- Verdade ou desafio?
- Desafio, é claro
E essa foi a segunda pior decisão que eu tomei naquela noite. A primeira foi ter ido a uma lanchonete que se chama Cheese’s.
Fala sério, quem chama a lanchonete de queijo?
- Você se ferrou agora – Íris diz e eu reviro os olhos tomando mais um gole do milkshake que tem gosto de isopor.
Eu sei, estranho.
- Fala logo
- Tudo bem – ela faz uma pausa dramática e eu dou risada, mas paro quando escuto desafio – Te desafio a beijar o cara em que em uma situação normal você não beijaria.
- Está maluca?
- Eu sou maluca, agora vai, escolhe o cara premiado – olho para a minha irmã maluca e resmungo um palavrão.
Ela sabe muito bem que eu não fujo de um desafio
Esse é o meu ponto fraco
Inferno
Olho ao redor da lanchonete e faço uma careta quando vejo um dos homens mais velhos fazendo a tentativa de uma piscadinha quando percebe que estou olhando, mas acaba saindo mais como um derrame em metade do rosto.
Suspiro e olho para uma das mesas mais afastadas, vejo um grupo de homens vestindo camisas sociais e conversando animadamente em volta da mesa, mas somente um me chama atenção.
É o cara com camisa branca, expressão meio fechada e o olhar arrogante, a postura altiva e confiante como se pudesse governar o país daquele banquinho ridículo de cor azul.
Sim, ele com certeza não é o meu tipo
- Ok, eu com certeza não ficaria com aquele cara – Íris olha para onde eu estou apontando e sorri animada
- Ah, eu vejo – ela se vira para mim e come um pedaço da sua torta de limão antes de dá de ombros e dizer com a voz mansa – E então? O que está esperando?
- Eu não vou beija-lo
- Você vai – ela diz e lambe o doce do garfo – Eu a desafiei Kathy
E isso é o suficiente para que eu suspire baixinho e volte o olhar para ele de novo.
O cara com certeza acha que está sentando em um trono, até o seu sorriso parece dissimulado. Se possível até o modo de levar a bebida aos lábios parece ser ensaiado para uma capa de revista.
Faço uma careta mínima e olho pedindo outra escolha, mas ela só toma um gole do café e continua a terminar a sua torta calmamente. Olho pela janela e vejo a chuva torrencial caindo do lado de fora.
Não sei dizer a razão exata para começarmos a jogar verdade ou desafio, poderia ser para nos sentirmos mais unidas.... Ou poderia ser pelo fato de que adoramos ser desafiadas.
Acho mais fácil a resposta ser a segunda
Mas o fato é que fizemos um trato, em qualquer hora ou lugar uma de nós duas poderíamos desafiar uma à outra. E todas as vezes optaríamos pelo que escolhemos quando mais novas.
Íris escolheu a verdade
Eu escolhi desafio
E é nessas horas que eu gostaria de ter sido uma menina mais inteligente. Porcaria de cérebro de sorvete derretido.
- Se prepara – eu falo e ela sobe o olhar para o meu franzindo a testa. Seus cabelos pretos batem em seu rosto e ela os espana para o lado antes de perguntar em voz baixa
- O que você vai fazer?
- Vou beijar ele e depois sair correndo
Essa foi a terceira pior decisão que eu já tomei, alguém está fazendo a contagem? Porque eu sinceramente penso que vou fazer ainda pior.
- Não precisa sair correndo, beija ele e pede licença
- Espera – eu levanto as mãos e pergunto em tom sarcástico – A licença é antes ou depois de beija-lo?
Íris revira os olhos e eu volto os meus olhos para a mesa onde eles estavam.
Aí caceta, eles saíram.
Me levanto e tento enxergar por sobre o breu lá fora e vejo eles correndo em direção aos seus carros. Olho de novo para Íris e ela dá de ombros se levantando também.
- Você não vai desistir mesmo? – eu pergunto de novo e ela sorri
- Não, sem segundas chances
Resmungo um palavrão e jogo as chaves do carro para ela, que as pega sem dizer uma palavra. Coloco o dinheiro em cima da mesa e saio correndo da lanchonete com cheiro de queijo antes que eu perca a coragem.
O cara de camisa branca está completamente encharcado enquanto abre a porta do carro. Seu amigo me vê chegando e franze a testa quando percebe que estou praticamente correndo na direção deles.
