meu peito. — Diferente c
Roman Ostrov A luz baixa do quarto criava sombras suaves nas paredes, mas o que realmente me prendia era Donatella, deitada na cama diante de mim, ainda vendada. Sua vulnerabilidade era tão palpável quanto sua força, e isso me fascinava. Ela era uma mistura impossível de fragilidade e determinação, e cada vez que olhava para ela, sentia algo que ameaçava arrancar o controle que eu tanto valorizava. Caminhei até a beira da cama, observando-a em silêncio por um momento. Seu peito subia e descia rapidamente, denunciando a excitação e o nervosismo que ela tentava esconder. A venda que cobria seus olhos realçava ainda mais sua entrega, e por mais que ela não quisesse admitir, eu sabia que ela confiava em mim. — Donatella... — murmurei, meu tom baixo e rouco, carregado com tudo o que eu sentia naquele momento. — Você sabe o que acontece quando tira a visão de alguém? Ela virou a cabeça ligeiramente na direção da minha voz, seus lábios entreabertos. — O quê? — perguntou, sua voz um pouc
Donatella Romanova A bebida tinha um gosto estranho, amargo e metálico, mas Roman não me deu escolha. Ele ficou em pé diante de mim, seu olhar afiado, quase desafiador. Era impossível recuar quando ele me encarava daquele jeito, como se soubesse exatamente o que eu faria. Hesitei por um segundo, mas levei o copo aos lábios e virei o conteúdo de uma vez. A sensação de calor se espalhou pela minha garganta, mas logo veio uma leve tontura.— Boa garota. — Ele disse, sua voz baixa e carregada de algo que não consegui identificar.Tentei focar nele, mas o mundo começou a girar. As paredes do quarto pareceram se afastar, e minhas pernas cederam. Roman estava parado ali, imóvel, sua figura se tornando um borrão à medida que o escuro me envolvia.A última coisa que ouvi foi sua voz, um sussurro frio:— Confie em mim, Donatella.Quando abri os olhos, estava deitada no quarto da mansão, mas algo parecia errado. O ambiente era familiar, mas havia uma tensão que eu não conseguia ignorar. Tudo pa
Donatella RomanovaO ar gélido da Rússia mordia minha pele, mas era um consolo em comparação com o calor abrasador da dúvida que queimava dentro de mim. Não era a dor dos golpes ou o cansaço do treinamento exaustivo que me afligia. Era algo mais profundo, uma sensação de que, a cada passo, eu me distanciava de quem era e me aproximava de algo que não conseguia definir.A moeda na palma da minha mão era um lembrete constante do que estava em jogo. Não era apenas um troféu; era um símbolo. Um símbolo da minha determinação, da minha lealdade à minha mãe, Anastacia, e do plano que traçamos juntas. Um plano que Roman não fazia ideia de que existia.Ele acreditava que estava me moldando, mas eu já tinha uma forma definida. Ele não sabia que, enquanto me treinava, também estava me preparando para cumprir o legado da minha mãe. Victoria Volkova mantinha o elo entre nós, e cada desafio que Roman me impunha era apenas mais um passo para alcançar o futuro que minha mãe havia imaginado.O som de
Roman Ostrov O ar estava pesado, tão pesado quanto a responsabilidade que carregava nos ombros. O escritório parecia menor, sufocante, enquanto eu olhava para Donatella sentada à minha frente. Ela era um enigma que eu me recusava a resolver completamente, mas que me atraía como nada mais. Havia força nela, uma determinação que me fazia querer testá-la até o limite. Hoje, no entanto, o limite seria meu. Observei-a apertar a moeda entre os dedos como se fosse um talismã. Era isso que ela fazia. Agarrava algo pequeno, simbólico, e transformava em uma fortaleza contra tudo e todos. Mas dessa vez, nem mesmo a moeda a protegeria. — Você sabe por que está aqui. — Minha voz saiu firme, controlada, como sempre. Ela levantou o olhar para mim, aquele brilho desafiador em seus olhos que me irritava e fascinava ao mesmo tempo. — Imagino que seja mais uma das suas provas. — Disse ela, com amargura suficiente para tingir cada palavra. Inclinei-me ligeiramente, cruzando os braços sobre a
Donatella Romanova Segurei o bilhete em uma das mãos e o envelope com as fotos na outra. As palavras da minha mãe ainda ecoavam em minha mente: "Estou orgulhosa de você." Mas, agora, essas palavras pareciam zombar de mim diante das imagens que Roman havia jogado na minha cara. Minha mãe, morta em um necrotério, fria e pálida. Como isso podia ser real? E, mais importante, como essas duas verdades podiam coexistir? A confusão e o ódio fervilhavam dentro de mim enquanto eu caminhava até a casa de Victoria Volkova. Eu precisava de respostas. Victoria era meu único elo com minha mãe, a única que podia confirmar ou negar o que Roman havia dito. Ele afirmava que havia matado Anastacia com as próprias mãos. Mas e o bilhete? E o plano que Victoria garantira existir? Algo não fazia sentido. A mansão de Victoria era imponente e sombria, uma extensão da mulher que ela era. Toquei a campainha, meu corpo rígido, cada músculo tenso como uma corda prestes a arrebentar. Quando a porta se abriu, Vic
Donatella Romanova Caminhei pelo corredor da mansão, o som dos meus passos abafado pelo tapete espesso. Minhas mãos estavam fechadas em punhos ao lado do corpo, e o bilhete e as fotos ainda pesavam como chumbo na minha mente. Cada palavra, cada imagem era uma ferida aberta. Eu sentia o gosto metálico da raiva e do desgosto na boca. Não sabia exatamente o que esperava ao enfrentar Roman naquele momento, mas precisava de respostas, mesmo que elas me destruíssem. Parei em frente à porta do escritório. Ela estava entreaberta, e a luz cálida que escapava pelas frestas contrastava com o frio gélido da mansão. Inspirei profundamente antes de empurrá-la devagar, o rangido leve ecoando no silêncio. Roman estava lá, de costas para mim, ajustando os punhos de sua camisa branca impecável. A luz suave da luminária de mesa destacava cada linha de sua postura imponente. Ele estava sem o terno, as mangas dobradas até os cotovelos, revelando antebraços fortes. Sobre a mesa, papéis cuidadosament
Donatella Romanova O tempo no hospital parecia existir em uma dimensão diferente. Cada minuto era arrastado, cada hora um peso esmagador. Depois de quatro dias inconsciente, acordei com a sensação de que algo havia mudado para sempre. Não era apenas meu coração fraco, falhando sob a monitoração constante, mas também um vazio crescente, como se algo essencial dentro de mim estivesse se desfazendo. Os sons eram abafados, o bip constante da máquina parecia mais alto que o necessário, um lembrete cruel de que algo em mim estava quebrado. Mas nada, absolutamente nada, me consumia mais do que as palavras que Roman havia dito antes de eu apagar. "Você queria se casar comigo?" "Não, Donatella." Essas palavras ecoavam na minha mente como um sino fúnebre. Eu sabia que nosso casamento era um arranjo, uma aliança estratégica. Mas, em algum lugar, havia me permitido acreditar que poderia significar algo mais. Agora, parecia q