- Com licença? – eu o cutuco no ombro e ele se vira com a porta do carro já aberta. Sua expressão de confusão bate de frente com a minha expressão de vergonha e eu sorrio – Desculpe por isso
- Pelo q.....
Ainda com a respiração ofegante e o coração trovejando dentro do peito eu apoio minhas mãos em seu peito e o beijo. Ele dá um passo atrás com o susto e eu caio em cima dele antes de me equilibrar de novo.
Um segundo
Dois
Três
Me afasto e o vejo franzindo a testa, meus cabelos molhados colam em minhas costas e minha franja oculta uma parte do meu rosto. Tento um sorriso, mas paro quando percebo que está mais parecido com uma careta.
- Obrigada – eu falo e vejo um carro se aproximando no estacionamento – Até nunca mais.
Corro até o carro a alguma distância e me jogo dentro dele. Tiro o cabelo do rosto e vejo quando Íris acelera saindo do estacionamento.
E somente quando estamos na avenida é que olhamos uma para a outra e começamos a rir.
Merda
O que eu tinha feito?
- Meu deus Kathy, eu jurava que você não ia fazer isso
- Você me desafiou – eu aponto e ela sorri
- Foi o melhor desafio até agora
- Não foi não
- Ah é – ela estala os dedos se lembrando e eu reviro os olhos – Foi o...
- Nem comece
Ela fecha a boca ainda sorrindo e eu tento controlar a respiração. Fico em silêncio e olho pela janela vendo a chuva aumentar devagarinho.
- Queria ter visto a expressão dele – ela diz depois de alguns segundos em silencio
- Claro que queria
- É sério – Íris olha para mim de canto de olho e pergunta com um sorriso malicioso – Como foi o beijo?
Bufo e enrolo meu cabelo em um coque para parar de pingar no estofamento do carro.
- Foi normal – eu falo e vejo quando ela faz uma expressão desconfiada, não acreditando em mim.
Mas o que eu poderia dizer?
Que tinha gostado dos poucos segundos que encostei os lábios no dele?
Isso é maluquice.
Então não digo nada e simplesmente tento esquecer. Até porque eu nunca mais o veria.
Caso encerrado
Inclino a cabeça olhando para a cadeira e forço a mão contra a roda tentando colocar ela no lugar, ela se mexe, mas volta para o lugar torto dela.Porcaria- Acho que quebrou – a senhora Nanci diz e eu suspiro empurrando mais forte- Vamos ter fé, o que me diz?- Fé eu tenho, só não sei se isso vai funcionar com você dessa vez – arqueio uma sobrancelha para ela que sorri e dá de ombros do seu lugar no sofá – Vamos lá querida, admita, você tentou concertar e quebrou a cadeira de rodas.- Eu não quebrei- Quebrou sim, e eu que não vou me sentar em uma cadeira em que a roda está virada para o lado errado- Você vai poder ir para dois lugares ao mesmo tempo, isso é legal, não é?- Muito engraçado – ela diz chateada e eu reviro os olhos- Não se preocupe, vou p
- O que você está fazendo?Levanto a cabeça e solto um gemido quando sinto tudo ao redor girar. Fechando os olhos me ajeito no sofá e volto a posição normal. Íris se inclina por sobre o sofá e arqueia uma sobrancelha.- Só se passou algumas semanas sem trabalho e já está ficando doida?- Não estou ficando doida- Ah desculpe, porque ficar de cabeça para baixo no sofá é algo muito normal – ela diz e eu resmungo encostando a cabeça no travesseiro.- Eu estava vendo sobre outra perspectivaÍris fica confusa e depois que entende começa a rir, reviro os olhos e pego o jornal do chão antes de olhar de novo.Diferente de mim em todos os aspectos possíveis, Íris era minha personificação de pessoa de bem com a vida. Cabelos negros e ondulados que batiam no ombro, olhos de cor mel,
A nova perspectiva morava em uma mansãoNão, eu não estou brincandoA casa era enorme e ficava localizado no Upper East Side, a mansão tinha uma elegante entrada com portões de ferro que abriam automaticamente quando a visita fosse permitida.Mas o mais legal?O jardim tinha as mais diversas rosas, de todas as cores, de todos os formatos, era basicamente como entrar em um livro de romance de época e fingir ser a mocinha em busca de aventuras. Ou seja, eu estava em uma área muito conhecida.Estaciono o carro na entrada e saio do carro com minha bolsa, averiguo pela milésima vez minha camisa social branca e minha saia preta justa, suspiro aliviada quando não vejo nenhuma mancha. Maravilha, passei dessa fase.Sorrio para o que parece ser uma funcionária da mansão e a acompanho até o escritório. Cacete, aquilo era um quadro de Jackson Pollock?Arreg
- Vamos lá, isso nem doí – eu falo pelo que parece ser a milésima vez para um Vince aborrecido.Deus, já fazia mais de uma semana e ele continuava insistindo em não tomar os remédios e muito menos aceitava a aplicação da injeção.- Não doí porque não é com você- Acredite, eu já tomei diversas vacinas e tirei mais sangue do que pode imaginar – me aproximo da cadeira, mas ele se afasta de novo – Vince!- Não vou tomar e pronto – ele faz uma careta e coloca a mão em torno dos olhos – Estou até me sentindo meio tonto, isso é culpa sua- Se você me deixasse aplicar a injeção não estaria passando mal- Uma ova que nãoSuspiro cansada e olho ao redor do quarto, ainda com a injeção na mão eu olho para Vince de novo e tenh
“Eu nem te conheço, mas sinto que te entendo. Sinto que você me entende. E é disso que eu mais gosto nessa história."Sorrio com essa frase e animada passo a página, me aconchego ainda mais na cama e leio os diálogos seguintes.Parece que estou a horas trancada aqui dentro do quarto e talvez seja porque quando Íris entra no meu quarto eu pulo cinco centímetros na cama antes de olhar para cima assustada.- Caramba, não te ensinaram a bater não?- Na verdade não – ela responde e eu bufo antes de voltar a olhar para o livro em minhas mãos – O que vai fazer daqui a digamos, uma hora e meia?- O mesmo que eu estou fazendo agora- Que bom, então vamos- Seja lá para onde, a resposta é não- Vamos para a aula de yoga- Nem pensar – eu falo rindo ainda concentrada no livro – Estou
Com Vince tirando o cochilo de tarde eu acabei sem ter muito o que fazer já que na última semana eu conseguir organizar todos os remédios e gerenciar cada um deles, etiquetando e separando por horários.Desço as escadas silenciosamente e ando pelo corredor somente parando para conversar com Sarah – aquela mulher que me atendeu pela primeira vez – ela acabou sendo minha acompanhante aqui na mansão, a não ser quando precisavam da ajuda dela na cozinha.- Passou mais a dor de cabeça? – eu pergunto caminhando com ela ao lado- Sim, aquele chá de camomila e gengibre foi perfeito- Viu? Eu disse que não era ruim- Não, o gosto era ruim mesmo – ela diz e eu sorrio passando por uma faxineira - Mas melhorou, então obrigada- Não há de que – olho ao redor da sala e pisco pensando no que eu posso fazer – Quer ajuda em al
- O que aconteceu com o seu rosto? – Agatha pergunta olhando para Sky e eu tento não pensar muito sobre o que ela acabou de jogar na minha cara.Neto deleHa ha haO destino era realmente muito engraçado. Talvez ele fosse um palhaço na outra vida ou sei lá- Um livro caiu em meu rosto – ele fala e eu pisco lentamente em sua direção, tentando me reconectar ao presente- Um livro fez isso?- Foi uma edição de Senhor dos Anéis – eu ajudo e Agatha faz um som compreendendo a situação, enquanto isso estou sendo fuzilada pelo o olhar de Sky.- Deveria deixar que Katherine olhasse esse machucado- Não, obrigada- Mas está meio vermelho – Agatha reforça e eu quase finjo um mal estar para sair dali. Mas ela é mais rápida – Katherine você poderia?NãoDe jeito nenhu
- Está brincando comigo – Íris começa a rir alto e eu reviro os olhos.Irmãs não deviam se ajudar de vez em quando?A minha deve ter vindo estragada, só pode- De todas as pessoas do mundo......- ela fala e ri ainda mais, jogo um travesseiro nela e ela para de rir por uns instantes para jogar de volta.- Você sabe que a culpa é sua, não é?- Minha?- Sim, você que me fez fazer aquele desafio idiota- Foi genial na verdade – ela diz e coloca mais uma garfada de macarrão na boca mastigando antes de continuar – O que ele disse quando você falou o que era o desafio?- Acho que ele ficou bem chateadoEnrolo um fio de macarrão e o coloco na boca suspirando.- Será que vou ser demitida?- Claro que não – ela fala e me acotovela de leve – Ele não pode te demitir por voc&e